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A Intersecção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
A Intersecção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
A Intersecção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri
E-book386 páginas5 horas

A Intersecção Com Nibiru: As Aventuras De Azakis E Petri

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Sobre este e-book

VOLUME 2/3 Uma catástrofe de proporções bíblicas está prestes a acontecer no nosso planeta. Mas desta vez os terrestres não estão sozinhos. Alguns dos habitantes do planeta Nibiru estão ao lado deles, arriscando as suas próprias vidas, para tentarem opôr-se às terríveis forças da natureza que estão prestes a ser desencadeadas. Neste segundo episódio da série ”As Aventuras de Azakis e Petri”, os nossos dois adoráveis alienígenas devem usar toda a sua experiência e a sua incrível tecnologia para tentar evitar o evento já anunciado dramaticamente no episódio anterior intitulado ”O Regresso”. Reviravoltas, revelações e reinterpretações de eventos e incidentes históricos manterão o leitor à espera ansiosamente pela última linha deste romance.
IdiomaPortuguês
EditoraTektime
Data de lançamento1 de dez. de 2019
ISBN9788893981774

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    Pré-visualização do livro

    A Intersecção Com Nibiru - Danilo Clementoni

    Introdução

    O décimo segundo planeta Nibiru, (o planeta da passagem) como era chamado pelos sumérios, ou Marduk (rei dos céus) como foi referido pelos babilónicos, é, na verdade, um corpo celeste que circula na órbita do nosso sol por um período de 3.600 anos. A sua órbita é significativamente elíptica, retrógrada (girando em torno do sol na direção oposta aos outros planetas) e distintamente inclinada em relação ao plano da nossa energia do sistema solar.

    Cada abordagem cíclica quase sempre causa enormes transtornos interplanetários no nosso sistema solar, tanto nas órbitas como na configuração dos planetas que ele contém. Foi durante uma das suas transições mais tumultuadas que o majestoso planeta Tiamat, localizado entre Marte e Júpiter, com uma massa aproximadamente nove vezes maior que a da Terra atualmente, rica em água e dotada de onze satélites, foi destruído numa colisão cataclísmica. Uma das sete luas que circula na órbita de Nibiru atingiu o gigante Tiamat, efetivamente dividindo-o ao meio e catapultando as duas seções em órbitas opostas. Na transição seguinte (o segundo dia de Génesis), os satélites restantes de Nibiru terminaram este processo, destruindo completamente uma das duas seções formadas a partir da primeira colisão. Os detritos gerados pelos múltiplos impactos criaram o que hoje conhecemos como o cinturão de asteroides, ou pulseira martelada, como veio a ser chamado pelos sumérios. Isso foi parcialmente engolido pelos planetas vizinhos. Foi Júpiter, em particular, que ficou com a maioria dos detritos, visivelmente aumentando assim a sua própria massa.

    Os artefactos do satélite deste desastre, incluindo aqueles que sobreviveram Tiamat, foram na maior parte disparados em órbitas externas, formando o que nós conhecemos agora como cometas. A parte que sobreviveu à segunda transição posicionou-se na órbita estável entre Marte e Vénus, levando consigo o último satélite remanescente e, assim, formando o que hoje chamamos de Terra, juntamente com a sua inseparável companheira, a Lua.

    A cicatriz causada por esse impacto cósmico, que ocorreu há aproximadamente 4 biliões de anos ainda é parcialmente visível hoje. A parte cicatrizada do planeta está agora completamente coberta de água, no que hoje é chamado de Oceano Pacífico. Isso ocupa cerca de um terço da superfície da Terra, estendendo-se por mais de 179 milhões de quilómetros quadrados. Nessa vasta área, praticamente não há massa de terra, mas sim uma grande depressão que se estende a uma profundidade de mais de dez quilómetros.

    Atualmente, Nibiru é muito como a Terra na sua configuração. Dois terços são cobertos de água, enquanto o resto é ocupado por um único continente que se estende de norte a sul, com uma superfície total de mais de 100 milhões de quilómetros quadrados. Desde há centenas de milhares de anos, alguns dos seus habitantes têm aproveitado as aproximações próximas cíclicas do seu planeta, fazendo visitas regulares, cada vez influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e a própria evolução da raça humana. Os nossos antecessores referiram-se a eles de muitas maneiras, mas talvez o nome que os represente melhor sempre tenha sido "Deuses".

