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Pronta Para Recomeçar
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E-book151 páginas2 horas

Pronta Para Recomeçar

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Sobre este e-book

Esta é a história de Monique, estudante de psicologia, contada por ela mesma. Tímida e insegura, provavelmente por grandes dificuldades na infância com sua mãe e colegas. É possível acompanhar a grande influência dessas emoções em diversos desafios enfrentados pela personagem, assim como o impacto em seu relacionamento com os outros personagens. Ela conta ao leitor grande parte de sua trajetória romântica e suas aventuras desde o início. Repleto de viagens, encontros e conflitos. Uma boa parte da história se passa durante a atual quarentena causada pela pandemia do COVID-19.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de mai. de 2020
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    Pronta Para Recomeçar - Cláudia Ricci

    Itapiruca

    Itapiruca era uma cidade comum, e também, como diziam, em desenvolvimento, com população de 387.492 habitantes. Tinha todos os serviços básicos, não precisávamos viajar para nenhuma necessidade comum. Negócios abriam todos os dias, e outros fechavam. A taxa de desemprego é baixa, ou melhor era. Agora muita gente já nem sabe se trabalha ou não, sendo sua principal função lidar com a expectativa. Mas não quero falar da cidade de hoje, mas da cidade em que cresci, vi florescer, aumentar a população e que mudou muito ao mesmo tempo em que nada mudou. 

    Apesar de charmosa e acolhedora, Itapiruca nunca foi uma cidade muito popular e dificilmente é incluída em roteiros turísticos. Na cidade não existem praias ou montanhas, o que há são muitos parques. Parque dos Pássaros, Parque Municipal, Parque das Árvores, Parque Continental, Parque das Acácias, Parque Florestal, Parque da Alvorada e outros parques menores. Provavelmente por esta razão pessoas sensíveis podiam sentir uma nova energia ao entrar na cidade. O clima ameno, consideravelmente quente e de pouca chuva, contribuia para o sucesso. As melhores festas também aconteciam nos parques, desde festas juninas e comemorações especiais de Natal, a casamentos e festas de aniversários. Também aconteciam em parques os luaus que traziam músicos amadores de muitas cidades vizinhas e as raves, famosas entre jovens das cidades próximas. As festas juninas eram bem populares com o famoso bolinho de Itapiruca, feito de carne, bacon, tomate e massa de feijão tropeiro.

    Na época em que morava lá era normalmente segura durante o dia e raramente crimes eram registrados neste período. À noite a recomendação era nunca andar sozinho, e quem andava de carro evitava ficar parado em sinais vermelhos. Assaltos à caixas eletrônicos eram comuns e se bobeasse com o celular na mão, era certo que ficaria sem o telefone.

    A cidade oferecia muito do que qualquer indivíduo pudesse necessitar, porém os mais jovens não viam a hora de poderem se mudar e ir morar em uma das cidades maiores, como São Paulo e Rio de Janeiro. Pessoas gostavam de fazer churrasco e os bem de vida tinham piscinas, e em suas casas aconteciam as melhores festas. Para os outros restavam um dos dois clubes da cidade, que eram perfeitos recantos para toda família nos fins de semana mais quentes. 

    Lá as quatro estações do ano são relativamente bem definidas. Na primavera os parques são lindos, floridos e com várias espécies de pássaros e borboletas. A temperatura é quente porém amena, variando de 20 a 25 graus. O verão é bem quente, chegando a 35 graus nos dias de mais calor. Também chove muito nessa época, mais do que no resto do ano inteiro. O outono tem bastante dias nublados e varia de 15 a 20 graus. O inverno traz um vento bem gelado e noites frias, e 5 graus foi a temperatura mais baixa registrada, mas normalmente não  é menor que 8 graus.

    Itapiruca tem três shopping centers, um é mais de estilo galeria, com apenas um andar. Dois deles têm salas de cinema, um deles tem boliche e teatro. Tem diversas academias e escolas de dança também são bem populares. Não faltam restaurantes bons a cada esquina porém não lembro de ter visitado nenhuma região brasileira em que não fosse assim. Churrascarias, comida por quilo, restaurantes japoneses e de frutos do mar são bem comuns. Em Itapiruca ainda existem fazendas tradicionais, e a maioria das carnes vendidas na cidade vem do gado da região. O mel e o limão de qualidade são exportados para outras regiões do Brasil.

    Embora não fosse uma cidade muito pequena, era comum encontrar pessoas conhecidas em todos os lugares. Nada passava batido, a fofoca estava presente e todo mundo sabia da vida de todos. Qualquer um que fizesse algo errado ou embaraçoso sabia que seria notícia por pelo menos um mês, e que por todo lugar onde andasse seria perseguido pelas lembranças.

    Apesar dos pesares e do fato de que muitos jovens deixavam a cidade, normalmente na época da faculdade, muitos acabavam voltando e criando seus filhos lá. Comigo não é diferente. Demorei para deixar Itapiruca mas hoje adoraria voltar e caminhar pelos seu parques novamente. Ouvir a sinfonia dos pássaros e deitar na grama em um dia de sol. Espero que este dia não demore a chegar, neste momento só me resta abraçar a saudade.

    Onde tudo Começou

    No dia 27 de janeiro de 1995 eu nasci. Minha mãe deu à luz a apenas uma criança apesar de estar contando com o nascimento de duas. Depois de carregar gêmeos em seu ventre por toda gravidez  encontrava-se então segurando apenas uma em seus braços. 

