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O Relatório Floraí
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E-book329 páginas4 horas

O Relatório Floraí

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Sobre este e-book

A aconchegante cidade de Floraí, no norte paranaense, é o palco deste Romance Policial de Ficção. A trama gira em torno de uma garota floraiense que, com sua esperteza e perseverança, encontra um rapaz ferido em um tiroteio e, a partir daí, não descansa até encontrar a verdade sobre aquilo. A investigação desta ocorrência leva os personagens ao incrível e fantástico mundo científico, a diversas aventuras inusitadas e a conhecer inúmeras e incríveis curiosidades. No desenrolar dos fatos é, também, abordada a incrível saga dos desbravadores no norte paranaense, e, é claro, divertidas aventuras, com humor saudável e inteligente, pitadas filosóficas , além do romance, propriamente dito, cheios de flertes e situações inusitadas. Tudo com uma linguagem simples, de fácil leitura e com características e trejeitos regionais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de nov. de 2015
O Relatório Floraí

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    O Relatório Floraí - Darci Men

    O RELATÓRIO FLORAÍ

    e a

    Quinta Força da Natureza

    Por Darci Men.

    __________

    São Paulo – SP, Primeira edição, Edição do autor, Novembro de 2015.

    __________

    Oh! Bendito o que semeia livros... Livros à mão cheia... E manda o povo pensar! O livro caindo n’alma, é germe – que faz a palma, é chuva – que faz o mar.

    (Castro Alves)

    Neste mundo em que vivemos nada é mais devastador do que a obediência cega dos ignorantes. - (Darci Men).

    __________

    Ficha cartográfica: Projeto e autoria: Darci Men, Revisão e diagramação: André Inocêncio, Fotos e ilustração: Darci Men, Capa: André Inocêncio, Apresentação: Cleonice Men da Silva Ramos, Primeira edição: Novembro de 2015 (edição do autor), ISBN: , Observação importante: Esta é uma obra de ficção e poderão ocorrer coincidências de nomes, datas, lugares e até fatos, Direitos reservados: Todos os direitos foram reservados, ficando proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem a prévia autorização do autor, Agradecimentos: Não poderia deixar de agradecer a todos que colaboraram e me incentivaram para que esta obra se tornasse realidade, em especial a minha esposa Angélica. É para todas estas pessoas que dedico este livro. De coração, os meus mais sinceros agradecimentos, Nota de esclarecimento: Foram empregados muitos esforços, técnica, zelo, e, acima de tudo, muito carinho na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou mesmo dúvidas conceituais. Em qualquer das hipóteses, solicito a comunicação para que se possa corrigi-los ou até mesmo esclarecer a questão. Assim, antecipadamente agradeço qualquer colaboração.

    Darci Men-men.darci@gmail.com

    __________

    ÍNDICE: I - Apresentação – (Cleonice Men da Silva Ramos), II - Breves Notas do Autor, III - Prólogo - A Tragédia da Zero Hora, IV - A Terra dos Pés Vermelhos e as Origens Tupis-Guaranis, V - A Tragédia da Rodovia, VI - Um Garoto Genial, VII - Uma Garota Alegre e Sensual, VIII - O Relatório Floraí e os Mistérios da Natureza, IV - O Bebê de São Nicolau e a Dura Vida do Nico, X - O Fim do Sequestro e a Festa Inesquecível, XI - O Segredo e a Investigação Policial, XII - O Desaparecimento do Beto, XIII - O Incrível Passado do Nico, XIV - História do Morto Rocha e dos três pelados, XV - Epílogo – O Reencontro.

    __________

    Sobre o autor: Darci Men é cronista, contista, escritor e poeta, não necessariamente, nessa ordem.

    Escreveu várias obras. Entre elas o livro: O Mistério da Kanata, e diversas crônicas e contos, vários deles publicados no Blog WWW.cachorrosolitario.com.br

    , tais como: Os Ossos do Imperador, O Reino do Faz de conta, A Divina Proporção, A Mulher dos Meus Sonhos, Portujures e tantos outros, além de participar da revista temática Latido BR, também publicada no Blog acima.

