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Crónicas do Inesperado
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Crónicas do Inesperado
E-book238 páginas2 horas

Crónicas do Inesperado

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Sobre este e-book

"Em 'Crónicas do Inesperado', o leitor entrará numa viagem através de 40 contos fascinantes e surpreendentes que exploram as muitas facetas da existência humana em cenários paralelos e misteriosos. Cada história desvenda um enigma, revela segredos ocultos e mergulha em dilemas morais, à medida que os personagens enfrentam escolhas impossíveis e se vêem diante de desafios inimagináveis.

Desde espelhos mágicos que reflectem verdades inquietantes até portas que conduzem a realidades alternativas, passando por objectos encantados que concedem desejos e tecnologias perturbadoras que transformam o mundo, ' Crónicas do Inesperado' cativa o leitor com sua criatividade e originalidade. Cada história é uma porta para um universo diferente, onde as regras da realidade são desafiadas e as decisões tomadas pelos protagonistas têm um impacto profundo nas suas vidas e no mundo ao seu redor.

Prepare-se para explorar o paradoxo da invisibilidade, descobrir o significado do silêncio, e desvendar os mistérios de museus misteriosos que guardam segredos do passado e do futuro. À medida que você mergulha em cada conto, será confrontado com questões intrigantes sobre ética, destino, e a natureza da realidade.

' Crónicas do Inesperado'' é um livro que desafia as fronteiras da imaginação, mergulhando profundamente na condição humana e nas escolhas que moldam nossas vidas. Prepare-se para uma jornada inesquecível por universos paralelos e descubra as consequências inesperadas que aguardam aqueles que ousam explorar o desconhecido."

IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de dez. de 2023
ISBN9798223419372
Crónicas do Inesperado

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    Crónicas do Inesperado - Américo Moreira

    Crónicas do Inesperado

    Américo Moreira

    Conto 1

    O Espelho da Verdade

    Era uma manhã comum quando Daniel encontrou o espelho. Caminhava apressado pelas ruas apinhadas da cidade a caminho do trabalho, evitando esbarrar nos transeuntes, quando algo no chão chamou sua atenção. Entre as pedras da calçada, viu o que parecia ser a extremidade de um objecto metálico.

    Abaixou-se para examinar e constatou tratar-se de uma moldura prateada, parcialmente coberta por folhas e sujidade. Com cuidado, ergueu o objecto, limpando a poeira com as mangas do casaco. Tratava-se de um espelho oval de tamanho mediano, com a moldura intricadamente trabalhada em arabescos.

    Por um instante, Daniel viu seu próprio rosto reflectido no objecto. Então, para sua surpresa, a imagem tremeluziu e mudou subitamente. Em vez de seu rosto, viu o semblante de um completo estranho encarando-o. Tratara-se de uma ilusão momentânea ou o espelho era mágico de alguma forma?

    Intrigado, guardou o artefacto na mochila para examiná-lo mais tarde. Seguindo apressado para o trabalho, logo colocou o episódio curioso em segundo plano. Somente muitas horas depois, em casa, teve hipótese de retirar o espelho da mochila e observá-lo detidamente.

    A moldura prateada cintilava, gravada com símbolos que não reconheceu. Passou os dedos sobre os intrincados arabescos, sentindo o metal liso e frio. Hesitante, ergueu o espelho até ficar frente a seu rosto. Dessa vez, porém, não viu seu reflexo habitual.

    No espelho, havia a imagem nítida de um homem mais velho, de vestes estranhas e longas barbas grisalhas. Daniel arregalou os olhos, surpreso. Seria apenas sua imaginação pregando partidas? Mas a imagem permaneceu estável, piscando os olhos com naturalidade.

    Quem é você? - Daniel perguntou, atónito.

    Sou apenas um viajante em procura da verdade. - respondeu o homem no espelho, com voz calma e profunda.

    Daniel hesitou, confuso se devia prosseguir na conversa com uma possível alucinação. Por fim, a curiosidade venceu.

