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Novelas Policiais 5: Coletânea
Novelas Policiais 5: Coletânea
Novelas Policiais 5: Coletânea
E-book316 páginas4 horas

Novelas Policiais 5: Coletânea

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Sobre este e-book

Novelas Policiais de L P Baçan, o Mago das Letras, com todos os ingredientes tradicionais que fazem do gênero um dos preferidos da maioria dos leitores.O Homem Que Não Queria MorrerO Lado Negro da VidaO Mestre da Vingança.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento9 de mar. de 2022
ISBN9781526053367
Novelas Policiais 5: Coletânea

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    Novelas Policiais 5 - L P Baçan

    O Homem Que Não Queria Morrer

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\O HOMEM QUE NAO QUERIA\001.jpg

    Os jet-skis passavam ao largo em grande velocidade, deixando no ar marinho um cheiro enjoativo de óleo queimado. Na água, as garotas observavam os rapazes que se exibiam para elas. Outras, na areia, aproveitavam o sol da manhã para reforçar o bronzeado.

    Crianças corriam pela praia, empinando pipas ou jogando frescobol. Casais namoravam, deitados lado a lado, sobre toalhas, debaixo dos guarda-sóis.

    Apreensiva, Donna Rosemberg observava o marido, Clayde Rosemberg III, realizar acrobacias no jet-sky, exibindo-se para as garotinhas que o aplaudiam a cada passagem.

    Ela abaixou a viseira do boné e tentou se concentrar na leitura. Um ano de casamento haviam completado. Um ano de decepções e de arrependimento.

    Clayde mostrou, logo após o matrimônio, sua verdadeira face. De homem romântico e gentil, rapidamente passou a ser um playboy esnobe, sem preocupações com o trabalho, vivendo literalmente à custa de Donna, herdeira de uma rica fortuna, embasada numa das mais sólidas construtoras de Houston.

    Clayde vivia sonhando planos mirabolantes, mas nada punha em prática. Nem ao menos tentava. Falava sempre em realizar um grande negócio, mas só sabia gastar o dinheiro dela.

    Donna havia nomeado o marido para um posto na construtora, ainda que decorativo, com um ótimo salário. Clayde nem se dava ao trabalho de comparecer. Nem conhecia a secretária que atendia seus telefonemas e anotava seus recados.

    Diariamente, de algum ponto na cidade, normalmente na companhia de outra mulher, ligava para saber das últimas.

    Gostava de jogar e apostava em tudo que surgisse pela frente. Perdia invariavelmente. Acumulava grandes dívidas com os bookmakers. Quando tudo chegava a um ponto insuportável, conseguia convencer Donna a lhe dar o dinheiro para se livrara dos cobradores.

    Assim ele dilapidava toda a fortuna de seus pais e parecia determinado a fazer o mesmo com a esposa.

    Ele foi até o ancoradouro, deixou o jet-sky e caminhou pela areia na direção de sua esposa.

    Enquanto caminhava, foi tirando o salva-vidas e exibindo um físico privilegiado. Quanto a isso, Clayde era vaidoso. Cuidava de sua aparência com uma determinação feminina. Mantinha-se sempre em forma, exercitando-se no ginásio que havia na mansão do casal ou indo a uma das academias.

    Normalmente ele preferia ir às academias, onde se exibia e conhecia novas namoradas.

    Passeando pela praia, a poucos metros da esposa, não perdia a oportunidade de flertar com qualquer jovem que lhe desse atenção. E ele chamava a atenção com sua presença.

    — Adoraria uma cerveja agora — disse ele, sentando-se na areia ao lado dela, após atirar o colete salva-vidas molhado no colo da esposa.

    — Detesto quando você faz isso — disse ela, irritada, atirando longe o colete.

    Ele riu, sem se importar. Apanhou uma garrafa de água mineral, bebeu um pouco, depois despejou o resto no rosto.

    — Vou até o bar do hotel tomar uma cerveja. Quer alguma coisa? — perguntou ele.

    — Quero que pare de flertar com todas as mulheres que passam a sua frente. Pelo menos na minha presença. É humilhante!