    Foi bancário por vários anos, contabilista e gerente financeiro, mas o seu hobby é a literatura.

    Paranaense, de Maringá, viveu toda a sua infância e juventude em Floraí, também no Paraná.

    __________

    I – APRESENTAÇÃO

    Ensina a sabedoria popular que plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro completam a vida de uma pessoa. O autor já fez tudo isso mais de uma vez. Terminado, porém, este novo livro, deve ele estar tomado pelo sentimento de incompletude, que por certo o anda forçando a preencher páginas e páginas a cada dia. Que venham, então, mais obras como esta!

    Intrigante e divertido, o romance nos prende sem esforço. A história se passa na saudosa Floraí da infância e adolescência do autor, carregada de brincadeiras e aventuras. O poder de evocação alia sensibilidade e respeito pelo vivido, sentido, conhecido e imaginado, numa idealização pitoresca e extremamente bonita.

    A força da trama desse romance policial ficcional mantém-se em particular pelo mistério em torno de um rapaz. Uma moça curiosa, bela e astuta, torna-se participante ativa no enredo. Flertes, sentimentos ternos e certos atrevimentos animam o encadeamento das ações com personagens alegres e singulares.

    Nascida e também crescida em Floraí, senti repassar pela memória o episódio do homem da cobra, a ponto de voltar a me entrar pelas narinas o cheiro das ervas medicinais expostas na rua. Ainda mais forte foi a evocação do castigo de ajoelhar no milho, com reflexo imediato de massagear os meus joelhos doloridos de menina...

    Interessante é como o enredo mistura na justa proporção sentimentos humanos, curiosidades e até pitadas filosóficas. Os hilariantes trechos da milenar sabedoria chinesa, do Napoleão e o prego, de Hipátia da Alexandria, da sigla PR e da salada energética deliciaram-me de verdade!

    A todos, boa leitura!

    Cleonice Men da Silva Ramos.

    __________

    II - BREVES NOTAS DO AUTOR

    Alguém disse que o homem atual é o elo perdido entre os macacos e o homem civilizado.

    Talvez pensando nisso eu tenha escrito este livro.

    Ele não é só uma homenagem aos 60 anos de emancipação política da minha querida Floraí, onde vivi a minha infância e juventude. Também não é só uma forma de divulgar as coisas do nosso querido, mas ainda pouco conhecido Paraná. Também não é só um apanhado de inúmeros fatos pitorescos, diversas histórias engraçadas e muitas curiosidades interessantíssimas sobre vários temas, em especial o nosso Universo. Tampouco, é só um romance policial de ficção de gente como a gente, dos humanos dos nossos dias.

    Esta obra é, acima de tudo, uma experiência nova, quase um apelo para que todos reflitam mais sobre a vida, incentivando mais a leitura e o saber, pois Buda nos ensinou: o verdadeiro conflito não é entre o bem e o mal, mas entre o conhecimento e a ignorância.

    Embora este livro contenha, também, assuntos sofisticados, como as questões de física, por exemplo, eu fiz questão de escrever de uma forma simples, na terceira pessoa, de maneira um pouco diferente. Assim, o objetivo é que o romance seja de fácil leitura, com diálogos acessíveis e bem humorados, de forma que o leitor sinta-se confortável, como se estivesse conversando em uma roda de amigos.

    Espero ter alcançado o meu objetivo, desejando que a paz esteja com todos.

    Darci Men.

    __________

    III – PRÓLOGO - A TRAGÉDIA DA ZERO HORA

    Naquela noite o simpático e dedicado guarda noturno Antenor estava entediado. Ele sentia aquela sequência de ciclos repetitivos em sua vida com a monótona rotina de casa para o trabalho e vice-versa, além da irritante mesmice das suas funções de vigilante que nunca apresentava qualquer novidade. Tudo era sempre igual, dia após dia.

    E, naquele momento, quando foi abrir o portão da empresa para um funcionário sair, pensou:

    - Droga! Isso é hora de sair do serviço? Esse cara devia é estar dormindo! Acho que é por isso que ele é tão sisudo e mal-humorado. Eu não tenho sorte mesmo, naquele carro, ao invés daquele barbudo mal- encarado, bem que podia ter uma bela garota, com um lindo sorriso me desejando uma boa noite. Será que é pedir demais?

