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Bebida Forte Congelada
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Bebida Forte Congelada
E-book406 páginas6 horas

Bebida Forte Congelada

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Sobre este e-book

Uma nevasca se aproxima do Condado de Wharton com uma vingança.


A Madame Zenya previu que essa tempestade furiosa iria mudar a vida do Kellan, mas a vidente famosa nunca poderia tê-lo preparado para todos esses danos colaterais. Depois que a Nana D desaparece, um paciente acaba morto e um segundo corpo é descoberto debaixo de um banco de neve, Kellan deve encarar seus piores medos.


Entre encontrar a Nana D e solucionar o assassinato escandaloso de outro cidadão proeminente de Braxton, os mundos do Kellan e a da April explodem com mais desastres do que eles conseguem lidar. Infelizmente, nenhum deles sabe como interpretar a última previsão da psíquica.


Será que o Kellan pode encontrar a Nana D – e quem é o assassino aterrorizando a cidade?

IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de jan. de 2022
ISBN4824107903
Bebida Forte Congelada

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    Bebida Forte Congelada - James J. Cudney

    1

    — G rrr! Argh! Blech! — circulando a área de comércio no Centro do distrito pela terceira vez, eu implorei aos deuses do estacionamento para graciosamente me cederem um espaço aberto. Todo mundo, junto com suas mães, andava pelas ruas em uma busca frenética por suprimentos e por sua sanidade acovardada. Uma nevasca poderosa seguia em direção ao Condado de Wharton, e todas as quatro cidades haviam enlouquecido com medo da chegada iminente do Dia do Juízo Final. Eu insistia que a premonição da Madame Zenya sobre o desastre era uma alucinação, apesar de ter ficado preocupado por ela ter acertado em cheio no alvo por várias vezes.

    – O que é essa bobagem? Você está falando em inglês, Kellan? – Lara, uma ex-modelo de quarenta anos, que havia se tornado repórter, gritou na ligação cheia de estática. Nós havíamos nos conhecido no ano anterior, quando ela havia sido a moderadora dos debates políticos da Nana D. Depois que a charmosa Miss Bouvier havia co-investigado uma morte suspeita naquele verão, nós nos tornamos bom amigos e colegas no nosso show de televisão, o Realidade Sombria.

    Eu joguei o fone de ouvido no banco de passageiro, coloquei meu celular no viva-voz, e agarrei o volante com tal ferocidade que ele ficou, permanentemente, com as marcas das minhas mãos.

    — Desculpe, o fone de ouvido cortou o som. É bom que você não tenha ouvido o que eu murmurei. Não eram as palavras mais elegantes.

    — Pelo amor de Deus, estacione na zona de carga em frente à Farmácia Nutberry. A sua avó é a prefeita. Você está namorando com a Xerife. Eu duvido que vá receber uma multa. — Lara gargalhou divertida com a minha situação atual. — A não ser que elas estejam conspirando para se vingarem de você... hmmm... pensando melhor, você está certo. Dê mais uma volta. Eu suspeito que você vá ter sorte em breve.

    — Sim, a Nana D e a April raramente se dão bem, mas me torturar é o único passatempo que elas têm em comum. — ao perceber uma vaga vazia no canto mais distante, eu virei gentilmente o volante e dirigi rapidamente até ela. — Você estava certa! Encontrei uma vaga.

    Era a minha segunda visita à farmácia na última hora. As minhas visitas não eram exatamente apreciadas pela família Nutberry, já que eu havia descoberto que um deles havia cometido crimes na primavera passada. Assassinato não era conhecido por unir as pessoas em uma harmonia feliz. E nem a ameaça de um clima inclemente.

    Logo após terminar um dia ensinando a estudantes que rezavam pelo cancelamento das aulas da próxima semana, por causa da tempestade gigantesca que vinha na nossa direção, uma dúzia de pequenas tarefas de último minuto ainda preenchiam a minha lista de afazeres. Depois que eu havia terminado de cumpri-las, meu primo, de quinze anos de idade, me informou que seu desodorante havia acabado. Ulan havia se tornado minha responsabilidade depois que o Tio Zach estendeu o período da sua expedição africana para proteger uma espécie rara de elefantes. Sob circunstâncias normais, a despeito dos hormônios adolescentes e dos vapores nocivos emanando do quarto dele, eu esperaria até amanhã para comprá-lo. A procrastinação não era possível com esse tempo. Ulan e a minha filha de sete anos, Emma, estavam de partida para a Disney World pela manhã.

