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Fonoaudiologia e linguística: teoria e prática
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Fonoaudiologia e linguística: teoria e prática
E-book440 páginas7 horas

Fonoaudiologia e linguística: teoria e prática

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Sobre este e-book

A proposta do livro é preencher a lacuna bibliográfica sobre o tema de enfoque, Fonoaudiologia e Linguística, promovendo, aos fonoaudiólogos, linguistas, pedagogos, profissionais afins e estudantes de graduação e pós-graduação o conhecimento necessário sobre a interface entre essas duas áreas do saber, enfatizando como a Linguística com seus ramos e abordagens contribui na compreensão da língua/linguagem, o objeto de estudo da Fonoaudiologia.

Ao ler cada capítulo, o leitor refletirá sobre a necessidade de conhecer um pouco mais da Linguística para compreender a Fonoaudiologia. Terá acesso, de forma inédita, a um conteúdo que explana as abordagens e os ramos da Linguística que se inter-relacionam com a Fonoaudiologia.

Quanto aos docentes e discentes dos cursos de graduação e pós-graduação no campo da Fonoaudiologia e áreas afins, terão em mãos um livro que contempla as abordagens e os ramos da Linguística essencialmente necessários para a compreensão do objeto comum às duas áreas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547302214
Fonoaudiologia e linguística: teoria e prática

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    Fonoaudiologia e linguística - Ana Cristina de Albuquerque Montenegro

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM

    APRESENTAÇÃO

    A inquietação das organizadoras do livro era preencher a lacuna bibliográfica sobre a relação entre a Fonoaudiologia e a Linguística, promovendo, aos fonoaudiólogos, linguistas, pedagogos, profissionais afins e estudantes de graduação e pós-graduação o conhecimento necessário sobre a interface entre a Linguística e a Fonoaudiologia, enfatizando como a Linguística com seus ramos e abordagens contribui na compreensão da língua/linguagem, objeto de estudo comum às duas áreas.

    Ao ler cada capítulo, o leitor poderá refletir sobre a necessidade de conhecer um pouco mais da Linguística para compreender a Fonoaudiologia. Poderá, ainda, ter acesso, de forma inédita, a um conteúdo que explana as abordagens e os ramos da Linguística que se inter-relacionam com a Fonoaudiologia.

    Dessa forma, o capítulo 1, intitulado Sobre a Fonologia, a aquisição fonológica, os desvios fonológicos e a interface entre a Linguística e a Fonoaudiologia, escrito por Dermeval da Hora e Ana Carla Estellita Vogeley, levanta e responde a questões sobre se os fonoaudiólogos conhecem os modelos atuais desenvolvidos pelos linguistas, com propriedade teórica e metodológica-analítica; além disso, se conhecem bem os modelos teórico-linguísticos, nos quais os modelos fonológicos estão incluídos e, ainda, se testam a eficácia desses modelos em relação aos dados da clínica, realizando pesquisas, estudos de casos e dialogando com a teoria mãe. Da mesma forma, os autores questionam se os linguistas têm encontrado, na Fonoaudiologia, um espaço de discussão para implementação de modelos preexistentes e para a criação de novos modelos que auxiliem na descrição dos sistemas linguísticos, em termos de aquisição e de possíveis alterações. Nesse sentido, enfatizam a importância do diálogo permanente entre as duas áreas, uma vez que são complementares, e determinam que a prática clínica, exercida pelo fonoaudiólogo, pode conferir validade ou não ao que vem sendo desenvolvido pela Linguística, do mesmo modo que o que vem sendo desenvolvido pela Linguística subsidia a prática clínica da Fonoaudiologia.

    O capítulo 2, escrito por Ana Cristina de Albuquerque Montenegro e Stella Telles, discute a Fonética em Fonoaudiologia. Com o fim de promover reflexões sobre a relação entre essas áreas, este trabalho busca tornar explícito um conjunto de conhecimentos relativo ao ramo da fonética articulatória.

