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Arte, Cultura & Violino: Memórias do Ensino e Vida de um Violinista Brasileiro
Arte, Cultura & Violino: Memórias do Ensino e Vida de um Violinista Brasileiro
Arte, Cultura & Violino: Memórias do Ensino e Vida de um Violinista Brasileiro
E-book334 páginas4 horas

Arte, Cultura & Violino: Memórias do Ensino e Vida de um Violinista Brasileiro

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Sobre este e-book

Este livro merece ser lido porque, genuinamente, versa sobre o amor à cultura e a dedicação ao ensino da música. Isso foi possível constatar quando uma corrente estética europeia consegue irradiar conhecimentos artísticos para além-mar — época em que uma aplicada escola violinística desembarca no Brasil, no início do século XX, via de destemidos estudantes brasileiros de violino em terras estrangeiras, e produz discípulos transmitindo sua influência. Entre solistas e virtuoses, fizeram-se também violinistas professores, dos quais alguns resultam por presentear sua existência terrena à causa da instrução musical.
Professores de violino do Brasil Atlântico que, equipados com a ferramenta técnica composta de autores pedagogos violinistas da eficaz "Escola Franco-Belga" adentram ao cerne do Brasil e se dedicam ao ensino musical de grandes mestres, numa rara opção pelo exercício profissional no interior a ser desbravado deste continental país. Boas contribuições vieram desse ensino brasileiro do violino, também temperado com mestres do violinismo mundial
provenientes das Escolas Tcheca, Russa e Alemã.
A presente obra trata de narrar numerosas passagens da vivência humana como professor e amigo de um desses esplêndidos mestres educadores. Um excepcional violinista que, nascido em 1930 e criado no Rio de Janeiro, viveu e laborou em São Paulo, indo então para o Centro-Oeste do território nacional na década de 1960. Um didata na cidade de Campo Grande (hoje, Mato Grosso do Sul), onde exerceu sua competência educadora ao violino, além de extensa atividade artística como aclamado performer e solista musical.
Possivelmente, uma espécie de corajoso bandeirismo cultural que consagrou a seus alunos sua inédita saga de primeiro professor de violino em Cuiabá (Mato Grosso). E ainda teve fôlego para fomentar um movimento musical sem precedentes na história do ensino daquela região numa universidade pública. Entusiasmo e ousadia de seus dirigentes em décadas de muita criatividade. E o projeto prospera, vez que a semente de uma orquestra sinfônica germinou. Eis uma instigante leitura da curiosa história — quase cinematográfica — de um pedagogo violinista brasileiro!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de fev. de 2022
ISBN9786525018799
Arte, Cultura & Violino: Memórias do Ensino e Vida de um Violinista Brasileiro

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    Arte, Cultura & Violino - Ney Alves de Arruda

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO E CULTURAS

    Dedico este humilde opus a todos os escritores, pesquisadores e compositores que permaneceram autênticos em sua obra, que nunca copiaram, que jamais plagiaram ideias de outros, que foram verdadeiros, éticos e legítimos ao longo de sua vida intelectual.

    APRESENTAÇÃO

    O professor Cézar Cruz Wulhynek teve sua existência dedicada à arte do violino. Ele muito contribuiu para a instrução musical em Mato Grosso do Sul e em Cuiabá (Mato Grosso). De modo lamentável, faleceu sem um registro de sua história; partiu sem que alguém contasse um pouco de sua trajetória. Versa-se aqui sobre um brilhante músico que foi capacitado professor de violino na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e um artista querido como poucos. Não poderia desaparecer sem uma crônica que pudesse deixar para a posteridade, algo de sua calorosa forma de ensino fundamentado na secular Escola Franco-Belga do violino, além de episódios da vida de alguém que se doou para a causa da educação no Brasil.

    Esta pesquisa, que resultou neste pequeno relato biográfico, é um tributo ao inicial spalla da Orquestra Sinfônica Universitária da UFMT. Trata-se de um fato histórico no qual um docente dessa universidade (o ora autor), celebra um servidor técnico músico, do qual foi aluno por uma década. Com efeito, Wulhynek tornou-se o violinista que ajudou a construir cultura com base na tradição de saberes violinísticos consagrados por muitas gerações de instrumentistas, ademais de compartilhar seus valores humanistas como desbravador do ensino musical em Mato Grosso no início da década de 1980.

