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Interpreto, Logo Prego: princípios práticos para estudar e ensinar a Bíblia
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Interpreto, Logo Prego: princípios práticos para estudar e ensinar a Bíblia
E-book232 páginas2 horas

Interpreto, Logo Prego: princípios práticos para estudar e ensinar a Bíblia

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Sobre este e-book

A boa pregação assemelha-se ao prato especial de um restaurante. Antes que esteja à mesa, um processo longo de preparação é necessário. Primeiro o labor, depois o sabor. Interpreto, Logo Prego: princípios práticos para estudar e ensinar a Bíblia é um convite à pregação fiel e relevante. A obra apresenta ferramentas e técnicas que ajudam na difícil missão de construir pontes entre o texto antigo e o ouvinte moderno, confirmando a suficiência das Escrituras para crentes de todas as épocas. O púlpito é a concretização de um trabalho quase sempre solitário, mas capaz de restaurar um número de vidas incontável. Por isso, levar a sério os procedimentos que antecedem a proclamação da Bíblia é mais do que um exercício intelectual: é assumir um compromisso com a proclamação das boas novas.
IdiomaPortuguês
EditoraUnaspress
Data de lançamento15 de ago. de 2022
ISBN9786554050104
Interpreto, Logo Prego: princípios práticos para estudar e ensinar a Bíblia

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    Pré-visualização do livro

    Interpreto, Logo Prego - Carlos Olivares

    A visão da Bíblia como literatura é, aparentemente, uma questão unânime entre os exegetas. O trabalho de pesquisa em torno dos livros bíblicos sempre pressupõe um conhecimento da qualidade literária dos textos pesquisados, incluindo a constatação de estruturas poéticas, a identificação de gêneros e estilos específicos, o reconhecimento de recursos como figuras de linguagem, antropomorfismo, intertextualidade, entre outros.

    Apesar disso, nem sempre os cristãos têm percebido que o estudo literário da Bíblia pode enriquecer profundamente a compreensão de seu conteúdo teológico. O erudito adventista Laurence Turner argumenta que, embora nos últimos 25 anos tenha surgido um grande interesse no estudo literário da Bíblia, muitos autores adventistas não têm apresentado disposição para desenvolver um estudo que englobe a dimensão literária das Escrituras.¹

    O fato é que a natureza historial² das Escrituras está em completa harmonia com a mensagem e a missão da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Afinal, no centro de nossa proclamação está o que denominamos história da salvação. O grande conflito possui um enredo magnífico — com exposição, complicação e resolução. Nessa história, existem recursos como personagens, pontos de vista, ironia, paradoxos, entre outros. Em outras palavras, os elementos de uma narrativa bem elaborada do ponto de vista literário dão forma à nossa teologia.

    A Igreja Adventista tem produzido um vasto material de enfoque teológico, histórico, arqueológico, devocional e apologético de inúmeros textos bíblicos. Contudo, tais análises, fruto de uma abordagem histórico--gramatical, às vezes deixam de explorar plenamente a riqueza dos recursos que constatam a magnificência literária desse livro sagrado.

    A investigação dos aspectos literários do texto bíblico e seu potencial para o enriquecimento da missão da igreja é fundamental para a educação e formação de líderes que desejam transmitir seu amor à Palavra. Se queremos compreender, proclamar e viver melhor a revelação divina — dada por meio de instrumentos humanos —, é fundamental conhecer os estilos literários presentes na Bíblia a fim de que o mundo e a mensagem do autor sejam entendidos.

    Com esses objetivos em mente, este capítulo examinará as virtudes literárias de Isaías 6. O propósito é discutir questões como autoria, estrutura, gêneros e estilos, figuras de linguagem, imagens e intertextualidade.³ Embora os tópicos sejam subdivididos, características literárias serão abordadas de maneira entrecruzada em algumas situações. Evidentemente, o objetivo final do presente estudo não é discorrer de forma exaustiva sobre todos os recursos literários de Isaías 6, mas destacar a importância da análise literária para uma melhor compreensão do texto.

    AUTORIA

    A visão do capítulo 6 apresenta um locutor não identificado. Comumente, presume-se que é o próprio profeta Isaías quem fala aqui. Em seu comentário sobre Isaías 1-33, Watts⁴ observa que essa assunção é baseada tanto na premissa de que Isaías foi quem escreveu o livro, como na alegação de que a narrativa subsequente e as seções autobiográficas (7:1-8:18) formam uma unidade com o capítulo 6.