    — Humilhante é sua maneira de fugir de mim. Por que não vem comigo para uma volta no jet-sky?

    — Você é louco...

    — Sou um bom piloto, é diferente.

    — Para mim é a mesma coisa.

    — Eu não disse? Tudo que se refere a mim você menospreza. Já percebeu?

    — Você não se valoriza, Clayde. Acha que exibicionismo é demonstração de talento. Eu não sei por que comprei essa porcaria para você.

    — Como eu disse, você menospreza tudo que vem de mim. Como eu gosto do jet-sky, você chama isso de porcaria e me joga na cara que foi o seu dinheiro que comprou. Isto é humilhante para mim, percebeu? Só porque penso grande e estou esperando a grande chance...

    — Está procurando por ela nos locais errados, Clayde. Bookmakers não compram grandes projetos. Vendem ilusão e é isto que você está comprando. E que eu estou pagando, para variar.

    — Está vendo de novo? Dinheiro, é só que pesa em tudo. Você não vê outros valores. Você me humilha com isto, percebeu, Donna? — comentou ele, em voz alta.

    — Clayde, por favor! Abaixe o tom de voz — pediu ela, em voz baixa.

    — Não se pode mesmo falar com você sem que venha com humilhações — frisou ele, sem abaixar o tom, levantando-se e se dirigindo para o ancoradouro.

    — Aonde vai? — quis saber ela.

    — Vou pilotar.

    — Seu salva-vidas — alertou ela.

    — Dane-se o salva-vidas — explodiu ele, afastando-se.

    Ela o acompanhou com os olhos. Clayde, apesar de ser todo esportivo, jamais aprendera a nadar. Praticar jet-sky sem o colete era um risco desnecessário.

    Donna achou que ele não fosse fazer o que dissera. Ele, no entanto, apanhou o veículo e saiu cortando as ondas em alta velocidade.

    Ganhou a linha demarcada pelas boias, que limitava a circulação, costurando imprudentemente por entre os outros pilotos, deixando Donna preocupadíssima.

    — Dane-se! — murmurou ela, tentando não se preocupar com ele.

    Um grupo de turistas passou à frente dela. Um deles tinha uma filmadora e captava o movimento dos pilotos e banhistas na água.

    Subitamente, um ruído forte e descontrolado de motor e gritos. Donna levantou-se num salto e correu até a beira da água. Viu o jet-sky do marido, flutuando sozinho. As pessoas gritavam e apontavam o local onde ele havia afundado.

    Outros pilotos foram para o local. Os salva-vidas saltaram para a água.

    Momentos de tensão para ela se passaram, até que um mergulhador trouxe Clayde do fundo do mar. Ele foi posto sobre o jet-sky e um salva-vidas iniciou respiração boca a boca, na tentativa de reanimá-lo.

    Um terceiro homem pilotou o veículo, direto para a areia, onde Clayde foi estendido. Donna correu para ajoelhar-se ao lado dele.

    — É meu marido... Por favor!... Façam algo — suplicou ela, vendo-o pálido e sem respiração.

    Os salva-vidas foram rápidos na reanimação. Em poucos instantes Clayde tossia, expelindo a água dos pulmões. Uma ambulância havia sido chamada.

    — Vamos levá-lo ao hospital — disse o salva-vidas. — Será examinado.

    — Não preciso... Estou bem... — respondeu ele, sentando-se e tossindo.

    — É melhor ir, Clayde — pediu Donna.

    — Sim, um exame completo será necessário. Pode ter batido a cabeça ou algo assim...

    — Já disse, estou bem! — insistiu ele, aborrecido e ainda assustado.

    — É procedimento padrão... Não podemos liberá-lo sem termos certeza de que está bem...

    — Dane-se seu procedimento padrão! Que inferno! Já disse que estou bem — explodiu ele, levantando-se.

    — Sou a esposa dele. Assumo toda a responsabilidade por levá-lo para um exame — falou ela, constrangida.

    — É para o bem dele — frisou o salva-vidas, concordando, afinal.

