Electra: Drama em cinco actos
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Sobre este e-book
Benito Pérez Galdós
Benito Pérez Galdós (1843-1920) was a Spanish novelist. Born in Las Palmas de Gran Canaria, he was the youngest of ten sons born to Lieutenant Colonel Don Sebastián Pérez and Doña Dolores Galdós. Educated at San Agustin school, he travelled to Madrid to study Law but failed to complete his studies. In 1865, Pérez Galdós began publishing articles on politics and the arts in La Nación. His literary career began in earnest with his 1868 Spanish translation of Charles Dickens’ Pickwick Papers. Inspired by the leading realist writers of his time, especially Balzac, Pérez Galdós published his first novel, La Fontana de Oro (1870). Over the next several decades, he would write dozens of literary works, totaling 31 fictional novels, 46 historical novels known as the National Episodes, 23 plays, and 20 volumes of shorter fiction and journalism. Nominated for the Nobel Prize in Literature five times without winning, Pérez Galdós is considered the preeminent author of nineteenth century Spain and the nation’s second greatest novelist after Miguel de Cervantes. Doña Perfecta (1876), one of his finest works, has been adapted for film and television several times.
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Electra - Benito Pérez Galdós
Benito Pérez Galdós
Electra
Drama em cinco actos
Publicado pela Editora Good Press, 2022
goodpress@okpublishing.info
EAN 4064066412821
Índice de conteúdo
ACTO PRIMEIRO
SCENA I
SCENA II
SCENA III
SCENA IV
SCENA V
SCENA VI
SCENA VII
SCENA VIII
SCENA IX
SCENA X
SCENA XI
SCENA XII
SCENA XIII
SCENA XIV
SCENA XV
ACTO SEGUNDO
SCENA I
SCENA II
SCENA III
SCENA IV
SCENA V
SCENA VI
SCENA VII
SCENA VIII
SCENA IX
SCENA X
SCENA XI
SCENA XII
SCENA XIII
SCENA XIV
SCENA XV
SCENA XVI
SCENA XVII
SCENA XVIII
ACTO TERCEIRO
SCENA I
SCENA II
SCENA III
SCENA IV
SCENA V
SCENA VI
SCENA VII
SCENA VIII
SCENA IX
SCENA X
SCENA XI
ACTO QUARTO
SCENA I
SCENA II
SCENA III
SCENA IV
SCENA V
SCENA VI
SCENA VII
SCENA VIII
SCENA IX
SCENA X
SCENA XI
SCENA XII
SCENA XIII
ACTO QUINTO
SCENA I
SCENA II
SCENA III
SCENA IV
SCENA V
MUTAÇÃO
SCENA VI
SCENA VII
SCENA VIII
SCENA IX
SCENA ULTIMA
ACTO PRIMEIRO
Índice de conteúdo
Sala sumptuosa no palacio dos senhores de Garcia Yuste. Á direita, sahida para o jardim. Ao fundo, communicação para outras salas do palacio. Á direita, no primeiro plano, porta dos quartos d’Electra.
SCENA I
Índice de conteúdo
MARQUEZ E JOSÉ
José
Estão no jardim... Vou dar parte.
Marquez
Espera lá. É esta a primeira visita que faço aos senhores de Garcia Yuste no seu palacio novo... Deixa-me dar uma vista d’olhos... Está n’um grande pé... Bem hajam os que tão bem empregam o seu dinheiro! Porque não é sómente o seu estado de casa, é o bem que fazem, o generosos que são em obras pias...
José
Oh! lá isso...!
Marquez
E tão mettidos comsigo! tanto da paz e do socego do lar!... Ainda que, segundo cuido, ha novidade agora na familia...
José
Novidade? Ah! já sei... Quer o snr. Marquez referir-se...
Marquez
Escuta, José! Promettes fazer o que eu te peça?