    No capítulo 3, Isabela Barbosa do Rêgo Barros e Roberta Caiado trazem a Semântica: em torno do sentido na linguagem, cujo objetivo é apresentar considerações sobre a semântica da língua e suas implicações para os estudos fonoaudiológicos. Nesse sentido, as autoras enfatizam os conceitos e proposições de uma das formas de fazer semântica: a Semântica da Enunciação, para a qual consideram que sempre se está inserido na linguagem.

    Ainda enfocando os aspectos da Linguística, o capítulo 4, Morfossintaxe e Fonoaudiologia, elaborado por Bianca Arruda Manchester de Queiroga e Rafaella Asfora Lima, pretende descrever como a criança se apropria dos aspectos morfossintáticos no curso do desenvolvimento da linguagem oral e aprendizagem da escrita.

    Com relação às grandes escolas que sustentam as áreas da Linguística, as organizadoras deste livro buscam esclarecer pontos de vistas sobre alguns fundamentos que são percebidos no campo fonoaudiológico. Sendo assim, a partir desse momento, passam a enfatizar os capítulos de acordo com os processos teórico-metodológicos da Linguística.

    Assim, o capítulo 5 trata do Estruturalismo europeu, com Saussure, o fundador da Linguística moderna, sendo escrito por Isabela Barbosa do Rêgo Barros e Mônica Nóbrega e intitulado Fonoaudiologia e sistema linguístico. Nele, há uma retomada de conceitos saussurianos já muito discutidos desde o estruturalismo europeu, ou seja, linguagem, língua e fala, de uma perspectiva ainda não muito comum: a do sistema linguístico. A partir desse ponto de vista, as autoras buscam o diálogo com a fonoaudiologia, especificamente com a clínica do autismo, tentando mostrar as implicações de tal visão de linguagem para os estudos sobre o transtorno autístico.

    A Teoria da Enunciação, presente na década de 1950, com os trabalhos de Benveniste respaldados em Saussure, porém com um para além ao introduzir as discussões em torno da relação sujeito e linguagem, está ativa nesta obra. Sobre essa teoria, escrevem Valdir do Nascimento Flores e Luiza Ely Milano o capítulo 6, Enunciação e distúrbios de linguagem: uma reflexão sobre os níveis de análise linguística. Os autores consideram que

    a enunciação – ao contrário dos níveis fonológico, lexical e sintático – não é vista como um nível da análise – uma vez que não há nela unidades que se distribuem e integram –, mas, sim, como um ponto de vista – o do sentido – sobre os níveis. Sendo a enunciação transversal, o seu estudo não se limita, então, a certos mecanismos da língua, mas a compreende em sua totalidade.

    Sobre a chamada guinada pragmática, na segunda metade do século XX, as autoras Carla Cardoso e Fernanda Dreux Miranda Fernandes escrevem o capítulo 7, denominado Fonoaudiologia e a Pragmática: uma colaboração multidisciplinar para avaliação e terapia de linguagem. No texto, as autoras consideram que as perspectivas pragmáticas têm fornecido elementos para a consideração dos aspectos funcionais dos distúrbios de comunicação e de suas correlações com outros aspectos do desenvolvimento. As contribuições entre as teorias pragmáticas e a Fonoaudiologia têm sido frequentes e gerado elementos para a prática baseada em evidências. A cooperação interdisciplinar tem função relevante no delineamento de perfis individuais de habilidades e dificuldades minuciosos e consistentes que ampliam as chances de melhores prognósticos, conforme enfatizam Carla e Fernanda.

    As discussões em torno da Psicolinguística estão situadas no capítulo 8, "Interface da Psicolinguística e da Fonoaudiologia na linguagem oral", de autoria de Marianne Bezerra Carvalho Cavalcante e Renata Fonseca Lima da Fonte. Nele, as autoras pretendem apresentar um panorama geral do que vem a ser esse campo de estudo no Brasil e no exterior. Buscam também trazer um breve histórico de sua constituição, sua conceituação e subáreas. Além disso, as autoras se propõem a mostrar a interface com a Fonoaudiologia e as pesquisas brasileiras contemporâneas.

