Névoa Vermelha
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Névoa Vermelha - Lilla Martinez
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
Névoa
Vermelha
O início Lilla Martinez
[ 2 ]
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
Dedico este livro a todos
os funcionários da bela
BookStore, de onde tiro
as mais brilhantes ideias.
[ 3 ]
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
Capítulo 1: O Primeiro emprego, ou o quinto
Jovens vão se formando no ensino médio e começam a procurar novos
objetivos de vida, já que o tão esperado (mais pelos pais do que por eles mesmos)
diploma do colégio já foi alcançado. Alguns caem de cabeça em cursinhos para
conseguir uma vaga nas melhores universidades de São Paulo, outros entram em uma
faculdade qualquer e começam um emprego que só lhe permite pagar o curso.
Lilla Martinez tinha cabelos ondulados castanhos escuros com a parte de
baixo pintada de roxo-beterraba, olhos castanhos claros que ela adorava passar lápis
preto bem forte, se sentindo rebelde; um blush suave quase parecendo que suas
bochechas eram rosadas mesmo. Ela tinha um sorriso branco e sempre passava batom
vermelho vivo nos lábios, com dentes grandes e perfeitos, ela conseguia tudo que
queria com um sorriso. Altura mediana e magra, como todos costumavam dizer a ela,
mesmo sempre se achando gorda. Estava sempre com uma cara séria, até perder a
timidez e quem estava por perto notava o quanto ela era palhaça.
Ela já estava na Universidade São Paulo, alguns a consideram a melhor do
país, mas ela odiava aquele lugar, fazia tudo aquilo em agrado aos pais. Então
resolveu fazer algo por ela e começou a trabalhar de sexta, sábado, domingo – só os
piores dias para se trabalhar em um shopping – na livraria. Eram dias agitadíssimos, o
fluxo de pessoas não parava naquela loja. Lilla sempre ficava indo e vindo do seu
setor para poder fazer atendimento rápido tanto nos Caixas (onde trabalhava) quanto
nos setores próximos que precisavam de apoio. Seus pais queriam que a filha largasse
o emprego, só que ela não queria sair; amava o trabalho. Como uma boa funcionária,
se estressava, xingava os clientes mentalmente e depois de um tempo começou a sair
depois do expediente para desabafos e fofocas.
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
Para quem busca o primeiro emprego, o shopping é tentador. Lojas
movimentadas, vendedores lindos e sempre sorrindo, como se fossem as pessoas mais
felizes do mundo. Foi em uma livraria de shopping em que Nina Endo começou a sua
jornada no mercado de trabalho.
***
Nina é oriental, também tinha uma estatura média, magra e cabelo escuro
levemente ondulado. Olhos escuros e delicados. Tem um olhar doce e frágil. Andava
sempre com uma maquiagem leve, um pouco mais forte nos olhos, para realçar seu
olhar oriental. Ela é linda. Sabe aquelas meninas que, por onde passa os homens
olham e querem ter? Essa é Nina. Andava sempre na moda e com um leve ar de
"licença, porque eu sou demais e você não merece minha presença querido". Até
hoje ninguém sabe como, mas ela é pessoa mais simpática que se existiu.
Ela não tinha experiência na área, mas conseguiu ir bem a todas as provas
de admissão para trabalhar no setor infantil. Ela sabia atender, ser simpática, sorrir,
organizar tudo e sempre deixar o setor em ordem. Ela podia odiar aquelas crianças e
seus pais metidos a ricos por comprar um livro de trinta reais aos filhos, porém
achava o trabalho tranquilo e era bom ter um começo até decidir que universidade
cursar.
"Aff, são trinta reais e seu filho terá um pouco de cultura nessa vida,
imbecil". Pensava Nina cada vez que um cliente chorava para pagar mais barato no
livro, enquanto não se importava em pagar duzentos reais em um jogo de tiro que
deixava as pessoas violentas e burras.
Lilla e Nina começavam agora a trabalhar na mesma livraria em setores
diferentes. Essa loja faz treinamentos com os novatos que também é usado como
modo deles se conhecerem. E lá foram elas. O treinamento parecia ser algo chato e
[ 5 ]
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
monótono: uma psicóloga falando dos seis pilares da empresa e da grande
importância que era fazer um bom atendimento.
O que essa mulher sabe de bom atendimento se ela não é vendedora?
–
Lilla pensava toda hora nisso, esperando ansiosamente acabar para poder voltar para
sua casa.
- Bem, agora que vimos os seis pilares, vamos ao coffeebreak e depois
faremos uma dinâmica em grupo. – Falou a psicóloga para alívio de todos. A garota
continuou sentada, observando um rapaz acordar com o cutucão que recebeu. Quando
decidiu sair do anfiteatro ficou observando um grupo de pessoas que trabalhavam
junto a ela. Nina conhecia algumas pessoas e ficou em uma rodinha conversando e
comendo os deliciosos pães de queijo que estavam na mesa.
