Primeiros Passos Na Doutrina Espírita
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Primeiros Passos Na Doutrina Espírita - Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
1
Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA
VOLUME III
* Todo o produto desta edição é destinado à manutenção de
obras assistenciais responsáveis por crianças órfãs.
2
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
3
Ricardo Rêgo Barros
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA
VOLUME III
1ª. Edição
Recife
Ricardo Rêgo Barros Silva
2012
4
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
5
Ricardo Rêgo Barros
© 2011 por Ricardo Rêgo Barros
Supervisão Editorial
Ricardo Rêgo Barros
Revisão de Provas
Sandra Gallindo
Revisão Geral
Ricardo Rêgo Barros e Sandra Gallindo
Capa
Ricardo Rêgo Barros
Impressão e Acabamento
Editora Clube de Autores
Contato: ricardo.rbs@gmail.com
1.01
6
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
7
Ricardo Rêgo Barros
SUMÁRIO
I. Prefácio..............................................................................................14
II. Introdução........................................................................................18
PARTE IV – MEDIUNIDADE E CORRELATOS
01. A Mediunidade...............................................................................22
02. Os Médiuns.....................................................................................50
03. Pensamento e Vontade.................................................................72
04. Lei de Atração................................................................................84
05. Anjos de Guarda e Espíritos Protetores....................................92
06. Influências Espirituais e Obsessões..........................................108
07. Fenômenos de Emancipação da Alma.....................................124
08. Fenômenos Anímicos.................................................................154
09. Desenvolvimento da Mediunidade...........................................160
10. Perguntas Frequentes Sobre a Mediunidade...........................172
PARTE V – O TRATAMENTO ESPIRITUAL
11. O que é o Tratamento Espiritual..............................................184
12. Tipos de Tratamento Espiritual................................................194
8
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
13. A Periodicidade do Tratamento................................................198
14. Sintomas que Indicam a Necessidade de um Tratamento....202
15. O Papel da Família no Tratamento Espiritual........................216
16. As Reuniões Públicas..................................................................222
17. As Entrevistas Fraternas.............................................................228
18. A Consulta Espiritual..................................................................236
19. Reuniões de Tratamento Espiritual..........................................240
20. A Fluidoterapia.............................................................................244
21. Reuniões de Desobsessão...........................................................256
22. Reunião de Vibração...................................................................260
23. Livro de Vibração........................................................................264
24. A Prece..........................................................................................270
25. O Evangelho no Lar...................................................................276
26. A Conduta Espírita......................................................................282
27. Mudança de Hábitos...................................................................290
28. A Reforma Moral.........................................................................294
29. A Prática da Caridade..................................................................300
30. Vivência das Lições de Jesus no Cotidiano.............................306
31. Estudo da Doutrina Espírita......................................................312
32. Leitura Sistemática de O Ev. Segundo o Espiritismo............318
33. Resumo sobre o Tratamento Espiritual...................................322
9
Ricardo Rêgo Barros
Dedico este livro a todos aqueles que um dia, assim como eu, tiveram a benção
de necessitar de um tratamento espiritual, e foram abençoados de poder encontrar
uma casa espírita, através da qual conheceram essa Doutrina maravilhosa que é, sem
sombra de dúvidas, o Consolador prometido por Jesus.
Foi a dor, essa sublime professora, que me fez procurar essa ajuda espiritual,
e em consequência disso, estar hoje integrado de corpo e alma no Espiritismo. Posso
afirmar com toda a certeza de que ele é o responsável por mudar por completo minha
vida. E mudou para muito melhor.
Aquilo que, à primeira vista, parecia ser um mal, foi o motivo maior para o
meu reencontro com Deus.
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
11
Ricardo Rêgo Barros
Meus sinceros agradecimentos a Sandra Gallindo, minha
esposa, pelas revisões e sugestões que fez, tornando assim a realização
deste volume possível.
12
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
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Ricardo Rêgo Barros
I. PREFÁCIO
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, completará
agora, em 2012, cento e cinquenta e cinco anos. Não é muito tempo de
existência se formos compará-la com outras doutrinas bem mais antigas.
Entretanto, temos de convir que, para nós, que somos seus adeptos, já é
tempo mais que suficiente para ser compreendida e vivenciada, se
considerarmos que, os princípios básicos, que formam o seu corpo
doutrinário, são tão antigos quanto a própria humanidade.