    Mas a realidade era diferente e o senso de responsabilidade dele falou mais alto. Atendendo às regras, anotou a placa do veículo e olhou para o relógio da parede para registrar em seu relatório, constatando, meio incrédulo, que os seus ponteiros estavam caprichosamente alinhados, um em cima do outro. Era exatamente zero hora. Por um instante, ficou em dúvida sobre como deveria registrar e acabou anotando 23h59min. Em seguida foi cumprimentar o funcionário que saía e, apesar de não simpatizar nem um pouco com aquele elemento, procurou ser o mais gentil e educado possível:

    - Boa noite senhor Antonio. Como tem passado? Está muito quente hoje não acha? A porta do seu carro não está bem fechada. Já está começando um novo dia, o senhor não acha que está trabalhando demais?

    O homem nada respondeu, limitou-se a fazer um leve aceno com a cabeça, fechou corretamente a porta do carro e arrancando-o bruscamente, foi embora. Antenor, enquanto fechava o portão, voltava com os seus pensamentos:

    - Esse cara é esquisito mesmo, nem parece que é da minha terra! Deve ter muitos grilos naquela enorme e desproporcional cabeça pra ser

    tão mal-humorado. E aquela barba de bode então? Aquilo deve ser um criadouro de piolhos, sustentados por uma colônia inteira de sarna. Deve existir algum motivo muito sério pra esse cara nunca conversar com ninguém. Ele nem é capaz de dizer um bom dia, uma boa noite, como pode? Ah! Minha garota do sorriso lindo, onde está você?

    Antenor enxugou o suor da testa na manga do uniforme e pensou em seu colega José: - onde estaria? - Enquanto procurava o colega e apesar do horário, sentia a alta temperatura naquele final de inverno paulistano, que, com um clima seco, com pouquíssima umidade no ar e bastante poluição, aliado a aquele incessante tédio, criava uma sensação desconfortável e irritante. Naquele momento específico, ele não conseguiu esquecer as suas origens e bateu nele aquela saudade de quando vivia no interior, onde as pessoas eram amigáveis e as noites eram tranquilas, refrescantes e gostosas.

    Ele trabalhava naquele prédio há mais de um ano. Como sempre fazia em seu turno de trabalho, mantinha-se atento às diversas câmeras de vigilância instaladas. De hora em hora chamava pelo rádio comunicador o seu colega José, o qual tinha a função de vistoriar periodicamente as dependências da empresa e, depois de confirmar que estava tudo em ordem, ouvia músicas sertanejas em seu pequeno rádio de pilhas.

    Mas, precisamente naquela zero hora, o José não respondeu a chamada e o Antenor pensou: o danado deve estar dormindo novamente! Ele voltou a chamar diversas vezes sem qualquer resultado. Enquanto isso, já preocupado, examinava todas as câmeras na tentativa de localizar o colega, até que, em uma delas, notou um vulto estranho. Já ia acionar o alarme só que não teve tempo, pois alguém o golpeou por trás, fazendo-o perder os sentidos.

    Naquele prédio funcionava um sofisticado laboratório e, apesar da fundação recente, já tinha excelente conceito nos meios empresariais e científicos, justamente pelo brilhantismo e competência de seus físicos.

    Ali, era comum o trabalho até altas horas. Naquele dia, especificadamente, esse horário tinha se estendido um pouco mais e o doutor Nicolau e a Dra. Nancy, ambos PHD em física quântica pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, continuavam seu trabalho totalmente alheios ao que acontecia na área de segurança.

    Naquele fatídico dia, o simpático Antenor, assim como o seu colega José, nada puderam fazer para impedir a invasão do prédio, pois o primeiro foi nocauteado e o segundo amarrado e amordaçado e assim a empresa ficou a mercê de bandidos que começaram a revistá-la em busca de alguma coisa e acabaram por causar um incêndio e uma enorme explosão.