    Um viajante? Mas como você entrou neste espelho?

    Este não é um espelho comum. Ele mostra não seu reflexo, mas sua verdadeira essência.

    Minha... verdadeira essência?

    Sim. Eu sou um fragmento de sua consciência, vim guiá-lo na sua procura pela verdade. Muitos não estão preparados para encarar esse caminho. Mas para aqueles determinados o bastante, grandes revelações aguardam. Deseja prosseguir?

    Daniel ficou em silêncio, reflectindo sobre aquelas palavras estranhas. Seria mesmo possível aquele objecto conter magias e mistérios além da compreensão humana? Ou seria apenas uma peça decorativa comum?

    A única forma de saber era mergulhar naquela experiência extraordinária. Respirando fundo para reunir coragem, ele assentiu:

    Sim. Quero descobrir os segredos deste espelho.

    Muito bem. Volte amanhã neste mesmo horário, e então iniciaremos sua caminhada rumo à verdade.

    Dizendo isso, a imagem do homem tremuziu até desaparecer, dando lugar ao reflexo habitual de Daniel. Com o coração acelerado, ele guardou cuidadosamente o espelho. Mal podia esperar pelo dia seguinte e o que aquele artefacto mágico revelaria.

    No dia seguinte, Daniel chegou a casa ansioso, contando os minutos para retirar o espelho da gaveta onde o escondera. Quando finalmente se viu sozinho, trancou a porta, acendeu a luz e posicionou o artefacto sobre a mesa.

    Como na noite anterior, seu reflexo logo foi substituído pela imagem de um homem distinto. Desta vez, porém, não se tratava do ancião de barbas grisalhas. O rosto que o encarava do espelho era o de um senhor de meia idade, com olhar intenso emoldurado por espessas sobrancelhas.

    Olá novamente, Daniel. Está preparado para iniciar a caminhada?

    Sim, estou pronto. - respondeu, sem conseguir conter sua ansiedade.

    Muito bem. Para descortinar os segredos deste espelho, precisamos primeiro romper o véu de ilusões que todos carregamos sobre nós mesmos. Ninguém melhor para isso do que aqueles que nos conhecem bem. Portanto, sua primeira tarefa será conversar com seu amigo mais próximo, Ernesto amanhã.

    Daniel concordou. Conhecia Ernesto desde a infância, devia haver poucos segredos entre eles. Seria um bom começo para essa estranha investigação.

    No dia seguinte, foi até a casa de Ernesto determinado a descobrir qual verdade o amigo guardava sobre ele. Após as saudações iniciais, explicou brevemente sua experiência com o espelho e o objectivo da conversa. O amigo riu e meneou a cabeça, céptico.

    Você e suas ideias mirabolantes, Daniel! Mas já que me chamou até aqui, estou pronto para sua análise.

    Tomando fôlego, Daniel fez a pergunta crucial:

    Ernesto, sem rodeios, me diga: qual diria que é a minha maior fraqueza?

    O amigo coçou a barba, pensativo. Por fim, respondeu:

    Bem, se quer mesmo minha opinião sincera, diria que é o seu perfeccionismo excessivo. Você sempre quer que tudo saia exactamente como planeou, sem espaço para imprevistos ou flexibilidade. Isso o deixa mal humorado quando as coisas não acontecem do jeito que queria.

    Daniel ouviu, surpreso. Jamais havia pensado em si mesmo como perfeccionista. Considerava-se apenas dedicado e meticuloso com seus projectos. Será que o seu amigo tinha razão?

    Agradeceu a sinceridade de Ernesto e despediu-se pensativo, ansioso para consultar o espelho mais tarde. Chegando em casa, a imagem do homem misterioso logo apareceu para ouvi-lo.

    E então, o que descobriu hoje?

    Meu amigo me chamou de perfeccionista excessivo. Disse que fico mal humorado quando as coisas não saem como planeei.

    O homem assentiu sabiamente.

    Interessante. E você concorda com essa avaliação?