Sem a menor dúvida os pães de queijo eram o que fazia valer a pena em
todo aquele treinamento, e com certeza ele foi o mais comentado depois disso.
Quando voltaram para o anfiteatro, a psicóloga pediu para dividir em grupos de até
umas sete pessoas. Haviam duplas ou trios de cada loja, porém, a da Mega Center
Norte, seis pessoas estavam presentes, então eles se juntaram, achando que eram os
melhores. Alguns já se conheciam, outros eram completos desconhecidos, como Lilla,
que se sentia fora de todo aquele grupo.
A psicóloga passou a primeira atividade. Rapidamente se uniram e a
fizeram, zombando todo aquele treinamento. Ganharam notas altas e falavam que sua
loja era a melhor. Como estavam na parte mais alta do auditório marrom e bege, se
sentiam mais superiores ainda. Quando chegou a segunda atividade em diante, já não
estavam com a mesma garra, e começaram a ficar para trás na dinâmica.
- Vamos lá gente, nós iremos acertar agora. Demos chance para os outros
grupos ganharem, mas agora é a nossa vez. – Falava Lilla com uma voz serena, um
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
tanto forçada, muito parecida com o modo que a psicóloga falava, alguns perceberam
e riram com ela.
- Qual o seu nome? – A Nina perguntou.
- Lilla e você?
- Nina. Hey, Lilla, você vai para o setor de autoajuda? – Perguntou Nina.
- Eu não, tenho amor a minha vida. Sou parttime.– respondeu Lilla.
Parttime trabalhava apenas de sexta, sábado e domingo. A principio ficaria
apenas no caixa, trabalhando mais horas que os demais. Como um reforço para os
dias de movimento da loja. Mas depois de um tempo, Lilla, virava uma peça que se
encaixava bem em qualquer setor da loja que precisasse. Sendo muito útil para manter
a ordem em dias cheios.
- Então você faz psicologia, né? – Perguntou uma menina baixa e bem
magra, cabelos crespos e escuros, com um alargador estranho na orelha, olhos caídos
castanhos escuros. Seu rosto parecia sempre que ela estava com sono e aquilo tudo era
muito chato.
- Não, não! Eu faço química – respondeu Lilla com risadinhas tímidas.
Não precisa ser um gênio para saber que essa equipe ficou em ultimo lugar
na dinâmica, mas eles não estavam nem aí só queria ir embora.
- Dane-se tudo isso! – Falava a menina baixa de cabelos crespos.
- Muito bom pessoal! Hoje nós fomos gentis e deixamos as outras lojas
ganharem. Isso que é ter um bom coração. Parabéns! – Lilla disse ao grupo com
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
aquela voz serena de quem esta zombando os psicólogos. Todos riram e foram
embora.
***
Passado alguns meses chega ao setor infantil da loja uma menina baixa e de
peles negras. Cabelos alisados com as pontas formando um cacho muito bem feito.
Um sorriso branco que era capaz de iluminar o lugar que entrava. Olhos escuros e
cílios imensos e negros. Ela vestia-se de modo bem formal, com uma blusa de lã com
gola em V que formava um leve decote. Estava sempre sorrindo, que se mostrava
muito animada por estar ali. Essa é Gabryella Assumpção. Uma garota doce e
inocente.
Esse é o quinto trabalho da Gabryella. Em geral ela trabalha por menos de
um ano e muda. Parece ser uma garota estranha. Alegre e muito empolgada todos os
dias, inclusive as segundas-feiras. Ela não fala da família, disse apenas que mora com
uma amiga e que ainda não começou a faculdade.
Gaby e Nina trabalham juntas no setor infantil, usando avental amarelo na
BookStore. Lilla vivia indo lá, ajudar as meninas e conversar com elas. Começando
assim uma amizade entre as três garotas. No fim do expediente elas saiam para comer
um doce. Tentar se acalmar após o dia cheio.
- Meninas, vocês viram aquela menina que estava na loja? Ela comprou um
livro do setor de vocês. – Começou Lilla enquanto comia seu sundae de chocolate
grande com canudos de chocolate.
- Aii, aquela com a cara de Patati-Patatá? – Perguntou Nina, que comia o
seu grande sorvete de Ovomaltine com calda extra de chocolate DUPLO.
[ 8 ]
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
- Essa mesma! Ela ficou no caixa gritando com as amigas porque não
pegaram o CD daquele cantor viadinho. Na boa, ela tem mão, o que custa ir ela
mesma buscar? – Disse Lilla.
- Ah gente, para. Às vezes ela não podia ter ido buscar. Estava com pressa e
precisava muuuuito do CD e do livro né. – Respondeu Gabryella. Nina e Lilla
jogaram aquele olhar perverso revirando os olhos. – Está bem, não defendo mais a
cara de Patati-Patatá.
Todas caíram na gargalhada e continuaram a comer seus sorvetes falando
dos homens lindos, altos e loiros que passaram na loja falando francês.