    Contexto

    Azakis e Petri, os dois adoráveis e inseparáveis extraterrestres que são os protagonistas desta aventura, regressaram ao planeta Terra após um dos seus ciclos (3.600 anos terrestres). A sua missão? Recuperar uma carga preciosa que eles foram forçados a abandonar apressadamente na sua visita anterior, devido a uma falha no seu sistema de encaixe. Desta vez, no entanto, eles encontraram uma população terrestre muito diferente ao que eles deixaram para trás. Costumes, tradições, cultura, tecnologia, sistemas de comunicação, armas. Tudo era muito diferente do que encontraram na visita anterior.

    Na chegada, eles encontraram um par de terrestres: a doutora Elisa Hunter e o Coronel Jack Hudson, que os acolheram com entusiasmo e após inúmeras aventuras, ajudaram a pôr fim à sua delicada missão.

    Mas o que os dois extraterrestres preferiam nunca ter que contar aos seus novos amigos era que o seu próprio planeta Nibiru estava a aproximar-se rapidamente e em apenas sete dias terrestres intercetaria a órbita da Terra. De acordo com os cálculos dos Anciães, um dos seus sete satélites chegaria tão perto que quase tocaria o planeta, causando uma série de ruturas climáticas comparáveis às da sua passagem anterior, que foram resumidas numa única definição: o Grande Dilúvio.

    Na primeira parte da história (O Regresso — As aventuras de Azakis e Petri), deixamos todos os quatro dentro da sua imponente nave espacial, Theos, e é aí que vamos regressar à história desta fantástica nova aventura.

    Nave espacial Theos

    Nas últimas horas, Elisa foi inundada por uma quantidade tão grande de informações que ela se sentia como uma menina que tinha comido muitas cerejas. Aqueles dois personagens estranhos, mas adoráveis, que apareceram de repente do nada, rapidamente devastaram muitas certezas históricas que ela e o resto da humanidade sempre tinham tido como certas. Eventos, descobertas científicas, crenças, cultos, religiões e até mesmo a própria evolução humana estavam prestes a ser completamente revolucionados. A notícia da descoberta de que seres de outro planeta manipularam e orientaram habilmente o desenvolvimento da humanidade, desde os seus primórdios, teria um impacto na sociedade como o da revelação de que a Terra era redonda, não plana.

    Azakis e Petri, o seu amigo de confiança e companheiro de viagem, permaneciam imóveis no centro da ponte de comando, os seus olhos a tentar seguir Elisa, que andava nervosamente pela sala, mãos nos bolsos grandes das calças, murmurando palavras incompreensíveis.

    Jack, em contraste, estava como que desmaiado numa poltrona tentando apoiar a cabeça, que de repente parecia incrivelmente pesada, com as mãos. Mas foi Jack quem, após alguns minutos intermináveis de silêncio, decidiu falar sobre o assunto em mãos. Ele levantou-se abruptamente e encarando os dois extraterrestres, disse com voz firme:

    – Se nos escolheram para esta tarefa, devem ter uma razão. Tudo o que posso dizer é que não ficarão desapontados.

    Então ele olhou Azakis diretamente nos olhos e perguntou resolutamente:

    – Poderia mostrar-nos uma simulação, com um pouco da sua magia – apontou ele para a imagem virtual da Terra que ainda estava a girar lentamente no centro do quarto – da abordagem do seu planeta?

    – Com prazer. – respondeu Azakis imediatamente. Ele recuperou todos os cálculos dos Anciães através do seu implante N^COM e elaborou uma representação gráfica, ali mesmo, em frente deles.

    – Isto é Nibiru. – disse ele indicando o maior planeta. — E estes são os seus satélites dos quais estávamos a falar.

