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Tsunami: E outros contos
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Tsunami: E outros contos
E-book174 páginas2 horas

Tsunami: E outros contos

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Sobre este e-book

'Segundo o acadêmico Antônio Torres, trata-se de um “tsunami de emoções” em que o autor, com sua criatividade à flor da pele e humor afiado consegue transformar o cotidiano das pessoas em entretenimento e aprendizado.Tsunami e outros contos foi escrito para deleite dos leitores num período de turbulência nacional. Até da mitologia grega e do velho testamento, Roberto consegue tirar inspiração para trazer à tona episódios e personagens que parecem perambular pela atual realidade brasileira.No conto que dá nome ao livro, ele narra as desventuras de um deputado corrupto, que sofre a rejeição da própria família, dos amigos e de toda a sociedade. Detido, ele sonha com a prisão domiciliar até se dar conta de que não tem mais domicílio. Segundo o acadêmico Antônio Torres, trata-se de um “tsunami de emoções” em que o autor, com sua criatividade à flor da pele e humor afiado consegue transformar o cotidiano das pessoas em entretenimento e aprendizado.Transitando entre a tragédia e a comédia, a obra desperta nos leitores os mais diversos sentimentos.“É dono de uma escrita ágil e um extraordinário poder de síntese”, diz Antônio Torres.'
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de mar. de 2022
ISBN9788584880492
Tsunami: E outros contos
Autor

Roberto de Castro Neves

Roberto de Castro Neves é casado, tem três filhos, dois enteados e 11 netos. Trabalhou durante 30 anos como executivo em uma multinacional e é um especialistana área de comunicação e imagemempresarial, com quatro livros publicados sobre o tema. Além de sete livros de contos, Robertopublicou também dois romances, umlivro sobre Cinema e um sobre Viagens

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    Tsunami - Roberto de Castro Neves

    Capa.jpg

    Para

    (os de sempre)

    Doris, companheira;

    Bel, José Roberto, Gui, João e Duda;

    Mi, Dado, Letícia e Rafa;

    Cecilia, Ipi, Pedro, Lucas e Miguel;

    Monica, Felipe e Valentina;

    Cecília, Bruno, Dudu e Mariana.

    Filhos, enteados, genros, noras e netos.

    Regina, irmã.

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de rosto

    Dedicatória

    Primeira parte

    Jandira

    Pernas, porque as quero tanto

    Eternas buscas

    Eu não estou morto

    Cadê ela?

    A musa do cavalo de pau

    Confissões de um moribundo

    Suruba

    Marias

    Atriz

    Diabólicas canalhices

    Perfume das rosas

    O ocaso de um macho

    Terapia nos anos setenta

    Tsunami

    Aquela tarde de um setembro

    Telefone sem fio

    Urso ruço

    O inquilino

    Adamastor, uma novela fantástica

    Coda

    Retalhos

    Segunda parte

    Um pouco de mitologia grega

    Um passeio pelo velho testamento

    O autor

    Créditos

    PRIMEIRA

    PARTE

    TITO XAVIER, quarenta anos, solteiro por opção, executivo de uma empresa americana, morava solitariamente em seu apartamento em Ipanema. Clotilde, uma senhora de idade avançada, cuidava da casa. Inesperadamente, Clotilde pediu as contas: queria voltar para sua cidade natal e curtir seus netos, no tempo de vida que ainda lhe restava. Tito ficou a pé.

    Por indicação de uma amiga, Tito contratou Jandira para ser sua faz-tudo: cozinhar, arrumar, fazer as compras, cuidar de suas roupas etc. Tito pagava bem. Jandira veio do interior da Bahia, tinha vinte e sete anos, e este seria o seu segundo emprego. Antes, trabalhou por dez anos para um casal de idosos, fazendo também tudo na casa. Às vezes, fazia pequenos serviços no apartamento dessa amiga de Tito. Foi ela quem fez a intermediação: Tito oferecia o dobro do salário que Jandira recebia. Mesmo chateada por deixar os velhinhos, Jandira não resistiu à oferta e foi trabalhar com Tito.

    Jandira era uma baiana linda e tinha tudo no lugar: corpo, seios generosos, lábios carnudos. Aquela beleza, aquele perfume, perturbava Tito.

    Tito era um workaholic. Em primeiro lugar, a sua carreira. Aos poucos, sem perceber, Tito foi mudando alguns de seus hábitos. Por exemplo, ao invés de ficar no escritório até altas horas, trazia trabalho pra fazer em casa; abandonou as happy hours das sextas-feiras com os amigos históricos. A mudança de hábitos, sem que percebesse, vinha da vontade de ver Jandira, antes que ela fosse dormir.

    Numa noite, rolando na cama, cheio de desejos e de fantasias, Tito sucumbiu a eles, desejos e fantasias. Levantou-se da cama, atirou fora o pijama e, peito nu, dirigiu-se ao quarto de Jandira. Sequer se anunciou batendo na porta. Abriu-a. Jandira estava nua da cintura pra cima, seios empinados, lindos seios, maravilhosa. Tito jogou-a na cama, arrancou-lhe a calcinha e mergulhou sobre ela, beijando seus seios, sua boca, seus lábios carnudos, penetrando-a sem pedir licença, e ela, como se já estivesse esperando esse momento – e desejando por ele em suas fantasias – abriu suas pernas e pela primeira vez em sua vida descobriu o que era ter orgasmo.