    Quanto ao primeiro ponto, o capítulo 6 revigora a natureza do livro apontada no primeiro capítulo. O prólogo do livro de Isaías (1:1) indica: Visão de Isaías, filho de Amoz, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá.

    De acordo com esse cabeçalho inaugural, todo o livro é atribuído à visão de Isaías, profeta que, tanto no judaísmo como no cristianismo, é visto como o primeiro a anunciar uma visão de paz futura em que todas as nações peregrinariam ao monte Sião para aprender sobre a Torá de Deus, ouvir suas palavras, transformar suas espadas em arados e não mais realizarem guerras (Is 2:2-4). Isaías é retratado como um conselheiro real que orienta os reis e o povo de Jerusalém e Judá durante as crises da metade final do oitavo século a.C.

    Embora no capítulo 1 o verbo para se referir à visão seja [hazah ver] e não [ra’ah ver], o verbo do início capítulo 6, há diálogo entre os dois textos. Em Isaías 30:10, por exemplo, os plurais de [ro’eh vidente] e [hozeh vidente], as formas substantivadas dos verbos supracitados, são colocadas em paralelo.

    Para Archer Jr.:

    O profeta Isaías [...] era, segundo parece, membro de uma família de distinção e influência. Não somente se registra o nome do seu pai, mas parece ter gozado de familiaridade na corte real mesmo durante o reinado de Acaz. Deve ter sido um estudioso de assuntos internacionais, bem treinado, que gastava a maior parte do seu tempo na cidade de Jerusalém, onde ficava em contato com várias correntes de assuntos nacionais e internacionais. Dirigido por Deus a se opor com vigor a quaisquer alianças embaraçantes com potências estrangeiras [...], sua causa era destinada ao fracasso, sendo que tanto o governo como o povo preferiam confiar na força carnal do que nas promessas de Deus.

    ESTRUTURA EM RELAÇÃO AO LIVRO

    O primeiro passo antes de explorarmos a estrutura interna do capítulo 6 de forma restrita é compreender sua função em relação ao livro como um todo.

    Desde os estudos de Bernhard Duhm,⁹ os pesquisadores tradicionalmente têm reivindicado uma estrutura tripartida do livro de Isaías. Esse entendimento está fundamentado em uma reconstrução diacrônica¹⁰ do livro em relação a uma possível história composicional. De forma simplificada, nessa divisão: (1) o primeiro bloco, capítulos 1-39, teria sido a única parte do livro escrita pelo profeta do oitavo século, Isaías, filho de Amoz; (2) Isaías 40-55, denominado Segundo Isaías, exibiria a obra de um profeta exílico anônimo; e (3) Isaías 56-66, intitulado Terceiro Isaías, apresentaria a obra de escritores anônimos, em sua maioria, posteriores ao escritor de Segundo Isaías.

    Todavia, uma das principais refutações à visão do livro como uma colcha de retalhos é seu argumento interno. O livro de Isaías apresenta uma unidade literária coesa (em relação à vocabulário, expressões, frases, sintaxe e tema) quando estudado de um ponto de vista sincrônico.

    Considerando sua forma final, o livro pode ser dividido em duas partes gerais: a primeira, Isaías 1-33, bloco que projeta um cenário de julgamento para Israel e as nações, incluindo Assíria e Babilônia, no Dia do Senhor, aliado à possibilidade de uma restauração que revela a soberania divina ao mundo inteiro; e a segunda, Isaías 34-66, que não mais apresenta julgamentos, mas, em vez disso, pressupõe que o julgamento do Dia do Senhor contra Babilônia, Assíria e as outras nações já ocorreu e que o tempo da restauração de Jerusalém está prestes a acontecer.

    Essa estrutura geral bipartida desponta, alegando que as tragédias das invasões assírias e babilônicas não resultam de uma falha divina em proteger Jerusalém e a casa de Davi de possíveis ameaças. Pelo contrário, a intenção é apresentar esses eventos como o resultado de um plano que revela a soberania divina sobre soberania sobre todo o mundo. Nessa mesma linha, Marvin Sweeney escreve:

    O livro de Isaías sustenta que as nações agem de acordo com a orientação de YHWH. Assim, YHWH trouxe os assírios para demonstrar ao povo de Israel, Judá e Jerusalém que Ele não era o deus de uma única nação, mas o Deus de todas as nações do mundo. Quando os assírios arrogantemente reivindicaram que eles mesmos, não Deus, detinham poder sobre Jerusalém, também foram condenados por YHWH junto de todas as nações do mundo que podem se exaltar.¹¹

    A mesma lógica de soberania divina perdura na descrição do exílio babilônico e do retorno à pátria.