    Donna olhou ao seu redor. Viu-o deixando a praia e atravessando a rua na direção do hotel.

    Recolheu seu material de praia e foi atrás dele. Encontrou-o no bar, tomando tequila com cerveja.

    — Clayde, por favor, não seja teimoso. Há um médico no hotel. Vamos vê-lo! — pediu ela.

    — Donna, não me aborreça duas vezes no mesmo dia. Por favor! Já disse que estou bem. Não sou uma criança...

    — Mas está agindo como uma. Só para me tranquilizar...

    — Para tranquiliza-la? Então o problema todo é a sua tranquilidade? Eu poderia ter morrido e a única coisa que importaria seria a sua tranquilidade?

    — Clayde, por favor. O tom de voz — pediu ela, envergonhada porque as pessoas olhavam para os dois.

    — Lá vem você de novo. Clayde não fale alto. Clayde não ande de jet-sky. Clayde não faça isso. Clayde não faça aquilo. Não vê que perturba a tranquilidade da poderosa Sra. Rosemberg? Dane-se, Donna. Dane-se! Estou pouco me lixando para a sua tranquilidade. Quer ver por quê? — finalizou ele, tomando o resto de cerveja e saindo.

    — Aonde vai? — indagou ela, preocupada.

    Clayde passou pela portaria e pegou a chave de sua Mercedes conversível.

    — Clayde, por favor! — pediu ela, tentando segurá-lo.

    Com um safanão ele se livrou dela, em pleno hall de entrada do hotel, chamando a atenção de todos.

    — Pois você não vai mais me humilhar, Donna. Tudo por causa do seu dinheiro, não é? Pois fique com seu dinheiro e me deixe viver a vida em paz — disse ele, em voz alta para que todos ouvissem,.

    Saiu, em seguida, indo para o estacionamento. Donna fugiu dali para o elevador, terrivelmente embaraçada.

    Chegou à cobertura a tempo de vê-lo, no estacionamento, entrar na Mercedes. O veículo arrancou, deixando a marca de pneus no calçamento.

    — Maldito! — murmurou ela, saindo da sacada e indo para o quarto.

    Jogou-se na cama. Aquilo não podia continuar. Seu casamento estava acabado. Não tinha outra solução. O divorcio resolveria aquela incompatibilidade total de gênios.

    Assim que voltassem a Houston, falaria com os advogados da construtora. Possivelmente teria de pagar uma mesada para aquele incompetente ex-marido, mas seria mais barato que continuar sustentando sua boa-vida.

    O telefone tocou. Foi atender. Era ele.

    — Querida, desculpe-me! — pediu ele, com o tom de voz abrandado.

    Donna já conhecia aquele jogo. Clayde fazia das suas, depois vinha, todo submisso, implorar perdão. Ele sabia que estaria perdido sem ela. Ficaria sem ter como sustentar seus caprichos e sua indolência.

    — Não adianta, Clayde! Foi a última vez!

    — O que está dizendo?

    — Estou dizendo que chega. E chega mesmo. Vou fazer as minhas malas, alugar um carro e voltar para Houston. Aconselho você a não ir até a mansão. Mandarei suas coisas para o endereço que me fornecer. É o fim! amanhã mesmo mandarei meus advogados prepararem tudo para o divórcio! Vou ficar livre de você. Clayde. Livre para sempre! — finalizou ela, batendo o telefone.

    Ficou ali, parada, ofegante, sentindo um grande alivio, como se um fardo pesado tivesse sido tirado de suas costas. Imaginou que motivos a teriam levado a suportar por um ano aquela situação, mas não conseguiu.

    Fora mesmo uma tola todo o tempo. Nada a obrigaria ficar com ele. Divórcios haviam sido feitos para isto. Acabavam-se seus problemas.

    Apressou-se em fazer as malas. Não queria que ele voltasse e a encontrasse ali.

    O telefone tocou. Ela sorriu e não foi atender.

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\O HOMEM QUE NAO QUERIA\inter.jpg

    Donna retornara a Houston e conseguira, naquele mesmo dia, falar com um dos advogados da firma. Pedira a ele que, já no dia seguinte, iniciasse o processo de divórcio.