    — Excelente. Nós precisamos discutir sobre o segmento do Hiram no Realidade Sombria. Apesar de ele ter melhorado, após emergir do coma no mês passado, a recuperação dele vai levar meses. Ele concordou em se afastar e recomendar um juiz temporário para seu lugar antes da próxima eleição. — Lara exclamou depois da sua visita improvisada ao Centro de Reabilitação Willow Trees. O Juiz Grey, seu antigo sogro, estava se recuperando de um acidente que sofreu na hayride assombrada e que havia ameaçado a sua vida quatro meses antes.

    — E o Condado de Wharton dá um suspiro de alívio coletivo. A Nana D vai dançar um sapateado irlandês quando o velhaco magistrado vagar o banco. Sayonara para toda aquela burocracia antiquada que ela está tentando eliminar. — para falar a verdade, o homem não tinha chances de se reeleger. Quando vazaram as notícias sobre a sua conspiração com um psiquiatra para assassinar uma paciente saudável e sã, anos atrás, os cidadãos se revoltaram. Os únicos motivos para o atraso do tumulto era a submersão dele num coma e sua incapacidade de exercer seus deveres judiciais.

    Lara falava, animada, sobre os planos da Nana D para livrar o nosso condado da corrupção.

    — Quando eu cheguei lá, uma moça jovem com uma mecha de cabelo verde-pastel gritava com ele sobre ele ter destruído famílias. Bom pra ela!

    — O Juiz Grey é uma praga para o Condado de Wharton. Ele, por acaso, revelou o nome do seu substituto?

    — Não, ele se recusou. Honestamente, parecia que o Ceifeiro já estava batendo à porta dele. O meu coração se doí pela Imogene. A minha filha ama tanto o seu avô, mesmo apesar de todas as coisas vergonhosas que ele fez. — Lara compartilhou um update sobre a condição do Hiram: vivo, mais arrogante do que o normal, e implorando para que alguém levasse escondido uma garrafa de conhaque caro. — Dá pra acreditar que ele guarda um copo de cristal especial no Centro de Reabilitação para os seus coquetéis a cada hora? Até mesmo aquela enfermeira ruiva meticulosa ameaçou bater nele se ele lhe desse mais uma ordem.

    — Com todas as minhas frustrações neste momento insuportável, as exigências do Hiram não soam tão mal.

    — Você precisa relaxar. Termine as suas tarefas, siga para casa, e beba alguma coisa forte para silenciar essa atitude. — Lara sugeriu que nos encontrássemos para um café-da-manhã na manhã seguinte, na Lanchonete Pick-Me-Up, a confortável e famosa lanchonete da minha irmã, para planejarmos o episódio que sobre as famílias Garibaldi e Grey.

    — Está devidamente anotado. — eu afundei o pé nos freios, fazendo com que minha cabeça batesse com força no descanso do banco, indo de um lado para o outro, até que eu praticamente bati contra o painel também. — Não acredito! Quem ele acha que… de todas as coisas… mas que…

    Lara me interrompeu, antes que eu pudesse murmurar outra onda de obscenidades que fariam com que a Nana D lavasse a minha boca com sabão.

    — O que está acontecendo? Você voltou a falar bobagens novamente, querido. Para um professor de literatura e filmes em Braxton, as palavras não vêm naturalmente para você, ou vêm?

    — Algum idiota pegou a minha vaga. Ele disparou na minha frente. — eu abaixei a minha janela, fiquei arrepiado com a rajada gelada que pinicava as minhas bochechas, e esperei que o parasita sorrateiro saísse do seu pequeno carro esportivo vermelho.

