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O dia e o dia que o mundo acabou: Leitura, contos e ler livro com histórias de humor, esse livro é a melhor dica.
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O dia e o dia que o mundo acabou: Leitura, contos e ler livro com histórias de humor, esse livro é a melhor dica.
E-book186 páginas2 horas

O dia e o dia que o mundo acabou: Leitura, contos e ler livro com histórias de humor, esse livro é a melhor dica.

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Sobre este e-book

Leitura, contos e ler livro com histórias de humor, esse livro é a melhor dica. A divina comédia da vida nos permite uma história engraçada, romântica e abordando o fim do mundo de forma humorada.Sinopse:O fim do mundo retratado pelo autor Guigo está muito longe de uma epopeia apocalíptica ou de uma guerra planetária, mas no cerne de cada pessoa. O livro é composto por contos e sátiras para lá de hilários.Os capítulos falam do fim do mundo de cada pessoa, cada personagem. Apesar de engraçada e bem-humorada, a escrita aborda coisas do cotidiano. Nada de fantasia, de coisas imagináveis, são histórias bem reais, factíveis de realmente terem ocorrido; só que narradas de uma forma bem-humorada.Os advogados foram brincar de defender as pessoas; os médicos de curar; os engenheiros pensavam em pontes e os doceiros faziam sorrisos infantis. Devo admitir que o dia que o mundo acabou foi muito além dos filmes estrangeiros mal feitos, sem bombas ou fogo. O Senhor Supremo, aliás, seguia normalmente julgando nossos erros tão normais e não participou da festa. Sua cadeira confortável o permitia simplesmente assinar papéis e dizer adeus.Também não houve água, visto que o mar tem coisa muito mais importante pra fazer do que invadir as construções burocráticas e frias da cidade. Cometas? Insistiam em passar longe da terra. Só quem ler O dia e o dia que o mundo acabou é que vai compreender como tudo terminou... E dar umas boas gargalhadas por isso.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de out. de 2019
ISBN9781093879605
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    O dia e o dia que o mundo acabou - Guigo Ribeiro

    Tadeu

    Tadeu acordou e teve uma ideia: eleger quem é seu melhor amigo no mundo. A eleição poderia ser composta pelos candidatos da época da escola, mas os milhões de churrascos que ele foi convidado e não compareceu; churrascos estes regados a histórias chatas e antigas, aquelas sobre bombinhas no intervalo ou mesmo os apelidos dos professores, o fazia ter ataques de pânico. Ele nunca se aproximou dois passos disso. Pensou no pessoal do escritório, mas lembrou que estes não tinham muito assunto. Até suas roupas eram ridiculamente iguais, inclusive nas sextas-feiras, quando podiam comparecer ao trabalho com roupas mais descoladas. Até nesse dia era tudo igual. Calça jeans, sapato e a camisa que poderia representar um contraponto, isso pensando a altura da manga. A última tentativa foram os vizinhos. Dona Andréia era legal, mas já havia informado ao Tadeu todas suas dores, desde a constante enxaqueca até o câncer que teve em 1987. O cara que passava de bicicleta vendendo pão era legal, mas sempre tão apressado. E a buzina que ele tocava devia ser o som das maçanetas do inferno. Raramente aceitava doar sua atenção à interminável súplica sobre a vida de Ivone, conhecida do bairro. E só! Talvez o cachorro que cagava em sua porta... não.

    Tadeu acordou e resolveu escolher um melhor amigo. Passou um café, acendeu um cigarro e se sentou para ver o jornal matinal. A ideia de decidir quem era seu melhor amigo havia começado quando, em mais uma crise de insônia, achou um teste na internet em que o título era Você é um bom Amigo? E que consistia em perguntas muito complexas, que buscavam apurar as relações construídas diariamente entre as pessoas e seus níveis.

    A primeira pergunta era: quantos amigos você possui e pode contar? Tadeu matutou, matutou e respondeu; apenas respondeu a letra D com o resultado 10. Afinal, a perspectiva quantitativa é sempre um pressuposto de êxito.

    A próxima pergunta: Em caso de uma tristeza na madrugada, pra quem você pode ligar? Tadeu, constrangido, pulou a pergunta. Quem liga pra alguém nos dias atuais, meu Deus? Bobagem. Então veio a terceira pergunta: O que é para você um grande momento vivido com um amigo (a)?