    Daniel hesitou.

    Não me tinha visto dessa forma, mas talvez ele tenha razão. Preciso reflectir mais sobre isso.

    Excelente. Autoconhecimento requer olhar para nós mesmos por diversos ângulos. Amanhã conversaremos com mais uma pessoa. Até lá, reflicta sobre o que aprendeu hoje.

    Daniel assentiu, sentindo-se já modificado por aquele simples exercício. Pela primeira vez, vislumbrava o quanto suas percepções sobre si mesmo podiam estar distorcidas ou incompletas. O que mais o espelho revelaria à medida que se aprofundasse naquele caminho?

    Nos dias que se seguiram, Daniel prosseguiu a orientação do conselheiro do espelho, conversando com pessoas próximas e fazendo perguntas para revelar seus traços ocultos.

    Sua irmã Yasmin comentou sobre sua teimosia e dificuldade em reconhecer os próprios erros. Pedro, um antigo colega, mencionou seu pessimismo e tendência a ver apenas o lado negativo das coisas. Um após o outro, pequenas informações iam ampliando sua percepção sobre si mesmo.

    Certa noite, ao consultar o espelho sobre o progresso de seu autoconhecimento, Daniel fez uma pergunta crucial:

    Essas revelações todas vieram de outros. Mas e quanto aos meus próprios segredos, desejos que nunca revelei? O espelho pode desvendar também essas verdades ocultas?

    O homem no espelho sorriu empaticamente.

    A questão é pertinente. Com o tempo, aprenderemos também a desenterrar os segredos que escondemos de nós mesmos. Por enquanto, continue observando sua vida com olhos atentos. Às vezes, somente com nossa procura sincera, dados importantes virão à superfície naturalmente.

    Incentivado, nos dias seguintes Daniel procurou olhar para si mesmo e suas escolhas sob nova perspectiva. Começou a notar padrões que antes ignorava em seu comportamento.

    Percebeu como escolhia caminhos seguros e familiares para evitar decepções, mesmo que isso limitasse suas experiências. Viu como projectava nos outros traços que não gostava em si mesmo. Aos poucos, descortinava camadas de sua mente que permaneciam obscuras.

    Numa noite, após um dia exaustivo, Daniel preparava-se para dormir quando uma lembrança há muito enterrada veio à superfície. Era uma cena da adolescência, de quando descobrira que seu melhor amigo namorava a rapariga por quem Daniel estava apaixonado em segredo.

    Na época, engolira o ciúme e dor, fingindo apoiar o relacionamento. Mas a mágoa sempre permanecera latente dentro dele. Nunca tivera coragem de admitir, nem para si mesmo, o quanto aquilo o marcara.

    Deitado na cama, digerindo essa revelação tardia, Daniel compreendeu que o espelho já operava sua mágica. Cada nova camada de autoconhecimento o aproximava um pouco mais de sua essência verdadeira. Com paciência, todas as sombras em seu interior acabariam vindo à luz.

    E quando enfim se visse na totalidade, sem máscaras ou ilusões? Daniel não fazia ideia do que encontraria nesse ponto da caminhada. Mas não poderia recuar agora. Impulsionado por uma sede profunda de desvelar seus segredos mais íntimos, estava determinado a prosseguir.

    Nas semanas seguintes, Daniel seguiu imerso na caminhada de autoconhecimento. Suas conversas com o conselheiro do espelho se tornavam cada vez mais profundas. Certa noite, expôs suas inquietações:

    Conforme desvelo mais camadas de mim mesmo, sinto que me aproximo de verdades desagradáveis. Tenho receio do homem que encontrarei quando todas as máscaras caírem.

    É natural sentir medo diante do desconhecido. - respondeu o conselheiro com tranquilidade - Mas não devemos temer nossa própria essência. Lembre-se, não julgue ou condena o que encontrar pela frente. Apenas observe, sem apego às expectativas prévias sobre quem você é ou deveria ser.