As casas espíritas, que abrigam os adeptos e também recebem
novos integrantes diariamente, têm a responsabilidade de bem atendê-
los, prepará-los e mantê-los, no tocante ao bom entendimento da
Doutrina, em todos os seus aspectos: religioso, filosófico e científico.
No entanto, durante o tempo que já militamos no Espiritismo, e
também pelo fato de conhecermos, em virtude dos trabalhos que
realizamos, vários centros espíritas, observamos ainda que muito se tem
por fazer a esse respeito. São muitos os centros espíritas que carecem de
uma melhor estrutura, e não me refiro aqui à estrutura física, mas sim de
pessoal qualificado para melhor atender as necessidades básicas que um
núcleo de Espiritismo exige.
Em todo o mundo, empresas, instituições e órgãos que se
destinam à prestação de serviços ao público, investem, a cada dia, na
busca pela qualidade na prestação desses serviços. É aquilo que todos
nós conhecemos hoje como: Qualidade Total. M as aí, alguém pode
gritar
: "Vamos com calma! Estamos em uma instituição religiosa!
Qualidade Total não deve se aplicar a esse caso!". Ao que nós
responderemos: "Como não se aplica? E por acaso a casa espírita não
presta um serviço à comunidade? Por acaso não presta serviços às
pessoas? O ato de prestar um serviço não implica no recebimento de
honorários. Não visa, apenas, à obtenção de lucro. Serviços podem ser
prestados de forma gratuita, como é o caso dos núcleos espíritas e
tantas outras instituições sem fins lucrativos, e não será por isso que
estes devem ser feitos: a toque de caixa
.
O Espiritismo, ou melhor, a casa ou o centro espírita, que é uma
instituição pública, tem unicamente o objetivo de prestar serviços às
14
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
pessoas; porque não? Senão vejamos: Esclarecer através das palestras
públicas; através de seminários e cursos sobre a Doutrina; oferecer o
consolo das mensagens dos amigos espirituais; oferecer os serviços de
passes; ofertar aos enfermos o tratamento espiritual; receber os
necessitados, auxiliá-los e socorrê-los através das reuniões mediúnicas;
oferecer a evangelização ao público em geral; disponibilizar vários
serviços assistenciais, enfim, esses e tantos outros, são serviços que a
casa espírita presta ao público em geral. Definitivamente é uma
prestação de serviços!
Daí, os núcleos espíritas terem a extrema necessidade de buscarem,
com muita determinação, uma qualificação total naquilo a que se
propõem. Para isto, manter sempre em suas dependências um programa
de estudos constante da Doutrina, e, principalmente, da mediunidade.
Formar trabalhadores plenamente alicerçados nos pontos basilares do
Espiritismo e com conhecimento sólido nas tarefas a que se propõem,
tornará, a casa ou centro espírita, cada vez mais capacitada para suprir as
necessidades de um público que cada vez mais busca, nas hostes da
Doutrina, um lenitivo para suas dores; uma qualidade total no
atendimento de que necessitam.
Este singelo trabalho que começou a ser desenvolvido em 1995 e
cujo foco inicial era informar acerca do que seria um tratamento
espiritual na casa espírita, tomou outras proporções graças a essa
necessidade, que muitos núcleos de Espiritismo possuem, de dispor de
mais uma ferramenta didática para servir aos que neles adentram.
É um livro que serve como fonte de consulta; como uma espécie
de: manual de operação
; de como se deve manusear
o Espiritismo.
É um trabalho simples, sem grandes pretensões, porém, deverá ser de
grande valia para aqueles que estão tateando agora neste vasto campo de
conhecimento religioso, filosófico e científico.
Nenhum assunto incluso neste livro é novidade para os adeptos
mais antigos. Tudo está embasado, principalmente, nas obras básicas de
Kardec. O que podemos aqui destacar é que o leitor iniciante poderá
encontrar esses assuntos, tão necessários para o início de sua jornada,
em um só lugar.
Temos a certeza de que valerá à pena.
15
Ricardo Rêgo Barros
II. INTRODUÇÃO
Este é o terceiro volume do nosso livro. Como foi dito
anteriormente, ele foi dividido em 4(quatro) volumes, onde cada um
deles trata de temas básicos, agrupados e relacionados dentro de uma
sequencia lógica, para facilitar ao leitor um aprendizado gradativo sobre
o Espiritismo.