    Sete corpos celestes consideravelmente menores giravam em torno do majestoso planeta a distâncias e velocidades muito diferentes um do outro. Azakis colocou o dedo indicador sobre o que orbitava o mais distante de todos e ampliou-o até que fosse quase tão grande quanto ele. Então, muito solenemente, ele disse:

    – Senhoras e senhores, permitam-me apresentar Kodon; esta imponente massa rochosa decidiu criar muitos problemas para o vosso amado planeta.

    – Mas quão grande é isso? – perguntou Elisa, intrigada, enquanto observava o globo cinza escuro e irregular.

    – Digamos que talvez seja um pouco menor que a sua Lua, mas a sua massa é quase o dobro.

    Azakis fez um gesto rápido com a mão e todo o sistema solar apareceu diante deles, com os planetas a moverem-se lentamente nas suas respetivas órbitas. As trajetórias de cada uma representadas por linhas coloridas finas e diferentes.

    – Isso – continuou Azakis, indicando uma linha vermelha escura — é a trajetória que Nibiru seguirá na sua aproximação ao sol.

    Então ele acelerou o movimento do planeta até estar próximo da Terra e acrescentou:

    – Este é o ponto em que as órbitas dos dois planetas se cruzarão.

    Os dois terrestres observaram a explicação que Azakis estava a dar a eles do evento que, em poucos dias, perturbaria as suas vidas e as de todos os outros habitantes do planeta, atónitos, mas com grande atenção.

    – Quão perto vai Nibiru passar? – perguntou o Coronel em voz baixa.

    – Como eu estava a dizer antes, – respondeu Azakis – Nibiru não vai incomodá-lo excessivamente. Será Kodon que quase tocará a Terra e criará muitos problemas.

    Ele trouxe a imagem um pouco mais perto e mostrou uma simulação do satélite quando estiver no ponto mais próximo da órbita terrestre.

    – Este será o momento de máxima atração gravitacional entre os dois corpos celestes. Kodon estará a apenas 200.000 quilómetros do seu planeta.

    – Caramba... exclamou Elisa –Isso é nada.

    – A última vez –respondeu Azakis –exatamente dois ciclos atrás, passou a cerca de 500 mil quilómetros de distância e todos nós sabemos o que conseguiu fazer então.

    – Sim, o famoso Dilúvio.

    Jack estava de pé com as mãos cruzadas atrás das costas, balançando-se devagar para a frente e para trás, levantando-se ligeiramente primeiro na ponta dos pés e depois nos calcanhares. De repente, num tom muito sério, ele quebrou o silêncio, e disse:

    – Eu certamente não sou um dos maiores especialistas sobre este assunto, mas temo que nenhuma tecnologia terrestre possa fazer qualquer coisa para neutralizar um evento como aquele.

    – Talvez pudéssemos lançar mísseis com ogivas nucleares contra ele. – arriscou Elisa.

    – Isso só acontece nos filmes de ficção científica. – respondeu Jack sorrindo. – E de qualquer maneira, assumindo que poderíamos colocar vetores desse tipo em Kodon, nós arriscaríamos quebrar o satélite em milhares de pedaços, causando uma chuva mortal de meteoritos. Isso realmente seria o fim de tudo.

    – Desculpe, – disse Elisa dirigindo-se aos dois extraterrestres – mas não disse antes que, em troca do nosso plástico ‘muito precioso’, ajudar-nos-ia a resolver essa situação absurda? Espero que realmente tenha boas ideias para nos ajudar aqui, senão estamos condenados.

    Petri, que estava de pé em silêncio à margem, sorriu levemente e deu um passo em direção ao cenário tridimensional representado no meio da ponte. Com um movimento rápido da mão direita, ele conjurou uma espécie de rosquinha de cor prateada. Ele apontou para ele com o dedo indicador e moveu-o até que foi exatamente entre a Terra e Kodon. Então ele disse:

    — Essa pode ser a solução.

    Tell el-Mukayyar —A fuga

    Na tenda do laboratório, os dois beduínos falsos que tentaram roubar o precioso conteúdo do vaivém espacial dos dois extraterrestres foram amordaçados e amarrados a um grande recipiente de combustível. Eles estavam sentados no chão com as costas contra o recipiente de metal pesado, em direções opostas. Um dos ajudantes da doutora ficou de guarda do lado de fora da tenda e olhou para dentro, de vez em quando, para vigiá-los.