    Esse é um marco referencial importante para a UFMT, que aprendeu com o tempo a preservar sua memória quando completa 50 anos dedicados à formação do povo mato-grossense, uma vez que se aventa um fato relevante: um professor violinista vindo do Rio de Janeiro, em 1979, leciona 20 anos numa orquestra-escola de uma universidade pública no Centro-Oeste do país. Ou seja, esse violinista avançou para o interior como um expedicionário da cultura, fixando-se cerca de 2.000 km distante dos grandes centros culturais brasileiros. Wulhynek, que havia sido aluno particular da violinista predileta de Villa-Lobos, a professora Paulina D’Ambrósio, traz arte para Mato Grosso.

    Nisso, o professor Cézar ensinou com base em obras pedagógicas, inclusive das escolas alemã, tcheca, russa, entre outras, as quais foram fundadas por cultos professores-compositores violinistas. É deveras um tema proeminente, pois resultou por inaugurar um movimento educacional no interior longínquo do Brasil repercutindo na cidade de Cuiabá e interior. Esses fatos não saem de nossas mentes, porque sem o esforço pedagógico de Wulhynek, não teríamos, seguramente, a cultura da grande música clássica, e nem a Orquestra Sinfônica da UFMT.

    Percorrendo a obra, no Capítulo 1, analisamos o uso dos métodos e de autores das escolas do violinismo mundial utilizados por Wulhynek. Isso à luz de nossa própria vivência como violinista há 38 anos de prática musical em recitais, gravações, ensino extensionista do violino na UFMT, música de câmara e orquestras em Mato Grosso, Santa Catarina e na Espanha. Além de nosso conhecimento como docente em sala de aula da UFMT há 29 anos, foi possível constatar caminhos didáticos frequentados de ensino na Escola Preparatória de Aprendizes da UFMT, na qual o professor Cézar se utilizou de um conjunto de estratégias pedagógicas já consagradas nos grandes centros da Europa — momento em que ensinou violino cumprindo a tarefa de modelar o conhecimento musical em alunos iniciantes ou já praticantes do violino. Não se trata de um método, porque o professor Cézar não compôs música de violino e não escreveu um livro sobre violino, apenas se valeu de um conjunto de saberes técnicos anteriormente publicados desde o século XIX, mesclando estilos, escolas e autores (todos em domínio público) para o desenvolvimento do aprendizado técnico do violino na UFMT.

    O Capítulo 2 apresenta uma biografia mínima do querido mestre Wulhynek, com base em depoimentos e no estudo de sua pasta funcional arquivada na Secretaria de Recursos Humanos da instituição, que foi acessada por autorização legalmente deferida pela Administração Superior da UFMT em procedimento administrativo tramitado, ademais de nossa particular convivência como discípulo e amigo por mais de 20 anos.

    Finalizando, no Capítulo 3, o autor ampara-se em sua experiência como adepto do jornalismo cultural de mais de 140 artigos publicados em periódicos cuiabanos, quando foi possível colher duas dezenas de depoimentos jornalísticos na forma de entrevistas feitas com ex-alunos, colegas de orquestra e músicos amigos de Wulhynek.

    Não podemos deixar de anotar nossa deferência à Reitoria da UFMT pelas autorizações legalmente deferidas, à Secretaria de Comunicação da Reitoria (Secom) por autorizar o exame do acervo fotográfico referente ao professor Cézar, bem como aos amigos músicos que concederam suas entrevistas e à Embaixada da Bélgica no Brasil, na pessoa do Exmo. Sr. Embaixador Dr. Patrick Hermann, que nos forneceu informações dos arquivos do Conservatório Musical de Bruxelas.

    Esperamos que este modesto primeiro livro acerca do violino em Mato Grosso possa trazer válidas meditações ao público leitor e melômano em geral, inclusive aos instrumentistas, para que conheçam um pouco de um ser humano que marcou afetivamente a vida de muitos músicos com sua simpatia, seu conhecimento e seu bom humor.

    Cuiabá – MT, abril de 2021.

    Prof. Dr. Ney Alves de Arruda

    Docente da UFMT

    PREFÁCIO

    É um prazer e uma honra escrever essas poucas palavras saudando uma publicação tão preciosa. Escrever um livro que homenageia a um importante didata do violino significa, hoje, iluminar a sombra em que, muitas vezes, os pequenos grandes heróis da educação no nosso país são forçados a viver. Significa trazer ao palco do mundo o seu legado para que as gerações futuras possam aproveitar de sua sabedoria e de sua experiência.

    O professor Cézar Wulhynek foi um dos pioneiros no ensino musical em Mato Grosso, sendo também o primeiro spalla da Orquestra Sinfônica Universitária da UFMT. A importância de seu legado artístico, educativo e humano são unanimidade entre todos aqueles que o conheceram.