    Um homem alto e robusto, no começo dos trinta anos, a mesma idade que eu, saiu do conversível e seguiu andando, como se não se preocupasse com o mundo. Juro que ele balançava a cabeça e cantarolava Bad, do Michael Jackson. Eu grunhi e olhei feio para o idiota passeando com seus jeans escuros, uma camiseta de gola V preta, e uma touca de esqui nórdica, que cobria a maior parte de seu rosto bem estruturado e com barba. O cara não tinha nenhuma gordura corporal para se ver, como ele andava pelas ruas, vestido daquela maneira, quando nós estávamos nos aproximando da idade do gelo novamente? Era a metade de fevereiro e estava mais frio do que no Ártico. Não importava o quanto eu tentasse, mesmo tendo crescido nesse globo de neve, eu não conseguia voltar a me acostumar com os invernos rígidos da Pensilvânia depois de ter morado em Los Angeles pela última década.

    — Hey, desculpe, cara. Não percebi que você queria aquela vaga. — ele disse despreocupadamente, encolhendo os ombros enquanto seguia para longe com uma risada imatura e mal disfarçada. — Boa sorte na próxima vez.

    Enquanto ele se virava, a tatuagem de uma cobra, com a maior língua que eu já tinha visto, rodeava todo o comprimento de seu braço musculoso, me surpreendendo, assim como me deixando confuso. Apesar de eu não conhecer todo mundo na nossa pequena cidade, eu tinha certeza de que ele vinha de outro lugar.

    — É sério isso? Você vai sair andando dessa maneira? — enquanto parado no meio da pista, eu rosnei e parei o carro, me lembrando de que a Lara ainda estava ao telefone. — Espere um pouco. Esta era a última vaga, e eu estou com pressa.

    — A vida é curta, cara. Você tem que pegar o que quer e nunca olhar para trás. — o ladrão de vaga desagradável deu uma piscadela, começou a correr devagar, e acenou para um homem baixo, de pele escura, próximo da esquina da Farmácia Nutberry. Ele entregou ao outro homem um pequeno pacote, e em troca, o ladrão de vagas coletou um envelope de banco que, discretamente, colocou em seu bolso traseiro. Será que eu tinha testemunhado uma venda de drogas em progresso?

    Lara gritou o meu nome.

    — Deixe disso. Encontre outro lugar. Vejo você amanhã de manhã, se nós dois sobrevivermos a esse apocalipse iminente. Ciao, babe.

    — Obrigado pelo conselho! — eu engoli a minha raiva crescente e considerei minhas opções. Levaria cinco minutos para correr até a loja, pegar um desodorante, que iria nos proteger do suor mortal do Ulan, e correr de volta ao carro. Com a decisão unanimemente tomada, eu estacionei atrás do carro vermelho, me assegurando que o motorista delinquente não pudesse dar marcha ré, e fui completar a minha tarefa. Era raro que eu lutasse com fogo, mas ele merecia a minha ira, e eu iria retornar antes dele, mais provavelmente.

    Enquanto me aproximava do balcão da nossa farmácia familiar, franzindo o cenho para as cinco pessoas na minha frente, eu ergui o desodorante para a Tiffany Nutberry. Gesticulei algo que dizia que eu estava com pressa, ou que havia ficado com a língua presa em um pingente de gelo, então, implorei para ela adicionar na minha conta. A antiga colega de faculdade do meu irmão assentiu e se focou em seu próximo cliente. Às vezes, morar em uma cidade pequena onde todos sabem o seu nome era uma maldição benéfica.

    Eu me retirei para a porta da frente, vasculhando a área a procura do estranho que havia roubado a minha vaga, mas não encontrei nenhum sinal do meu mais novo inimigo mortal, ou do estranho que ele havia, disfarçadamente, encontrado. Enquanto eu atravessava a rua, um bilhete no meu para-brisas e uma vaga de estacionamento disponível chamaram a minha atenção. Eu li a mensagem ansiosamente:

    Seu plano deu errado. O meu não. Eu sei como ficar quite. Além disso, não desisto facilmente.

    Um homem petulante teria chutado seus pneus em frustração. Um cara inteligente teria deixado isso de lado e escapado sem um ataque de raiva colossal. A julgar pela pulsação no meu pé enquanto eu pisava no acelerador para sair rapidamente do espaço vago, meu nível de maturidade seguia para uma direção não muito ideal.

