Como sair das bolhas
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Pré-visualização do livro
Como sair das bolhas - Pollyana Ferrari
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Reitora: Maria Amalia Pie Abib Andery
EDITORA DA PUC-SP
Direção: José Luiz Goldfarb
Conselho Editorial
Maria Amalia Pie Abib Andery (Presidente)
Ana Mercês Bahia Bock
Claudia Maria Costin
José Luiz Goldfarb
José Rodolpho Perazzolo
Marcelo Perine
Maria Carmelita Yazbek
Maria Lucia Santaella Braga
Matthias Grenzer
Oswaldo Henrique Duek Marques
Fontspício do livro© Pollyana Ferrari. Foi feito o depósito legal.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri / PUC-SP
Ferrari, Pollyana
Como sair das bolhas / Pollyana Ferrari. 2ª ed. revista e ampliada - São Paulo : EDUC, 2021.
1. Recurso on-line: ePub
Disponível para ler em: todas as mídias eletrônicas.
Acesso restrito: https://pucsp.br/educ
ISBN 978-65-87387-25-3
1. Comunicação de massa. 2. Internet - Aspectos sociais. 3. Mídia digital - Aspectos sociais. 4. Redes sociais on-line. 5. Veracidade e falsidade. I. Título
CDD 302.23
303.4833
1ª edição: 2018
EDUC – Editora da PUC-SP
Direção
José Luiz Goldfarb
Produção Editorial
Sonia Montone
Preparação e Revisão
Cemear Produções
Editoração Eletrônica
Gabriel Moraes
Waldir Alves
Capa
Vitorelo (Ilustração)
Administração e Vendas
Ronaldo Decicino
Produção do ebook
Waldir Alves
Revisão técnica do ebook
Gabriel Moraes
Rua Monte Alegre, 984 – sala S16
CEP 05014-901 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3670-8085 e 3670-8558
Site: www.pucsp.br/educ
E-mail: educ@pucsp.br
Para meus pais, que me deram a vida e esse nome carregado de esperança!
Post-scriptum para a segunda edição
Lucia Santaella
O tempo transcorrido entre a primeira edição e o momento presente vem comprovar, antes de tudo, o quanto este livro, Como sair das bolhas, foi pioneiro no contexto brasileiro. No início dos anos 2018 ainda pouco se falava sobre os temas que se tornariam obrigatórios dada a relevância que passaram a ter os sinais de alerta e as discussões sobre eles: as fake news e a pós-verdade. Naquele momento, ainda não havíamos passado pelas eleições de 2018 no Brasil, ocasião em que a proliferação de fake news se tornou visível e os antídotos contra elas, efetuados pelo esforço jornalístico de checagem dos fatos, intensificaram-se no campo de batalhas.
Ao mesmo tempo, além das fake news, vários fatores, nos últimos anos, foram acentuando o mal-estar em relação às redes sociais. O primeiro deles diz respeito à disseminação incontrolável, dentro das redes, especialmente do Twitter e do YouTube, de bots envenenados de falsidade a serviço das distorções dos fatos e da manipulação com propósitos espúrios. A palavra "bots" deriva de robôs que nada se assemelham a homúnculos visíveis, mas, sim, são programas de computador invisíveis que circulam pela internet realizando tarefas repetitivas e automatizadas. No caso das fake news, como o próprio nome diz, a tarefa é repetir indefinidamente informação enganosa, na maior parte das vezes de caráter político.
Trata-se de empresas que vendem perfis falsos de redes sociais dos quais se valem para a circulação de conteúdos que simulam, tanto na visualidade quanto nos mecanismos de interatividade, atividades dos usuários das redes. Com isso, acaba por se constituir uma verdadeira indústria de bots, um mercado clandestino destinado a aumentar o número de seguidores e de likes em determinadas contas para propagar mentiras. Quando se sabe o quanto a mentira pode prejudicar a sanidade do debate público de que depende a construção da cidadania, pode-se imaginar os malefícios provocados pelas fake news especialmente quando municiadas pelos bots.
O segundo fator responsável pelo mal-estar foi perfeitamente retratado no documentário acessível na Netflix sob o nome de Privacidade Hackeada, colocado em streaming desde o início de 2019. O documentário versa sobre os escândalos em que se envolveu o Facebook ao permitir a coleta, em 2016, pelo Cambridge Analytica, de dados pessoais de 87 milhões de usuários sem que isso tenha sido permitido.
A Cambridge Analytica era uma empresa fundada em 2013 que, a partir do crescimento do big data, propunha fornecer serviços de análise de dados para fins comerciais e políticos. Para isso, era utilizado um aplicativo de extração de dados pessoais a que o Facebook deu autorização. Ocorre que tanto Trump quanto o Brexit eram clientes da empresa, de modo que a análise desses dados foi colocada ao alcance e utilizada para finalidades políticas no ano de 2016. A empresa faliu, o Facebook foi questionado, mas o mal já estava feito, o que não impediu que o Facebook continue sendo uma plataforma que não cessa de crescer pela venda de dados para a publicidade mercadológica. Os mecanismos para isso são perversos, um tipo de perversidade de que os usuários da rede são participantes relativamente inocentes.