    Essa era fácil! Não pôde especificar, mas lembrou que quando tinha 8 anos foi convidado por um amigo para ver a vizinha tomar banho.

    Esse dia aconteceu mais ou menos assim, apesar de não tanto assim: Tadeu era um menino que ficava grande parte do tempo fazendo nada. Não jogava bola, não corria, não empinava pipa e nem comia meleca, não saia na porrada com ninguém e muito menos apanhava de alguém. Eis que surgiu um menino do bairro que estava morrendo de medo de ver sozinho o que acontecia todas as tardes, por volta das 16h: a vizinha tomava banho e gostava antes de dançar um pouco em frente ao espelho. Um aquecimento para sua performance no chuveiro, interpretando as grandes canções do momento. Como ele estava sem coragem, pois certa vez quase foi pego, ganhando tapas e xingamentos, precisaria de algum parceiro. Então viu Tadeu fazendo nada e disse:

    — Amigo, vou te levar para ver algo muito legal. Melhor do que esse nada que você vive fazendo.

    E foram. Subiram a laje, se posicionaram com a vista para a janela e esperaram a moça, que neste momento ainda estava no camarim. Tadeu não imaginava que as mulheres ficassem nuas e achou estranho, mas ali ficou. A dança corriqueira começou e ele achando chata. Que dança é essa?, pensou. Seu amigo entrou em transe e o pequeno riso no canto de sua boca dizia muito mais que sua paralisia momentânea. Não falava nada, mas seu silêncio gritava um desespero juvenil; tão forte como a intensidade dos movimentos refletidos no espelho.

    Introdução feita, era hora do banho. Tadeu ficou observando a água batendo no corpo e o movimento do sabonete caminhando pelos braços e pernas, indo e vindo numa eternidade sem fim. Ele pensava: você já lavou aí, moça. Já o amigo babava. A moça parou os movimentos, pegou o shampoo e, ao abri-lo, parte jorrou em seu rosto, atingindo seu olho e a levando ao mundo do desespero. Enquanto lavava o rosto, gritava, gritava, gritava, fazia uma pausa e dizia com pouco amor: Filha da puta! Voltava a esfregar o rosto sem sucesso. O amigo seguiu com sua cara de escultura e o Tadeu, indignado, se aproximou da janela dando duas batidinhas no vidro:

    — Calma, moça! Esse shampoo não cega! Use água fria.

    A moça deu um berro de desespero no mesmo momento em que o amigo do Tadeu pulou a laje como um gato e, se desequilibrando ao cair, bateu a cara; ralando o queixo e também parte do bigode, comprometendo a rala penugem que começava a surgir. Tadeu precisou imitar o amigo e resolveu correr também, repetindo o salto da laje e obtendo sucesso. Pelo menos seu queixo não foi ralado, apenas o chinelo arrebentou, esfolando o dedo. Menos mau. Dá pra esconder fácil. Foi para casa e resolveu ficar quieto por alguns dias. Essas coisas de ver mulheres tomando banho e ter amigos poderiam resultar em polícia e Tadeu não via com bons olhos o cárcere, mesmo sem dimensionar do que se tratava. Na época não, já se perguntassem hoje, ele diria que tanto faz. Os dias caminharam calmos e pouco a pouco o fazer nada voltou a ser natural. Até que o amigo do Tadeu apareceu com o ralado já perto da total cura e perguntou:

    — Água fria é melhor?

    Tadeu não entendeu muito bem:

    — Como assim?

    O amigo de Tadeu o socou com toda força no olho, fazendo com que o pobre nocauteado caísse de bunda no chão e sem entender absolutamente nada, enquanto ouviu:

    — Passa água fria e de privada na porra desse olho porque ela colocou cortinas na janela.

    Tadeu resolveu parar nessa terceira pergunta e assumir a insônia rolando na cama até a hora que alguma coisa acontecesse. As três perguntas simples o transformaram em uma pessoa obcecada. Agora precisaria descobrir quem era seu melhor amigo. Afinal, as pessoas nas redes sociais têm 1.000, 2.000 amigos e não é possível que ele não tenha nenhum.