    Havia sido um dia e tanto. Se eu pudesse devolvê-lo e pedir um reembolso, ou roubar um novo de uma prateleira de descontos, teria sido melhor. Enquanto eu dirigia até o Rancho Danby, a fazenda e pomar orgânicos da Nana D, conjurei maneiras de me vingar do ladrão de vaga e prestei atenção ao final de uma previsão do tempo regional, ou um aviso desesperado de que nós iríamos logo marchar para uma morte dolorosa. Eu não conseguia decifrar o tom desolador dele.

    Para recapitular, para aqueles que perderam a previsão do tempo detalhada, as temperaturas vão despencar como bombas atômicas durante a noite. Pela tarde, flocos de neves vão descer sobre nós, almas infelizes. Apesar de que o final de semana vai nos presentear com apenas uma bagatela de neve, esteja ciente de uma precipitação mais feroz e pesada na noite de domingo, quando você vai ficar, inevitavelmente, encurralado, preso em casa durante dias, sofrendo como prisioneiros. Alguns estão apelidando-a de a nevasca do século, e uma coisa é certa, pessoal… não deixe seus animais e nem os seus sapatos do lado de fora neste final de semana. Na segunda-feira, nós vamos nos deparar com quase um metro de neve, com outros quinze centímetros previstos para cair até o horário do jantar. Ninguém quer perder um dedo do pé por causa de um congelamento ou visitar o taxidermista local.

    Eu troquei de estação e grunhi para a estática estourando pelos autofalantes.

    — É uma coisa boa que meus pais e as crianças estejam saindo de férias. — apesar de eu ter falado comigo mesmo, era melhor do que escutar a previsão do tempo. Eu queria escapar com eles nesta viagem, mas as Férias de Primavera de Braxton não iriam começar até a próxima semana. Eu não podia abandonar o meu emprego. Os meus pais estavam me fazendo um favor ao cuidar das crianças, o que permitia que eu tivesse um tempo extra para cuidar do episódio de estreia do Realidade Sombria com a Lara. Nós precisávamos focar toda a nossa energia restante na preparação da revitalização da série de suspense.

    Eu também aproveitaria um tempo de qualidade com a April. A nossa falta de intimidade havia descido para o território de assuntos delicados. Apesar de que nós havíamos compartilhado um Dia dos Namorados romântico, no começo daquela semana, um cano estourado no Escritório do Xerife havia cortado o nosso tempo, deixando-o mais curto do que um palito de fósforo. As crianças sempre eram a prioridade. E desde que ela havia revelado que um divórcio do marido dela não havia acontecido formalmente anos atrás, nós estávamos rastreando o paradeiro do homem misterioso para resolver essa pequena situação complicada.

    Durante o primeiro encontro oficial meu e da April, no meu aniversário no Halloween passado, a Madame Zenya nos interrompeu para avisar que ela havia previsto um perigo iminente vindo na nossa direção. Meses se passaram sem as bolas de fogo do Belzebu cantando para nós, mas ela também havia sugerido que isso iria acontecer durante uma nevasca no inverno. Será que essa tempestade que se aproximava era a que ela havia nos dado uma pista?

    Naquela noite, a April também me deu o meu presente de aniversário, um certificado falso concedendo-me um diploma honorário nos estudos sobre intromissão e perturbação. O presente veio junto com um distintivo de plástico que ela, descaradamente, me orientou a fixar diretamente nos meus lábios sempre que eu falasse em solucionar casos de assassinatos. A ironia fez com que a metade da cidade se referisse a mim como O Improvável Localizador da Morte. Eu havia, de alguma maneira, inocentemente, me envolvido em cinco investigações de assassinato no último ano, e apesar do problema frequente que isso causava, nós ainda desenvolvemos uma atração forte um pelo outro. Infelizmente, a minha separação da minha esposa mafiosa não-tão-morta, Francesca Castigliano, havia apenas começado, e a separação da April do marido viajante não-tão-divorciado, Fox Terrel, era um novo obstáculo inesperado. Nós somos um par e tanto, não é mesmo?