    A chocante ocorrência indicava, ou fazia supor, que a falta de habilidade dos bandidos em remexer em um lugar tão sensível, causou o incêndio e a explosão. O impacto foi tão grande que ocasionou a destruição parcial do edifício, o ferimento nos dois guardas e, o mais grave de tudo, a terrível e lamentável morte dos dois brilhantes físicos.

    Dois meses se passaram e a tragédia ainda permanecia em investigação na polícia, sem apresentar grandes resultados.

    IV – A TERRA DOS PÉS VERMELHOS E A ORIGEM TUPI-GUARANI

    Não muito distante dali, em uma linda, quente e abafada madrugada de domingo, onde a lua se fazia presente com todo o seu esplendor, o seu Vitório e a sua família seguiam na rodovia estadual Urbano Pedroni e seu destino era a sua fazenda na cidade de Floraí, no Norte Paranaense.

    O que nenhum membro daquela família imaginava é que aquele dia marcaria para sempre as suas vidas.

    Por outro lado, não poderia falar sobre o Norte Paranaense, onde esta história se desenrola, sem fazer um comentário mais apurado sobre ele. Isso porque esse lugar, hoje tão pujante, vivo e progressista, até a década de 1950 era um imenso vazio demográfico. Portanto, ainda é jovem se comparado com outras regiões desenvolvidas do Brasil e, tanto sua fascinante história, como o seu atual estágio de desenvolvimento, de certa forma, é pouco conhecida dos brasileiros.

    A maioria de nós está acostumada a apreciar os filmes e as propagandas das mirabolantes e criativas aventuras da ocupação do Oeste Norte Americano. Só que, nós mesmos brasileiros não fazemos ideia da verdadeira aventura que foi a ocupação do Norte Paranaense.

    Nossos heroicos pioneiros, com muitíssimo mais dificuldades que os norte-americanos, com enorme determinação, espírito empreendedor e muita dedicação, domaram aquela temida e densa floresta, trilhando a pé a mata sem caminho e transformando aqueles sertões em campos verdejantes de culturas diversas, além de fundar belíssimas cidades com progressos fulminantes e ordenados. Hoje o norte paranaense é uma das mais ricas e produtivas regiões deste país. E, como já foi dito, ainda é pouco conhecida dos brasileiros, advindo daí a necessidade e até da obrigação deste comentário.

    Não poderia deixar de comentar também sobre a principal característica desse lugar, ou seja, a terra vermelha do basalto, rica em dióxido de ferro e excelente para a agricultura. Estou falando da famosa "terra roxa", assim chamada equivocadamente, pois o nome deriva do dialeto dos imigrantes italianos que a chamavam de terra rosso (terra vermelha). Também desse solo fértil, vem a denominação de "pé vermelho", como são chamados carinhosamente aqueles que nasceram ou são moradores do norte paranaense.

    Bem, seu Vitório é um autêntico "pé vermelho" e conhece muito bem a região, pois nasceu e desde então vive ali. Além disso, seu pai foi um dos imigrantes italianos que, na longínqua década de 50, ali se instalou para o cultivo do café. Ele, a exemplo de tantos outros, adquiriu um lote de terra ainda em mata virgem, praticamente sem dinheiro e sem qualquer tipo de apoio governamental, seja ele de infraestrutura ou financeira. Uma coisa de loucos, afirmavam alguns: "Uma terra naquelas condições levaria vários anos para começar a produzir! Isto tudo se desse certo e se nosso herói não acabasse na boca de uma onça, picado por uma cobra ou doente sem assistência médica". Então, hoje podemos dizer que deu certo! E como deu!

    Assim, na época teve os loucos que compraram e, é claro, também teve os loucos que venderam! Essa façanha coube à Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Esta, uma empresa privada nacional, comandada pelo Banqueiro Gastão Vidigal e outros empresários a partir de 1944. Eles deram continuação ao projeto dos ingleses que, desistiram dele, em consequência da Segunda Guerra Mundial. (Tem quem afirme que esse empreendimento foi o mais bem-sucedido processo de reforma agrária do Brasil).