    A ideia do professor Ney Arruda em escrever este tratado didático baseado e inspirado na figura de Cézar Wulhynek é importante por várias razões: uma publicação didática de grande interesse, que se já é preciosa por si mesma, acaba sendo um verdadeiro tesouro se considerarmos a pobre bibliografia em português existente sobre o violino e seu estudo.

    O presente livro também é importante porque se torna uma homenagem singela a um icônico didata que foi eternizado nestas páginas graças à ideia extraordinária do professor Arruda, que foi seu aluno fiel por 10 anos.

    Por fim, é um livro que simbolicamente nos mostra o valor dos tantos pequenos grandes heróis da educação brasileira, que trabalham incansavelmente e, muitas vezes, sem os merecidos reconhecimentos, conscientes de sua missão para com a sociedade. Conheci e conheço muitos desses heróis e tenho o privilégio de ser amigo de alguns. Gosto de pensar neste livro como uma homenagem ao professor Cézar Wulhynek, mas também, simbolicamente, a cada um dos nossos professores, um orgulho para o Brasil que se orgulha de si.

    Felicitações ao professor Ney Arruda por este livro, o qual espero servir de inspiração para muitos, e que um pouco do valor nele contido se espalhe nas mentes e nos corações dos presentes e futuros violinistas.

    São Paulo, abril de 2021.

    Emmanuele Baldini

    Concertmaster OSESP – São Paulo – Brazil

    São Paulo Symphony Orchestra

    Music Director Sphaera Mundi – Brazil

    Violin 1 and founder OSESP Quartet

    Violin Arqué Trio

    www.emmanuelebaldini.com

    Sumário

    Capítulo I

    NOTAS TÉCNICAS APROXIMATIVAS ACERCA DO ENSINO DE WULHYNEK NA UFMT PARA O ESTUDO DO VIOLINO: AUTORES ADOTADOS, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E PERCURSOS MUSICAIS 17

    I.I O INÍCIO DOS ESTUDOS DE VIOLINO (ADAPTAÇÃO DO ALUNO À PEGA DO ARCO, ENCONTRO COM O CORPO DESSE INSTRUMENTO E O

    VOLUME 1 DE LAOUREUX) 17

    I.II ASPECTOS DA TÉCNICA DA MÃO ESQUERDA: O ESTUDO DO MECANISMO DIÁRIO 27

    I.II.I Posições fixas no violino 32

    I.II.II Câmbio de posições 40

    I.III ELEMENTOS DA TÉCNICA DA MÃO DIREITA: O ESTUDO PARA O DOMÍNIO DO ARCO 47

    I.IV O ESTUDO DE ESCALAS E O USO DA ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA: FREE SHEET MUSIC 53

    I.V A CONVIVÊNCIA DIÁRIA DE ALUNOS COM OBRAS DOUTRINÁRIAS PRINCIPAIS DO VIOLINO 59

    I.VI A MÚSICA DE CÂMARA COMO INICIAÇÃO À PRÁTICA DE CONJUNTO 73

    I.VI.I O estudo preliminar do solo no violino 83

    I.VII O TREINAMENTO DA ESCUTA MUSICAL E DA LEITURA DE PARTITURAS 91

    I.VIII UMA PLAUSÍVEL INICIAÇÃO DE REPERTÓRIO DESENVOLVIDO PARA O VIOLINISTA AMADOR E O PROFISSIONAL 93

    I.IX PROPONDO UMA REVISÃO ATUALIZADORA DA DIDÁTICA DE WULHYNEK PARA VIOLINISTAS AMADORES E REFLEXÕES MEDITATIVAS PARA PROFISSIONAIS 98

    I.X O ENSINO DE WULHYNEK NO SÉCULO XXI EM OITO ESTÁGIOS DE ESTUDO 98

    Capítulo II

    COMENTÁRIOS PARA UMA BIOGRAFIA MÍNIMA DO PRIMEIRO PEDAGOGO DO VIOLINO NO GRANDE ESTADO DE MATO GROSSO: CÉZAR CRUZ WULHYNEK 107