    Enquanto eu passava dirigindo pelo chalé do Rancho Danby, meu irmão e seu namorado seguiam de moto pelo caminho. De todas as coisas idiotas para se fazer, por causa da ameaça de uma nevasca, o Gabriel seria o único tolo a arriscar a vida dele e do Sam em uma moto. Eu acenei rapidamente pela janela, sabendo que nós havíamos marcado um jantar para o domingo, a não ser que o desastre invernal iminente fizesse isso ser impossível. Eu havia decidido apresentar a minha namorada para minha família, de uma maneira não oficial, ao testar as águas com o Gabriel. O sarcasmo e humor dele eram como os meus. Seria fácil relaxarmos em grupo enquanto o Sam estava de férias da faculdade. Eles já estavam namorando há seis meses, apesar de a longa distância ter ocasionado alguns problemas, ou calamidades. O Gabriel podia ser bem detestável.

    Ulan me cumprimentou na porta, suas mãos se retorcendo como se tivesse consumido uma dúzia de xícaras de java radioativo. Apesar da tundra congelada onde nós morávamos, ele havia raspado todo o cabelo em apoio a um amigo com câncer. Sua cabeça oval e careca, e seus olhos castanhos de filhotinho, encorajavam todas as garotas a bajularem ele na escola.

    — Você trouxe o meu desodorante? O tio vem nos buscar em uma hora. Eu ainda não fiz as malas. Do que eu preciso para ir a Orlando em fevereiro? Eu deveria ir para a academia. Talvez algumas sungas para impressionar as chiquitas de biquíni, certo? — ele e a Emma planejavam dormir na monstruosa cabana de madeira dos meus pais, afetuosamente conhecida como Cabana Royal-Chic, para encurtar a viagem até o aeroporto na manhã seguinte.

    — Nada de sungas. Apesar da obsessão do Gabriel, homens nunca deveriam usá-las. — eu joguei duas sacolas para ele e coloquei as restantes no chão. O nosso cachorro, que estava se aproximando rapidamente de um ano de idade, colocou destemidamente o focinho na sacola mais próxima, pegou um par de chinelos, e saiu correndo pelo corredor. — Emma! Pegue os seus chinelos de volta antes que o seu cachorro os coma, por favor! — Baxter tinha o péssimo hábito de consumir tecido e borracha, o que levava a uma situação incrivelmente estranha e odorosa no seu sistema de saída.

    Com as cabeças assentindo, a Emma e a Nana D entraram na sala e, simultaneamente, me provocaram:

    — Dia difícil?

    Não apenas elas falavam similarmente, mas a Nana D havia convencido a Emma a trocar suas trancinhas usuais por uma única trança, como ela usava. Reduzir o tempo delas juntas era de suprema importância, antes que eu sofresse com duas adoráveis, mas incansáveis, chefes pulando nas minhas costas. Eu diria três se a minha verdadeira chefe, a Dra. Myriam Castle, fosse adorável, mas isso seria mais chocante do que a descoberta de que a terra era redonda, e não plana.

    Nós pegamos as malas, empacotamos para a viagem deles, e devoramos deliciosas sobras para o jantar. A Nana D havia descongelado uma lasanha, de dar água na boca, da noite passada. A casa de fazenda cheirava como um restaurante italiano durante o Festival de São Gennaro. Cremosos queijos, parmesão e pecorino. A massa perfeitamente al dente. Molho de carne suculento. O pão que faria você chorar lágrimas de alegria.

    Depois de um dia cheio no escritório do prefeito, a Nana D não estava com vontade de preparar uma refeição complicada, como me relembrou mais cedo quando eu implorei a ela para buscar as crianças. Ela havia deixado seu motorista, uma vantagem como a chefe do nosso condado, tirar folga pelo final de semana. Por causa do clima agourento, dirigir sozinha a deixava tão animada quanto fazer um tratamento de canal em uma clínica suja e clandestina.

    — Vamos, Emma, vamos levar o Baxter para sua caminhada final de hoje à noite. — Ulan ordenou, enquanto levava seus pratos vazios para a cozinha. — Seu pai parece estar esgotando a paciência novamente. As veias estão pulsando.

    — Ele só está rabugento. — Emma inclinou a cabeça para o lado, estreitando seus olhos verde-amendoados para mim. Eles tinham sido mais escuros quando ela era mais nova, mas a cor mudou para combinar com a personalidade dela: corajosa, obstinada e generosa. — O Ulan disse que você está triste que estamos indo embora. Certo, papai? — ela subiu no meu colo e beijou o meu nariz. —Eu vou sentir sua falta esse tanto. — ela guinchou, abrindo bem seus braços.

