Liberdade Econômica E Crise Civilizatória
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Liberdade Econômica E Crise Civilizatória - José Micaelson Lacerda Morais
José Micaelson Lacerda Morais
Liberdade econômica
e
crise civilizatória
Copyright © José Micaelson Lacerda Morais, 2023.
___________________________________________________
Liberdade econômica e crise civilizatória. José Micaelson Lacerda Morais. Joinville-SC: Clube de Autores, 2023.
1. Economia 2. Liberalismo 3. Civilização 4. Sociedade 5. Crise
___________________________________________________
Sumário
1. Introdução
2. A liberdade econômica no século XX
2.1. Liberdade econômica e desigualdades
2.1.1 Algumas evidências
3. Civilização
3.1. Breves notas sobre autores e ideias
3.2. Críticas ao conceito
4. Liberdade econômica e crise civilizatória
4.1. Para além das desigualdades
5. Equidade econômica: uma utopia possível?
6. É possível superar a contradição entre ser e ser social?
7. Epílogo: o triângulo da tristeza
8. Referências
Do meu ponto de vista, creio haver justificativa social e psicológica para grandes desigualdades nas rendas e na riqueza, embora não para as grandes disparidades existentes na atualidade. Existem valiosas atividades humanas que requerem o motivo do lucro e a atmosfera da propriedade privada de riqueza para que possam dar os seus frutos. Além disso, a possibilidade de ganhar dinheiro e fazer fortuna pode orientar certas inclinações perigosas da natureza humana para caminhos onde elas se tornem relativamente inofensivas e, não sendo satisfeitas desse modo, possam elas buscar uma saída na crueldade, na desenfreada ambição de poder e de autoridade e ainda em outras formas de engrandecimento pessoal. É preferível que alguém tiranize seu saldo no banco do que os seus concidadãos e, embora o primeiro caso seja algumas vezes um meio de levar ao segundo, em certos casos é pelo menos uma alternativa. Todavia, não é necessário, para estimular essas atividades e satisfazer essas inclinações, que o jogo seja feito com apostas tão altas como agora. Apostas menores levariam igualmente ao mesmo resultado, desde que os jogadores se habituassem a elas. A tarefa de modificar a natureza humana não deve ser confundida com a de administrá-la. Embora na comunidade ideal os homens possam ser acostumados, inspirados ou ensinados a desinteressar-se do jogo, a sabedoria e a prudência da arte política devem permitir a prática do jogo, embora sob certas regras e limitações, em se considerando que o homem comum, ou mesmo uma fração importante da comunidade, é altamente inclinado à paixão pelo lucro.
Keynes. A teoria geral do emprego, do juro e da moeda.
Está aqui de volta a velha ideia de ganhar dinheiro enquanto passatempo inocente
e válvula de escape para as energias dos homens, como uma instituição que os desvia da competição antagonística pelo poder para aquela outra, em certa medida ridícula e desagradável, mas essencialmente inócua atividade de acumular riquezas.
Outra importante figura a trazer argumentos, ainda que indiretamente, para a defesa do capitalismo com base nas suas consequências políticas benéficas foi Schumpeter. Em sua teoria do imperialismo Schumpeter argumentava que a ambição territorial, o desejo de expansão colonial e o espírito guerreiro em geral não eram a consequência inevitável do sistema capitalista, como o queriam os marxistas. Ao contrário, estes traços eram o resultado de mentalidades residuais, pré-capitalistas, que, desafortunadamente, estavam fortemente entranhadas nos grupos governantes das principais potências europeias. Para Schumpeter, o capitalismo por si não poderia implicar conquista e guerra: seu espírito era racional, calculista e, por conseguinte, avesso ao risco na escala implícita nos lances da guerra e de outras patuscadas heróicas. Ainda que interessantes como contraponto às várias teorias marxistas sobre o imperialismo, os pontos de vista de Schumpeter deixavam transparecer menos consciência das dificuldades do problema [...] o Cardeal de Retz, com sua insistência em que as paixões não devem ser descartadas em situações nas quais é regra o comportamento motivado pelo interesse [lucro], parece ter-se saído melhor no argumento, tanto melhor do que Keynes e do que Schumpeter.