    Recomendou aos seguranças que impedissem a entrada de Clayde na propriedade. Uma equipe extra foi posta de plantão junto ao portão. Com isso ela se garantia de que não o veria mais pela frente, a não ser na audiência do divórcio.

    À noite, jantou sozinha, como sempre fazia, só que agora não precisava mais se preocupar em saber onde estaria o infiel marido.

    Sentiu vontade de fazer coisas que fazia quando solteira. Pôs seu biquíni, levou um livro e o aparelho de som para junto da piscina. Começou a ler, sentindo-se livre. Mais tarde, quando o calor se tornasse insuportável, mergulharia para se refrescar e retornaria, em seguida, à leitura.

    O aparelho de som foi sintonizado numa emissora que transmitia musica clássica.

    Sentiu-se bem, como havia muito não se sentia, livre de tensões e preocupações.

    Estava concentrada na leitura, quando uma criada se aproximou, trazendo o telefone sem fio.

    — Sra. Rosemberg, telefone — informou.

    — Quem é, Reyna?

    — É o Dr. Carville — respondeu ela com seu sotaque mexicano arrastado.

    Estranhou a ligação. Dilley era amigo de Clayde. Na certa queria noticias dele ou interceder por ele.

    — Diga que estou dormindo, Reyna.

    — Ele disse que era muito importante mesmo...

    — Eu sei. Na certa falará sobre Clayde...

    — É sobre o Sr. Rosemberg mesmo que ele quer falar — insistiu ela.

    Donna olhou-a, estranhando. Reyna já trabalhava ali havia alguns anos e jamais discutia uma ordem. Havia algo na expressão do rosto dela que deixou a patroa apreensiva.

    Como todos latinos, Reyna não sabia esconder suas emoções. Tinha os olhos brilhantes, como se estivesse fazendo um esforço enorme para não chorar.

    Estendeu a mão. A empregada lhe entregou o telefone e se afastou rapidamente. Donna percebeu que ela soluçava.

    — Dilley, sou eu, Donna! O que houve?

    — É sobre Clayde, Donna...

    — Não quero discutir este assunto, Dilley. Estou resolvida. Ele não fez outra coisa nestes últimos meses a não ser infernizar a minha vida, Dilley...

    — Donna! — chamou-a ele, num tom conciliador.

    — Não insista, Dilley, por favor!

    — Donna! Ouça-me! — pediu o médico.

    — Não vai adiantar...

    — Por favor! — insistiu ele e seu tom de voz, somado à expressão e à atitude de Reyna, fizeram-na pensar duas vezes.

    — O que foi, afinal?

    — Um acidente.

    — Clayde?

    — Sim.

    — Como ele está?

    — Em coma profundo.

    — Como você soube?

    — Ele está aqui, em minha clinica. Bateu o carro vindo de Freeport para cá.

    — Meu Deus! — murmurou ela, tentando não se sentir culpada.

    Clayde era um ótimo piloto. Vivia se vangloriando disso.

    — Como aconteceu? — quis saber.

    — Não sei. Ele deve ter perdido o controle no carro, num trecho molhado da pista. O carro saiu estrada. Ele foi atirado fora, após bater numa árvore, arrebentando o cinto de segurança.

    Ela respirou fundo.

    — Estou indo! — disse e desligou.

    D:\- EBOOKS\MY BOOKS\NOVELAS POLICIAIS\O HOMEM QUE NAO QUERIA\002.jpg

    Thomas Livermore se sentia o sujeito mais feliz do mundo. Acabara de ser despedido de onde trabalha, mas conseguira como que num milagre, uma entrevista para um novo emprego na maior, melhor e mais conceituada construtora de Houston.

    Não sabia a que devia tanta sorte. Conhecera aquele médico, Dilley Carville, no bar do Houston Country Club. Deve ter impressionado, pois o médico lhe deu seu cartão, com o telefone de alguém a quem ligaria na empresa, para conseguir a entrevista.

    — Eu agradeço muito a indicação, mas tenho um bom emprego agora — afirmara Thomas.