    O mais magro dos dois, que definitivamente tinha um par de costelas quebradas no lado do golpe do Coronel, apesar da dor que quase o impedia de respirar, não parou, nem por um momento, olhando em volta em busca de algo que pudesse vir a calhar para se libertar.

    A luz do sol da tarde penetrou timidamente dentro da tenda, através de um pequeno buraco na parede, lançando um fino raio de luz no ar quente e poeirento. Aquele raio de luz semelhante a uma espada pintou uma pequena elipse branca no chão, que se movia muito lentamente na direção dos dois prisioneiros. O magro estava a observar o lento progresso do campo brilhante, quase hipnotizado, quando um súbito lampejo de luz o trouxe de volta à realidade. Meio enterrado na areia, a cerca de um metro de distância, algo metálico refletia a luz do sol diretamente no olho direito. Ele moveu a cabeça ligeiramente e tentou descobrir o que era, mas em vão. Então, ele tentou esticar uma perna naquela direção, mas uma terrível pontada de dor no seu lado o lembrou do estado das suas costelas e ele decidiu desistir. Ele pensou que provavelmente não chegaria de qualquer maneira e, tentando falar através de sua mordaça, sussurrou:

    — Ei, ainda estás vivo?

    O homem gordo não estava melhor. Depois que Petri o tinha atirado, uma grande contusão aparecera no seu joelho direito, ele tinha um belo galo na testa, o seu ombro direito estava a matá-lo e o seu pulso direito estava inchado como um balão.

    – Acho que sim. – respondeu ele em voz baixa, resmungando através da sua mordaça.

    – Graças a Deus. Eu tenho chamado por ti há algum tempo agora. Eu estava a ficar preocupado.

    – Eu devo me ter apagado. A minha cabeça está a doer muito.

    – Temos absolutamente que sair daqui. – disse o homem magro com determinação.

    – Mas como estás tu? Nada partido?

    – Eu acho que posso ter algumas costelas quebradas, mas eu posso controlar isso.

    – Por que os deixamos atacarem-nos de surpresa assim?

    – Não se preocupe com isso agora. O que aconteceu, aconteceu. Vamos tentar libertar-nos. Olhe para a esquerda, onde aquele raio de sol cai.

    – Não consigo ver nada. – respondeu o gordo.

    – Há algo meio enterrado lá. Parece um objeto de metal. Vê se consegues alcançá-lo com a perna.

    O ruído repentino da abertura do fecho da tenda interrompeu a operação. O guarda apareceu e olhou para dentro. O gordo voltou a fingir estar inconsciente enquanto o outro permaneceu absolutamente quieto. O homem olhou para eles, depois examinou rapidamente todos os equipamentos espalhados e, com um ar satisfeito, retirou-se e fechou a entrada novamente.

    Os dois ficaram parados por um tempo, depois o maior falou primeiro:

    – Estava quase.

    – Consegues vê-lo? Consegues alcançá-lo?

    – Sim, agora eu posso. Espera, vou tentar.

    O beduíno corpulento começou a balançar para frente e para trás tentando soltar as cordas que o prendiam um pouco, depois começou a esticar a perna esquerda o máximo que pôde na direção do objeto. Ele poderia apenas tocá-lo. Ele começou a cavar com o calcanhar até que ele conseguiu descobrir um pouco dele.

    – Parece ser uma espátula.

    – Deve ser uma colher de pedreiro [Marshalltown Trowel]. Essa é a ferramenta de escolha para os arqueólogos para rasparem o chão à procura de potes antigos. Podes pegar nisso?

    – Eu não consigo alcançá-la.

    – Se simplesmente parasses de te encher com aquela porcaria, poderias ser um pouco mais ágil, sua coisa gorda e feia.

    – Agora, o que é que a minha poderosa condição física tem a ver com isso?

    – Vamos lá então, homem com um poderoso físico, vamos ver se podes te apropriar dessa espátula ou eles vão encontrar uma maneira de fazer com que percas peso na cadeia.