    As análises dialógicas são enfatizadas por Vinícius Nascimento e Beth Brait, no capítulo 9, intitulado "Reflexões dialógicas sobre a clínica de linguagem". Esse capítulo objetiva discutir, pela perspectiva bakhtiniana, como o fonoaudiólogo, que atua na clínica de linguagem, poderia se apropriar de uma concepção de linguagem que implica sujeitos em diferentes atividades, assim como de sugestões metodológicas e de noções que, por hipótese, poderiam amparar seu trabalho e sua compreensão das formas de produção de sentido na clínica e fora dela. Nesse sentido, vários aspectos poderiam ser mobilizados, mas os autores optam pela restrição a gêneros do discurso, forças centrípetas, forças centrífugas, interação e enunciado concreto que, advindas do pensamento bakhtiniano, ajudam a pensar o atendimento clínico, demandado por sujeitos que buscam esse espaço visando à reorganização de sua linguagem.

    O capítulo 10, "Teorias enunciativo-discursivas da linguagem: bases linguísticas pertinentes na intervenção com CSA", de autoria de Regina Yu Shon Chun e Elenir Fedosse, busca discorrer sobre o percurso dos estudos e práticas com a CSA - Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, explicitando-se que a evolução teórica e técnica na área têm seguido as tendências do mundo contemporâneo, referente a atenção e assistência especializada a sujeitos com lesão e/ou disfunção neurológica, qual seja: a de que os limites orgânico-fisiológicos não podem ser impeditivos do exercício da subjetividade em situação de interação social.

    As autoras Erika Maria Asevedo Costa e Nadia Pereira da Silva Gonçalves de Azevedo, no capítulo 11, Fonoaudiologia e Análise do Discurso de linha francesa (AD), buscam aproximar teoria e procedimento analítico da Análise do Discurso de linha francesa (AD) em um trabalho realizado em Grupo de Convivência de sujeitos afásicos, constituídos também por não afásicos, incluídos, aí, fonoaudiólogos, linguistas e estudantes de graduação em Fonoaudiologia, mestrado e doutorado em Ciências da Linguagem de uma Universidade em Pernambuco. Para tanto, buscam analisar uma sequência discursiva de sujeitos afásicos, em Grupo de Convivência, procurando identificar algumas concepções da AD, tais como formações imaginárias, formações discursivas e ideológicas.

    O capítulo 12 enfatiza O fenômeno do Letramento na perspectiva da Fonoaudiologia e foi trabalhado por Giorvan Ânderson dos Santos Alves, Isabelle Cahino Delgado, Ivonaldo Leidson Barbosa Lima e Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante. O texto apresenta como os estudos e intervenções na área da Fonoaudiologia se articulam ao Letramento, de maneira a valorizar essa junção frente a todo e qualquer acompanhamento voltado à estimulação das modalidades oral e escrita da linguagem.

    As autoras Renata Fonseca Lima da Fonte e Marianne Bezerra Carvalho Cavalcante discutem o funcionamento multimodal na aquisição e em distúrbios de linguagem, como gagueira e afasia. Para isso, refletem sobre a relação entre gesticulação e produção vocal na aquisição da linguagem e nesses distúrbios de linguagem, no capítulo 13, intitulado "Abordagem multimodal da linguagem: contribuições à clínica fonoaudiológica".

    O capítulo 14 tem como objetivo oferecer um panorama sucinto da pesquisa no campo do bilinguismo, tendo como foco questões que sejam relevantes para profissionais da Fonoaudiologia. Ele tem por título "Bilinguismo e Aquisição de Linguagem" e os autores são Rosane Silveira e Walcir Cardoso.

    Por fim, o último capítulo, o 15, intitulado "Características linguísticas do Braille", de Jorge Brandão, Elisângela Magalhães, Ivanice Bastos e Clarissa Rodrigues, escrito a quatro mãos: uma fonoaudióloga, duas pedagogas e um pesquisador. Juntos, procuram interagir a partir de suas próprias experiências com o Braille e a linguagem, de modo a apresentar suas vivências de maneira simples, porém respeitando o rigor de um texto que pode ser explorado tanto por acadêmicos quanto por curiosos.

