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Presença de Maria: Lectio Divina Sobre a Mãe de Jesus
Presença de Maria: Lectio Divina Sobre a Mãe de Jesus
Presença de Maria: Lectio Divina Sobre a Mãe de Jesus
E-book357 páginas15 horas

Presença de Maria: Lectio Divina Sobre a Mãe de Jesus

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Sobre este e-book

Maria, a mãe de Jesus, mãe de Deus portanto, foi aclamada como o ser humano mais próximo de Deus que já existiu. Ela foi a escolhida do Pai para gerar o Verbo, foi a esposa do Espírito Santo e foi a mãe do Filho de Deus. Não há na história humana outra pessoa mais próxima de Deus que Maria. Por isso, como ensina a Sagrada Escritura, todas as gerações a proclamaram e a proclamarão bem-aventurada (cf. Lc 1,48). Maria não é um modelo inerte para a fé dos dias de hoje, mas é um modelo perfeito e santo. Em sua existência, que não foi nada fácil, ela soube acolher Deus em suas jornadas porque O tinha em seu coração. A vida de Nossa Senhora serve como exemplo para nossa caminhada em direção a Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de fev. de 2022
ISBN9786555624892
Presença de Maria: Lectio Divina Sobre a Mãe de Jesus

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    Presença de Maria - Altierez dos Santos

    Sumário

    CAPA

    FOLHA DE ROSTO

    A PREFIGURAÇÃO

    Eva: a queda

    Sara: o riso

    Rebeca: a bênção

    Lia: a rejeição

    Raquel: o poço

    Miriam: o cesto de papiro

    Débora: a planície, os carros e os cavaleiros

    Rute: a fidelidade

    Ana: a montanha

    Judite: a cidade no céu

    Ester: a intercessora

    Ana: a profetisa

    A FIGURAÇÃO

    A anunciação

    A visitação

    As faixas

    A apresentação

    A perda e o reencontro

    As talhas e o templo

    Tua mãe e os teus irmãos

    Os dois jardins

    A sala de cima

    As correntes e o lago de lama

    A arca nos céus

    A Mulher e o Dragão

    COLEÇÃO

    FICHA CATALOGRÁFICA

    Landmarks

    Cover

    Table of Contents

    Apresentação

    Se este livro chegou às suas mãos, saiba que é motivo de grande alegria. Nossa sociedade e nossa cultura precisam redescobrir Maria, de duas formas diferentes. A primeira delas é pela escolha de colocar Jesus em primeiro lugar sempre, como Nossa Senhora fez durante toda a sua vida. A segunda forma é entendendo que ela, Maria, é um sinal que aponta para Cristo, jamais para si mesma. Os dois primeiros Dogmas Marianos, aliás, inspirados no primeiro milênio – a Maternidade Divina e a Virgindade Perpétua de Maria –, embora se refiram a ela, têm como objetivo destacar a pessoa do próprio Cristo. Infelizmente, muitas pessoas influenciadas por discussões estéreis que não conhecem a profundidade da religião cristã, acabam não entendendo que Maria foi essencial para que Deus nos visitasse na Pessoa Divina de Jesus Cristo. Este livro pode ajudar a elas também.

    E, justamente, o objetivo dessas meditações é auxiliar no crescimento e amadurecimento de nossa espiritualidade cristocêntrica. Ler a Bíblia com atenção pode mostrar o que os primeiros discípulos de Jesus já tinham percebido: o Antigo e o Novo Testamentos olham um para o outro e no meio deles está Cristo. Primeiro, prefigurado, depois, confirmado.

    Por isso as meditações reunidas aqui estão organizadas também em duas partes: a Prefiguração e a Figuração. Nas vidas, nos sonhos, nos sofrimentos e nas esperanças daquelas mulheres que vieram antes de Maria é bonito ver o abraço amoroso de Deus sobre todas elas. Quando Maria pisa nosso chão, há algo a mais... Ela não apenas recebe o abraço amoroso de Deus, como foi ela quem trouxe esse abraço para o mundo. O filho que ela traz em seus braços é o Eterno Deus que veio nos visitar da forma mais sagrada que conhecemos, que é pelo dom da vida.