Mesmo aqueles que são conscientes de que estão alimentando mecanismos perversos não deixam de postar e compartilhar muito mais dados pessoais do que deveriam nas redes sociais. E nem mesmo a leitura dos termos de uso consegue estancar esse impulso. Fornecemos nossos dados em troca do uso que as plataformas nos oferecem. No entanto, por baixo dessa troca aparentemente gratuita, empresas, anunciantes e campanhas políticas têm acesso à mineração desses dados para os seus propósitos.
Embora não possamos nos vangloriar por estarmos fora desse jogo, tendo em vista que ninguém está disposto a lançar seu smartphone ao mar, abdicando de toda a conectividade instantânea, acesso à informação e sociabilidade que ele permite, é recomendável ver o filme e, eventualmente, contribuir com uma militância educativa nas redes e para as redes, um tipo de militância, aliás, que a leitura deste livro, nesta sua segunda edição aumentada, incentiva e ajuda cada um a seu modo a implementar.
O terceiro fator que contribuiu para a intensificação do mal-estar provocado pelas redes sociais foi um outro documentário, também veiculado pela Netflix, em 2020, e que vem provocando um grande frisson até hoje. Com o título de O dilema das redes, o documentário, de fato, coloca o dilema a nu. Na internet, nascida com a utópica promessa de conectividade e acesso a todos, quem de fato acabou ganhando com a acessibilidade, que está longe de ser de todos e para todos, são mesmo as big techs de iniciativa privada.
As personagens do documentário são ex-funcionários dessas empresas, hoje arrependidos do papel que desempenharam para o sucesso do seu crescimento. Isso dá credibilidade ao documentário, pois quem fala conhece o modus operandi por dentro. Funciona, portanto, com um documentário-denúncia. Contudo, o script é maniqueísta, colocando em ação a velha luta – sempre mal fundamentada porque simplistamente dicotômica –, da agonística entre o bem e o mal.
A questão é, sem dúvida, muito mais profunda do que cabe nos antagonismos. As big techs são, na realidade, o modelo de negócios mais bem sucedido nas sociedades contemporâneas, negócios movidos pela força do novo petróleo, os dados. Uma vez que esses dados são alimentados pelos próprios usuários, conselhos domésticos para atenuar a participação individual nas redes não conseguem ir muito longe. Portanto, é preciso ir além de simplórias indicações do tipo desligar as notificações do celular
ou deixá-lo carregando fora do quarto
.
De todo modo, a mera existência do documentário é capaz de provocar debates nas mais variadas esferas da sociedade. O problema é grande e está aí. Minimizá-lo é o pior caminho a ser seguido quando são conhecidos os efeitos colaterais provocados pelo uso das redes, entre os quais se coloca em relevo, entre outros, o seu caráter viciante especialmente entre os jovens e mesmo as crianças. O que fazer, portanto, é uma pergunta da qual pais e educadores não podem fugir. É para estes que Como sair das bolhas, de Pollyana Ferrari, está voltado: para que possamos pensar juntos, pois pensamento que se agrega a pensamento, na busca de caminhos sadios para problemas complexos, é pensamento potencializado.
Lucia Santaella. Pesquisadora 1 A do CNPq, graduada em Letras Português e Inglês. Professora titular no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, com doutoramento em Teoria Literária na PUCSP em 1973 e Livre-Docência em Ciências da Comunicação na ECA/USP em 1993. É Coordenadora da Pós-graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, Diretora do CIMID, Centro de Investigação em Mídias Digitais e Coordenadora do Centro de Estudos Peirceanos, na PUCSP. É presidente honorária da Federação Latino-Americana de Semiótica e Membro Executivo da Associación Mundial de Semiótica Massmediática y Comunicación Global, México, desde 2004. É correspondente brasileira da Academia Argentina de Belas Artes, eleita em 2002. Foi eleita presidente para 2007 da Charles S. Peirce Society, USA. É também um dos membros do Advisory Board do Peirce Edition Project em Indianapolis, USA e um dos membros do Bureau de Coordenadores Regionais do International Communicology Institute. Foi ainda membro associado do Interdisziplinäre Arbeitsgruppe für Kulturforschung (Centro de Pesquisa Interdisciplinar em Cultura), Universidade de Kassel, 1999-2009. Recebeu o prêmio Jabuti em 2002, 2009, 2011 e 2014, o Prêmio Sergio Motta, Liber, em Arte e Tecnologia, em 2005 e o prêmio Luiz Beltrão-maturidde acadêmica, em 2010. Foi professora convidada pelo DAAD na Universidade Livre de Berlin, em 1987, na Universidade de Valencia, em 2004, na Universidade de Kassel, em 2009, na Universidade de Évora em 2010, na Universidad Nacional de las Artes, Buenos