José
Já o snr. Marquez sabe que eu me não esqueço nunca dos quatorze annos que servi na sua casa... O snr. Marquez manda, não pergunta.
Marquez
Pois venho cá de proposito para conhecer essa interessante senhorita, que os teus amos trouxeram agora d’um collegio de França...
José
A senhorita Electra.
Marquez
Podes dizer-me se os senhores estão contentes com essa nova sobrinha? É pessôa amoravel, agradecida?
José
Oh! n’esse particular!... Os senhores morrem por ella... Sómente...
Marquez
Quê?
José
A menina é travessasita...
Marquez
A edade!
José
Brincalhôna, oh! mas brincalhôna, que se não faz uma ideia...
Marquez
Mas diz que é linda, que é um anjo...
José
Um anjo sim, se ha anjos parecidos com mafarricos... É que nos põe o sal na moleira a todos cá de casa!
Marquez
Estou morto por conhecêl-a!
José
No jardim a encontra o snr. Marquez. É lá que passa as manhãs pondo em redemoinho tudo.
Marquez
(olhando para o jardim) Lindo jardim, bello parque, as velhas arvores do antigo palacio das Gravelinas...
José
É exacto.
Marquez
O grande predio, ao fundo da alameda, é tambem dos senhores de Yuste?
José
Tambem. Com entrada pelo jardim e pela rua. Em baixo tem o seu laboratorio o sobrinho dos patrões, o senhorito Maximo, primeiro dos trunfos de Hispanha nas mathematicas, e... na outra coisa... na...
Marquez
Bem sei... Chamam-lhe o Magico prodigioso... Conheci-o em Londres... ainda a mulher d’elle era viva.
José
Morreu em fevereiro do anno passado... e deixou-lhe dois filhos, dois amores!
Marquez
Ultimamente renovei com elle o meu antigo conhecimento, e, apesar de nos não visitarmos, por certos motivos, somos muito amigos.
José
Tambem eu gósto d’elle. Optimo sujeito...!
Marquez
E outra coisa: não estão arrependidos os teus amos de terem mettido em casa esse diabretesito?
José
(receoso de que venha gente) Eu direi a V. Ex.ª... Tenho notado... (Vê vir D. Urbano pelo jardim) Ahi vem o senhor.
Marquez
Põe-te a andar.
SCENA II
Índice de conteúdo
MARQUEZ E D. URBANO
Marquez
(abrindo-lhe os braços) Querido Urbano!
Urbano
Marquez! ditosos olhos!...
Marquez
E Evarista?
Urbano
Bem... Sómente extranhando muito as grandes ausencias do marquez de Ronda...
Marquez
Oh! você não imagina o inverno que passámos...
Urbano
E Virginia?
Marquez
Assim, assim... Sempre achacada, mas reagindo constantemente pela força de uma vontade tenaz, cabeçuda lhe chamarei.
Urbano
Pois ainda bem! ainda bem!... Com quê... quer que desçamos ao jardim?
Marquez
Vamos já! Deixe-me tomar assento, pouco a pouco, na sua casa nova... (Senta-se) E conte-me lá, querido, conte-me d’essa menina encantada, que foram buscar ao collegio.
Urbano
Não, não estava já no collegio. Tinha ido para Hendaya, para uns parentes da mãe. Eu nunca fui muito da opinião de a trazer para cá. Mas Evarista emprehendeu n’isso... Quer sondar o caracter da pequena, apurar se d’ella se poderá fazer uma mulher em termos, ou se nos estará destinada a vergonha de a vêr herdar as tendencias da mãe... Você sabe que era uma prima irmã de minha mulher; e escuso de lhe lembrar os escandalos que deu essa Eleuteria desde o anno de 80 a 85.
Marquez
Nem me fale n’isso!
Urbano
Emfim, foi a ponto de que a familia, vexada, rompeu com ella de todo e para sempre! Esta menina, agora, cujo pae se não sabe quem seja, criou-se com a mãe até os cinco annos. Depois levaram-a para as Ursulinas de Bayona. Lá, ou por abreviar ou pelo que fosse, puzeram-lhe esse nome, exquisito e novo, de Electra.