    Imagens de chulos desagradáveis e malcheirosos apareceram de repente diante dos olhos do gordo. Aquela visão terrível liberou uma força nele que ele não pensava mais que ele tivesse. Ele arqueou as costas o máximo que pôde. Uma pontada de dor passou direto do seu ombro dolorido para o cérebro, mas ele ignorou. Com uma investida decisiva, ele conseguiu colocar o calcanhar atrás da espátula e, rapidamente dobrando a perna, puxou-a para si.

    – Feito. – gritou por trás da mordaça.

    – Calas-te, seu idiota feio? Por que estás a gritar? Queres que esses dois bandidos voltem e nos ataquem de novo?

    – Desculpe. – respondeu o maior suavemente. –Mas consegui obtê-lo.

    – Estás a ver? Se colocares a tua mente nisso, até mesmo tu podes fazer algo útil. Deve ser afiado. Vê se podes cortar essas malditas cordas.

    Com a mão boa, o grandalhão pegou no cabo da espátula e começou a esfregar a ponta mais afiada nas cordas atrás das costas.

    – Assumindo que nos podemos libertar – murmurou o gordo – como vamos sair daqui? Esse local está cheio de pessoas e ainda é de dia. Espero que tenhas um plano.

    – Claro que tenho! Não sou a mente engenhosa de nós dois? – exclamou o sujeito magro orgulhosamente. – Enquanto você estava a ter a sua soneca aconchegante, analisei a situação e acho que encontrei uma maneira de vencê-la.

    – Sou todo ouvidos. – respondeu o outro, continuando a movimentar a colher de pedreiro para cima e para baixo.

    – Aquele guarda de chapeuzinho vem vigiar aqui aproximadamente a cada dez minutos e essa barraca é a externa do lado leste do local.

    – E?

    – Como é que eu consegui você como parceiro para este trabalho? Você tem a imaginação e a inteligência de uma ameba; espero que as amebas não se ofendam com a comparação.

    – Na verdade – retorquiu o gordo ligeiramente irritado – fui eu quem te escolheu, já que o trabalho foi me dado a mim.

    – Conseguiste libertar-te? – respondeu abruptamente o mais magro; a discussão estava a piorar e o seu cúmplice estava absolutamente certo.

    –Apenas dá-me mais um bocadinho. Eu acho que estou prestes a conseguir.

    Com toda a certeza, pouco tempo depois, a corda usada para amarrar o par ao tambor quebrou e a barriga do grandalhão, finalmente livre das suas restrições, retomou o seu tamanho normal.

    – Olha, feito! – exclamou o gordo satisfeito.

    – Ótimo. Mas agora vamos continuar assim até o guarda voltar. Temos que fazer tudo parecer o mesmo como antes.

    – Ok, parceiro. Voltarei a fingir que estou a dormir.

    Os dois não tiveram que esperar muito. Alguns minutos depois, o assistente da doutora voltou a espiar dentro da tenda. Deu uma olhadela apressada ao redor, observando a situação e, sem notar nada de estranho, fechou o fecho, depois se reposicionou à sombra da varanda e calmamente acendeu um cigarro enrolado à mão.

    –Agora. – disse o mais magro – Mexamo-nos!

    Com todas as suas dores, isso acabou sendo um pouco mais complicado do que o esperado, mas, depois de soltar alguns gemidos de dor e várias maldições, eles estavam de pé um na frente do outro.

    – Dê-me a colher de pedreiro. – ordenou o mais magro removendo a sua mordaça. As dores no seu lado direito impediram que ele se movesse com muita facilidade, mas com a mão aberta do seu lado, ele conseguiu aliviar um pouco da dor. Ele alcançou o lado oposto da entrada da tenda em alguns degraus, ajoelhou-se e lentamente empurrou a Marshalltown Trowel. A lâmina afiada da espátula cortou o tecido macio do lado leste como manteiga, criando uma pequena fenda de cerca de dez centímetros. O homem magro colocou o olho direito perto dele e espiou pela fenda por alguns instantes. Como ele esperava, não havia ninguém lá. Somente as ruínas da cidade antiga poderiam ser vistas a cerca de cem metros de distância, onde, de antemão, eles haviam escondido o jipe que seria usado para a sua fuga com todo o saque.