    Pois bem, voltando ao seu Vitório, naquele sábado para domingo ele e a sua família tinham participado de uma festa de casamento na vizinha cidade de Mandaguarí e estavam, em dois carros, retornando para casa. No carro da frente ia ele, sua esposa Catarina, a filha Antonieta (a Toni) e a amiga Priscila (a Pri). No segundo carro ia o filho dele Rogério, a sua esposa Carla e os filhos, ainda adolescentes, Pedro e Carmen. A festa esteve boa e durou até a madrugada, consequentemente todos estavam cansados, alguns cochilavam, exceto a Toni, que em sua característica especial, mantinha-se atenta a tudo.

    A Toni é uma garota diferente das demais moças da sua idade. Jovem ainda, com seus 24 anos, mas bem adulta mentalmente. É, também, inteligente, perspicaz e, ao mesmo tempo em que mantém uma cultura refinada e acima da média, também é capaz de viver o dia a dia de forma simples, quase rústica. Embora seja a caçula daquela família, desde pequena foi o homem da casa, como é comum dizer por aquelas bandas. É ela quem cuida da fazenda e dos negócios do pai, já que o irmão decidiu seguir a carreira bancária. Assim, é comum vê-la montada em um cavalo percorrendo a fazenda, em cima de um trator agrícola remexendo a terra, dando ordens aos empregados, negociando os produtos agrícolas e firmando contratos com gerentes de bancos da região.

    Ela não é um exemplo de beleza. Magra, de cabelos ruivos e curtos, estatura mediana e rosto bem claro, contrastando com os seus olhos escuros e penetrantes, fazendo dela uma figura marcante e sem igual. Ela tem um corpo belo e esbelto, mas sem a vaidade comum das jovens da sua idade e descuida um pouco da sua aparência. Normalmente ela usa calças de jeans surradas e camisetas de algodão e, raramente, usa um vestido ou um sutiã, pois, como já foi dito, tem o corpo esbelto e seus seios são uniformes e bem firmes. Na Faculdade era conhecida como a "Barbra" (uma alusão à sua aparência com a cantora americana Barbra Streisand), pois ela não tem só a aparência dela, mas também aquele jeito especial de ser, cativante e dominador ao mesmo tempo. Enfim, ela cultiva uma feminilidade diferente, com um charme todo especial e intrigante.

    Ela também sempre foi uma líder nata, de personalidade forte e comunicativa e, ao contrário da amiga Pri, que é uma namoradeira incorrigível, Toni raramente namora. Mesmo quando cursou a faculdade ela foi assim e ainda permanece solteira e nem sequer tem um namorado fixo. Esse seu jeito especial de ser trouxe-lhe alguns dissabores e existe quem a chame, equivocadamente, de O Toni.

    Tudo corria bem naquela madrugada quente e enluarada, mas a Toni estava preocupada, pois insistira com o pai para dirigir o carro, porém ele, em seu estilo de patriarca italiano, não permitiu. Ela então, temendo que o velho dormisse ao volante, procurou conversar com ele sobre o primeiro assunto que lhe veio à cabeça:

    - Viu pai? Passamos por Castelo Branco e não tinha sequer uma alma viva nas ruas.

    - O Iroí? – respondeu o pai meio irônico. - Sempre foi assim filha e não vai mudar tão cedo!

    - Não é Iroí pai. – corrigiu a filha. – Faz muito tempo que a cidade se chama Presidente Castelo Branco.

    - Nem tanto tempo assim! – argumentou o pai. – É que você acabou de sair da casca do ovo. Acontece que eu já vi muita coisa nesta vida e uma delas aconteceu em 1964/65, quando os políticos paranaenses quiseram puxar o saco dos poderosos da época. O resultado aí está: mudaram o nome da cidade com o único objetivo de homenagear o primeiro presidente da ditadura militar. No entanto, para mim, sempre será Iroí.

    - Pois é pai, conhecendo o senhor como conheço, eu aposto que se lembra de tudo dessa época, detalhe por detalhe, ou estou enganada? – perguntou a Toni, tentando manter a conversa e com isso o velho atento.