    Antes que a Emma caísse da cadeira por se esticar além do seu limite, eu a coloquei no tapete fofo.

    — Exatamente. É melhor você se comportar com o vovô e a vovó na Disney World. Se eu receber qualquer informação negativa sobre qualquer um de vocês, punições severas vão cair do céu. Estou falando de nada de comida por uma semana. Vocês vão vestir a roupa um do outro para irem para a escola. O Baxter vai receber todos os seus presentes de Natal até você ter dezoito anos.

    — Você não faria isso. Ulan! — Emma bufou e correu pelo corredor. — Ele ficou loco novamente!

    — Ugh! Eu amo tanto esses dois. — eu murmurei para a Nana D, trocando de assento. — O Ulan só está morando conosco há seis meses, mas se tornou um filho para mim, de várias maneiras.

    A Nana D bateu seus dedos na mesa de madeira customizada pelo Vovô, pensando profundamente antes de responder.

    — Não tive notícias do Zachary. Ele deveria dar notícias antes do Ulan ir para a Disney World.

    — Você conhece o Tio Zach. Ele ama o filho, mas sua carreira é sua paixão. Assim como o Hampton.

    — O seu irmão é uma história diferente. Você descobriu o que está acontecendo com aquele esquema de desfalque na Corporação ReedWell? — a Nana D levantou uma mão quando eu comecei a limpar a mesa. — Sente-se um pouco. Vamos conversar. Estou preocupada com os meus meninos, Kellan.

    Meu irmão mais velho, o Hampton, havia se mudado de volta para a Pensilvânia no outono passado, assim que seu sogro magnata do petróleo, Orin Reed, furou um novo poço perto das Minas Betscha. Hampton era casado com a filha do Orin, Natasha, e eles tinham quatro filhos juntos, todos com menos de sete anos. Hampton era um advogado abrasivo, rude e preconceituoso, mas Orin Reed admirava essas qualidades em um homem. Ele havia lapidado o Hampton para assumir os negócios da família, a ReedWell, já que sua filha não estava interessada, e seu filho Isaac, não era qualificado por uma variedade de motivos.

    — O Hampton foi evasivo sobre os problemas financeiros. Eu escutei as preocupações dele, mas não há nada que possamos fazer. — eu recontei para a Nana D o que nós havíamos descoberto até o momento. A equipe financeira da ReedWell havia encontrado cinco transações obscuras das contas corporativas, a emissão de cheques para uma empresa desconhecida para projetos vagos. Não havia nenhum contrato ou acordo de serviços master no arquivo. Sem ter ideia sobre o que a ReedWell havia recebido pelos serviços, o Hampton dizia ter tolamente assinado as faturas durante uma crise. O dinheiro evaporou para um buraco negro gigantesco. — Da última vez que o Hampton conversou com o Orin, ele havia chegado à Pensilvânia e exigido que a ReedWell contratasse um contador externo para resolver isso.

    — Pish! Eu conversei com o Hampton hoje. O seu irmão se encontrou com o calculista, ainda assim cortês, Orin Reed, e as coisas não foram bem. O sogro dele o acusou de furto e ameaçou removê-lo da ReedWell se ele não recuperar o dinheiro até amanhã. — a Nana D comentou e balançou seu dedo indicador, como se estivesse convocando um esquema próprio.

    Eu havia visto esse olhar no rosto dela por várias vezes, e isso sempre levava a um desastre épico.

    — Fique fora disso, Nana D. O Hampster já é bem grandinho, e ele veio me ajudar por duas vezes. Se precisar que eu faça uma busca mais aprofundada, ele tem que me garantir acesso ao sistema deles. Vamos conversar sobre a tempestade iminente, ao invés disso.

    A Nana D colocou a língua para fora, então, carregou seu prato até a cozinha.

    — Vou ficar fora disso se você prometer ignorar qualquer investigação de assassinato no futuro. O que acha desse acordo, meu neto brilhante?