    Ainda em relação à coesão interna, outros exemplos podem ser encontrados, ilustrando como os dois blocos se relacionam de maneira mais conjugada e precisa. Por exemplo, o primeiro bloco inicia em Isaías 1 com uma convocação aos céus e à Terra para que testemunhem a punição divina sobre Israel, Judá e Jerusalém, enquanto o segundo bloco inicia em Isaías 34-35 com uma convocação aos céus e à Terra para que testemunhem a punição divina sobre as nações e a restauração dos exilados a Jerusalém. A narrativa da guerra siroefraimita em Isaías 7:1-9:6 retrata a falta de confiança divina do rei Acaz quando sua nação se depara com uma invasão, e a narrativa de Isaías 36-39 retrata o apelo divino feito pelo rei Ezequias quando enfrenta uma invasão assíria.¹²

    De modo mais restrito, Isaías 6 é o centro de uma subunidade dentro do primeiro bloco do livro. Consequentemente, o capítulo parece assumir o caráter de transição dessa subdivisão.

    Isaías 6 dialoga fortemente com o capítulo anterior (capítulo 5) ao atestar que o profeta vivia, de fato, entre um povo de lábios impuros. Além disso, fortes ecos emergem entre os ais encontrados no capítulo 5 direcionados ao Israel infiel (v. 8, 11, 18, 20-22) e o ai de Isaías 6:5 quando o profeta reconhece sua impureza em contraste com a santidade e glória divina.

    Diretamente relacionado a isso, os primeiros cinco capítulos do livro suscitam um problema: como o arrogante e pecador Israel pode se tornar o povo santo de Deus, que ensinará suas verdades às nações? A resposta começa a ser apresentada em Isaías 6: Israel se tornará servo quando experimentar como nação o que o profeta Isaías experimenta individualmente em visão. A experiência do profeta deve se tornar uma experiência de todo o povo.

    Contudo, Isaías 6 também funciona como uma introdução aos capítulos 7-12 na medida em que essa seção cumpre e explica parcialmente as palavras ouvidas na visão do profeta. A pregação de Isaías, de fato, conduz ao endurecimento dos ouvidos e ao fechamento dos olhos do povo de Israel no relato dos eventos da guerra siroefraimita. Mais especificamente na pessoa de Acaz, o resultado é evidente (Is 7:1-9, 12). Em um sentido real, a destruição de Judá pelas mãos da Assíria é fruto da recusa de Acaz ao convite de Isaías (8:6-8; 6:11, 12). Assim, a nação foi cortada, restando somente os tocos (10:33, 34), tal qual o profeta Isaías havia dito (6:13). No entanto, em um desses tocos, há ainda possibilidade de vida, dando assim, oportunidade à nação para que aprenda a confiar em Deus (11:1-12; 6:13).

    Sendo assim, por sua localização estratégica, é possível vincular o capítulo 6 tanto aos capítulos 1-5 como a 7-12.

    Além de operar encadeando os dois blocos, outro detalhe estrutural do capítulo 6 merece ser destacado. Dentro da segunda metade (7-12), para a qual o capítulo 6 serve como transição, nota-se uma harmonia textual ligando os capítulos 6-8. Essa subseção está organizada em um padrão: narrativa autobiográfica – narrativa biográfica – narrativa autobiográfica. Por esse motivo, alguns denominam essa subseção de memória do profeta. Joseph Blenkinsopp¹³ afirma que essa disposição é similar à de Oseias 1-3.

    Analisando essa compreensão especificamente em relação a Isaías 7 e 8, nota-se que uma manifestação notável dessa relação se dá através do nascimento dos filhos. O capítulo 8 retrata Isaías em um papel similar ao de Oséias, pois ele é ordenado a ser pai de uma criança cujo nome carrega um significado simbólico. O nome dado ao filho de Isaías é Maher-Shalal-Hash-Baz, que pode ser traduzido como Rápido-despojo-presa-segura. O significado da criança é decifrado de um modo similar ao de Emanuel no capítulo 7, atestando assim mais um elo de coesão nessa seção de 6-8. Antes que ambas as crianças atinjam a maturidade, algo significante acontecerá. De acordo com o capítulo 7, antes que Emanuel coma alimento sólido ou desenvolva a habilidade de fazer julgamentos morais independentes, a coalizão siroefraimita desmoronará. De acordo com o capítulo 8, antes que Maher-Shalal-Hash-Baz aprenda a falar, a Assíria despojará tanto Israel como Síria. A mensagem transmitida por ambas as crianças é a mesma: o fim dos inimigos de Judá é iminente. Além disso, nos dois episódios em que ouvimos sobre essas crianças, o profeta informa as implicações negativas do que poderiam ter sido boas notícias para Judá, a saber, que também sofreria nas mãos dos assírios se não dependesse completamente do Senhor.