    Podemos dizer que é na trama de fios em que se cruzam Fonoaudiologia e Linguística, apresentada nesta obra, que são fomentadas discussões que alimentam as pesquisas científicas no Brasil e compõem um cenário singular para os dois campos. Fonoaudiologia e Linguística, ao lançarem seus olhares para um objeto de estudo comum, a língua/linguagem, dialogam e constroem os fundamentos que as aproximam e diferenciam na interdisciplinaridade.

    SUMÁRIO

    CAPÍTULO 1

    SOBRE A FONOLOGIA, A AQUISIÇÃO FONOLÓGICA, OS DESVIOS FONOLÓGICOS E A INTERFACE ENTRE A LINGUÍSTICA E A FONOAUDIOLOGIA

    Dermeval da Hora (UFPB; CNPq; Capes)

    Ana Carla Estellita Vogel,ey (UFPB)

    Capítulo 2

    FONÉTICA EM FONOAUDIOLOGIA

    Ana Cristina de Albuquerque Montenegro (UFPE)

    Stella Telles (UFPE; CNPq)

    Capítulo 3

    SEMÂNTICA: EM TORNO DO SENTIDO NA LINGUAGEM

    Isabela Barbosa do Rêgo Barros (UNICAP)

    Roberta Caiado (UNICAP)

    Capítulo 4

    MORFOSSINTAXE E FONOAUDIOLOGIA

    Bianca Arruda Manchester de Queiroga (UFPE)

    Rafaella Asfora Lima (UFPE)

    Capítulo 5

    FONOAUDIOLOGIA E SISTEMA LINGUÍSTICO

    Isabela Barbosa do Rêgo Barros (UNICAP)

    Mônica Nóbrega (UFPB)

    Capítulo 6

    ENUNCIAÇÃO E DISTÚRBIOS DE LINGUAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE OS NÍVEIS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA

    Valdir do Nascimento Flores (UFRGS-CNPq)

    Luiza Ely Milano (UFRGS)

    Capítulo 7

    FONOAUDIOLOGIA E A PRAGMÁTICA: UMA COLABORAÇÃO MULTIDISCIPLINAR PARA AVALIAÇÃO E TERAPIA DE LINGUAGEM

    Carla Cardoso (UNEB)

    Fernanda Dreux Miranda Fernandes (FMUSP; CNPq)

    Capítulo 8

    INTERFACE DA PSICOLINGUÍSTICA E DA FONOAUDIOLOGIA NA LINGUAGEM ORAL

    Marianne Bezerra Carvalho Cavalcante (UFPB; CNPq)

    Renata Fonseca Lima da Fonte (UNICAP)

    Capítulo 9

    REFLEXÕES DIALÓGICAS SOBRE A CLÍNICA DE LINGUAGEM

    Vinícius Nascimento (UFSCar; PUC-SP; CNPq)

    Beth Brait (PUC-SP; USP; CNPq)

    Capítulo 10

    TEORIAS ENUNCIATIVO-DISCURSIVAS DA LINGUAGEM: BASES LINGUÍSTICAS PERTINENTES NA INTERVENÇÃO COM CSA

    Regina Yu Shon Chun (Unicamp)

    Elenir Fedosse (UFSM)

    Capítulo 11

    FONOAUDIOLOGIA E ANÁLISE DO DISCURSO DE LINHA FRANCESA (AD)

    Erika Maria Asevedo Costa (UNICAP)

    Nadia Pereira Silva Gonçalves de Azevedo (UNICAP)

    Capítulo 12

    O FENÔMENO DO LETRAMENTO NA PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

    Giorvan Ânderson dos Santos Alves (UFPB)

    Isabelle Cahino Delgado (UFPB)

    Ivonaldo Leidson Barbosa Lima (UFPB)

    Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante (UFPB; CNPq)

    Capítulo 13

    ABORDAGEM MULTIMODAL DA LINGUAGEM: CONTRIBUIÇÕES À CLÍNICA FONOAUDIOLÓGICA

    Renata Fonseca Lima da Fonte (UNICAP)