    — Não vai haver mais nenhum assassinato. Braxton já foi castigada o suficiente. — eu gargalhei quando a Nana D se eriçou em desacordo. — Será que essa tempestade significa que a premonição da Madame Zenya pode se tornar realidade?

    — Aquela onde ela disse, e eu estou citando as palavras dela de acordo com o que você me contou... Vai haver uma tempestade de neve desastrosa e que vai mudar vidas e assolar o Condado de Wharton neste inverno. Vai ser incrivelmente horrendo. Vai haver mais mortes, e o passado e o futuro irão colidir para as famílias Danby e Ayrwick. Vai ser trágico e não há nada que você possa fazer para impedir isso. — ela acenou com uma mão e saiu mimicando em direção à pia para lavar os pratos. — Mas que monte de...

    — Tome cuidado, Nana D. A Emma está no corredor. — eu segui a minha avó hipócrita para a cozinha e descansei minha cabeça no ombro dela, o que não era fácil já que ela tinha um metro e meio e se dobrava acima da pia como um duende. — Yep, é bem essa. Preocupada com a nossa família?

    Ela desligou a torneira e secou as mãos.

    — Não estou preocupada, mas estou pensando em...

    Meu celular começou a tocar o tema de Cops, o toque de chamada personalizado para a April.

    — Segure esse pensamento, por favor. — eu entrei na sala de estar e atendi a ligação, certo de que a Nana D sussurrava na distância.

    — Kellan e a April sentados em uma árvore. B-E-I-J-A-N-D-O. Primeiro vem... — a Nana D ligou o exaustor do forno, abafando o resto da sua música e rotina de dança hilária.

    — Olá... estava pensando em você. Ainda está a fim de um drink quando eu chegar em casa? — nós ainda não havíamos dormido juntos oficialmente, já que o irmão, muito mais novo, dela estava morando com ela até que fosse para a faculdade naquele verão, e eu tinha duas crianças muito impressionáveis na minha casa. Além disso, nós não queríamos pular tão apressadamente em um território desconhecido e implodir como um submarino.

    — Você sabe como eu queria poder estar lá. — seu tom estranhamente hesitante não era um bom presságio para o meu futuro.

    — O que aconteceu? — Tentei conter meu gemido, mas ele inundou os portões como um maremoto. O dia terminaria exatamente como havia começado: no fundo de um barril sem uma gota para beber.

    — O Fox apareceu. Levamos três meses para encontrá-lo. Não posso ignorar essa chance de forçá-lo a assinar o divórcio. Deixe-me cuidar disso primeiro, e então, nós podemos seguir em frente. Você sabe, eu... eu a... — April parou de falar comigo no telefone, mas continuou a falar no plano de fundo.

    — O que está acontecendo? — eu coloquei o dispositivo para longe do meu ouvido em confusão. — Você disse...

    — Kellan, eu tenho que ir. Fox já foi embora. Eu te ligo em breve.

    Eu encarei em descrença o padrão xadrez da parede da cozinha da Nana D. Desorientado de repente, minha garganta começou a se apertar. A April esteve prestes a me dizer que me amava? Então, a realidade me veio. O marido desinteressado dela estava aqui. Por que eu não estava correndo porta a fora? Eu precisava me encontrar com ele. Oh, certo, eu tinha que preparar a Emma e o Ulan para a viagem deles até a Disney World. Todos estavam contra mim hoje.

    Nana D estalou os dedos a centímetros do meu nariz. Um transe havia me prendido em um estado de negação ou estupidez, às vezes eram a mesma coisa, no meu caso.

    — Venha aqui, meu neto brilhante. Parece que você precisa de um abraço.

    Na manhã de sábado, Emma, Ulan e os meus pais estavam a caminho de Orlando. O cara do tempo estava correto. Acordei com uma temperatura em algum lugar entre as idades das crianças. Se eu acreditasse em superstições, teria reconhecido isso como um sinal para me mudar de volta para Los Angeles. Levou dez minutos para descongelar as janelas da SUV, e para que me livrar das lágrimas de gelo, antes que eu pudesse me encontrar com meu amigo Connor na academia.