    II.I UMA VIDA DEDICADA À MÚSICA E À RELIGIOSIDADE 107

    II.II TRAJETÓRIA DE UM TRABALHADOR ENTRE RIO E SÃO PAULO 110

    II.III A VIDA ARTÍSTICA E O ENSINO DO VIOLINO EM CAMPO GRANDE NA DÉCADA DE 1970 111

    II.IV CÉZAR WULHYNEK: O PIONEIRO E COMPETENTE PROFESSOR DE VIOLINO EM CUIABÁ NAS DÉCADAS DE 1980 A 1990 118

    II.V DOR E SOFRIMENTO COM ENFERMIDADES NO EPÍLOGO DOS

    ANOS 2000 150

    Capítulo III

    IMPRESSÕES DE MUNDOS VIVIDOS DO AFETO E DO CARINHO DE EX-ALUNOS, COLEGAS DE ORQUESTRA E AMIGOS MÚSICOS DO PROFESSOR CÉZAR WULHYNEK 155

    III.I UMA POSSÍVEL INTRODUÇÃO METODOLÓGICA 155

    III.II PROFESSOR CÉZAR WULHYNEK EM CAMPO GRANDE NA DÉCADA

    DE 1970 157

    III.II.I Cássia Virgínia Coelho de Souza 157

    III.II.II Ivone Fraiha Clark 165

    III.II.III Josias Alves Martins 167

    III.II.IV José Lourenço Parreira 171

    III.III O MESTRE WULHYNEK EM CUIABÁ NA DÉCADA DE 1980 175

    III.III.I Amaury Ângelo Gonzaga 175

    III.III.II Francisco Lopes dos Santos Filho 177

    III.III.III Henrique Corrêa Ribeiro 182

    III.III.IV Paulino Antunes de Almeida Filho 186

    III.III.V Domingos Vieira de Assunção 187

    III.III.VI Flávia Vieira 189

    III.III.VII Nanci Correia de Mello Ourives 192

    III.III.VIII Valter Santana 193

    III.III.IX Edson Vieira de Assunção 195

    III.III.X Joelson de Campos Maciel 196

    III.III.XI João Carlos Bertoli 198

    III.III.XII Euclides Ferreira Filho 200

    III.IV CÉZAR, O AMIGO NA CAPITAL DE MATO GROSSO NA DÉCADA DE 1990 203

    III.IV.I Deivison Branco Nogueira 203

    III.IV.II Abel Santos Anjos Filho 206

    III.IV.III Angelo Souza dos Santos 208

    III.V ENFERMO, MAS AINDA ENSINANDO NOS PRIMEIROS ANOS DA DÉCADA DE 2000 209

    III.V.I Rafael Douglas Rodrigues 209

    POSFÁCIO 213

    REFERÊNCIAS 215

    Capítulo I

    NOTAS TÉCNICAS APROXIMATIVAS ACERCA DO ENSINO DE WULHYNEK NA UFMT PARA O ESTUDO DO VIOLINO: AUTORES ADOTADOS, PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E PERCURSOS MUSICAIS

    I.I O INÍCIO DOS ESTUDOS DE VIOLINO (ADAPTAÇÃO DO ALUNO À PEGA DO ARCO, ENCONTRO COM O CORPO DESSE INSTRUMENTO E O VOLUME 1 DE LAOUREUX)

    A missão recebida pelo professor Cézar Cruz Wulhynek em reunião de 5 de dezembro de 1980 (DORILEO, 2005, p. 339) com o magnífico Reitor Prof. Benedito Pedro Dorileo e sua equipe técnica na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) era instruir pessoas da comunidade universitária e jovens estudantes da cidade,

    capacitando-os como músicos instrumentistas para integrar a então denominada Orquestra Sinfônica Universitária (OSU). O projeto original instituído pela Reitoria da UFMT era que estudantes da cidade de Cuiabá e do Estado de Mato Grosso aprendessem os elementos fundamentais do violino, da viola, do violoncelo e do contrabaixo, além de instrumentos de sopro e percussão, para que, na medida do possível, viessem a compor o quadro de músicos aprendizes, assim estagiando e conhecendo a preciosa prática de conjunto na orquestra colimando participar em suas apresentações públicas.

    Nesse sentido, o professor Cézar trabalhou ciente de sua incumbência primordial determinada pelo Reitor Dorileo dentro da Escola Preparatória de Aprendizes da Orquestra, idealizada para fomentar o crescimento do movimento musical na UFMT; e assim dinamizar a vida cultural da cidade de Cuiabá e do Estado de Mato Grosso.

    Com referência ao ensino de violino do professor Cézar Wulhynek, este iniciava bem antes das primeiras aulas formais no uso específico ensinando o Método prático para violino, volume n. 1, de Nicolas Laoureux (1920), pois ele sempre passava com seus alunos um mês trabalhando o contato físico do novo discípulo com o instrumento.