    – Podemos ir. – disse ele, usando a lâmina da espátula para alongar o pequeno corte que acabara de fazer no chão. – Vamos lá! – E ele arrastou-se pela fenda.

    – Poderias ter feito esse buraco um pouco maior, não? – murmurou o homem gordo, entre um gemido e outro, enquanto tentava com dificuldade deslizar lá para fora.

    –Vai! Precisamos de nos afastar o mais rápido possível.

    – Tudo mais fácil de falar do que fazer. Eu mal posso andar.

    – Pára, corre e pára de reclamar. Lembra-te, se não conseguirmos fugir, ninguém nos vai ajudar a não ser a passar alguns anos na cadeia.

    A palavra cadeia sempre conseguiu incutir mais força no gordo. Ele não disse mais nada e, sofrendo em silêncio, seguiu o seu companheiro que se esgueirou furtivamente para as ruínas.

    Foi o estrondo de um motor à distância que despertou as suspeitas do homem de guarda. Ele olhou para o cigarro já pronto por um instante, depois atirou-o para longe com um gesto rápido. Ele entrou na tenda de forma assertiva, mas mal podia acreditar nos seus olhos: os dois prisioneiros tinham escapado. A corda estava abandonada desordenadamente ao lado do tambor de combustível, um pouco mais adiante havia os dois pedaços de tecido que eles usaram como mordaças e na parede final da tenda um grande talho que descia até o chão.

    – Hisham, pessoal! – gritou o homem com toda a respiração que ele tinha nos seus pulmões. – Os prisioneiros escaparam!

    Nave espacial Theos — O superfluido

    A imagem do objeto que Petri tinha colocado no espaço entre Kodon e a terra deixara os dois terrestres espantados.

    – E o que é aquilo? – perguntou Elisa curiosa, enquanto se aproximava para tentar ver melhor.

    – Nós ainda não temos um nome oficial. – Petri trouxe o objeto estranho de volta ao primeiro plano e, observando o médico, acrescentou:

    – Talvez possa escolher um.

    – Se pudesse ao menos explicar o que é, talvez eu pudesse tentar.

    – Os nossos melhores cientistas estiveram dedicados a este projeto já há algum tempo. – Petri juntou as mãos atrás das costas e começou a caminhar lentamente pela sala. – Este equipamento é o resultado de uma série de estudos que, em parte, vão além das minhas habilidades científicas.

    – E posso garantir que são notáveis. – acrescentou Azakis, dando uma pancadinha carinhosa nas costas do amigo.

    – Em suma, é uma espécie de sistema antigravidade. É baseado num princípio que, como eu disse, ainda está a ser estudado, mas que eu posso tentar resumir em poucas palavras simples.

    – Acho que seria muito melhor. – comentou Elisa. – Não se esqueça que pertencemos a uma espécie que, comparada à sua, poderia facilmente ser definida como subdesenvolvida.

    Petri assentiu com a cabeça ligeiramente. Então ele se aproximou da representação tridimensional do objeto estranho e calmamente continuou a sua explicação.

    – Isso – o que você chamou de 'donut' antes – é geometricamente definido como um toroide. O anel tubular é oco, enquanto o que poderíamos chamar de buraco central contém o sistema de propulsão e controlo.

    – Até aqui está tudo claro. – disse Elisa, cada vez mais animada.

    – Muito bem. Agora vamos ver o princípio de funcionamento do sistema. – Petri girou a imagem do toroide e mostrou a sua seção interna.

    – O anel é preenchido com um gás, geralmente um isótopo de hélio que, arrefecido a uma temperatura próxima do zero absoluto, muda de estado e se transforma num líquido com características muito particulares. Na prática, a sua viscosidade torna-se quase nula e pode fluir sem gerar atrito. Nós chamamos essa característica de superfluidez.

    – Agora estou a ficar um pouco perdida. – disse Elisa com tristeza.

    – Simplificando, este gás no seu estado líquido, apropriadamente estimulado pela estrutura do anel, será capaz de viajar dentro dele, sem qualquer dificuldade, a uma velocidade próxima à velocidade da luz, e conseguir mantê-lo por um tempo infinito.