    Ao acordar, resolveu listar seus amigos e, como pessoas estava difícil, pesquisou uma palavra que representasse algo que foge do normal – palavras de dicionário legitimam ações, ele acreditava – e achou o termo senso comum. Pesquisou o que era e resolveu sair dele. Então elegeu como candidatos o seu micro-ondas, sua televisão e seu sofá. O critério adotado foi única e exclusivamente proximidade. Não seria uma decisão fácil e chegou a pensar que escolhendo um deles, geraria ciúmes nos outros. Vai que a tv desregula, o micro-ondas explode o hambúrguer de pacote que come todas as noites e o sofá quebra.

    Para fins de sanar seu problema, aceitou as possíveis dores dos itens do lar e foi em frente. Delimitando os candidatos, começou avaliando o micro-ondas. Tadeu sempre quis ter alguém para cozinhar para ele. Não importava muito a pessoa e o que essa representava. Se fosse uma cozinheira, uma mãe, avó, um jardineiro ou mesmo um cafetão, não importava.

    Nas raras vezes que foi almoçar em um restaurante, associou a comida pronta à pessoa que o serviu e teve momentos de amor pela mesma, comendo lentamente e chamando a cada 4 minutos a pessoa que o serviu simplesmente para dizer que estava muito bom. E em seguida piscava os olhos ridiculamente. Normalmente as pessoas agradeciam na primeira, sorriam na segunda e corriam na terceira. Após ordens superiores, regressavam aos chamados de Tadeu e se mantinham confiantes de que o rapaz que demorava 2 horas para comer um prato de macarrão com carne moída não fosse tirar a roupa no meio do restaurante e gritar coisas incompreensíveis.

    Em seus anos de vida, se acontecesse igual nos desenhos que ele adorava, de aparecer um gênio da lâmpada e oferecer 3 desejos, ele agradeceria o excesso e ficaria só com um: alguém pra cozinhar pra mim. Infelizmente o gênio nunca apareceu e ele nunca conseguiu pagar ninguém para essa função. Nas quatro tentativas, as pessoas foram embora de forma rápida e, três delas, sem buscar os pertences que ficaram. A que regressou, olhou diretamente para a bola do olho de Tadeu e disse:

    — Ainda receberei notícias de que você penetrou um prato de panquecas.

    Após as tentativas frustradas, Tadeu aceitou que teria que se alimentar de coisas prontas. Bolachas, lanches de padaria (sem a alegria do preparo e composição no prato) e afins.

    Foi quando uma pessoa de grande brilho e sabedoria, uma pessoa que Tadeu colaria um pôster em seu quarto e diria coisas bonitas se encontrasse na rua, inventou o micro-ondas. Na verdade, a informação da existência do mesmo chegou para Tadeu por acaso e ele associou que foi uma invenção daquele momento. Quem sabe, coisa de vinte minutos atrás. Após trabalhar duro no objetivo, Tadeu comprou o seu e o batizou de Dora. Não que a vida tivesse mudado muito, mas agora ele poderia comer em sua casa as mesmas porcarias da rua, contudo montaria no prato como bem quisesse. E daria um beijo em Dora sempre, sem ninguém prever acertadamente o que faria com as refeições no futuro. Sim, Dora é uma grande amiga.

    O segundo amigo a ser avaliado foi a televisão. A casa de Tadeu era muito normal, assim como ele. As paredes tinham uma cor velha e desbotada igual as suas camisas, os quadros remetiam às pessoas com cortes de cabelo alto em cima e baixo, embaixo; assim como o corte dele. A cortina que ele tinha foi deixada na porta de sua casa logo após duas acusações de atentado ao pudor por sua nudez distraída; aquela nudez de quem resolve caminhar pela casa nu, desconsiderando as pessoas que passam e o veem.

    Como perceberam que Tadeu era um ponto parado no mundo, largaram uma caixa em sua porta e, como após duas semanas o pelado insistia em transitar pelos cômodos, invadiram a residência e instalaram os inibidores de nudez/muro de privações. Melhor assim.

    No mais, tudo igual. Sobretudo a televisão, mas como uma peculiaridade: ela nunca era desligada. Tadeu a mantinha ligada relativamente alta por algumas questões que iam desde os diálogos travados com a mesma e por segurança da casa em sua ausência. O comercial falando do novo laxante poderia afastar ladrões. A presença era tão forte que Tadeu discutia com a tv o resultado do futebol, avisava os ocorridos em campo e pedia que o auxiliar levantasse logo a placa, porque já sabia que aos 20 minutos do segundo tempo aquele atacante grosso entraria.