    Recebi o nome Monique, o qual significa , solitária. Meu pai estava até um pouco aliviado com a desgraça, posto que temia a pressão financeira que duas crianças ao mesmo tempo poderia trazer para a família. E se concentrou neste aspecto positivo para não se lamentar. Minha mãe, por outro lado, sofreu uma enorme dificuldade de se conformar. Escolheu o meu nome acreditando que de alguma forma eu havia rejeitado meu irmão gêmeo, e silenciosamente me culpava por não ter compartilhado mais oxigênio e nutrição com o outro feto, sendo assim de uma certa forma responsável por sua morte. 

    Todo o ressentimento foi de uma certa forma absorvido durante a minha infância e sem me dar conta me tornei uma criança insegura e propensa à solidão. Sempre brinquei sozinha e tinha dificuldades de interagir com outras crianças, e também por isso fui vítima da crueldade de algumas. Uma quase me fez comer areia por ter derrubado um castelinho que eu juro que parecia apenas um grande monte de areia. Em épocas que eu engordava também tinha que aguentar as piadinhas, e tudo que eu ganhava ao voltar para casa chorando era ficar sem refrigerante. Pior então foi quando tive que usar o aparelho de capacete, neste dia eu nem queria ir à escola de tanta vergonha. Quando entrei na sala eu pela primeira vez me tornei o centro da atenção, todas as crianças circularam em volta de mim e me olhavam com se eu fosse um alien, alguns até ficaram com medo.

    Minha mãe era religiosa e nunca teve problemas em expressar sua opinião sobre tudo e todos. Como se fosse representante de Deus e da verdade falava tudo com convicção, e ai de quem não prestasse atenção ou não levasse a sério. Qualquer palavra que saía de sua boca era lei. E ela não tinha filtro, não se importava com quem afetasse ou até machucasse. Ela realmente acreditava que eu de uma certa forma absorvi a energia do meu irmão gêmeo morto e agora deveria valer por dois. Eu sentia uma constante pressão em ser melhor e mais do que eu era. Não importa o que eu fazia, não era o suficiente, e o melhor que eu fazia não era mais que minha obrigação. 

    O ressentimento que de forma consciente e inconsciente ela sentia por mim, finalmente se calou sete anos depois quando ela ficou grávida do meu irmão Jonathan. Seu nome significa dado por Deus e dádiva do Senhor. Ela acreditava que ele era o mesmo espírito que tinha morrido em seu ventre e que Deus havia lhe curado e devolvido para ela. O meu irmão podia tudo e ai de mim se levantasse a voz para ele, porém seu nascimento tirou o foco de mim e isto em si era uma dádiva. Porém as cicatrizes na minha personalidade eram muito profundas e mesmo depois de muito anos ainda não me sinto valorizada ou merecedora de grande coisa. 

    Desde pequena me acostumei que não teria festas de aniversário. Todo ano era o mesmo roteiro. Nunca precisava trabalhar na data, chegava em casa e tinha um bolo de chocolate na mesa. Eu era autorizada a comer mais que dois pedaços. Eu ganhava roupas. Minha mãe nunca me comprava roupas, esta era a função do meu aniversário. Ela comprava uma peça para ela dar e outra para o meu pai, e eu também recebia uma do meu irmão menor desde seus 6 anos de idade. A Carla, provavelmente por notar a ausência da peça no meu guarda-roupa, sempre me dava um vestido.

    Apesar de não ter minhas próprias festas, tive o privilégio de ser convidada para muitas festas agradáveis. Uma que nunca esquecerei, porém não por bons motivos, foi o bailinho da Paula. Eu tinha 13 anos e fiquei com um menino bonito pela primeira vez. Foi tão bom que eu já estava fazendo planos para o futuro na minha cabeça. Ele até me convidou para ir ao cinema no dia seguinte. Mas de manhã na escola fingiu que não me viu, e quando me aproximei para perguntar do cinema, deu risada de mim na frente de seus amigos. Depois de encarar tamanha vergonha me fechei completamente para o sexo masculino. Me convenci de que não podia confiar nos meninos, e tudo que eles sabiam fazer era magoar meninas indefesas. Tive algumas experiências passageiras, mais por obrigação, para que os amigos dos meninos que se interessavam por Carla não passassem a noite em branco. Por muito tempo acreditei com toda força que nunca teria um namorado, e assim se resume a situação fantasma que assombrou o início da minha modesta vida romântica.

    Carla

    Não é surpresa que Carla e eu éramos destinadas a ser amigas. A mãe dela e a minha estudaram juntas no mesmo colégio que nós estudamos. Nossas famílias saíam com uma certa frequência para almoçar e até viajamos juntos para lugares próximos.

    Era bonita, chamava a atenção. Não que eu tivesse inveja dela, mas às vezes era difícil manter a auto-estima quando o gatinho e o amigo queriam conhecê-la. Era como se em vez de uma vela eu me tornasse o próprio candelabro. Eu era o presente de consolação.  Ela sempre me tratou como igual e não tinha o hábito de se gabar, logo de alguma maneira eu não me importava com a situação, e às vezes até parecia que ela precisava da atenção para ser feliz. Eu me convenci de que eu não precisava.

    Carla queria  ser veterinária, amava os animais. A casa dela era uma gritaria quando eu entrava. Era pássaro, papagaio, cachorros e gatos. Um dos cachorros achava que era lobo e de vez em quando uivava para o sol. A casa dela era enorme e por esta razão, mesmo superpopulada, cada um tinha o seu canto. Jardim bem cuidado, piso recém-trocado, decorações modernas e superfícies brilhantes revelavam que para sua família dinheiro não era problema. Para minha sorte ela era generosa, até agia como se eu tivesse o mesmo direito de desfrutar suas riquezas. Quando queria companhia não aceitava não como resposta. Dizia não adiantar ter isso tudo se não tivesse com quem compartilhar.

    Carla tem quatro irmãs. O pai dela sempre quis ter um filho, no final acabou se contentando em investir no primeiro time de futebol feminino da cidade com treinos no Clube Atlético

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