    As meditações aqui colocadas podem ser utilizadas na preparação de retiros, na construção de homilias sólidas, na criação de catequeses. Este é um escrito para contribuir com sua vida espiritual, para que, rezando a vida com Maria e com as santas mulheres que a precederam, você também leia nos sinais da sua jornada as assinaturas amorosas de Deus.

    Dizer Maria é dizer Cristo, já nos ensinavam os padres apostólicos. Desde os primeiros dias da missão da Igreja na Terra, antes ainda de Jesus subir aos Céus, Maria, sua Mãe, foi acolhida por João e por todos nós em nossas casas e em nossos corações, como relata o Evangelho Segundo São João em 19,25-27¹. Que seja sempre assim. Um coração que acolhe Maria gera uma vida que revela Cristo. Amém.

    A lectio divina é um antigo e precioso tesouro da Igreja. Desde os primeiros séculos, nossos santos e santas nos ensinaram a iluminar a vida com a Palavra por meio da lectio divina. Ela possui quatro DEGRAUS em direção a DEUS

    O primeiro degrau é a LEITURA (I)

    O segundo é a MEDITAÇÃO (II)

    O terceiro é a ORAÇÃO (III)

    E o quarto é a CONTEMPLAÇÃO (IV)

    Para que você possa vivenciar os benefícios espirituais que a lectio divina traz, o primeiro passo é silenciar o coração, os pensamentos e as preocupações. Também é importante colocar-se em uma postura confortável. Os momentos de maior silêncio do dia, como a madrugada ou o fim da noite, podem lhe ajudar, mas quaisquer outras horas são oportunas.

    Para você que reza a vida com a lectio divina, não tenha receio em colocar-se com toda a sinceridade diante dessa oração e de olhar para suas escolhas, intenções, medos, esperanças sem receio. A aceitação e sinceridade são os primeiros passos para o crescimento humano em direção a Deus.

    Algo que auxiliará você nesta jornada é possuir um diário espiritual para escrever as iluminações que a lectio divina acendeu. Isso faz uma grande diferença.

    A Prefiguração

    Eva: a queda

    1. QUANDO CAÍMOS

    Algum dia você já teve a experiência de cair? Há muitas formas de se cair e as quedas não são somente em direção ao chão, mas também caímos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante de Deus quando aproximamos nosso coração de sentimentos primitivos. A queda, em sentido espiritual, pode acontecer de muitos modos, mas ela sempre acontecerá pelo descuido de onde se pisa. E deixará marcas.

    2. PREPARE-SE

    } Procure um ambiente de repouso.

    } Desligue-se das preocupações exteriores.

    } Coloque-se em uma posição confortável.

    } Coloque sob a proteção de Deus sua vida, sua história, seu coração e todos os que ama...

    3. EM NOME DO PAI E DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO

    4. PEÇA AS LUZES DO ESPÍRITO SANTO

    5. OREMOS

    Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

    I. LEITURA

    Gn 3,1-8

    II. MEDITAÇÃO

    Prólogo. Ao longo dos séculos, Maria ocupou um lugar especial na devoção dos cristãos. Os que seguiam os ensinamentos de Cristo olhavam para sua mãe e se admiravam. Os primeiros cristãos conheciam muito bem o Antigo Testamento e ficavam espantados com as correspondências entre o que estava escrito e o que havia acontecido na vida de Jesus. É por isso que se diz que o Antigo Testamento prefigura o Novo e que o Novo Testamento confirma e cumpre o Antigo. Os Santos Padres, sabendo que Jesus era o novo Adão, logo perceberam que Maria aparecia na história da Salvação como a nova Eva. Por isso, Maria logo passou a ser seguida e amada, pois como seria possível amar Jesus e não amar a mãe dele? No entanto, a Igreja sempre ensinou que é por Jesus que temos Maria. Apesar de os Santos Evangelhos terem registrado poucas palavras de Maria, essas palavras sempre são profundas de significado. Mas Maria fala principalmente por meio de atitudes.

    Maria é a nova Eva. As narrativas entre Eva e Maria possuem muitos pontos em comum.

    Duas virgens.

    Duas nascidas sem pecados.

    Duas posturas de obediência.

    Duas formas de acreditar.

    Duas consequências.

    O prazer da desobediência levou à morte diante de uma árvore.

    A dor da obediência levou à ressurreição diante de uma árvore.