    Também discutia com o jornal. Mas a linha de argumentação era reta: exatamente. É isso mesmo. Ele é mesmo um grande filho da puta. A conexão desse amor era tão intensa que Tadeu sonhava com ela e, quando não estava sonhando, falava dormindo enquanto o aparelho varava a madrugada no volume trinta, às quatro da manhã.

    Tadeu não tinha um programa preferido. Havia aderido à programação inteira como preferida e fazia dela sua fonte de adesão de novos conceitos. A programação de domingo era fantástica, dizia para ele mesmo enquanto permanecia sem piscar. A voz muda conforme o horário e era prontamente respondida por Tadeu, o fazendo pensar como seria a pessoa que fala e como seria legal essa pessoa. Até porque, essa pessoa parece rir enquanto fala.

    Nos dias de faxinas, a televisão recebia uma atenção tão grande como uma fralda trocada, tendo os caprichos de cotonetes passados nos canais de áudio e produtos diferentes para cada cor de cabo. A tela era limpa com movimentos circulares sempre da esquerda para a direita e por sete vezes em cada parte. Não vou me deter aqui sobre como é tal divisão. É muito complexo. Após a limpeza, o aparelho ganhava um beijo carinhoso para depois ter a saliva da tela retirada. Companheira de dia e de noite, Tadeu concluiu que seria muito difícil não escolher a televisão, mas que era chato ainda não ter dado um nome carinhoso para ela.

    Por fim, coube ao sofá tentar convencer Tadeu de sua amizade e serviços prestados para vencer a eleição. Fato: o sofá era uma porcaria para os estranhos, mas como nunca havia estranhos na casa, ele era simplesmente fantástico. Não era grande e tinha cor de gato de rua ou trapo passado todo dia na garagem para limpar urina dos cães. O sofá entrara na vida de Tadeu em um bate papo com o apresentador de um comercial de sofás, apresentador que também falava sorrindo, mas que não despertava a atenção justamente porque era possível ver sua cara. Mas o papo foi construtivo:

    — Para relaxaaaaaaaaaaar, descansaaaaaaar, e aproveitaaaaaaaaaaaaar seu bom tempo de descanso, leve esse sofá em promoção.

    Tadeu perguntou:

    — Quanto?

    Apresentador:

    — Por apenaaaaaaaaaaaaaas 1.000 dinheiros. Você não pode perder.

    Tadeu julgava perder tudo, mas era sem querer. Isso ele não podia perder e não perdeu. Vai ver que a extensão das palavras ativou alguma região do seu cérebro a ponto de não querer perder grandes chances. Foi na loja no dia seguinte, assinou todos os papéis que pediram e recebeu o sofá em sua casa. O colocou onde coube e se acomodou como pôde.

    Enfim, não perdeu. Deitou-se de forma tão gostosa, mas tão gostosa, que deu razão para o apresentador. E tão gostoso que foi, nunca mais se deitou de outro jeito. Após longo tempo de uso, o sofá adquiriu seu formato e alinhamento com a posição do controle, concordando com o menor número de passos para a cozinha. Era item tão privilegiado, que certa vez, ao tentar limpá-lo, teve a impressão que não era do agrado do mesmo tal ato e nunca mais o fez, apenas se desculpou.

    Assim, as manchas de molhos, pedaços de comidas e migalhas de pão foram absorvidos ao forro, o que tornava ele mais confortável, segundo a concepção do nosso nobre júri. O sofá ganhou o apelido estranho, porém compreensível de Abraço. Nele Tadeu ficava quase todo tempo livre, por vezes substituindo sua cama. Outras muitas, a vida. Ao pensar sobre o Abraço, Tadeu tinha uma grande tristeza por não saber escolher seu melhor amigo e uma grande alegria por ter amigos.

    As tentativas para facilitar a eleição foram várias. Tentou uma sorte com os nomes de cada item, mas achou injusto. Palitinho? Não soube aplicar o critério. E outras coisas: Contou quanto tempo ficava com cada item, mas desistiu porque eles eram interligados, como se o tempo fosse o mesmo para todos, num universo tão terrível e belo que ele não poderia fugir. Muito menos queria.

    Quem é o mais bonito e os grandes momentos vividos neles também

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