Hirschman. As paixões e os interesses: argumentos políticos para o
capitalismo antes de seu triunfo
1. Introdução
O termo liberdade tem sido utilizado na literatura ao longo de séculos, sendo difícil precisar exatamente quando foi usado pela primeira vez. No entanto, é possível identificar alguns marcos importantes da ideia de liberdade na literatura. Por exemplo, o termo já era utilizado na Grécia Antiga, mesmo antes de grandes filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles. A ideia de liberdade era uma preocupação central na democracia ateniense do século V a.C., e muitos outros filósofos gregos também trataram do tema da liberdade em suas obras.
Hesíodo (século VIII a.C.), foi um poeta grego que escreveu Os Trabalhos e os Dias
. Embora seu poema não trate explicitamente da ideia de liberdade, ele pode ser interpretado como uma defesa da liberdade individual que se dá através do trabalho árduo e da virtude, como condições necessárias para se obter sucesso na vida; em vez de depender da sorte ou da ajuda dos deuses, por exemplo. Ele também defendeu a importância da justiça e da honestidade como elementos fundamentais para uma sociedade livre e saudável. A partir do exposto podemos inferir que existe, em Hesíodo, uma relação entre independência econômica e liberdade. Ele aconselha os indivíduos a cultivarem suas próprias terras e a não dependerem da caridade ou da ajuda de outros.
Por sua vez, o filósofo pré-socrático Heráclito, que viveu no século VI a.C., trabalhou conceitos como a mudança constante e o logos (razão), e suas relações com o universo e à condição humana. Todavia, é possível encontrar uma conexão indireta entre as ideias de Heráclito e a liberdade. Por exemplo, a ideia de que tudo está em constante mudança e que nada permanece o mesmo pode ser vista como uma afirmação da liberdade individual. A mudança constante significa que as pessoas têm a liberdade de mudar e de se adaptar ao mundo em constante transformação ao seu redor. Heráclito acreditava na razão como única forma de compreender o mundo e que o logos governava tudo. Podemos também entender essa ênfase na razão como uma afirmação da liberdade individual, uma vez que a razão dá às pessoas a liberdade de compreender o mundo e de tomar decisões baseadas em uma compreensão clara e racional
.
Anaximandro (610 a.C. - 546 a.C.), também foi um filósofo pré-socrático. Ele também não discutiu diretamente a ideia de liberdade em suas obras (fragmentos e referências de suas obras sobreviveram através de citações de outros autores antigos). No entanto, é possível encontrar uma conexão indireta entre suas ideias e a liberdade. Conforme sua filosofia todas as coisas têm uma origem comum no apeiron, um princípio ilimitado e indefinido, que é a origem de todas as coisas. Isso significa que tudo é interdependente e coexistente. Em outras palavras, não há hierarquia entre as coisas, e nenhuma coisa é mais importante ou valiosa do que outra. Podemos ver essa ideia como uma afirmação da liberdade individual, já que implica que não há nada que seja inerentemente superior ou inferior. Em vez disso, cada indivíduo tem a liberdade de buscar sua própria realização e felicidade, sem ser limitada por qualquer ordem preestabelecida. Ideia que também se aplica a outra teoria de Anaximandro, na qual todas as coisas são governadas por leis naturais que operam de forma consistente e previsível.
Chegamos ao período clássico da história grega, uma época de grande produção cultural e intelectual na Grécia Antiga. Nele, inicialmente, encontramos Sócrates, considerado o fundador da filosofia ocidental e reconhecido por seus métodos de questionamento e reflexão crítica. A ideia de liberdade em Sócrates está intimamente relacionada à sua concepção de virtude e sabedoria. Segundo ele, a verdadeira liberdade era alcançada através do conhecimento e da prática da virtude, que permitiam ao indivíduo se livrar das paixões e desejos que o aprisionavam. Para ele a ignorância seria a principal causa da escravidão humana, pois impedia os indivíduos de compreender a natureza da virtude e, consequentemente, de agir de forma justa e correta. Assim, a busca pelo conhecimento era o caminho para a libertação da ignorância e das paixões desordenadas.
Por sua vez, Platão, assim como para