    O fato é que para entender a imagem de Maria na história da Salvação, temos de entender primeiro a história de Eva e o que ela nos ensina. Por muito tempo deu-se muito destaque à culpa de Eva porque na narrativa da criação ela cedeu aos encantos da serpente e se esqueceu da obediência a Deus. Eva não estava sozinha nessa narrativa, no entanto. Havia a figura da serpente, a de Adão e a da árvore. Cada uma dessas figuras possui um significado para entendermos a história e sabermos situar a presença de Maria na vida da Igreja, na vida da humanidade, na nossa vida.

    A serpente. Imagine-se andando pelo deserto e, sem que se espere, uma serpente surge do nada, ameaçadora, com os olhos brilhando, pronta para atacar. Em algum momento, sem que você percebesse, ela apareceu na sua frente. Ela não estava no seu campo de visão. A serpente é um dos símbolos mais misteriosos da narrativa. Assim como ela apareceu nessa imaginação que estamos fazendo, ela aparece no jardim também. Por que uma criatura de Deus estaria no jardim incentivando o primeiro casal a fazer algo errado? No imaginário de algumas culturas, a serpente é vista como uma dádiva divina, em algumas delas, como as orientais e as culturas ameríndias, ela ganha asas e plumas, voa e conhece os segredos da cura. Conseguimos compreender a relação das pessoas com os símbolos que os cercam. No imaginário de outras civilizações, porém a serpente simboliza outra coisa. Para a cultura judaica, a serpente tem um significado nesse sentido diferente. O povo judeu, que habitava territórios semidesérticos, como esse que você imaginou, teve uma experiência diferente com a figura da serpente e essa experiência, em muitos casos, podia significar a morte. As serpentes do deserto estão sempre ocultas da luz do sol e podem atacar sem que a vítima perceba. Uma pequena pedra, um simples arbusto e até mesmo as areias do deserto pode ser o local onde está escondida uma serpente que, caso atinja sua vítima, levará certamente à morte. Esse foi, de certa forma, o risco de Eva. Ela não imaginava que estava exposta a um perigo invisível. Aqui vem o ensinamento de que o mal está sim à nossa volta e muitas vezes não percebemos. O mal age como essa serpente invisível que acampa ao nosso redor sem que damos conta disso. Eva não foi capaz de olhar com atenção e por isso fez uma má escolha. Em sua vida, quantas vezes você já passou por uma situação parecida? Pode ter sido uma amizade em que você confiava e que depositava todas as esperanças, pode ter sido numa promessa que foi feita a você e você não viu motivo para que ela não se cumprisse, pode ter sido alguém que você nunca esperava que agiria de forma errada contra você. Quais foram as vezes em que você experimentou a presença do mal agindo em sua vida sem que você notasse de onde ele estava vindo? Quantas vezes a distração dominou e você acabou se envolvendo em uma teia que prendeu você em uma situação ruim, difícil, complicada? Pense na última vez em que isso lhe aconteceu... Pense na vez em que isso lhe causou maior dor... a decepção, o desencanto, a triste surpresa de descobrir essas realidades são dores que experimentamos quando o mal está como a serpente que tentou Eva e estava escondida nas folhas daquela árvore. Não era um benefício e sim um malefício e a serpente o instigou. Certamente isso gerou consequências ruins para Eva, assim como nas nossas atitudes, gera-se consequências ruins todas as vezes que descobrimos o mal escondido... Pois bem. Espero que você nunca tenha julgado Eva, porque a nossa vida pode ser parecida com a dela. O que existe em comum na história da primeira mulher e na nossa história? São duas coisas: uma serpente e uma escolha.