Neste terceiro volume, trataremos sobre assuntos relacionados,
basicamente, em três aspectos: a mediunidade; os fenômenos
anímicos(da própria alma encarnada); e o tratamento espiritual.
Dentre o aspecto mediunidade, iremos apresentar seu conceito,
definições, histórico e outras informações pertinentes, mas, tudo de
forma bem simples, voltado mesmo para os iniciantes, com o propósito
de colocá-los
no caminho deste vastíssimo tema.
Falaremos aqui também sobre os médiuns, que são os
executores do fenômeno mediúnico, já que sem eles a mediunidade
inexiste. No entanto, objetivando sempre enquadrá-los como seres
humanos comuns, pois assim o são, e retirando todo tipo de misticismo
que porventura lhes atribuam.
Dentre os assuntos ligados diretamente à mediunidade, e que é
de grande importância para o conhecimento de quem está principiando
no Espiritismo, podemos citar o das influências espirituais e das
obsessões, pois, inegavelmente, é o principal mal que assola a
humanidade desde todos os tempos.
Ao tratarmos do assunto sobre as obsessões, natural que
também discorramos do temas relacionados ao seu tratamento, tais
como: A fluidoterapia; a Desobsessão; O Evangelho no lar; a Reforma
Moral, dentre outros, todos compondo a terapêutica necessária para
esse tipo de enfermidade.
Iremos também digressar sobre o que é o pensamento e do que
a nossa vontade é capaz de realizar, pois, todos nós "somos aquilo que
pensamos" e, através dos pensamentos, poderemos inferir que
estaremos sempre em sintonia com aqueles que comungam com os
mesmos. Além disso, entenderemos que a vontade criadora, veiculada
16
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
pela ação do pensamento, pode criar efeitos, em geral, desconhecidos da
grande maioria das pessoas.
Por fim, além de todas as explicações a respeito da mediunidade
e temas correlatos, abordaremos, na maior parte deste volume, sobre o
que é o tratamento espiritual na casa espírita.
O tratamento espiritual, é, sem sombra de dúvidas, um dos
principais meios de frequência às casas espíritas, pois, todos nós,
Espíritos enfermos e compromissados perante às leis de Deus, somos
carentes, de alguma forma, da medicação que só Jesus, o Médico
Divino, pode oferecer.
Nesta parte da obra, iremos definir o tratamento espiritual,
relatar alguns tipos, já que, em linhas gerais, cada casa adota métodos
um pouco diferenciados entre si. Bem como iremos orientar ao leitor de
como deve proceder quando estiver sendo tratado pela espiritualidade.
Acreditamos com isso, caro leitor, que este volume, será de
muita relevância para quem está principiando, não só no Espiritismo,
como em um processo de tratamento espiritual.
Como sempre, esperamos que objetivo deste volume possa ser
alcançado, e o leitor possa dele se beneficiar.
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Ricardo Rêgo Barros
PARTE IV
Mediunidade e Correlatos
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
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Ricardo Rêgo Barros
01. A MEDIUNIDADE
A mediunidade é uma faculdade natural, existente em todo ser
humano, e que possibilita o contato com o mundo espiritual. É por
meio dela que os Espíritos se comunicam com os que se encontram
reencarnados e estes, por sua vez, com eles.
Como ela se manifesta através do corpo físico do ser humano,
podemos afirmar que a mediunidade é uma condição orgânica, ou seja,
ela é também um sentido, assim como o tato, a visão, o olfato, o paladar
e a audição. Todos nós sabemos que é através dos sentidos que o
homem se comunica e participa de tudo o que ocorre na vida de relação.
Para cada sentido que o ser humano possui, existe um órgão específico
encarregado de receber o estímulo necessário para ativar a sensação
correspondente. No caso específico da mediunidade, classificada como
um sentido a mais(o sexto sentido), é necessário também que exista um
órgão responsável, que se encarregue de receber os estímulos externos e
então manifeste o sentido mediúnico.
Segundo informação dos Espíritos superiores, o órgão
encarregado do fenômeno mediúnico seria a epífise, ou glândula pineal,
que fica situada na região central posterior da área diencefálica do
cérebro.
Segundo essas informações, ela seria a sede fisiológica de todos
os fenômenos mediúnicos.
De acordo com a ciência oficial, essa glândula teria, somente, a
função veladora do sexo. Mas segundo a teoria espírita, a epífise
controla outros centros, por meio do seu potencial energético,
tornando-se um prisma de captação de energias específicas.
