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SOBRE A POSSIBILIDADE DA LIBERDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
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SOBRE A POSSIBILIDADE DA LIBERDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
E-book117 páginas1 hora

SOBRE A POSSIBILIDADE DA LIBERDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

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É possível alcançarmos a liberdade no mundo contemporâneo? O presente livro vem discutir essa possibilidade, partindo de uma caracterização do conceito de liberdade e sua apropriação pela burguesia, seguida de uma crítica a tal concepção. A partir disso, discute ferramentas usadas para chegar a tal liberdade e os motivos de suas falhas, a partir das ideias de Deleuze e Guattari, Baudrillard e Foucault, para finalmente apontar como seria possível almejar uma experiência de liberdade no mundo contemporâneo, indo ao encontro da ideia de Zona Autônoma Temporária, de Hakim Bey.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jun. de 2022
ISBN9786558903598
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    SOBRE A POSSIBILIDADE DA LIBERDADE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO - Grégori Michel Czizeweski

    INTRODUÇÃO

    A liberdade sempre foi algo buscado pelos homens, e serviu de base para todo um movimento anarquista ao longo da história. É dessa liberdade que vamos nos referir aqui. Não é a liberdade na sociedade de consumo como expressão da ideologia burguesa, essa tal liberdade que não passa de fantasia para induzir ao consumismo e que provoca uma massificação ao contrário do individualismo que pregam. Não é a liberdade dos liberais, mas sim a tão sonhada liberdade dos antigos anarquistas, liberdade que vai contra toda forma de relação alienada e de domínio entre os seres humanos e contra as criaturas desse planeta, visto que o domínio pode dar-se fora do econômico. Disso resulta que não se pode ser livre em uma sociedade de escravos; ser cidadão ou consumista não é ser livre visto que tais condições pressupõem um regime de exploração e desigualdade, e se há desigualdade, há dominação e consequentemente supressão da vontade. Aquele que nasce em uma sociedade baseada na exploração de uns sobre os outros vai ser educado para reproduzir essa exploração e não a liberdade.

    Buscar essa liberdade e resistir à dominação parece ser algo inerente ao homem. Um precursor desse pensamento foi La Boétie, que em seu Discurso da Servidão Voluntária já afirmava que era melhor não ter governante algum do que ter muitos ou mesmo apenas um. Ele questiona a nossa submissão frente à dominação de outrem e a privação da liberdade e diz que ela não passa de um vício:

    Mas, ó Deus!, o que é isso? Como chamaremos esse vício, esse vício horrível? Não é vergonhoso ver um número infinito de homens não só obedecer mas rastejar, não serem governados mas tiranizados, não tendo nem bens, nem parentes, nem crianças, nem sua própria vida que lhes pertençam? Suportando as rapinas, as extorsões, as crueldades, não de um exército, não de uma horda de bárbaros, contra os quais cada um deveria defender sua vida a custo de todo o seu sangue, mas de um só: não de um Hércules ou de um Sansão, mas de um verdadeiro homenzinho, amiúde o mais covarde, o mais vil, e o mais efeminado da nação, que nunca cheirou a pólvora das batalhas, quando muito pisou na areia dos torneios; que é incapaz não só de comandas os homens mas também de satisfazer a menor mulherzinha! Nomearemos isso covardia? Chamaremos de vis e covardes os homens submetidos a tal jugo? Se dois, três, quatro cedem a um, é estranho, porém possível: talvez se pudesse dizer, com razão: é falta de fibra. Mas se cem, se mil deixam-se oprimir por um só dir-se-ia ainda que é covardia, que não ousam atacá-lo, que por desprezo ou desdém não querem resistir a ele? Enfim, se não se vê que cem, mas cem países, mil cidades, um milhão de homens não atacarem, não esmagarem aquele que, sem prurido algum, trata-os todos como igual número de servos e de escravos - como qualificaríamos isso? Será covardia? Mas para todos os vícios há limites que não podem ser superados. Dois homens e até dez bem podem temer um, mas que mil, um milhão, mil cidades não se defendam contra um só homem! Oh! não é só covardia, ela não chega a isso - assim como a valentia não exige que um só homem escale uma fortaleza, ataque um exército, conquiste um reino! Que vício monstruoso então é esse que a palavra covardia não pode representar, para o qual toda expressão, que a natureza desaprova e a língua se recusa a nomear? ¹

    Neste trecho La Boétie expressa, através da indignação e da inconformação com a possibilidade de um grupo de seres humanos se deixar dominar ou oprimir por um único homem (o governante), a ideia de que o desejo de ser livre (ou de não ser dominado) está no âmago do pensamento ou da vontade dos homens, e que qualquer situação de dominação ou de exploração de um sobre outros é estranha, um vício inaceitável.

    Baseados em ideias dessa natureza, várias correntes de pensamento anarquista surgiram, bem como toda uma tradição de esquerda se formou e se consolidou. Porém, o contexto social na qual tais ideias surgiram e se difundiram mudou. O mundo hoje já não é o mesmo de outrora, no qual lutar contra a burguesia era lutar pela liberdade, em que o possuidor do poder e responsável pela dominação, seja ela qual fosse, podia ser apontado ou até acertado por um golpe. Sabemos que algo está errado, percebemos e sentimos a falta de liberdade à qual estamos submetidos, mas não sabemos como agir diante disso. É o vício citado por La Boétie.

    Como já amplamente discutido por pensadores como Michel Foucault e Jean Baudrillard, a sociedade contemporânea vive um momento de impossibilidade de uma Revolução Social, diante do que Foucault chama de abismo do poder, do fim do discurso do poder. A luta de classes tão fortemente combatida pelos anarquistas e socialistas perdeu seu sentido, o poder não se encontra mais nas mãos de uma classe social ou mesmo de uma instituição, mas ganhou um caráter

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