    A serpente simboliza a presença do mal, mas não se engane pensando que é de um mal com vontade própria, o mal que a serpente representa é a nossa deficiência, a nossa dificuldade, a nossa limitação em entender o que é certo e o que é errado. A mulher só desobedeceu as ordens de Deus porque antes deu um passo em falso em direção à serpente. Ela usou sua liberdade para isso. Você e eu só vamos contra os ensinamentos de Deus porque deixamos nossa vontade e nossos passos nos levarem para o lado oposto ao que ele estava. Pela nossa rudeza, nossa simplicidade, nós preferimos dar atenção às nossas serpentes interiores do que estar com o Criador do Paraíso. Preferimos falar com uma cobra falante, chamada ignorância, e deixar que ela nos influencie, a ter de ouvir a voz da sabedoria. Somos assim. É isso o que a serpente simboliza. A serpente não obrigou Eva a cometer a desobediência. Assim como ninguém nos obriga a nada. O grande erro foi ter feito a escolha errada. O que você diz disso? Já fez alguma escolha errada em sua vida que afastou você de algo que era bom para você?... Como você se sente?... O que você aprendeu com essa lição?... E no tempo presente? Você pode perceber se seus passos estão levando para algo que vai afastar você da sua felicidade, da sua paz, da sua tranquilidade? Em geral, os sentimentos que temos em nosso coração vão formando um solo para que algumas atitudes possam brotar. Pode ser, por exemplo, uma antipatia com uma pessoa que logo à frente vai se transformar em um conflito do qual sairão resultados que não iremos gostar. Pode ser um sentimento de que, algo que eu faço errado, é tolerável porque, afinal de contas, é algo tão simples, tão pequeno, que mal pode fazer? No entanto, logo à frente, veremos consequências graves desse erro. Os santos padres já nos ensinaram que erro mínimo no início é erro máximo no fim. Eva deu esse passo em direção à árvore do pecado, que só se tornou árvore do pecado, porque ela deu essa entonação para a árvore. Veja bem: todas as coisas que estão ao nosso redor são repletas de dignidade, mas, quando nos aproximamos delas, com nossa deficiência, podemos fazer com que a mais maravilhosa das situações, das relações, do encantamento se transforme em uma ocasião de pecado. Aquela árvore que era do conhecimento, portanto algo bom, se transformou no motivo da queda de Eva. Qual é a realidade da nossa vida que também pode se transformar em uma ocasião de queda?

    A árvore. A árvore também é um símbolo importante colocado nesta narrativa. Ela aparece no capítulo 2 de Gênesis, quando só Adão havia sido criado e é a Adão que Deus deu a ordem de não comer os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal. Nas árvores estão os frutos, mas o que exatamente simbolizam essas duas imagens? O padre Johan Konings nos ensina que O fruto proibido representa, simbo­licamente, o interdito [a proibição], o tabu, o limite imposto ao ser humano. Parece o contrário, mas é verdade: tendo um limite, o ser humano é livre, pois pode optar, escolher. Pode optar por respeitar o limite ou não. Livre-arbítrio. E se optar por não respeitar o limite, vai conhecer as consequências, ou seja, a árvore representa o limite. É somente quando temos um limite que sabemos que somos livres. Quando ultrapassamos o limite, quebramos a liberdade. Entenderá muito bem isso quem entender que uma traição significa justamente ultrapassar os limites naturais. Quem faz isso, agride a liberdade sua e do outro. Você já experimentou o estrago que uma traição provoca?... Ou você já causou estrago com uma traição?... Seja na amizade, nos afetos, nos relacionamentos, no trabalho... Nas funções que temos há sempre limites que são colocados para que saibamos que estamos livres dentro daquele limite. Todas as vezes em que alguém transgride o limite de respeito e cuidado com o outro, acabamos entrando em uma situação parecida com essa de Eva, uma situação de queda.

