Diário do confinamento
De Artur Laizo
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Sobre este e-book
Artur Laizo
Mora em Juiz de Fora. Médico, cirurgião geral, formado pela UFJF (1986). É professor da Faculdade de Medicina da Universidade Presidente Antônio Carlos e presidente da LIGA DE ESCRITORES, ILUSTRADORES E AUTORES DE JUIZ DE FORA – LEIAJF. Também é membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete.
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Diário do confinamento - Artur Laizo
copyright © 2020 by arthur laizo
Direitos em Língua Portuguesa reservados ao autor através da LITTERIS® EDITORA.
ISBN: 978-65-5573-016-6
ISBN: 978-65-5573-015-9 (livro impresso)
editores
Artur Rodrigues
Deucimar Cevolela
Assessoria editorial
M. Nora
produção editorial
Ronald Monteiro
CONVERSÃO:
Cevolela Editions
litterisCIP - brasil. catalogação-na-fonte
sindicato nacional dos editores de livros, RJ.
camila donis hartmann - bibliotecária - cRB-7/6472
CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948
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A pandemia nos trancou em casa. Diminuiu horas de trabalho. Afastou as pessoas que amamos muito e ficamos todos com medo do desconhecido.
Dedico esse DIÁRIO DO CONFINAMENTO
a Ângela, minha esposa, que me suportou por muito tempo dentro de casa.
Dedico a minha irmã, Tânia, aos meus parentes que não vejo há meses.
Dedico aos meus alunos que, longe de mim, só temos saudades.Enfim, dedico a todos que sofreram por essa pandemia que ainda estamos vivendo.
Sumário
Dia 1
Dia 2
Dia 3
Dia 4
Dia 5
Dia 6
Dia 7
Dia 8
Dia 9
Dia 10
Dia 11
Dia 12
Dia 13
Dia 14
Dia 15
Dia 16
Dia 17
Dia 18
Dia 19
Dia 20
Dia 21
Dia 22
Dia 23
Dia 24
Dia 25
Dia 26
Dia 27
Dia 28
Dia 29
Dia 30
Dia 1
22 de março de 2020 [D1]
Mundo: Confirmados: 340.843, Mortes: 14.582;
Brasil: Confirmados: 1.604, Mortes: 25 (22 em SP);
Minas Gerais: Confirmados: 83
Juiz de Fora: 0
Somente hoje comecei a escrever esse diário do confinamento do coronavírus.
Para que escrever tal coisa!?
Para que todos saibam que há mais pessoas passando pela mesma ansiedade e sensação de prisão domiciliar. Hoje, eu saí de casa uma vez, de carro, e não desci dele, exceto na minha garagem. Fiz compras ontem no supermercado. O suficiente para nosso fim de semana, e vou ter que voltar a me expor amanhã novamente para comprar comida.
Expor-me em um supermercado – lugar que adoro ir – é uma coisa até boa de fazer. Sexta-feira, quando eu fui, no entanto, minha vontade era de brigar com um bando de velhinhos sorridentes
, que não tinham nada para comprar de necessidade e estavam passeando pelo mercado. Eram todos, com certeza, do maior grupo de risco: mais de setenta anos todos, com uma doença crônica ou mais de uma. Difícil controlar o idoso dentro de casa!? Difícil, mas não impossível. Temos que tentar fazer a nossa parte.
Na sexta-feira, eu estava pior. Queria chorar a todo o momento. Tinha dois problemas que não sabia quando se resolveriam. Um deles era a presença na minha casa de uma intercambista da Alemanha, que precisava voltar para casa e só se ouvia dizer que estavam fechando fronteiras e cancelando voos internacionais. Meu outro problema era um tio que em Lafaiete estava em estado avançado de uma doença terminal e, eu como médico, sabia que iria perdê-lo. Acrescido a isso, a própria loucura que está se instalando no mundo, agora começando no Brasil, essa devastação virulenta.
A alemã viajou no sábado e mandou notícias hoje de sua casa. Ela está bem. Meu tio faleceu ontem – quase ninguém no sepultamento, devido à ordem de isolamento social ؘ–, mas agora está bem. A família, no entanto, que precisa de um abraço de conforto e carinho nessa hora, não pode recebê-lo. Eu não pude ir ao enterro do tio que mais gostava!
Ficar em casa! Não ver se tem sol ou se chove. Ter o que fazer, mas com a cabeça fervilhando com a expansão da pandemia, não é toda hora que consigo. Escrevi, li, pintei – há um ano não pintava nada –, fiz alguma coisa na cozinha, ajudei no que pude em casa, vi televisão – coisa que menos gosto de fazer –, mas o tempo tornou-se maior e está difícil preenchê-lo.
Amanhã é segunda-feira – dia normalmente cheio: ginástica pela manhã, não pode; aulas à tarde, não pode; cirurgias eletivas, não pode.
Enfim, o dia será mais uma luta, para não entrar em colapso nervoso, enquanto nosso sistema de saúde se prepara para o que nem imaginamos.
Que Deus nos dê forças!
Dia 2
23 de março de 2020 [D2]
Mundo: Confirmados: 353.000, Mortes: 14.632
Brasil: Confirmados: 1.960, Mortes: 34
Minas Gerais: Confirmados: 128
Juiz de Fora: Confirmados: 8
Acordei hoje sem saber que dia era. Tive uma grande vantagem, ao menos saber quem era.
O grande problema do confinamento é que muitas vezes os dias são iguais e a gente se sente perdido. Você não faz nada no domingo que é o dia do tédio
e a sua segunda-feira será igual, porque você não pode fazer nada fora de casa. Acordei, levantei, tomei banho e fui para o desjejum. Parei para ver as novidades na internet, tudo e todos só falavam da mesma coisa. Tive que responder algumas dúvidas, inclusive de pacientes, e mandei mensagens para vários amigos e parentes para saber como estavam e para que soubessem que não estão sozinhos.
Aí, eu tive que sair: banco e farmácia. Rapidinho!
Encontrei na rua um bando de idosos perambulando descontraidamente. Um monte de outras pessoas andando por aí. E como disse um amigo: Com as ruas mais vazias, a sensação é que somos ET’s, ou estamos sendo observados por um bando de zumbis que, a qualquer hora, podem atacar e nos estraçalhar devorando-nos aos pedaços
.
Voltei para casa e postei novamente nas redes: FIQUEM EM CASA!
Entrei em casa como um vampiro que chega ao seu abrigo e consegue se proteger do Sol. Respirei fundo e estava de volta à minha