    - Você não se enganou e é claro que me lembro! - respondeu o velho, com certo orgulho. – Só que os pormenores eu fiquei sabendo depois. Na época era garoto e não dei muita atenção ao fato. Dizem que o governo paranaense assim procedeu como uma espécie de agradecimento pela construção da Rodovia do Café (BR 376, trecho de Apucarana a Dourados). Interessante é que essa rodovia foi construída com financiamento do BID, por intermediação direta do então presidente americano John Kennedy e até cogitaram dar o nome do homem à rodovia. Porém, por algum motivo que desconheço isso não aconteceu. Fizeram até um belo busto dele para o dia da inauguração, agora, onde está hoje esse monumento, ninguém sabe e ninguém viu.

    A Toni ficou pensando por um tempo, como se estivesse refletindo sobre alguma coisa importante, até que comentou:

    - Sabe pai, existem coisas que a maioria das pessoas simplesmente ignora e o significado ou a origem do nome das cidades ou lugares é uma delas. É comum as pessoas saberem detalhes sobre coisas sem importância, como os times de futebol, artistas e as telenovelas, por exemplo, e não sabem nada sobre a origem ou a história do nome da sua cidade ou mesmo da própria rua onde moram.

    - É verdade filha! – confirmou o velho. – As pessoas não se lembram disso. Também ninguém ajuda! As entidades públicas e os meios de comunicação que deveriam incentivar esse conhecimento não o fazem ou fazem justamente o contrário e dificultam ainda mais o acesso a essas informações. Isso é uma pena, porque geralmente tais histórias são bem interessantes.

    - Pois é pai, põe interessante nisso! – confirmou ela. - Eu, como o senhor disse, "acabei de sair da casca do ovo", contudo, sou curiosa e sei de muita coisa. Veja o nosso Paraná, por exemplo. Sabia que a maioria dos nomes das cidades do nosso estado teve origem na língua Tupi-Guarani? O Iroí, que o senhor acabou de falar, é uma delas e esse nome, na língua Tupi, significa água fresca ou fria; assim como Ivaí, que significa água doce.

    - E Mandaguari? – perguntou o pai. – Também vem da língua Tupi?

    - Vem sim pai! – respondeu ela, agora mais feliz ainda porque o velho mantinha o interesse na conversa. Ela pensou um pouco e continuou:

    - Pai, eu não sou só uma paranaense qualquer, eu conheço a minha terra e fiz questão de me especializar na cultura dessa região. Se o senhor quer mesmo saber, as cidades de Mandaguari e Mandaguaçu, além de ambas advirem da língua Tupi-Guarani e terem nomes parecidos, também têm significados parecidos, pois significam, respectivamente, abelha pequena e abelha grande.

    - Agora é que fiquei mesmo interessado. – falou o velho, com o seu jeito brincalhão de falar. - Se for mesmo uma especialista, fala aí o nome de outras cidades de origem Tupi.

    Vou tentar lembrar, são tantas! - respondeu ela, toda feliz. - Tem, por exemplo: Tamboara, que foi um famoso chefe indígena Tupi; tem Peabirú, que significa caminho amassado; Iguatemi, que quer dizer rio ondulante; Japurá que vem do nome de uma tribo indígena chamada Japurás; Guarapuava, significando lugar do uivo do lobo, ou ainda Iapó, significando lugar que alaga e a própria capital Curitiba não foge da regra, que significa pinheiral.

    - Espere aí Menina! – exclamou o velho com ar superior. – Iapó não é nome de cidade, pelo menos não que eu conheça!

    - Hã! Muito bem pai! – disse a filha toda eufórica. - Eu sabia que o senhor não ia deixar passar esse erro! Acontece que eu queria falar sobre o Cânion Guartelá e, propositalmente cometi esse erro. Na verdade Iapó é o nome do famoso rio que, em milhares e milhares de anos, esculpiu o famoso Cânion, que fica próximo de Ponta Grossa e do Parque Estadual de Vila Velha. Sabia que esse Cânion é um dos maiores do mundo em extensão?

    - Não sabia não! – respondeu o Velho com aquele seu jeitão irônico de falar. – Por incrível que pareça, já fui à quase todos

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