    Confortado por essas palavras, Daniel prosseguiu. Nos dias que se seguiram, lembranças antigas afloravam com frequência em sua mente. Recordou as muitas vezes em que mentira para os pais quando adolescente para ir a festas proibidas.

    Reviveu as paixões avassaladoras, mas passageiras, que inflamaram seu coração impetuoso de jovem. Relembrou momentos em que ferira pessoas amadas em rompantes de raiva. Tudo isso fazia parte de sua caminhada, e devia encará-lo com equanimidade.

    Certa noite, uma lembrança especialmente perturbadora veio à superfície. Estava novamente diante dos olhos a cena da tarde fatídica em que encontrara a namorada aos beijos com seu melhor amigo. Na época, entrara em fúria cega, esmurrando o rapaz até deixá-lo ensanguentado antes de ir embora em pranto.

    Procurara esquecer esse episódio violento, envergonhado de si mesmo. Mas agora, era hora de encarar sua sombra de frente, sem falsas ilusões. Aquela raiva extrema também era parte dele, por mais que doesse admitir. Com o tempo, Daniel esperava integrar e transformar inclusive essa faceta obscura.

    E assim as revelações prosseguiram, dia após dia. Como o conselheiro prometera, à medida que seu autoconhecimento aumentava, Daniel sentia-se cada vez mais inteiro e em paz consigo mesmo. Já não temia o desconhecido dentro de si, mas ansiava por desvelá-lo. Sentia-se próximo agora, muito próximo, do centro luminoso de sua verdade. Bastava prosseguir mais um pouco...

    Finalmente, depois de longas semanas, a grande revelação que Daniel tanto aguardava estava prestes a acontecer. Naquela noite, o conselheiro do espelho surgiu com um olhar solene, indicando que o momento crucial se aproximava.

    Daniel, estamos nos aproximando do clímax de nossa caminhada. Como você mesmo pressentiu, descobertas desafiadoras o aguardam. Mas agora está preparado para encará-las de frente e sem medo. A única pergunta que importa é: deseja prosseguir?

    Daniel respirou fundo. Não havia mais volta. Semanas atrás, quando encontrara o espelho, jamais imaginaria até onde aquela decisão o levaria. Fora uma caminhada árdua, por vezes dolorosa, mas que o transformara profundamente. Estava pronto para desvendar seu verdadeiro eu, mesmo que ainda restassem sombras.

    Sim. Devo prosseguir. Cheguei até aqui, preciso terminar o que comecei.

    O homem assentiu solenemente. Seu semblante tremoluziu, assumindo contornos difusos, até que uma nova imagem surgiu no lugar. Diante do espelho, Daniel agora via a si mesmo reflectido. Não uma versão idealizada, mas tão realista que chegava a ser inquietante.

    Seu reflexo parecia encará-lo com um olhar penetrante, como se perscrutasse os recônditos de sua alma. Em silêncio, apenas se observavam, até que o reflexo resolveu falar:

    Daniel, finalmente chegou a hora de encarar a verdade. Durante toda a vida, você tentou suprimir sua essência. Temia seu próprio potencial, por isso se limitou a uma existência medíocre e sem brilho. Mas não é tarde para mudar. Está na hora de deixar seu verdadeiro eu emergir!

    Daniel recuou, assustado. Do que aquela imagem estava falando?

    Meu verdadeiro eu? O que quer dizer com isso?

    Ora, não se faça de desentendido! - o reflexo trovejou, com um brilho feroz no olhar - Sabe muito bem do poder que carrega dentro de si. A força vital que sempre procurou negar, por medo de si mesmo. Mas agora é o momento de deixá-la fluir livremente, assumindo seu destino glorioso!

    Um calafrio percorreu o corpo de Daniel ante aquelas palavras. Seu reflexo prosseguiu, cada vez mais exaltado:

    Você nasceu para grandes feitos, muito além desta vida patética que leva! Tem o potencial para ser um líder, influenciar multidões, alterar o curso da história! Deixe essa fraqueza para trás

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