    Tito voltou para o seu quarto. Não conseguiu dormir. Ao contrário do que se poderia esperar, isto é, estar satisfeito por ter tido uma relação maravilhosa com um espetáculo de mulher, orgulhar-se de sua macheza, bateu-lhe um profundo sentimento de culpa. Que coisa fiz, meu Deus! Abusei de uma coitada indefesa, agi como um senhor de engenho de outros tempos que estuprava suas servas para satisfazer seus instintos... Sou um canalha! Vergonha! Vergonha! Vergonha! Tito não conseguiu dormir nessa noite e em outras também não.

    No dia seguinte, no café da manhã, os dois se comportaram como se nada tivesse acontecido. Apenas um seco bom-dia. Tito evitava olhar para Jandira que servia o café como fazia todos os dias: as frutas, o suco de laranja, os pães, os queijos, os frios.

    Tito terminou a refeição, levantou-se, foi ao banheiro, escovou os dentes, ajeitou a gravata, vestiu o paletó, pegou sua pasta, a chave do carro e, sem olhar para Jandira, disse um quase inaudível até logo. Já na porta de casa, como se somente agora se lembrasse: Ah, as roupas que deixei no chão do meu quarto são para lavar. E foi-se.

    Passou-se um tempo em que a relação entre os dois era de patrão e de empregada. A comunicação se restringia a discretos bom-dia e boa-noite, e a educados pedidos: Por favor, gostaria de ter um ovo estrelado; Por favor, prepare mais uma torrada. E dela para ele: Seu terno azul-marinho já voltou do tintureiro; Vou deixar para o seu jantar lasanha e um pouco de salada.

    Dois meses depois daquela noite, numa manhã, depois de servido o café, Tito já pronto para ir para o trabalho, Jandira, em pé, retirando a louça, sem levantar os olhos: Estou grávida.

    Tito não tinha nenhuma dúvida de que fosse ele o responsável por aquela gravidez. Entrou em pânico. O que fazer? Procurou Chiquinho, seu melhor amigo. Marcaram um encontro naquela mesma noite. Num bar. Disse pra ele que estava enrolado: Engravidei a minha empregada, disse. O amigo: O quê? Tito repetiu: Engravidei a minha empregada. Chiquinho caiu na gargalhada. Depois, percebendo o estado de angústia de Tito, tentou acalmá-lo com sugestões práticas: Aja com serenidade. Converse com ela. Quem sabe ela tope fazer um aborto em troca de uma grana, quem sabe?

    Embora católico não praticante, Tito pensou em procurar um padre. Primeiro, para confessar o seu pecado e, por conta da confissão, obter a absolvição por tê-lo cometido. Receberia uma dura penitência que, uma vez cumprida, aliviaria um pouco a sua culpa. Segundo, porque poderia ouvir do sacerdote um bom aconselhamento. Enganou-se: o padre passou-lhe uma bruta esculhambação: Não pense o senhor que, ao contar-me a sua sem-vergonhice, estará livre do pecado que cometeu. E recusou-se a dar-lhe uma penitência.

    Após muito refletir, Tito decidiu não fugir de suas responsabilidades. Envergonhado, contou para Maria Alice, sua irmã, a situação. Maria Alice era médica, poderia ajudá-lo na administração da encrenca. Em princípio chocada, ela repreendeu severamente o irmão: Que absurdo! Que irresponsabilidade! Como é que você foi fazer uma coisa dessas? Parece coisa de um adolescente! Também indagou: Você tem certeza que foi você quem engravidou essa mulher? Depois ficou solidária com o irmão. Sabia que só ela poderia ajudá-lo. E foi ela quem tomou todas as providências para que Jandira tivesse um acompanhamento de primeira.

    No terceiro mês de gravidez, veio a notícia: seria um menino.Tito ficou contente com a notícia. No fundo, no fundo, Tito gostava da ideia de ser pai.

    Tito contratou Cibele, uma prima de Jandira, para ajudá-la nos afazeres da casa enquanto durasse o período da gravidez.

    Chiquinho, o amigo gozador, brincava com Tito: Não vá você também engravidar a tal Cibele, hein? Tito não achou graça nenhuma na brincadeira.

    Rigorosamente no nono mês, em parto normal, assistido por Maria Alice, nasceu o menino: Antônio, o nome que a mãe escolheu. Antônio tinha a cor de Jandira e um sinal na pálpebra do olho esquerdo. Tito tinha o mesmo sinal. Enfim, não será necessário nenhum exame de DNA para garantir que Antônio é filho de Tito, brincou Maria Alice.

    Embora Chiquinho não recomendasse, Tito registrou Antônio como seu filho e de Jandira. O amigo era contra esse registro. Dizia: Você está arranjando sarna pra se coçar.