    – Incrível. – era tudo o que Jack conseguia comentar, que não perdeu sequer uma sílaba de toda a explicação.

    – Ok, agora acho que entendi. – acrescentou Elisa. – Mas como este dispositivo vai neutralizar os efeitos da atração gravitacional entre os dois planetas?

    – É aí que as coisas se tornam muito mais complicadas. – respondeu Petri. – Digamos que a rotação do superfluido a velocidades próximas da luz, gera um continuum espácio-temporal em curvatura em torno dele, causando um efeito antigravidade.

    – Meu Deus. – exclamou Elisa. – O meu antigo professor de física estará a andar às voltas no seu túmulo.

    –E não só ele, minha querida. – acrescentou o Coronel. – Se eu entendi corretamente o que esses dois senhores estão a tentar explicar, aqui estamos a falar de derrubar muitas teorias e conceitos que vários dos nossos cientistas passaram a vida inteira tentando analisar e estudar. O princípio da antigravidade já foi teorizado mais de uma vez, mas ninguém jamais foi capaz de prová-lo completamente. Agora finalmente temos a prova, aqui diante de nós – e ele apontou para o estranho objeto – que é realmente possível.

    – Eu seria um pouco mais cauteloso –disse Azakis, amortecendo um pouco a excitação do Coronel. – Sinto-me obrigado a informar que essa coisa nunca foi testada em objetos grandes como planetas, ou melhor, tentamos há dois ciclos, mas não foi exatamente como esperávamos. Além disso, podem ocorrer eventos que não previmos e ...

    – Lá estás tu, a trazer azar como sempre. – disse Petri interrompendo o seu companheiro. – O mecanismo foi demonstrado mais de uma vez. A nossa própria nave espacial usa parte desse princípio para a sua propulsão. Vamos ser otimistas por uma vez!

    – Porque realmente não parece haver muitas alternativas, ou estou enganada? – perguntou Elisa numa voz desapontada.

    – Infelizmente, acho que não. – disse Petri desconsolado, com a cabeça ligeiramente baixa. – Na verdade, a única coisa que eu realmente temo é que, dado o tamanho reduzido do nosso toroide, nós não seremos capazes de absorver completamente todos os efeitos da força gravitacional e uma parte dos gravitões conseguirão fazer o seu trabalho todo o tempo mesmo.

    – Estás a dizer que essa coisa pode não ser suficiente para evitar uma catástrofe em qualquer caso? – perguntou Elisa aproximando-se do extraterrestre ameaçadoramente.

    – Talvez não completamente. – respondeu Petri dando um pequeno passo para trás. – Com os meus próprios cálculos, eu diria que cerca de dez por cento dos gravitões poderia escapar desse tipo de truque.

    – Então, tudo isso poderia ser um esforço em vão?

    – De jeito nenhum. – respondeu Petri. –Vamos reduzir os efeitos em noventa por cento. Restará muito pouco para nós conseguirmos.

    – Vamos chamá-lo "Newark". – disse Elisa satisfeita – Agora devíamos despachar-nos. Sete dias passam rapidamente.

    Base aérea do Camp Adder — A fuga

    Os dois personagens estranhos, ainda vestidos como beduínos, tinham acabado de entrar no seu esconderijo na cidade quando um fraco som intermitente do computador portátil, ainda a trabalhar na mesa da sala de estar, atraiu a atenção deles.

    – Quem diabos é agora? – perguntou o mais magro irritado.

    O grandalhão, que estava a coxear mais do que nunca, aproximou-se do computador e, depois de digitar uma senha decididamente complicada, disse:

    –É uma mensagem da base.

    –Eles vão querer saber se a operação foi bem-sucedida.

    –Dê-me um segundo para decodificá-la.

    Uma série de símbolos incompreensíveis apareceu no monitor e, depois de digitar uma combinação de códigos em sequência, a mensagem lentamente começou a aparecer.

    General capturado e levado para a base aérea em Camp Adder. Requer operação de resgate imediata.

    – Pelo amor de Deus! – exclamou o gordo. – Eles já sabem.

    – Como eles conseguiram isso?

    – Bem, eles definitivamente têm mais ligações diretas do que nós. Eles

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