Etcétera: contos e reflexões
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Sobre este e-book
Roberto de Castro Neves
Roberto de Castro Neves é casado, tem três filhos, dois enteados e 11 netos. Trabalhou durante 30 anos como executivo em uma multinacional e é um especialistana área de comunicação e imagemempresarial, com quatro livros publicados sobre o tema. Além de sete livros de contos, Robertopublicou também dois romances, umlivro sobre Cinema e um sobre Viagens
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Etcétera - Roberto de Castro Neves
ROBERTO DE CASTRO NEVES
etcétera
contos e reflexões
Logotipo Outras letrasCopyright © 2021 by Roberto de Castro Neves
capa e projeto gráfico Elisa Janowitzer
revisão Carolina Medeiros
coordenação editorial Lucia Koury
produção de ebook S2 Books
Dados internacionais para catalogação na publicação (CIP)
N518e
Neves, Roberto de Castro, 1940-
Etcétera : contos e reflexões
/ Roberto de Castro Neves. – Rio de Janeiro :
Outras Letras, 2021. 192 p. ; 23 cm.
ISBN 978-65-990531-5-3
1. Contos brasileiros. 2. Ficção brasileira. I. Título.
CDD – B869.3
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Lioara Mandoju CRB-7 5331
Todos os direitos desta edição estão reservados à
Outras Letras Editora Ltda.
Tel: 21 22676627
contato@outrasletras.com.br
www.outrasletras.com.br
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Agradecimentos a
Ana Blanc
Ana Gloria Gerli
Antonio Conrado
Beatriz Velloso
Daisy Balassa
Doris Rocha Bonini
Heloisa Magalhães
José Ricardo Pereira
Lucia Koury
Luiz Eduardo de Castro Neves
Maria Stella Paula Freitas
Maria Helena Lopes
Maura Engel
Monica Bonini Guimarães
Paulo Ayala Cordeiro
Regina Milanez
Rejane Janowitzer
Vera Cordeiro
Vera Gondim
Vera Muller
Que se dispuseram de seu tempo para, gentilmente, lerem o original de alguns textos deste livro.
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Agradecimentos a
Gêmeos
Numa noite em Lisboa
Antônio Conselheiro
Moto perpétuo
Dedos
Irmãs
Diálogos
Santa Maria do Sul
Pesadelos
Primos
Assassino profissional
A audiência
Família
Você decide
Gêmeos
Marcos Diniz, conhecido como Marcão, jogava bridge todas as quartas-feiras com amigos.Voltava pra casa sempre entre onze e meia-noite. Há dez anos, Marcão vivia maritalmente com Débora Costa Nunes. Aos 30 anos, Débora ficara viúva de Arlindo Costa Nunes, poderoso empresário do ramo de mineração, com quem teve os gêmeos Daniel e Danton, agora com dezessete anos.
Quando se conheceram, Marcão já era ator de telenovelas, onde desempenhava papéis secundários. Mas era um rosto conhecido do público e tinha uma discreta remuneração, parte dela reservada à ex-mulher, com quem tinha um filho.
Marcão não era, por assim dizer, um homem bonito, mas o fato de ser um televisivo e galanteador, atraía a atenção de muitas mulheres. Débora foi uma dessas.
Pouco tempo depois do início do namoro, decidiram viver juntos. Marcão se mudou para o apartamento de Débora, onde ela morava com os gêmeos, então com oito anos.
Desde o início, o relacionamento dos filhos de Débora com o padrasto não era bom. Os meninos nunca aceitaram a invasão daquele estranho sujeito que vinha ocupar o lugar do saudoso pai, cuja lembrança ainda era muito forte.
Por outro lado, Marcão percebia que não era aceito, mas não estava dando a mínima para o fato. Achava-os mimados demais, inclusive algumas vezes, muito sutilmente, chamou a atenção de Débora quanto ao seu desempenho como mãe, na sua opinião, benevolente demais com relação às demandas dos filhos.
E assim se passaram os primeiros anos do concubinato: os gêmeos ignoravam solenemente o padrasto e vice-versa.
O clima piorou depois que Marcão foi demitido da televisão e passou a viver exclusivamente às custas de Débora. A bem da verdade, essa dependência financeira não era novidade. Há muito tempo Marcão dependia da mulher. Até o seu carro, um Toyota, blindado, fora presente de Débora em um aniversário da relação. E os filhos sabiam disso. Então o que era indiferença foi se transformando em ódio.
Apesar de desempregado, a vida boêmia do Marcão continuou. Saía quase todas as noites para encontrar-se com amigos – e amigas. Voltava tarde, meio bêbado. De longe, dava para sentir o cheiro de álcool. Às vezes, apareciam nas redes sociais fofocas sobre casos que ele estaria tendo com artistas, quase todas, como ele, em fim de carreira. Marcão se irritava com essas fofocas e as desmentia com veemência. Débora fazia vista grossa. Temia enfrentá-lo e perdê-lo. Além de gostar dele, não se via em condições de construir uma nova relação. E se apavorava ao pensar em vir a ter uma velhice solitária. Melhor a morte. Quanto à galinhagem do marido, segundo ela, isso passaria. Os anos iriam chegar também para ele, além de sua dependência dela. Financeiramente. Sem ela, Marcão não tinha onde cair morto.
Mas os filhos não pensavam assim. Cafajeste
. Cafetão
. Era o que ambos costumavam pensar.