    — Ok! Para uma eventualidade — decidira-se Thomas.

    Na segunda-feira seguinte fora despedido. Não soube o motivo. Ligara para a pessoa cujo nome anotado no cartão. A entrevista foi marcada. Thomas esperava, agora, o momento de ser atendido, na antessala do diretor de pessoal.

    Viu então, uma mulher muito elegante e bonita deixar a sala, ainda conversando com o diretor.

    — E se esse arquiteto for mesmo bom, contrate-o e iniciaremos imediatamente aquele projeto de que lhe falei — dizia ela.

    — Bem, poderemos ver isso agora mesmo — falou o homem, apontando na direção do rapaz.

    Ela desviou os olhos para Thomas e empalideceu. Havia surpresa em seu olhar. Uma surpresa estranha, mistura de tristeza e medo ao mesmo tempo.

    — Por favor! — disse o diretor, chamando Thomas.

    Ele se aproximou, sem conseguir desviar os olhos daquela linda e estranha mulher, que o fitava tão intensamente, perturbando-o.

    — Donna, este é Thomas Livermore, o candidato ao posto de arquiteto, recomendado por Dilley Carville.

    — É incrível a semelhança — murmurou ela.

    Seu perfume era delicioso. Sua pele tinha um fascínio quase mágico, como se pedisse por um toque ou desejasse um carinho.

    — Como disse? — indagou ela, perturbada, saindo e deixando-os.

    — Nada... Nada... — falou ela, perturbada, saindo e deixando-os.

    — Acho que não agradei — comentou Thomas.

    — Ela deu a entender que já o conhecia. Não teve essa impressão? — opinou o diretor.

    — Eu tenho a impressão que ela viu um fantasma. Quem é ela, afinal?

    — Não a conhece? — surpreendeu-se o outro.

    — Não. E se conhecesse uma mulher como ela, tenho certeza que jamais esqueceria.

    — Ela é Donna Rosemberg, apenas a proprietária de tudo isto.

    A entrevista com o diretor foi rigorosíssima, mas Thomas se saiu bem. Seus conhecimentos e experiência profissional lhe valeram muito e foram devidamente apurados pelo seu entrevistador.

    Ao final, imaginou que teria de esperar algum tempo para a contratação, se fosse contratado. Pensou também que concorreria com outros candidatos. Mas surpreendeu-se, no entanto.

    — Minha secretária vai levá-lo ao departamento de pessoal, onde serão resolvidas todas as formalidades para sua contratação. Thomas. Seja bem vindo à empresa! — finalizou o diretor, deixando o rapaz atônito.

    — Como? Quer dizer que estou contratado?

    — Sim, espero que o salário seja satisfatório.

    — Mas nem falamos de salário...

    — Você ganha quarenta mil anuais na sua firma anterior. Acho que sessenta mil seria um bom começo, não?

    — Sessenta mil?

    — Para começar, Thomas. As possibilidades são ótimas, principalmente se o empreendimento em questão tiver sucesso. Você vai trabalhar ligado diretamente à nossa presidente, Donna Rosemberg. E por falar nisso, haverá uma reunião hoje, às quinze horas, na sala do quinto andar. Não falte, nem se atrase. Antes de sair, passe pela sala da presidência. Donna lhe dará maiores detalhes. Vou avisá-la de sua contratação agora mesmo — finalizou o diretor, despedindo-o com um aperto de mão e um tapinha nas costas.

    Thomas julgou que estivesse sonhando. Acabara de ser contratado com um salário cinquenta por cento maior que o anterior. Além disso, trabalharia ligado diretamente à presidente da empresa, coisa que poderia ser muito promissora pela chance de aparecer, demonstrando seu potencial.

    Acompanhou a secretária até o departamento de pessoal, onde todas as formalidades foram cumpridas e ele estava contratado pela Construtora Rosemberg.

    Feito isso, foi até a sala da presidência.

    — Pode aguardar por alguns instantes, Sr. Livermore? A Sra. Rosemberg está atendendo uma pessoa e falará com você logo em seguida.