    Primeiramente, eram ministradas, em média, duas aulas em duas semanas para que o aluno se familiarizasse com a natureza do arco e das respectivas peças de sua constituição (baqueta, crina, talão, noz, botão). Utilizando alguns conhecidos exercícios de controle do arco na mão direita, a movimentação desta vinha da flexibilidade e da rotação do pulso direito segurando o arco, com o braço reto e flexível, sendo tratado de forma elegante, quase como uma espada com movimentos para a esquerda, para a direita, para cima e para baixo. Por exemplo, o exercício da aranha sobre o arco, ou seja, a mão direita transforma-se numa imaginária aranha que percorre a baqueta do arco seguro de um extremo ao outro, criando a substância de segurança no contato com a baqueta – exercícios necessários para estabelecer um critério de equilíbrio mínimo do arco na mão direita.

    Depois da aproximação inicial com o arco do violino, eram desenvolvidas, sem pressa de resultados precoces, mais duas ou três aulas em duas semanas distintas para o contato físico do aluno com o corpo do instrumento. Nesse sentido, era ensinado o uso correto da queixera, a adaptação do violino com a espaleira no ombro esquerdo do novel aluno. A busca da melhor posição de conforto corporal, a viabilidade anatômica do aluno, sempre foi uma necessidade subjetiva própria de cada estudante, no sentido de se adaptar à complexa realidade muscular entre o ombro esquerdo com a espaleira, o queixo com a queixera, o violino junto ao ombro e o peito esquerdo do discípulo.

    Assim, quando a responsabilidade de sustentar o violino não é da mão esquerda, a qual deve ter liberdade para transitar perante o braço e o espelho do violino com o fito específico de digitar as notas musicais subindo e descendo futuramente as posições, explicava o professor Cézar que o violino deve ser amparado, vale dizer: segurado com relativa firmeza pelo queixo na queixera e o ombro esquerdo na espaleira acoplada convenientemente ao violino. Dessa forma, compreendeu-se que não se poderia travar ou estressar os músculos da mandíbula, do braço e do ombro esquerdo.

    Um exercício violinístico de alongamento para iniciantes e profissionais tematizado pelo violinista norte-americano Yehudi Menuhim (1991, p. 128) foi incorporado na prática do professor Cézar: o contato dos quatro dedos da mão esquerda seguido pelo polegar (de maneira conjunta) no suave e progressivo deslizar

    (10 vezes ao dia), sem pressa e sem traumas das articulações do braço esquerdo, por entre as quatro cordas do violino (sol, ré, lá, mi), de maneira que o dedo indicador deslizava pela corda Sol, da 1.a posição rumo à 7.a posição, e regressava devagar ao início do exercício, com todos os dedos juntos, apenas distanciados pelos milímetros existentes entre as cordas. Por sua vez, o dedo médio ia pela corda Ré, o dedo anelar pela corda Lá e o dedo mínimo deslizava pela corda Mi. Todos os quatro dedos juntos em tranquila harmonia de movimentos. O professor Cézar estava sempre apresentando exercícios tradicionais e reconhecidos de flexibilidade do pulso da mão esquerda e seu polegar para que a musculatura dos braços do novo discípulo não sofresse traumatismos pelo movimento exigido do violino e seu arco.

    Passado esse primeiro mês de adaptação e paciência do aluno no contato físico com o violino e o arco, havia então a passagem em nota de quatro tempos, calma, lenta e tranquila, da nota de semibreve do arco por entre as quatro cordas, criando uma necessária sensação preliminar de segurança, amoldamento e confiabilidade do aluno. Isso, inclusive, deveria e continua sendo necessário treinar perante um espelho grande a fim de verificar a posição estética do estudante empunhando o instrumento para observar a postura do arco em ângulo reto em relação ao corpo do violino. Somente então se marcava a aula na qual seria iniciada a leitura e a interpretação propriamente dita do histórico e procedente Método prático de violino de Laoureux (1920).

    Com toda certeza, o autor Laoureux seguiu como um eixo fundante da didática de Wulhynek, pois esse método belga foi tratado como um fator elementar do ensino de violino, dada a sua praticidade, coerência e lógica na exposição dos temas fundamentais de aprendizado desse instrumento. Com a evolução do estudante, eram introduzidos novos autores e outros métodos, ou seja, novos campos temáticos complementares quanto ao violino, demonstrando, assim, a competência educacional da didática ofertada na UFMT. Veja-se os aspectos gerais do primeiro livro adotado pelo mestre Wulhynek:

    Quadro 1 – Conteúdo técnico-didático inserido no volume 1 de Laoureux

    Fonte: Laoureux (1920), Método prático para violino, v. 1

    Dessa forma, a inauguratória obra ministrada

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