    Assim, o caráter de memória dessa unidade de três capítulos se torna mais evidente ao final do capítulo 8. Há uma atmosfera mais pessoal depois do relato desses eventos. Enquanto em capítulos anteriores e posteriores Isaías tinha sido endereçado a questões ligadas a todo o Israel, agora Deus se comunica com ele de modo pessoal.

    Contudo, o próprio profeta compreende que essa exclusividade na comunicação não é um fim em si mesmo. Em Isaías 8:16-22, o elemento final dessa narrativa memorial é um testemunho em forma de ensinamento, torah (v. 16, 20). O ensinamento verdadeiro é disponibilizado àqueles que o buscarem através da preservação do testemunho do profeta. Logo, o memorial não somente oferece um relato do comissionamento do profeta, mas também um relato de sua obra durante a crise siroefraimita. Essa seção atua como uma testemunha da preservação da verdadeira torah em tempos de adversidade e instabilidade.

    ESTRUTURA INTERNA DO CAPÍTULO

    Após verificarmos a função do capítulo em relação ao livro como um todo, cabe analisar como o capítulo 6 se organiza internamente. De que maneira Isaías 6 está estruturado? Quais são as cenas que marcam esse capítulo?

    Isaías 6 parece estar estruturado em cinco partes: (1) uma cena inicial na qual aparece o trono de Deus (v. 1-4); (2) uma cena retratando a purificação do profeta (v. 5-7); (3) uma cena de comissionamento a este povo (v. 8-10); (4) uma cena de diálogo marcada pela pergunta até quando? (v. 11); e (5) uma cena relacionada à possibilidade de um remanescente do povo (v. 12, 13).

    Cada uma das cenas se movimenta tomando emprestados elementos do que foi dito anteriormente e expandindo as ideias adiante. Vislumbrando a santidade divina, a incapacidade do profeta se torna mais evidente. Assim, a cena da purificação dialoga diretamente com a anterior. Estando agora purificado, o profeta se coloca à disposição para ser enviado ao povo. Antes de ser enviado, o ele é advertido quanto à incredulidade e dureza que encontraria como resposta da parte de sua audiência. Na sequência, surge a pergunta: Até quando? A resposta aponta para devastação e destruição, um cenário completamente sem esperança. Por fim, fala-se sobre a possibilidade de um remanescente, um restante, e sua postura.

    FORMA E GÊNERO

    Os estudos de Isaías 6 geralmente mesclam discussões quanto à forma e ao gênero. Em linhas gerais, a verificação da forma implica avaliar se o texto aparece em prosa ou poesia,¹⁴ enquanto a análise do gênero está relacionada à identificação de subcategorias dentro da prosa (narrativa miraculosa, relato biográfico, relato de ação simbólica, entre outros) ou da poesia (poesias de lamento, poesias da ação de graças, oráculos proféticos, entre outros).

    No AT, a diferença básica entre poesia e prosa não se estabelece pela versificação poética, como pode se verificar em diversas línguas. A diferença se dá pela presença mais acentuada de certos elementos literários comuns tanto à poesia como à prosa. Assim, embora haja sobreposição no uso dos elementos literários comuns a ambas, a distinção é mais quantitativa e não qualitativa. Ou seja, os mesmos recursos (paralelismos, metáforas, hipérboles, oximoros, entre outros)¹⁵ são usados de maneira concentrada e mais frequente na poesia hebraica bíblica.

    O texto de Isaías 6 parece ter sido composto em prosa, não em poesia, principalmente por apresentar elementos comuns tanto ao gênero de relato de visão como aos de relato de chamado e relato de comissionamento.

    Uma das primeiras complicações com a qual todo intérprete de Isaías 6 se depara ao ler o capítulo é avaliar se ele é um relato de chamado profético inaugural ou uma espécie de renovação de comissionamento devido a mudanças no cenário histórico.

    Devido ao fato de Isaías não apresentar um relato de chamado inaugural no início do livro, muitos estudiosos compreendem o relato do capítulo 6 como seu chamado inaugural. Desse modo, Isaías 6 estaria fora de

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