    Aliás, somente Chiquinho e Maria Alice sabiam dessa paternidade. Para o resto do mundo, família, amigos etc. Jandira era mãe solteira, o pai de Antônio teria desaparecido, situação absolutamente comum. O apoio que Tito deu à empregada, a generosidade com que ele conduziu a sua gravidez, segundo eles, extremamente louvável, derivava de seu bom caráter. Definitivamente, Tito era um bom caráter, jamais deixaria a sua empregada desassistida numa hora dessas.

    Não houve mudanças na casa. Tito e Jandira interagiam da mesma forma: telegraficamente. Jandira e Toninho permaneceram dormindo no quarto de serviço. Durante um bom tempo, Toninho foi acomodado em um moisés, colocado na cama aos pés de Jandira.

    Toninho foi crescendo. Tito se divertia ao vê-lo engatinhando pela casa. Pegava o menino no colo, dizia as gracinhas de praxe, devolvia-o para Jandira que o cobria de beijos.

    Algum tempo depois do parto, Jandira voltava a ser a grande mulher.

    Eis que, nesse ínterim, surge Solange. Solange, agora com quarenta anos, era companheira de trabalho de Tito. Solange casou-se, separou-se, teve vários casos, inclusive com o próprio Tito. O caso durou alguns meses. Tito foi mandado pela empresa para o exterior por uma temporada. Na volta, o romance tinha morrido por inanição.

    Dez anos depois, Tito reencontra Solange em uma festa na empresa. Ela continuava muito bonita e com o bom astral de sempre. Conversaram. Tito ficou sabendo que Solange estava solteiríssima. Convidou-a para jantar. E, novamente, outro jantar. Por fim, reataram o namoro rompido por circunstâncias alheias à vontade dos dois, sem mágoas, sem ressentimentos de parte a parte.

    Durante seis meses, Tito e Solange tocaram o namoro de forma tradicional: jantares, cinema, teatro, fins de semana nas cidades serranas, praias no Nordeste. Mas, cada um em sua casa.

    O modelo, entretanto, não fazia sentido. Ambos moravam sozinhos, em espaçosos apartamentos; pagavam em dobro luz, gás, telefone, IPTU, condomínio, salário de empregada etc. E mais: o aluguel do apartamento de Solange não era barato. Por uma questão de economia, mais do que por outra motivação qualquer, decidiram morar juntos. Solange mudou-se para o apartamento de Tito.

    Solange tomou um susto ao ser apresentada à Jandira. Tito falava dela sempre se referindo à sua eficiência na administração da casa, em suas qualidades como cozinheira, cuidando de sua roupa etc. Jamais falou de sua exuberância como mulher, nem que tinha um filho de dois ou três anos morando com ela na casa.

    No começo, Solange considerou normais as dificuldades de adaptação em sua nova casa. Ser tratada por Jandira como se fosse uma hóspede, e não como a nova dona da casa, também não a surpreendia. Mais do que normal. Afinal, pensava, essa mulatona mandou e desmandou por anos na vida de Tito. Não será fácil colocar ela em seu lugar. E também acabar com a farra do menino correndo pelo apartamento chamando por Tito, e Tito chamando o garoto de Toninho para cá, Toninho pra lá. Isso tudo vai acabar ou não me chamo Solange, pensava consigo mesma.

    A exposição do conflito aumentou quando Solange passou a trabalhar em regime de home office, ou seja, em casa. Jandira continuava tocando a casa como sempre fizera, ignorando qualquer ordem, muito menos as sugestões de Solange. Toninho continuava correndo pela casa, subindo nos sofás, ligando e desligando a televisão a seu bel prazer. Esse comportamento, além de tudo, atrapalhava Solange em seu trabalho em casa.

    Uma noite, Tito e Solange saíram pra jantar fora. Tomaram drinques, a conversa ficou relaxada e girou em torno de trabalho. Solange aproveitou esse relax para expor seus desconfortos: o poder de Jandira na casa, as estripulias de Antônio (ela se recusava em chamá-lo de Toninho) etc. Encorajada pelo álcool, Solange pede que Tito demita Jandira. Fortalece o pedido com um dramático pela sobrevivência da nossa relação.

    Tito foi delicado em sua réplica, dando razão, em parte, às queixas de Solange. Jandira sentir-se dona da casa? Verdade, mas Jandira era do bem, pessoa de total confiança, competente naquilo que lhe competia fazer. Não posso dispensá-la assim, por nada. Quanto ao menino, vou ver o que posso fazer para que ele não perturbe o seu trabalho. Não era exatamente o que Solange gostaria de ouvir, mas não podia voltar ao assunto. Não fez questão de esconder que ficara contrariada. O jantar azedou.

    Numa tarde, como fazia habitualmente, Toninho corria pela sala puxando um carrinho. Solange preparava-se para repreendê-lo quando algo chamou a sua atenção. Arrepiou-se. Imediatamente, mudou de atitude. Ao invés de repreender o menino, atraiu-o falando com doçura, mansamente,

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