    Marianne Bezerra Carvalho Cavalcante (UFPB)

    Capítulo 14

    BILINGUISMO E AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM

    Rosane Silveira (UFSC)

    Walcir Cardoso (Concordia University/Canadá)

    Capítulo 15

    CARACTERÍSTICAS LINGUÍSTICAS DO BRAILLE

    Jorge Brandão (UFC)

    Elisângela Magalhães (UFC)

    Ivanice Bastos (UNIFLOR)

    Clarissa Rodrigues (UFC)

    SOBRE OS AUTORES

    Capítulo 1

    SOBRE A FONOLOGIA, A AQUISIÇÃO FONOLÓGICA, OS DESVIOS FONOLÓGICOS E A INTERFACE ENTRE A LINGUÍSTICA E A FONOAUDIOLOGIA

    Dermeval da Hora (UFPB; CNPq; Capes)

    Ana Carla Estellita Vogel,ey (UFPB)

    Falar sobre a relação entre a linguística e a fonoaudiologia requer, antes de mais nada, falar sobre a linguística clínica, enquanto ponto de interseção. A fonoaudiologia e a linguística clínica buscam estudar o desenvolvimento normal da linguagem e suas alterações. A fonoaudiologia exerce a clínica da linguagem. A linguística clínica envolve a aplicação de teorias e metodologias para o estudo, caracterização, avaliação, diagnóstico e tratamento dos problemas da comunicação. Apesar de uma área relativamente recente, tem evoluído rapidamente em um campo altamente produtivo de investigação, com forte presença internacional. A fonoaudiologia tem sua clínica norteada pelas teorias e metodologias desenvolvidas pelos linguistas, embora isso não faça da linguística a ciência teórica e da fonoaudiologia, a prática, como será discutido ao longo do capítulo.

    A linguística clínica desempenha um papel chave na descrição, análise e tratamento dos problemas na comunicação. O estudo dos aspectos linguísticos do desenvolvimento e dos transtornos também são de enorme relevância para a teoria linguística e para o entendimento da estrutura e funcionamento da língua.

    Crystal (1989) e Grunwell (1987) argumentam que a descrição sistemática e cuidadosa da linguagem, juntamente a análises teoricamente orientadas, ajudam na categorização de fenômenos linguísticos, no estabelecimento de uma padrão de desenvolvimento e no diagnóstico diferencial dos problemas de linguagem. As informações vindas dessas análises devem, também, facilitar a formulação de metas e estratégias de tratamentos específicos.

    De acordo com Jacobson (1964), a patologia da linguagem, longe de ser um distúrbio aleatório, obedece a um conjunto de regras; as regras subjacentes aos desvios da linguagem não podem ser atingidas sem o uso consistente de técnicas e metodologias específicas. Um conhecimento explícito da natureza da linguagem, sua gramática e seu funcionamento podem ser úteis no fornecimento de terapias adequadas para os indivíduos que apresentam dificuldades ou mesmo distúrbios de linguagem. Por exemplo, o estudo da afasia requer a análise estrutural da linguagem. Os sintomas exibidos no agramatismo presente nos quadros de afasia podem ser melhor compreendidos com um conhecimento profundo de como a língua se organiza e de como ela funciona. Já se sabe que, em muitos desses casos, a dificuldade pode ser muito reduzida através da intervenção terapêutica precoce e pontual. O processo de diagnóstico pela análise linguística da desorganização do discurso e por testes adequadamente concebidos podem mostrar quais habilidades foram prejudicadas, o que torna o objetivo da terapia mais claro e todo processo de reabilitação torna-se mais eficiente e rápido.

    A contribuição da linguística clínica à terapia fonoaudiológica, portanto, tem sido cada vez mais reconhecida. Há uma suposição de que o fonoaudiólogo deve ser capaz de fazer toda a análise linguística clínica e avaliação incorporando um nível adequado de conhecimentos teóricos e detalhes práticos em todos os transtornos de linguagem e em todas as áreas da linguística necessária.

