Sustentabilidade e Igrejas Protestantes a Edificação a Partir de Ferramentas de Gestão
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Sustentabilidade e Igrejas Protestantes a Edificação a Partir de Ferramentas de Gestão - Francys Resstel Del Hoiyo
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Prefácio
Afinal de contas, existe uma fórmula
para ser uma igreja viva e atuante na sociedade?
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. (Rm 8.28)
A religião sempre fez parte da vida humana. Desde os primórdios da história, seres humanos buscam formas de se compreender, de se entender no mundo, de traduzir experiências em conhecimentos, de buscar aquilo que está além do ordinário. Dessa busca, surgiram sistemas de crenças compartilhadas por comunidades de fé e formas de organização da vida religiosa. Afinal, o ser humano é um ser social e, portanto, ele partilha universos simbólicos, valores, cultura, elementos que precisam ser retroalimentados, reafirmados, refletidos, transformados.
As comunidades de fé, as igrejas, independentemente de sua configuração (se autônomas, em células ou mesmo em estruturas mais complexas com diferentes instâncias e hierarquias, como comunidades, paróquias etc.), são organizações sociais que são fundamentais para a vivência das experiências de fé, para a manutenção da religião. Como organizações sociais, as igrejas estão sujeitas a regulações legais e precisam se estruturar de uma forma que garanta a sua manutenção e a das ações que elas realizam, com responsabilidade e alinhamento aos valores que anunciam. E isso traz inúmeros questionamentos (e, com eles, desafios) para as próprias igrejas.
Afinal de contas, como gerenciar os diferentes trabalhos que acontecem nas comunidades de fé: grupo de jovens, escola dominical, estudos bíblicos, grupo de mulheres, de visitação, de louvor, de missão? Como avaliar o trabalho desses grupos, a fim de identificar forças, fraquezas, para potencializar o impacto das ações? Como desenvolver estratégias de missão para que a mensagem da igreja chegue a mais pessoas? Como dar corpo à missão que é de Deus? Como garantir o fluxo de recursos que vêm de projetos, das contribuições das pessoas que participam da igreja, para que não haja interrupção das ações que são realizadas? Como planejar e gerenciar projetos que geram recursos provenientes de entidades humanitárias, nacionais, internacionais? Como edificar a comunidade de fé? Como fazê-la crescer sob a graça do Espírito de Deus? Como garantir a subsistência de ministros e ministras, pastores, pastoras? Como avivar a chama do evangelho na comunidade?
Todas essas questões são fundamentais para a vida das comunidades de fé, afinal, há várias comunidades tradicionais que possuem dificuldades em gerenciar seus recursos, orientar as pessoas que nelas congregam e que acabam, inclusive, sucumbindo, com o esvaziamento de seus cultos, de seus grupos. E isso, muitas vezes, não tem nem a ver com a mensagem do evangelho, com a qualificação de seu ministro, seu pastor, e mesmo com a chama do Espírito Santo, mas com uma percepção (ou a falta de uma) de gestão. E isso traz três apontamentos.
Em primeiro lugar, em muitas comunidades de fé, o trabalho de organização e gerenciamento acaba se tornando tarefa do ministro, do pastor. E, na maioria das formações teológicas, a ênfase reside no estudo bíblico, na vida de culto, no ensino da teologia em si e não de questões operacionais
da vida da igreja em seu dia a dia. Isto é, existe um pastorcentrismo
que, além de sobrecarregar o trabalho do pastor, anula a distribuição de dons (de capacidades e responsabilidades) de todos os membros do corpo de Cristo que é a comunidade de fé. Afinal, todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo
(1 Co 12.12b). Isto é, refletindo a partir das ponderações do Apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios, todas as pessoas desempenham (para não dizer que deveriam desempenhar) funções específicas na igreja, a partir de suas aptidões.
Em segundo lugar, há, em muitas religiões, ou melhor, em muitas confissões religiosas dentro do cristianismo (para usar como referência a religião dominante no Brasil), uma ruptura muito radical entre as coisas do mundo
e as coisas de Deus
. E toda postura radical traz suas consequências. Nessa direção, vale a admoestação de Paulo aos Romanos de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus
. Ora, Deus se revelou no mundo por meio de Jesus Cristo, atuou neste mundo, em favor deste mundo e das pessoas que nele habitam, caso contrário, ao invés de ter morrido na cruz, poderia ter arrebatado as pessoas para uma vida no reino. O mesmo se repercutiu em relação ao dilúvio, quando Deus se arrependeu do que fez. Isto é, há uma aposta de Deus em favor das pessoas e do mundo que ELE criou. Ademais, a fé cristã se articula dentro dos valores ou em diálogo com valores de uma sociedade, compactua de uma mesma linguagem (que torna a própria comunicação da mensagem possível). Isto é, as igrejas, mesmo que apresentem a mensagem que proclama um novo mundo regido por Deus, existem neste mundo
e têm sua missão com este mundo, com seus inúmeros desafios, mas também com seus inúmeros sinais de esperança da revelação e da ação do Espírito de Deus no nosso mundo, o que nos leva ao terceiro apontamento.
Portanto, em terceiro, considerando que as comunidades de fé – as igrejas – são organizações sociais, regulamentadas, possuem uma missão e um compromisso social (a transformação da realidade), lidam com pessoas etc., e não têm como não fazer parte do mundo (isto é, lidam com as dinâmicas da vida e da organização humanas, participam de cultura, respondem à legislação, lidam com organização financeira – dentro dos parâmetros que regem o mundo, como as dinâmicas do capitalismo, por exemplo), nós chegamos ao propósito deste livro.
A principal contribuição deste singelo e pertinente livro reside em reunir e adaptar diferentes técnicas e conhecimentos provenientes da Administração, da Comunicação, da Publicidade, da Gestão, do Marketing para a edificação e a sustentabilidade das igrejas. Nessa direção, o livro funciona como uma espécie de manual, organizado de maneira didática e acessível, para que lideranças de comunidades de fé possam afinar seus valores religiosos com sua identidade, sua história e sua missão como serva de Deus; para que lideranças possam qualificar, planejar e avaliar suas ações em prol do crescimento e da edificação da comunidade; para que lideranças possam organizar seu trabalho e suas finanças, de modo a garantir a sustentabilidade da igreja. O livro traz exemplos, exercícios práticos, ilustrações que possibilitam estudos em grupo e o aprendizado de uma maneira bem prática e interativa. A obra conversa diretamente com a pessoa leitora, de modo que ela estará interagindo diretamente com o texto e gestando inúmeras ideias para qualificar a vida comunitária e as ações de missão da igreja. E isso não é pouca coisa.
A obra é resultado de um estudo sério, sistematizado, dentro de um dos programas mais qualificados de Mestrado Profissional em Teologia do país, cuja proposta reside justamente em problematizar acadêmica e cientificamente uma demanda religiosa social do dia a dia, à luz do referencial teológico, a fim de trazer um novo olhar, uma sugestão, um caminho para a dissolução dessa demanda. Nessa direção, o autor, Francys Resstel Del Hoiyo, com maestria, ponderação e comprometimento, busca reunir o melhor de dois mundos: o da Administração e das inúmeras ferramentas de gestão e o da religião, de modo que, ao final da leitura, terá o instrumentário necessário para pensar estratégias de qualificação da vida e das práticas de sua igreja.
Todas as coisas que foram criadas e desenvolvidas, todo o conhecimento acumulado visa a uma única coisa: a melhoria da qualidade de vida. E por que não pensar na qualidade de vida de nossas igrejas, das relações que são gestadas? O