    A queda. Uma interpretação de que as pessoas gostam muito, diz que Adão e Eva foram expulsos porque quiseram ser uma espécie de heróis e roubar a sabedoria de Deus que estaria naquele fruto proibido. Muitas pessoas concordam com essa explicação e acham que pela lógica é justo expulsar aquele que quis bancar o herói, que fez algo que não deveria ter sido feito. O fato é que temos, continuamente, a cada dia, a mesma percepção da liberdade que tinha Eva. Não sabemos onde está exatamente o limite de todas as coisas e vamos acumulando uma sucessão de equívocos. Eva teve uma sucessão de equívocos até chegar àquela árvore e conhecer a serpente. Temos uma sucessão de equívocos também e muitas vezes fechamos os olhos para isso. Afinal, hoje em dia, está um pouco na moda essa sensação de que somos invencíveis, estamos acima da lei e, mesmo que nunca falemos isso, a sensação existe e gostamos de nos sentir assim, diferentes, mais justos, mais santos e não percebemos que esse mesmo equívoco foi o que levou Eva à boca da serpente. O padre Johan Konings também ajuda a entender essa situação: Não acredito que esta seja a interpretação certa. É muito grega, pouco bíblica. No espírito da Bíblia, o que dá ao ser humano a sabedoria da vida é a opção de respeitar o conhecimento do bem e do mal, ou seja, de aceitar que ele não pode tudo². Se entendermos que na nossa vida nós não podemos tudo, teremos uma vida muito mais feliz e mais digna. Todas as vezes em que nos defrontarmos com uma realidade que acreditamos dominar, conhecer, por exemplo no campo da moral e da ética, é preciso repensar nossos padrões. Nós não sabemos de tudo. Podemos cometer equívocos. Isso se aplica de uma forma muito fácil e prática à nossa vida e às nossas relações com as pessoas. Hoje em dia existem muitas tramas que podem muito bem fazer o papel da serpente. Há a trama da fofoca que tem diversos venenos numa simples frase, numa simples palavra: tem o veneno do julgamento descabido, tem o veneno da diminuição da dignidade da outra pessoa, tem o veneno de nos fazer passar por papel ridículo quando critico de forma maliciosa outra pessoa. Não apenas a fofoca, mas muitas outras realidades hoje são para nós as serpentes que fazem com que a gente transgrida simples e pequenos limites que poderiam muito bem salvar a paz, a harmonia das relações. Você, por exemplo, que está em um relacionamento, se você pensa que transgredir os limites é apenas uma grande traição, comece a repensar isso. E quando digo um relacionamento, não é apenas para você que está namorando ou já vive o matrimônio, mas também para quem se relaciona com pessoas em outros ambientes, como quem ocupa um cargo de liderança. Entenda que o relacionamento é amplo, é com todas as pessoas que estão junto com você. Quais são os venenos que podem nos contaminar nesse sentido? Primeiro deles, por exemplo, é sempre quando colocamos a outra pessoa num nível que não é real. Podemos fazer uma figuração diferente do que ela é simplesmente porque temos dificuldade de ouvir a outra pessoa. Cada vez mais ouvir a outra pessoa é uma qualidade rara. Mas não é apenas isso. Podemos deixar um relacionamento se perder, seja ele afetivo, de trabalho ou de evangelização, quando não somos capazes de alimentá-lo da forma correta; quando nos fechamos em nossa limitação e não conseguimos dar passos para promover a outra pessoa. Quantos casamentos terminam, quantos namoros se encerram, quantas pessoas vão embora da nossa vida porque não conseguimos ajudá-las a se promoverem. Tudo isso é ocasião de queda e tudo está relacionado à situação de Eva nesse sentido. Eva tinha um limite que lhe foi apresentado, mas ela não sabia lidar com a sua liberdade.

    Aqui o grande ensinamento que pode ser útil a você nesse dia: é preciso lembrar que não podemos tudo na vida. É preciso aceitar isso. Quando aceitarmos que há um limite para todas as coisas, inclusive para o egoísmo, a vontade, o desejo e até a paciência, a bondade e a generosidade, seremos capazes de fazer escolhas melhores. A narrativa de Eva não está restrita a um passado imemorial, inalcançável, ela se atualiza a cada dia nas nossas atitudes. Aqui, o texto bíblico te traz uma importante pergunta: qual a realidade de tua vida que precisa de um limite hoje? Qual a situação, o desejo, a dificuldade que precisa de um limite?... E qual o sofrimento, o cansaço, a dor que também precisam de um limite?... É só quando sabemos onde está o limite de todas as coisas que podemos inclusive valorizar aquilo que temos. A dor, principalmente aquela que nos aproxima da morte, é um limite que nos mostra o valor da vida. O risco de perder alguém, que é um limite que também nos causa uma morte porque perderemos parte fundamental e essencial da nossa vida, é um limite que nos lembra a riqueza que é ter alguém na nossa vida, na nossa companhia, na nossa amizade, no nosso convívio. Há um limite que você precisa perceber hoje e, se em algum momento você teve uma ocasião de queda na sua vida, o que possivelmente passamos algumas vezes pela nossa falta de bom senso, pela nossa limitação, sabemos que os limites foram algo importante, uma barreira de limitação para que não caíssemos no abismo. A teologia que envolve Eva, é a mesma teologia que envolve Maria. Eva não soube entender os limites e, por isso, se aproximou da árvore e cedeu à serpente. Maria tinha limites porém seguiu um caminho diferente e percebeu que pela obediência, fazendo a vontade de Deus, ela também poderia alcançar a felicidade. Maria confiou. Podemos julgar que Eva desconfiou, não confiou porque não atendeu ao que foi pedido. E de quem é a culpa?