Passeando pela internet, os gêmeos viram um estranho anúncio. Uma pessoa, se dizendo expert em investigação, oferecia seus serviços para desvendar qualquer mistério. Intitulava-se Sherlock. Perguntava: Desconfia de sua mulher? É comigo mesmo. Seu marido anda esquisito, tá deixando você na saudade? Deixa comigo: Sherlock às suas ordens.
Os irmãos acharam o anúncio engraçado e se interessaram. Trocaram e-mails com Sherlock. Ficaram sabendo que seus serviços não eram tão caros. Queriam saber tudo sobre Marcos Diniz.
— Deixem comigo. Não vou decepcioná-los — Sherlock garantiu.
Tudo foi feito pela internet: contrato, serviços contratados, adiantamento, informações sobre o investigado: idade, onde trabalhou, hábitos etc.
Dois meses depois, os gêmeos receberam o laudo. Que bridge às quartas-feiras coisa nenhuma! Nessas noites, dizia o relatório, Marcão ia se encontrar com Neuza, sua amante de longa data. Neuza era casada. O marido, enfermeiro-chefe de importante hospital, dava plantão às quartas-feiras. Marcão começou o romance com Neuza quando trabalhava na televisão e ela era roteirista. Ainda solteira. Marcão já era casado. Tiveram um filho: Oscar, hoje com dezenove anos. Depois Neuza se casou, o marido adotou Oscar como se filho fosse. Mas o romance entre Marcão e Neuza continuou. Até hoje.
— Todo mundo na TV sabe desse caso — assim Sherlock terminou o relatório.
Ah, o relatório falava também que Marcos Junior, filho do primeiro casamento, estava com vinte e um anos e estudava Direito. Os gêmeos sabiam da existência desse irmão, mas nunca se relacionaram.
O laudo aumentou o ódio que eles tinham do padrasto. De início, pensaram em mostrá-lo para a mãe. Mas já tinham entendido que ela estava irredutível quanto à sua decisão de não romper a relação com Marcão, fosse qual fosse o motivo.
Assim, os gêmeos desistiram de tentar afastar os dois. A mãe não os ouviria. Concluíram que só a morte do padrasto resolveria a questão.
E começaram a trabalhar a ideia. A primeira que surgiu foi a de contratar um pistoleiro. Um assassino de aluguel. Sabiam que a função existia. Mas a ideia não prosperou. Primeiro, porque não viam como chegar a um desses profissionais. Segundo, porque, caso achassem alguém, não teriam como pagar a encomenda. Nem somando a mesada dos dois. Nem vendendo seus celulares. Terceiro, o risco de o pistoleiro vir a ser preso e delatar os mandantes.
— Não, não, não é por aí — concluíram.
Resolveram que deveriam ser eles os executores do padrasto. Examinaram as possibilidades: envenenamento, acidente em casa, asfixia, homicídio, atropelamento etc. Todas tinham vantagens e desvantagens. Homicídio, parecia ser a melhor. Decidiram por ela.
Agora chegara a hora de pensar nos detalhes: observar a rotina do padrasto, estabelecer quando seria a execução, o local, como obter a arma, os procedimentos, definir o papel de cada um na operação, ensaiar, pensar no day after.
Como parte do plano, Daniel matriculou-se numa academia de tiro. Preencheu o formulário de inscrição informando uma data de nascimento que lhe conferia maioridade. Ninguém checou a informação. Em poucas sessões, Daniel aprendeu o suficiente sobre manejo da arma para atingir um alvo a poucos metros de distância. Por sua vez, Danton se dava bem com um dos seguranças do colégio onde estudava. Ele até lhe devia favores, coisa pouca, mas favores. Sem perguntas, foi ele quem indicou onde Danton poderia alugar uma arma por duas semanas. Uma Beretta M9 foi a arma escolhida.
Invariavelmente, todas as noites das quartas-feiras, Marcão saía para jogar bridge com amigos. Também, invariavelmente, voltava pra casa entre onze e meia-noite.
A emboscada aconteceu a quinhentos metros do prédio onde moravam, numa rua perpendicular com pouquíssima Iluminação e muitas árvores. Os gêmeos se esconderam atrás de uma delas, quase na esquina. Àquelas horas, raramente passava um veículo.
De repente, ao longe, dois faróis anunciavam a chegada de um carro. A uns cem metros, deu para ter certeza de que era um Toyota preto.
— É ele!!! — Daniel garantiu.
Imediatamente, Danton jogou na rua, à frente do carro, uma boneca de pano do tamanho de uma criança. Para não atropelar aquilo que Marcão não tinha a menor ideia do que fosse, ele brecou bruscamente o veículo a ponto de os pneus cantarem. Ainda escondido pela árvore, mas com visão suficiente para enxergar o carro, Daniel atirou no pneu da frente, fazendo com que o veículo adernasse à esquerda. Nitidamente embriagado, Marcão abriu a porta e saiu para ver o que tinha acontecido. Foi aí que deu de cara com Daniel que lhe deu dois tiros no meio do rosto. Marcão tombou entre o veículo e o meio-fio.
Como se estivessem executando o que fora tantas vezes ensaiado, cada um deles cumpriu o seu papel como no ensaio. Enquanto Daniel saqueava o morto, tomando-lhe os documentos, relógio e o celular, Danton, com um alicate, arrancava as placas do veículo. A subtração do relógio e do celular pretendia sugerir às autoridades que o objetivo do assalto era um roubo simplesmente e que a morte do motorista ocorrera por perda de controle da situação. Quanto ao sumiço dos documentos e das placas, a ideia era retardar o reconhecimento da vítima.
Despertados pelos