***
Ao contrário do que muitos podem pensar, a mediunidade não
é uma maldição, ou uma punição Divina, ou até mesmo uma
enfermidade. Aqueles que a possuem não são bruxos ou feiticeiros; não
estão aliados ao diabo; não possuem a sua alma condenada; não estão
sofrendo de delírios; não são portadores de faculdades sobrenaturais;
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
não estão sob a influência de substâncias tóxicas; não são alienados
mentais; não são profetas, santos ou seres especiais na criação. Todos
são, apenas, pessoas comuns, assim como outra qualquer. E aqui
enfatizamos: a mediunidade é um sentido natural que pertence a todo o
ser humano. Porém, uns a tem em mais alto grau do que outros. Por
esta razão são denominados de médiuns ostensivos, pois o grau de
mediunidade que possuem é mais intenso.
Quando se trata de mediunidade, nada melhor do que nos
embasarmos nas obras da codificação. Nesse caso, especificamente: O
Livro dos Médiuns.
No capítulo I desta referida obra, intitulado: "Há Espíritos?",
Kardec faz importantes considerações, destinadas, principalmente, aos
que se iniciam no vasto campo de estudo do fenômeno mediúnico.
Sempre revestido de grande intuição, e na condição de
abnegado instrumento dos Espíritos superiores, dos quais recebia
muitas inspirações, Kardec, com muita propriedade, teve o cuidado de
solidificar primeiro, antes de discorrer sobre as questões da
mediunidade, a base na crença da existência dos Espíritos e na
capacidade de se manifestarem aos chamados vivos
.
Vejamos o que ele nos diz:
1. A dúvida, no que concerne à existência dos Espíritos, tem como causa
primária a ignorância acerca da verdadeira natureza deles. Geralmente, são figurados
como seres à parte na criação e de cuja existência não está demonstrada a necessidade.
Muitas pessoas, mais ou menos como as que só conhecem a História pelos romances,
apenas os conhecem através dos contos fantásticos com que foram acalentadas em
criança.
Sem indagarem se tais contos, despojados dos acessórios ridículos, encerram
algum fundo de verdade, essas pessoas unicamente se impressionam com o lado
absurdo que eles revelam. Sem se darem ao trabalho de tirar a casca amarga, para
achar a amêndoa, rejeitam o todo, como fazem, relativamente à religião, os que,
chocados por certos abusos, tudo englobam numa só condenação.
Seja qual for a idéia que dos Espíritos se faça, a crença neles
necessariamente se funda na existência de um princípio inteligente fora da matéria.
Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio. Tomamos,
conseguintemente, por ponto de partida, a existência, a sobrevivência e a
21
Ricardo Rêgo Barros
individualidade da alma, existência, sobrevivência e individualidade que têm no
Espiritualismo a sua demonstração teórica e dogmática e, no Espiritismo, a
demonstração positiva. Abstraiamos, por um momento, das manifestações
propriamente ditas e, raciocinando por indução, vejamos a que consequências
chegaremos.
2. Desde que se admite a existência da alma e sua individualidade após a
morte, forçoso é também se admita: 1º, que a sua natureza difere da do corpo, visto
que, separada deste, deixa de ter as propriedades peculiares ao corpo; 2º, que goza da
consciência de si mesma, pois que é passível de alegria, ou de sofrimento, sem o que
seria um ser inerte, caso em que possuí-la de nada nos valeria. Admitido isso, tem-se
que admitir que essa alma vai para alguma parte. Que vem a ser feito dela e para
onde vai?
Segundo a crença vulgar, vai para o céu, ou para o inferno. Mas, onde
ficam o céu e o inferno? Dizia-se outrora que o céu era em cima e o inferno embaixo.