    Disciplinas médicas têm trabalhado muito nas últimas décadas para identificar, avaliar e corrigir alterações na fala. A linguística tem desenvolvido modelos teóricos que acomodam os dados de aquisição normal e desviante. Lógico que aliar essas ciências com o objetivo comum faz-se necessário cada vez mais, mas é importante que os conceitos e os procedimentos estejam alinhados, de modo que possam dialogar claramente. Para Crystal (1989), a linguística clínica é a aplicação das teorias, métodos e resultados da linguística para o estudo de situações em que as desvantagens linguísticas são diagnosticados e tratadas. É razoável, portanto, que os fenômenos que sejam da mesma natureza sejam suportados por teorias coerentes, uma vez que a teoria tem que explicar o funcionamento, a mudança linguística e a aquisição (CLEMENTS; HUME, 1995).

    A linguística clínica é, portanto, interdisciplinar, com relevância não só para a linguística teórica e aplicada, mas para a fonoaudiologia, a psicologia e a educação. Cada vez mais, tem ficado clara a importância da linguística e sua aplicação clínica para a fonoaudiologia, e a interlocução entre essas áreas está ficando mais estreita e urgente. Os pacientes chegam à clínica fonoaudiológica com queixas relacionadas a alguns, ou até mesmo todos, os níveis tradicionais da linguagem (fonética, fonologia, morfossintaxe, semântica, pragmática), o que requer do fonoaudiólogo um conhecimento também abrangente em áreas-chave, tais como a psicolinguística, sociolinguística, linguística aplicada, o bilinguismo, etc. Assim, ambos os aspectos teóricos e práticos precisam ser cobertos.

    Habilidades analíticas práticas, tais como transcrição fonética, descrição fonética, análise fonológica e sintática e análise do discurso e da conversação são essenciais para lidar com os dados da clínica, assim como as teorias que acomodam esses dados e subsidiam o planejamento terapêutico.

    Na análise fonética e fonológica das produções atípicas ou desviantes, o objetivo é identificar onde e entender como tudo acontece. A análise fonológica revela como o uso sistemático de consoantes, de vogais e da entoação é mapeado na estrutura fonológica, ou seja, na estrutura subjacente. Antes de chegar ao mapeamento já fonológico, entretanto, é preciso traçar o inventário de segmentos (vogais e consoantes) do falante, os movimentos na frequência, os ajustes articulatórios, a presença de distorções e entender como estão sendo aplicados os valores em termos contrastivos. Para obter esse mapa ou panorama contrastivo, a fala precisa ser observada, considerando as possibilidades das análises instrumentais oferecidas pela fonética acústica, as questões envolvidas na produção, em termos de fonética articulatória e o exame clínico da motricidade orofacial, mas, também, os procedimentos analíticos da fonologia clínica (HOWARD; HESELWOOD, 2008).

    É possível dizer que a linguística clínica pode contribuir para a fonoaudiologia em três aspectos: empírico; procedimental ou metodológico e teórico, assim como a fonoaudiologia pode contribuir com esses três aspectos para a linguística. No entanto, o que mais se observa em termos de contribuição nessa direção é em relação ao desenvolvimento de métodos de avaliação, a partir da criação de testes padronizados de coleta de dados linguísticos, voltados para as patologias de linguagem e em relação ao fornecimento de banco de dados ou estudos de casos, realizados a partir de experiências vividas em um cenário clínico. Ainda é necessário que a fonoaudiologia se engaje mais nos aspectos teóricos, seja no sentido de testar a aplicabilidade das teorias linguísticas na avaliação, análises, diagnóstico e tratamento dos distúrbios de linguagem, seja no sentido de implementar essas teorias ou mesmo de criar novos modelos.

    Uma das maiores e iniciais contribuições da fonética para a clínica foi o que acabou se tornando o mais comum sistema de transcrição utilizado pelas pesquisas e pela clínica – a proposta de notação do alfabeto internacional de fonética (IPA - International Phonetic Alphabet), fundado pela Associação Internacional de Fonética em 1886, com revisão mais recente em 2005. Essa possibilidade de transcrever a fala oferece contribuições não apenas quanto ao entendimento no contexto clínico, em relação aos modos pelos quais o output de um falante difere daquilo que é esperado para um falante de uma determinada língua ou determinada variedade, mas, também, facilita a compreensão da natureza das dificuldades nas produções da fala.

