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Bucareste - Budapeste: Budapeste - Bucareste
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E-book90 páginas55 minutos

Bucareste - Budapeste: Budapeste - Bucareste

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Sobre este e-book

Três narrativas distintas, que se passam em diferentes capitais da Europa oriental, compõem o mais novo livro do escritor Gonçalo M. Tavares, Bucareste‑Budapeste: Budapeste‑Bucareste, lançado agora no Brasil. Nascido em Angola e radicado em Portugal, Gonçalo M. Tavares é um dos mais destacados escritores da atualidade, tendo livros seus traduzidos em cerca de cinquenta países e tendo sido já agraciado com o Prêmio Oceanos, o Prêmio Literário José Saramago e, entre outros, o Prix du Meilleur Livre Étranger (com Aprender a rezar na Era da Técnica) – premiação francesa que já consagrou autores como Gabriel García Márquez, Philip Roth e Orhan Pamuk. É em meio a tamanho reconhecimento que o autor de cinquenta anos de idade retorna às livrarias brasileiras, com mais uma obra atravessada por sua escrita original e ácida, por vezes sarcástica, trazendo em mãos narrativas ambientadas em Bucareste, Budapeste, Belgrado e Berlim.Em uma das histórias, acompanhamos a saga de dois irmãos para desmembrar e atravessar uma volumosa estátua de Bucareste para Budapeste, via fronteira terrestre – e eles marcham separadamente: um a levar o corpo da obra; o outro, a cabeça. A ideia é não deixar às vistas dos guardas fronteiriços a identidade do retratado, já que isto poderia trazer sérias complicações aos dois sujeitos, que tentam levar uma obra de grande valia para um milionário. Enquanto isso, na direção contrária, está Miklos, que vai buscar a mãe morta em Budapeste, na tentativa de trazê-la a Bucareste e ali enterrá-la – passando também pela fronteira entre Hungria e Romênia, por terra. Miklos percorre uma travessia particular, primeiro em busca da casa da mãe e, depois, na lida com o corpo em decomposição. Na narrativa seguinte, ficamos por conhecer “Vujik, o vampiro”, um habitante de Belgrado que tem por hábito devorar fotografias. Por meio dessa prática, Vujik busca apreender as imagens, os lugares e os conteúdos do mundo. É no desvelar da história, entretanto, que compreendemos mais da rotina misteriosa de Vujik, a forma singular de se comunicar e se relacionar com a vida exterior a si mesmo.Por fim, chegamos à Martha, nascida e criada em Berlim, a constantemente comentar sobre a presença excessiva de estrangeiros, a cor, os idiomas e o cheiro que possuem, criando um constante ambiente de tensão, racismo e xenofobia. Por meio de uma metáfora estridente, compreendemos que Martha não consegue conceber o fato de que estrangeiros varram e, portanto, limpem Berlim. Como o próprio escritor de Bucareste‑Budapeste: Budapeste‑Bucareste define, as histórias do livro estão centradas no “aparente ajustamento, ou no desfasamento forte, entre a grande história e as pequenasvidas”, isto é, rememoram acontecimentos históricos marcantes que ocorreram nos pontos do globo mencionados nas histórias, especialmente durante o século XX – acontecimentos que moldaram as vidas das pessoas, engendraram subjetividades e, até hoje, reverberam e produzem materialidade. Dessa forma, mesclando ironia e crítica,Tavares aproxima grandes acontecimentos do passado a gestos atuais do cotidiano, realocando o macrofactual no micro, mencionando líderes de outrora, políticas de Estado nefastas e comportamentos opressores, excludentes, que ainda perduram. Por vezes, Tavares deixa evidente o absurdo, o trágico, o indigno que perpassa essas situações – fazendo-nos sentir vivas questões de outros tempos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de ago. de 2021
ISBN9786586280777
Bucareste - Budapeste: Budapeste - Bucareste
Autor

Gonçalo M. Tavares

Nasceu em Luanda, em 1970, tendo ido logo a seguir para Portugal. Premiado e elogiado pela crítica, estreou em 2001 com Livro da dança, e vem se firmando como uma das maiores vozes do romance português contemporâneo.

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    Bucareste - Budapeste - Gonçalo M. Tavares

    Folha de rosto

    © Gonçalo M. Tavares, 2019

    © Oficina Raquel, 2020

    EDITORES

    Raquel Menezes

    Jorge Marques

    ASSISTENTE EDITORIAL

    Mário Félix

    REVISÃO

    Oficina Raquel

    CAPA E PROJETO GRÁFICO

    Raquel Matsushita

    DIAGRAMAÇÃO

    Julio Cesar Baptista

    PRODUÇÃO DE EBOOK

    S2 Books

    Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

    Tavares, Gonçalo M., 1970-

    T231b

    Bucareste-Budapeste : Budapeste-Bucareste / Gonçalo M. Tavares. – Rio de Janeiro : Oficina Raquel, 2021.