    Depois de um treino pesado de bíceps e peito, nós fomos aos chuveiros. Como sempre, eu terminei antes dele, e esperei no saguão do Complexo Esportivo Grey, o centro esportivo de Braxton, construído a partir de doações do Hiram Grey e de sua família. Se esse não fosse o único local com equipamentos adequados na cidade, eu teria ido me exercitar em outro lugar. Enquanto eu passava o tempo perto do bar de sucos espaçoso e barulhento, nossas amigas Maggie Roarke e Jane O’Malley entraram no saguão meticulosamente iluminado.

    Maggie, a adorável e própria girl-next-door, sempre estava ali para mim. Sua pele de porcelana brilhava mais do que o céu de neve. Jane, alguns anos mais nova, era extremamente tímida, mas havia passado por uma provação angustiante. Enquanto a Jane havia terminado um relacionamento catastrófico com o Juiz Hiram Grey, que era muito mais velho, a Maggie e o Connor estavam namorando entusiasticamente desde os últimos meses do ano passado.

    – Você está com os seus sapatos de neve? – Maggie perguntou, cutucando a Jane enquanto retirava um par de luvas insuladas. – Eu não conseguia sentir o meu rosto naquela bagunça congelante do lado de fora. Mas você não perde uma aula de Jazz!

    – Esse é o tipo de dia em que alguém poderia congelar até a morte. – Jane brincou, então arquejou. – Deixa pra lá. Eu não queria ser tão sombria. O perigo desse clima incerto me assusta. – enquanto ela retirava o casaco, um bracelete de diamantes caiu ao chão. Jane se encolheu e se abaixou agitada para pegar seu pertence.

    – Eu o pego. – enquanto eu pegava a joia brilhante, obviamente cara, me perguntei como a Jane podia pagar por algo tão luxuoso. Ela vivia com o modesto salário de professora e tinha dificuldades de pagar o aluguel.

    – Me dê isso de volta. – Jane o arrancou das minhas mãos, um brilho de raiva em seus olhos. – Desculpe, é... uma herança de família valiosa. Eu odiaria perdê-lo. De qualquer forma, o que você vai fazer enquanto a Emma e o Ulan estão fora?

    – Claro, sem problemas. – ignorando a reação estranha e excessiva da Jane, eu cruzei os meus braços e descansei em um banco próximo. – April vai se assegurar que eu esteja ocupado. Duvido que a tempestade vá ser assim tão dura.

    Maggie riu enquanto passava seu cartão pelo balcão frontal vazio.

    – Já faz um tempo desde que você passou por uma nevasca do Condado de Wharton. Não subestime o quão enganosas elas podem ser. O homem do tempo da WCLN atualizou o nível de aviso dele de oito para nove bonecos de neve.

    Duas coisas eram de conhecimento geral nessas partes. Uma, nós medíamos as tempestades de neve calculando em uma escala de bonecos de neve. Um único boneco indicava um punhado de neve. Dez bonecos significavam que um mamute peludo se aventurou para fora das Montanhas Wharton à procura do calor das pessoas da cidade. A outra coisa que nós sabíamos, com toda a certeza, o homem do tempo da WCLN era tão senil quanto um paciente com demência e nu em um passeio de roda gigante invertida no escuro. Ele também nunca lia as cartas meteorológicas apropriadamente.

    Depois que as duas moças seguiram para o vestiário, Connor chegou ao saguão com um beicinho desamparado e estreitava o olhar toda vez que olhava para fora da janela.

    – Estou com tanto frio que vou precisar comprar um segundo par de calças termais. Acabei de escutar a reportagem da WCLN. Nove bonecos de neve! Você ficou sabendo?

    Eu abaixei a minha cabeça, envergonhado.

    – Você tem certeza de que não são nove e meio? Eu senti a temperatura cair assim que você andou para cá, princesa. – para dar mais efeito, eu agarrei minha cabeça e tremi como a Nana D quando ela tomava sundae de sorvete rápido demais. – Ah, espere, agora são dez bonecos de neve. Tem um carneiro subindo no elevador do céu!

    – Cara, o seu sarcasmo realmente não tem limites. – Connor bateu nas minhas costas como se eu fosse uma mosca incômoda, então, me empurrou porta afora. – Tem alguma mensagem que você queira entregar para a sua namorada extra especial? – como um detetive do Escritório do Xerife do Condado

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