    Thomas agradeceu e sentou-se. Sentiu-se ansioso para rever aquela bela mulher, tentando imaginar por que a vira tão triste, quase assustada, no primeiro encontro, na sala do diretor.

    Lá dentro, na ampla sala da presidência, Donna indicava uma poltrona ao Tenente Edward Carrizo, da polícia local.

    — Eu sinto muito que não tenhamos conseguido falar nos últimos dias, tenente, mas estive realmente muito ocupada — explicou ela.

    — Eu entendo, Sra. Rosemberg. São apenas alguns esclarecimentos que preciso para encerrar o processo.

    — Está convencido mesmo que foi um acidente?

    — Apesar de todas as informações sobre a perícia de seu marido como piloto, somos forçados a reconhecer isso. Havia água na pista. O veículo aquaplanou. Ficou totalmente fora de controle.

    — E quanto ao cinto de segurança? Por que não o prendeu como deveria?

    — Os peritos informaram que a batida na árvore provocou o rompimento do cinto. Tudo contribuiu para que o acidente tivesse consequências funestas. Infelizmente ele foi atirado fora do carro e sofreu múltiplas fraturas. Eu vi pessoalmente as radiografias e confesso que fiquei impressionado.

    — Há poucas esperanças de que ele se recupere. Sua vida está sendo mantida graças aos aparelhos. Há dois meses que sua situação se mantém equilibrada.

    — É terrível! — comentou o policial, retirando um caderno de notas do bolso de seu paletó. — Só mais uma coisa, Sra. Rosemberg. Segundo me consta, a rapidez no atendimento foi responsável por salvar a vida dele. Sabe me dizer como a ambulância da Clinica Carville chegou lá tão rápido?

    — Foi pura coincidência, segundo Dilley, o proprietário e amigo particular de meu marido. Estavam retornando, após terem levado um paciente para outro hospital. Chegaram logo após o acidente. Como eram da área, tiveram todo o cuidado na retirada dele e em sua remoção.

    — É! Terá sido uma sorte mesmo, caso ele venha a se recupera. Faço votos que isto aconteça o mais depressa possível, Sra. Rosemberg. Agradeço sua atenção — falou o tenente, levantando-se.

    Ela o acompanhou até a porta, despediu-se. Retornou a sua mesa. Aquilo não tinha sido sorte. Fora um castigo. Um amargo castigo para ela.

    Não poderia se separar dele agora. Estava ligada ao maldito pelas mangueiras e tubos que o prendiam à vida. Fora azar, muito azar mesmo. Se tivesse morrido no acidente, ela estaria livre. Pesaria na sua consciência por algum tempo, mas estaria livre.

    Agora, tinha de aturá-lo, de visitá-lo e de sustentá-lo da mesma forma. Naquela clinica especializada, os preços eram um ultraje. Clayde estava tendo do melhor. Até a fisioterapia lhe era ministrada, em máquinas de exercícios sem esforço, que mantinham seu físico com ótima aparência. O miserável nem parecia à beira da morte. Estava mais saudável que antes.

    — Sra. Rosemberg, o Sr. Livermore está aguardando — anunciou a secretária.

    — Dê-me um minuto, Susan, depois faça-o entrar.

    Donna foi até o banheiro privativo, retocou rapidamente a maquilagem, arrumou os cabelos e voltou para sua mesa. Sentiu-se ligeiramente emocionada, lembrando-se do rapaz. Ele entrou em seguida, confirmando a impressão que tivera dele. Alto, com ombros largos, rosto expressivo, com aqueles cabelos um pouco mais compridos que o convencional, mas num corte que ficava muito bom para o rosto dele. Quando ele se aproximou da mesa e sorriu, ela não teve duvidas. A semelhança era mesmo incrível. Apontou uma poltrona. Ele se sentou. Tinha gestos elegantes e um porte atlético e sóbrio. Por instantes ela ficou em silencio, olhando-o, saboreando algumas lembranças e divagando. Isto o perturbou, incomodando-o. Pigarreou. Ela voltou à realidade.

    — Tivemos excelentes referencias a seu

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