Porém, o que são o alto e o baixo no Universo, uma vez que se conhecem a
esfericidade da Terra, o movimento dos astros, movimento que faz com que o que em
dado instante está no alto esteja, doze horas depois, embaixo, e o infinito do espaço,
através do qual o olhar penetra, indo a distâncias consideráveis? Verdade é que por
lugares inferiores também se designam as profundezas da Terra. Mas, que vêm a ser
essas profundezas, desde que a Geologia as esquadrinhou? Que ficaram sendo,
igualmente, as esferas concêntricas chamadas céu de fogo, céu das estrelas, desde que se
verificou que a Terra não é o centro dos mundos, que mesmo o nosso Sol não é único,
que milhões de sóis brilham no Espaço, constituindo cada um o centro de um
turbilhão planetário? A que ficou reduzida a importância da Terra, mergulhada
nessa imensidade? Por que injustificável privilégio este quase imperceptível grão de
areia, que não avulta pelo seu volume, nem pela sua posição, nem pelo papel que lhe
cabe desempenhar, seria o único planeta povoado de seres racionais? A razão se
recusa a admitir semelhante nulidade do infinito e tudo nos diz que os diferentes
mundos são habitados. Ora, se são povoados, também fornecem seus contingentes
para o mundo das almas. Porém, ainda uma vez, que terá sido feito dessas almas,
depois que a Astronomia e a Geologia destruíram as moradas que se lhes destinavam
e, sobretudo, depois que a teoria, tão racional, da pluralidade dos mundos, as
multiplicou ao infinito?
Não podendo a doutrina da localização das almas harmonizar-se com os
dados da Ciência, outra doutrina mais lógica lhes assina por domínio, não um lugar
determinado e circunscrito, mas o espaço universal: formam elas um mundo invisível,
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PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
em o qual vivemos imersos, que nos cerca e acotovela incessantemente. Haverá nisso
alguma impossibilidade, alguma coisa que repugne à razão? De modo nenhum; tudo,
ao contrário, nos afirma que não pode ser de outra maneira.
Mas, então, que vem a ser das penas e recompensas futuras, desde que se
lhes suprimam os lugares especiais onde se efetivem? Notai que a incredulidade, com
relação a tais penas e recompensas, provam geralmente de serem umas e outras
apresentadas em condições inadmissíveis. Dizei, em vez disso, que as almas tiram de
si mesmas a sua felicidade ou a sua desgraça; que a sorte lhes está subordinada ao
estado moral; que a reunião das que se votam mútua simpatia e são boas representa
para elas uma fonte de ventura; que, de acordo com o grau de purificação que tenham
alcançado, penetram e entreveem coisas que almas grosseiras não distinguem, e toda
gente compreenderá sem dificuldade. Dizei mais que as almas não atingem o grau
supremo, senão pelos esforços que façam por se melhorarem e depois de uma série de
provas adequadas à sua purificação; que os anjos são almas que galgaram o último
grau da escala, grau que todas podem atingir, tendo boa vontade; que os anjos são os
mensageiros de Deus, encarregados de velar pela execução de seus desígnios em todo o
Universo, que se sentem ditosos com o desempenho dessas missões gloriosas, e lhes
tereis dado à felicidade um fim mais útil e mais atraente, do que fazendo-a consistir
numa contemplação perpétua, que não passaria de perpétua inutilidade. Dizei,
finalmente, que os demônios são simplesmente as almas dos maus, ainda não
purificadas, mas que podem, como as outras, ascender ao mais alto cume da perfeição
e isto parecerá mais conforme à justiça e à bondade de Deus, do que a doutrina que
os dá como criados para o mal e ao mal destinados eternamente. Ainda uma vez: aí
tendes o que a mais severa razão, a mais rigorosa lógica, o bom-senso, em suma,
podem admitir.
Ora, essas almas que povoam o Espaço são precisamente o que se chama
Espíritos. Assim, pois, os Espíritos não são senão as almas dos homens, despojadas
do invólucro corpóreo. Mais hipotética lhes seria a existência, se fossem seres à parte.
Se, porém, se admitir que há almas, necessário também será se admita que os
Espíritos são simplesmente as almas e nada mais. Se admitirmos que as almas estão
por toda parte, ter-se-á que admitir, do mesmo modo, que os Espíritos estão por toda
parte. Possível, portanto, não fora negar a existência dos Espíritos, sem negar a das
almas.
3. Isto não passa, é certo, de uma teoria mais racional do que a outra.
Porém, já é muito que seja uma teoria que nem a razão, nem a ciência repelem.
Acresce que, se os fatos a corroboram, tem ela por si a sanção do raciocínio e da
23
Ricardo Rêgo Barros
experiência. Esses fatos se nos deparam no fenômeno das manifestações espíritas, que,
assim, constituem a prova patente da existência e da sobrevivência da alma. Muitas
pessoas há, entretanto, cuja crença não vai além desse ponto;
que admitem a existência das almas e, conseguintemente, a dos Espíritos, mas que
negam a possibilidade de nos comunicarmos com eles, pela razão, dizem, de que seres
imateriais não podem atuar sobre a matéria. Esta dúvida assenta na ignorância da
verdadeira natureza dos Espíritos, dos quais em geral fazem idéia muito falsa,
supondo-os erradamente seres abstratos, vagos e indefinidos, o que não é real.
Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser
principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório
seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada. Além desse invólucro
material, tem o Espírito um segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro. Por
ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de
perispírito. Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana, constitui para o
Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de nos ser invisível no seu
estado normal, não deixa de ter algumas das propriedades da matéria. O Espírito
não é, pois, um ponto, uma abstração; é um ser limitado e circunscrito, ao qual só
falta ser visível e palpável, para se assemelhar aos seres humanos. Por que, então,
não haveria de atuar sobre a matéria? Por ser fluídico o seu corpo? Mas, onde
encontra o homem os seus mais possantes motores, senão entre os mais rarificados
fluidos, mesmo entre os que se consideram imponderáveis, como, por exemplo, a
eletricidade? Não é exato que a luz, imponderável, exerce ação química sobre a
matéria ponderável? Não conhecemos a natureza íntima do perispírito. Suponhamo-
lo, todavia, formado de matéria elétrica, ou de outra tão sutil quanto esta: por que,
quando dirigido por uma vontade, não teria propriedade idêntica à daquela matéria?
4. A existência da alma e a de Deus, conseqüência uma da outra,
constituindo a base de todo o edifício, antes de travarmos qualquer discussão espírita,
importa indaguemos se o nosso interlocutor admite essa base. Se a estas questões:
Credes em Deus?
Credes que tendes uma alma?
Credes na sobrevivência da alma após a morte? responder negativamente,
ou, mesmo, se disser simplesmente: Não sei; desejara que assim fosse, mas não tenho
a certeza disso, o que, quase sempre, equivale a uma negação polida, disfarçada sob
uma forma menos categórica, para não chocar bruscamente o que ele chama
preconceitos respeitáveis, tão inútil seria ir além, como querer demonstrar as
24
PRIMEIROS PASSOS NA DOUTRINA ESPÍRITA – Volume III
propriedades da luz a um cego que não admitisse a existência da luz. Porque, em
suma, as manifestações espíritas não são mais do que efeitos das propriedades da
alma. Com semelhante interlocutor, se não quisermos perder tempo, ter-se-á que
seguir muito diversa ordem de ideias.
Admitida que seja a base, não como simples probabilidade, mas como coisa
averiguada, incontestável, dela muito naturalmente decorrerá a existência dos
Espíritos.
5. Resta agora a questão de saber se o Espírito pode comunicar-se com o
homem, isto é, se pode com este trocar ideias. Por que não? Que é o homem, senão
um Espírito aprisionado num corpo? Por que não há de o Espírito livre se
comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o encarcerado?
Desde que admitis a sobrevivência da alma, será racional que não admitais
a sobrevivência dos afetos? Pois que as almas estão por toda parte, não será natural
acreditarmos que a de um ente que nos amou durante a vida se acerque de nós, deseje
comunicar-se conosco e se sirva para isso dos meios de que disponha? Enquanto vivo,
não atuava ele sobre a matéria de seu corpo? Não era quem lhe dirigia os
movimentos? Por que razão, depois de morto, entrando em acordo com outro Espírito
ligado a um corpo, estaria impedido de se utilizar deste corpo vivo, para exprimir o
seu pensamento, do mesmo modo que um mudo pode servir-se de uma pessoa que fale,
para se fazer compreendido?
6. Abstraiamos, por instante, dos fatos que, ao nosso ver, tornam
incontestável a realidade dessa comunicação; admitamo-la apenas como hipótese.
Pedimos aos incrédulos que nos provem, não por simples negativas, visto que suas
opiniões pessoais não podem constituir lei, mas expendendo razões peremptórias, que
tal coisa não pode dar-se. Colocando-nos no terreno em que eles se colocam, uma vez
que entendem de apreciar os fatos espíritas com o auxílio das leis da matéria, que
tirem desse arsenal qualquer demonstração matemática, física, química, mecânica,
fisiológica e provem por a mais b , partindo sempre do princípio da existência e da
sobrevivência da alma:
1º que o ser pensante, que existe em nós durante a vida, não mais pensa
depois da morte;
2º que, se continua a pensar, está inibido de pensar naqueles a quem