    A interlocução intensa entre a linguística e a clínica fonoaudiológica tem se feito ainda mais presente e necessária em relação aos desvios fonológicos, com estreita interpelação da fonologia clínica pela fonoaudiologia. A Fonologia Clínica é uma área interpelada pela Fonoaudiologia, cuja clínica é frequentada, desde sua instituição, por portadores de alterações na produção dos sons da fala. No entanto, o estudo dos distúrbios articulatórios, como eram chamadas essas alterações, na época da institucionalização da Fonoaudiologia, estava sob o enfoque dos estudos fonéticos. Quando esses casos de alterações passaram a ser atendidos no âmbito clínico, houve necessidade de a Fonoaudiologia recorrer aos estudos, também, da fonologia aplicada (TRIGO, 2003).

    A Fonologia Clínica é um ramo da Linguística que se ocupa, especificamente, do estudo das desordens fonológicas, em termos de descrição, análise, diagnóstico e tratamento. Hütner (1999), em relação à contribuição da Fonologia Clínica, enquanto diagnóstico, discorda sobre o tratamento, pois essa seria uma tarefa exclusiva do fonoaudiólogo. Assim, a tarefa de compatibilizar uma abordagem teórica com a clínica é para quem faz a clínica – o fonoaudiólogo.

    A avaliação fonoaudiológica padrão de linguagem e habilidades comunicativas de uma criança normalmente consiste de uma entrevista estruturada durante a qual o fonoaudiólogo pede informações aos pais da criança, ou responsáveis, sobre o desenvolvimento geral da criança, desenvolvimento da linguagem, a história, o quadro clínico geral, as queixas, as relações sociais, a alimentação, a escola, dentre várias. Além disso, testes padronizados de linguagem são adotados e uma amostra de linguagem da criança é obtida, juntamente a uma coleta naturalística de dados de fala da criança, em contextos de interação sem rigores experimentais, como a conversa espontânea. Em posse disso, o trabalho do fonoaudiólogo é de transcrever, descrever e analisar esses dados, o que requer habilidades analíticas mais técnicas, como realizar transcrições fonéticas, estabelecer o inventário lexical e fonológico, elaborar quadros contrastivos, mas, muito além disso, requer habilidades de associação, de referência, considerando questões maturacionais, o conhecimento prévio do que vem sendo discutido pela literatura como critério de normalidade, fatores motores envolvidos, questões de ordem cultural, social, emocional, ou seja, além do domínio dos níveis formais da língua envolvidos na aquisição e nas alterações da linguagem, o fonoaudiólogo precisa de um suporte de áreas da linguística, como a sociolinguística, a psicolinguística, a análise do discurso, que oferecem abordagens não apenas teóricas, mas metodológicas de como lidar com os dados de natureza linguística e extralinguística (KENT; MIOLO; BLOEDEL, 1994; WILLIAMS, 2001).

    Pesquisadores em áreas formais da linguística estudam a estrutura da língua, considerando todos os níveis linguísticos, com o objetivo de alcançar uma caracterização adequada da competência linguística. Ao mesmo tempo, pesquisadores em áreas mais aplicadas, tais como a fonoaudiologia, avaliam a competência e o uso da língua por parte da criança, determinando o papel dos fatores psicológicos e sociais no processo de aquisição da linguagem, e planejam intervenções para crianças com dificuldade em qualquer aspecto da língua. Além disso, estão cada vez mais são convocados a colaborar com professores e formuladores de políticas públicas de desenvolvimento infantil para planejar programas educacionais para crianças com dificuldades. Os esforços de pesquisa nas disciplinas formais e aplicadas da linguística, o que inclui a fonoaudiologia, podem contribuir para o avanço em intervenções de sucesso para os casos em que há dificuldade na aquisição e/ou uso da linguagem.