    DE QUEM É A CULPA. Mas o que toda essa história pode nos ensinar hoje? Primeiro, que há algo importante e precioso chamado liberdade. A história de Eva é a história da liberdade nas pequenas coisas. Nós temos. Eva e Maria tiveram. Elas usaram de forma diferente. Hoje, vinte séculos após Maria e uma civilização após Eva, podemos olhar para ambas as formas como elas conduziram sua liberdade e obediência e podemos espelhar nossas vidas nas delas. O fato é que gostamos de tomar Maria como um modelo, e isso é muito importante e bonito, mas temos de lembrar que, antes de Maria, apareceu Eva e nos lembrando da situação da Eva, precisamos fazer uma leitura da nossa vida. Não adianta tomar Maria como um modelo se as minhas atitudes estão próximas das atitudes de Eva. A atitude de Eva é simbólica, mas ela engloba um universo de situações como os que vemos. É uma atitude simbólica ela se aproximar daquela árvore, assim como é uma atitude simbólica fazermos as aproximações dentro do nosso coração. A palavra simbólico significa o que aproxima, enquanto a palavra diabólico, significa o que desaproxima, o que desune. O símbolo de Eva nos faz lembrar aquilo que nos desune. O que é simbólico para Eva pode ser diabólico para nós. O que nos desaproxima de tudo aquilo que nós realizamos na nossa vida muitas vezes sem pensar. Eva não pensou.

    De quem é a culpa? Pode ser nossa e não de outra pessoa, não do demônio, não de qualquer outra situação. A culpa é da liberdade que escolhemos caminhar em determinada situação. Há momentos em que estamos tão tomados pela decepção que, pela ira, pela revolta que sabemos que vamos dar passos na direção errada e vamos colher as consequências, mas, mesmo assim, nós fazemos. Há muitos outros momentos em que estamos desatentos, fazemos isso sem perceber.

    O que aprendemos com a Queda? Que hoje ainda seguimos enfrentando as nossas serpentes interiores que nos incentivam a subir em árvores exteriores... E nós, mesmo sabendo que corremos o risco de cair, tantas vezes ousamos ultrapassar os limites.

    III. ORAÇÃO

    Faça, nesse momento, uma simples oração a Deus, a partir de tudo que meditamos.

    IV. CONTEMPLAÇÃO

    Gn (3,21) narra algo que chama a nossa atenção: O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu. É um versículo que tem uma consolação. Antes disto, Adão tinha feito roupas de folhas, o que significa a fragilidade e a limitação humana. Deus vem e recobre a ambos com roupas feitas de peles de animais. Se antes estavam próximos dos anjos, regrediram simbolicamente ao nível da animalidade. A consequência do desequilíbrio nos arrasta no sentido das nossas paixões e más inclinações. Essas roupas são um símbolo das ações que você pratica e dos pensamentos que você tem. Como você tem se vestido de pensamentos, palavras e ações? Tenha sinceridade... Tem se vestido de generosidade ou de egoísmo? De humildade ou de arrogância? De coragem ou de medo? De inteligência ou de ignorância?

    Mas peço que você imagine, agora, que está naquele jardim, no portão, e está vestindo roupas feitas de peles de animais mortos. Não são confortáveis, cheiram mal, machucam e te fazem andar devagar, arrastando os pés. O couro dessas peles de animais não é macio, ficou duro, enrijecido e mais parece uma armadura dentro da qual AA pessoa está presa. Aí na entrada do portão que dá acesso ao Paraíso, recorde-se de que você não precisa e não pode se tornar igual aos animais. Talvez o erro de Eva foi ter usado uma lógica própria à daquelas criaturas que não tem razão e inteligência. Nós não precisamos agir como animais, nesse sentido. Temos razão, inteligência e a Palavra de Deus com o Espírito Santo. Imagine, com toda a nitidez, que as mãos de Deus vêm tirando de você todas essas

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