    107 p. ; 21 cm.

    ISBN 978-65-86280-77-7

    1. Contos portugueses I. Título.

    CDD P869.3

    CDU 821.134.3-34

    Bibliotecária: Ana Paula Oliveira Jacques / CRB-7 6963

    Este livro segue as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

    Todos os direitos reservados à Editora Oficinar LTDA ME. Proibida a reprodução por qualquer meio mecânico, eletrônico, xerográfico etc., sem a permissão por escrito da editora.

    Este livro teve apoio da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas

    www.oficinaraquel.com.br

    dedicado a Luís Mourão (1960-2019) professor universitário, estudioso da literatura portuguesa um homem rápido, inteligente, generoso

    ÍNDICE

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Dedicatória

    Bucareste-Budapeste: Budapeste-Bucareste

    A fotografia — historia do vampiro de Belgrado

    Episódios da vida de Martha, Berlim

    Notas sobre o projeto das cidades

    BUCARESTE-

    BUDAPESTE:

    BUDAPESTE-

    BUCARESTE

    I

    Chegados de Budapeste. Dois vultos de noite. Duas manchas escuras sobre uma grande mancha escura. Mas as duas pequenas manchas escuras agem, têm um objetivo; a noite, essa — a grande mancha escura —, tudo indica que não; não tem objetivo.

    Primeiro destroem o cadeado. A fechadura da porta do armazém é robusta. Utilizam o fogo. Depois um empurrão entusiasmado, dois corpos contra um portão alto e largo, mas já sem fechadura. Igual a uma pessoa indefesa: um portão indefeso; fechadura partida.

    Os dois homens entram para um novo escuro, um escuro mais pequeno, fechado, organizado. É dentro da noite, mas fora da noite. Sabem bem o que procuram, os dois homens. Há muitos objetos guardados no armazém, mas os dois homens não vêm visitar, não estão perdidos. Já sabem o que querem. Ali está.

    A luz da lanterna torna evidente o que do outro lado a enorme estatura da coisa torna também evidente. Luz de um lado e proporções gigantes do outro. Está ali, murmura um dos homens.

    Aproximaram-se. Tiraram tudo da frente.

    Tarefa difícil. Muitos objetos guardados. Objetos valiosos — algumas peças em ouro. Mas não era disso que eles estavam à procura. O que agora, sim, tornava mais estranha esta incursão noturna, este assalto: quando alguém não quer ouro, e o despreza, então quer algo ainda mais poderoso, e tal desejo assusta. Não é precipitado recear os homens que ignoram o ouro; faz sentido receá-los mais ainda do que aos homens obcecados por esse metal.

    De fato, não. Os dois homens querem apenas aquele objecto enorme, com mais de dois metros.

    Um dos irmãos procurou e encontrou um banco. Colocou-o junto ao enorme vulto que se constituía como o único foco daquele crime. Era uma estátua, eis que tal é já evidente. E é essa estátua que eles pretendem. Porém, a enorme estátua está rodeada por um plástico que a cobre por completo. É necessário confirmar que aquela é a estátua. Seria um desastre roubar a estátua errada. Um dos irmãos sobe então lá acima. A sensação é igual à sentida no velório quando se vai olhar pela primeira vez para o rosto do morto para confirmar se é mesmo o morto; se a cara do morto ainda se consegue identificar com a do vivo.

    É o irmão mais novo que sobe ao banco. Lá de baixo o outro diz-lhe, baixinho, para rasgar, à força, com as mãos, o material que cobre o rosto da estátua. Depois tapariam tudo de novo, sem qualquer problema.

    O homem mais novo está já defronte de um plástico e adivinha-se do outro lado, coberto, um rosto. Com as duas mãos e um tremendo esforço, ele abre o invólucro a meio na zona que anuncia o rosto da estátua. Atrás desse plástico há ainda um outro. A cara da estátua ainda não se vê.

    São vários plásticos — diz o irmão mais novo lá de cima.

    Cá em baixo, entretanto, o homem dirige a lanterna para a zona onde dez dedos voltam de novo à intensidade brutal.

    Os plásticos são grossos, ele nunca conseguiria rasgar mais do que um de cada vez.

    Continua! — murmura o irmão cá em baixo.

    O segundo plástico está rasgado e há ainda um terceiro. É o último, parece.

    É o último — diz o irmão lá em cima.

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