    Linguistas e fonoaudiólogos têm dedicado interesse ao estudo da aquisição fonológica, não apenas no sentido de descrever as etapas e a gradação prevista nesse percurso, mas, também, de revisar, implementar e desenvolver novas teorias que acomodem os achados. De um lado, então, temos os linguistas criando modelos fonológicos que elucidam como o sistema de sons da língua se estrutura e funciona e como é adquirido e organizado e esses modelos precisam acomodar bem os dados, também, de aquisição desviante, ou seja, precisam explicar o que acontece nos casos em que o sistema fonológico não é adquirido como o esperado, como os casos dos desvios fonológicos. Por outro lado, temos os fonoaudiólogos avaliando, diagnosticando e tratando esses casos desviantes. A grande questão que merece ser levantada aqui é se os fonoaudiólogos conhecem os modelos atuais desenvolvidos pelos linguistas, se têm propriedade teórica e metodológica-analítica. Será que os fonoaudiólogos, que exercem a prática clínica da linguagem, conhecem bem os modelos teórico-linguísticos, nos quais os modelos fonológicos estão incluídos? E, não mais importante, será que os fonoaudiólogos testam a eficácia desses modelos em relação aos dados da clínica, realizam pesquisas, estudos de casos e dialogam com a linguística, no sentido de dar uma devolutiva do quanto esses modelos podem ou não contribuir com a prática, e do quanto estão ou não coerentes com os casos em que o sistema encontra-se desorganizado? Como uma via de mão dupla, pergunta-se, também, se os linguistas têm encontrado, na fonoaudiologia, um espaço fértil de discussão para implementação de modelos preexistentes e para a criação de novos modelos que auxiliem na descrição dos sistemas linguísticos, também em termos de aquisição e das possíveis alterações.

    Fica clara, portanto, a importância do diálogo intenso entre a linguística e a fonoaudiologia, visto que são complementares e algo a mais na prática clínica, que pode ser exercido pelo fonoaudiólogo, pode conferir validade ou não ao que vem sendo desenvolvido pela linguística, do mesmo modo que o que vem sendo desenvolvido pela linguística subsidia a prática clínica. Outra questão que merece ser discutida é a participação do profissional que faz a clínica da linguagem, o fonoaudiólogo, na criação desses modelos, na validação, na implementação, nas inovações de que esses modelos precisam, para que não se crie uma relação dicotômica entre os profissionais envolvidos na clínica e na teoria da linguagem.

    Além do suporte teórico, dado pelos modelos fonológicos, o papel do linguista e do fonoaudiólogo é buscar as evidências, sejam essas intrínsecas e estruturais da língua, mas, mais ainda, aquelas relacionadas a como a língua varia, muda, é adquirida. Matzenauer (2013) traz exemplos de duas crianças pequenas, que revelam muito além de como a língua se estrutura ou como varia, mas são evidências, também, de como as crianças adquirem a fonologia, em termos de como identificam, como processam e como reconhecem as formas, como revelam os exemplos:

    tia - tSia M. V. (2:10)

    tico - tSiku A criança não reconhece o Onset Complexo (simetria)

    tia - tSia B (2:10)

    tico - tiku A criança reconhece o Onset Complexo (assimetria)

    Os dados mostram os contrastes e as restrições posicionais e sequenciais que determinam o inventário fonológico. Uma sílaba com glide no onset é considerada ruim ou mal formada, como no caso de [ka’beju] (cabelo), porque quebra a subida de sonoridade, violando o princípio de boa formação silábica, por exemplo.

    A Fonologia Clínica trouxe, portanto, como contribuição para a Fonoaudiologia uma possibilidade de descrição teoricamente orientada da fala da criança. No entanto, segundo Trigo (2003), o refinamento descritivo não deve ser compreendido como procedimento diagnóstico – que, na clínica, envolve mais do que análise de fala, mas os efeitos das entrevistas com os pais, o encontro com a criança, a escuta de sua fala e de suas ações. Todos esses aspectos devem guiar, ao lado da interpretação/análise da fala da criança, uma tomada de posição quanto à presença ou não de um acontecimento sintomático, assim como de uma

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