Marquez
Novo, propriamente, não. Á pobre mãe—coitadita—Eleuteria Dias, todos nós, os intimos da casa, lhe chamavamos tambem Electra, em parte talvez por abreviatura, e em parte porque ao pae, militar valente mas assignaladamente desditoso na vida conjugal, tinham posto a alcunha de Agamemnon.
Urbano
D’essa não sabia... Tambem nunca vivi com elles. Eleuteria, pela fama que tinha, figurava-se-me uma creatura repugnante...
Marquez
Por amor de Deus, querido Urbano, não sejamos pharisaicos... Lembre-se que Eleuteria—a quem chamaremos Electra I—mudou de vida, ahi por 88...
Urbano
E não deu pouco que falar esse arrependimento tambem. Lá foi morrer a S. João da Penitencia, em 95, regenerada, abominando a monstruosa libertinagem da sua vida...
Marquez
(como quem lhe reprehende o rigorismo) Deus lhe perdoou...
Urbano
Sim, sim... perdão, esquecimento...
Marquez
E tratam então agora de tentear Electra II a vêr se inclinará para bem ou se lhe dará para mal... Que resultado vão dando as provas?
Urbano
Resultados obscuros, contradictorios, variaveis de dia para dia, de hora para hora. Ha momentos em que ella nos revela qualidades sublimes, mal encobertas pela sua innocencia; outros, em que nos apparece como a creatura mais doida a quem Deus deu licença de vir ao mundo. Tão depressa encanta pela sua candura angelica como aterra a gente pelas diabolicas subtilezas que desfia da sua propria ignorancia.
Marquez
Natural desequilibrio da edade, excesso de imaginação, talvez. É esperta?
Urbano
Como a electricidade em pessoa, mysteriosa, repentista, de grande tino. Destroe, transtorna, perturba, illumina.
Marquez
(levantando-se) Fervo em curiosidade. Vamos vêl-a.
SCENA III
Índice de conteúdo
MARQUEZ, URBANO, CUESTA, pelo fundo
Cuesta
(entra com mostras de cançaço, tira do bolso a carteira de negocios, e dirige-se á mesa) Marquez... Tudo bom por cá?
Marquez
Oh! grande Cuesta! que nos conta o nosso incançavel agente?
Cuesta
(senta-se. Revela um padecimento de coração) O incançavel... começa a cançar.
Urbano
Homem! e que me dizes da alta d’hontem no Amortisavel?
Cuesta
Veio de Paris com dois inteiros.
Urbano
Fizeste a nossa liquidação?
Marquez
E a minha?
Cuesta
Estou com isso... (Tira papeis da carteira e escreve a lapis) N’um instante saberão as cifras exactas. Tirou-se todo o partido que se podia tirar da conversão.
Marquez
Naturalmente... Sendo o typo de emissão dos novos valores 79,50... tendo nós comprado por preço muito baixo o papel recolhido...
Urbano
Naturalmente...
Cuesta
O resultado foi enorme.
Marquez
Querido Urbano, esta facilidade com que se enriquece é positivo que dá o amor da vida e o enthusiasmo da belleza humana. Vamos para o jardim.
Urbano
(a Cuesta) Vens?
Cuesta
Preciso de dez minutos de silencio para pôr em ordem os meus apontamentos.
Urbano
Deixamos-te em socego. Não queres nada?
Cuesta
(abstrahido nas suas contas) Não... quero dizer... Sim: manda-me vir um copo de agoa. Estou abrasado.
Urbano
Immediatamente. (Sae com o Marquez para o jardim)
SCENA IV
Índice de conteúdo
CUESTA E PATROS
Cuesta
(corrigindo as suas notas) Ah! cá está o erro. Aos