Assim começa uma nova amizade, um trio inseparável. Gabryella a parte
inocente que vê bondade em tudo e todos. Nunca enxerga o defeito dos outros. Já
Lilla e Nina, bem, essas não precisam ir ao oculista, conseguem ver bem como são as
pessoas e não cansam de lembrar a si mesmas e as novas amigas os pontos negativos
dos outros. Sim, elas são simpáticas, alegres, sorridentes e tudo mais. Só que se mexer
com uma delas, só posso dizer que o jeito de se salvar é mudar de cidade, se possível
do país, pois elas farão da vida da pessoa um verdadeiro inferno.
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
Capítulo 2: Milhões de pensamentos
Lilla crescerá com seus pais e duas irmãs mais novas. Sempre foi muito
independente e sempre soube se virar. Ela nunca desistia de suas ideias, e ninguém
nunca tentou convencê-la do contrário. Quando começou a faculdade de química
achava que seria algo legal e que seria feliz com algo que foi boa no ensino médio e
ganhou destaque onde estudava nessa matéria. Mas com o passar do tempo o curso se
tornou um porre e começou a trabalhar para poder aguentar tudo aquilo. Ela gostava
da vida corrida e poder se sentir importante. Aulas em período integral durante a
semana, trabalho nos fins de semana, onde não parava um minuto.
Lógico que o jeito prático dela ajuda muito. Qualquer pessoa que chegava com
um problema, Lilla pensava por dois minutos e já apresentava planos A, B e C de como
resolver tudo aquilo. Na maioria das vezes não entendia porque as pessoas faziam tantas
besteiras na vida se era tão fácil tomar cuidado e pensar. As pessoas acham que Lilla age
por impulso, só que não sabem que, quando ela começa a agir, já pensou em tudo e sabe
como resolver os eventuais problemas que podem surgir.
***
Nina sentia falta da sua vida baladeira, sentia falta de poder sair aos sábados à
noite com os amigos e voltar no dia seguinte em um carro importado com um cara lindo
dirigindo, o qual ela não sabia o nome. Nina sabia como fazer os homens a mimarem.
No dia em que estava de folga do trabalho, ela foi até um pub na região da Paulista e
conheceu um gringo lindíssimo. Um loiro, alto, musculoso, de olhos verdes muito
intensos. Ele estudava em Oxford e fazia parte do time de rúgbi. Era só isso o que Nina
lembrava.
[ 10 ]
Névoa vermelha, por Lil a Martinez
- Lilla, aquele homem é perfeito! Eu devia ter pedido o telefone dele,
perguntado o endereço e me mudado pra Inglaterra. – Nina contou às meninas
enquanto devoravam uma deliciosa pizza Brasileira na Pizza Hut. Lilla ria e
concordava com a amiga.
- Não, Nina, você não pode nos abandonar por um carinha qualquer. Você
não o beijou, né? – Perguntava Gaby, assustada com o fato de a amiga ficar
conversando com desconhecidos no meio da noite.
- Claro que beijei né! O cara era perfeito! Pelo amor de Deus Gaby, você se
preocupa muito. Só dei uns beijos nele e dançamos a noite toda. Claro que ele me
levou em casa, mas aí falei que a noite foi ótima e estava cansada e não o deixei
entrar. Ainda não estou louca. – Nina se defendia e olhava para Lilla, procurando não
rir da Gaby.
- Gaby, você precisa sair um pouco e relaxar, sabe? – Começou Lilla –
Quando você namorar vai ser como? Andar de mãozinhas dadas pelo parque? E
quando casar? Como pretende ter filhos? A cegonha não anda fazendo entregas de
bebês por aí, viu. – Nina começou a rir muito alto junto com Lilla. Todos no shopping
olharam para elas deixando Gaby corada.
- Aaaah gente, para. Quando eu namorar não ficarei agarrando ele, é
nojento. E quando for para ter filhos, bem, aí eu faço né. – Falava Gaby com o rosto
rubro, mas seu tom de voz era calmo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Enfim, – cortou Nina – o cara é perfeito. E acho que semana que vem
volto naquele pub atrás dele. Vocês podiam ir comigo né? Assim posso beber um
pouco mais. – Lilla concordou com a amiga de irem. Gaby hesitou um pouco, mas
acabou concordando, com medo de que Nina passasse mal, e preferiu ir para cuidar.
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
***
No dia seguinte a loja estava cheia. Estavam nas férias de inverno e os
Juvenis viviam no shopping e não compravam nada. Era uma época chata porque
tinham muita coisa para se arrumar na loja ao mesmo tempo em que não havia muitas
vendas entrando. Lilla estava nos caixas, como sempre atendendo freneticamente para
não formarem as gigantescas filas. A gerente da loja vinha em sua direção. Lilla
observou que ela estava com seus cabelos lisos até o ombro e com muitas, luzes o
deixando quase loiro médio, seus olhos castanhos com uma maquiagem impecável,
scarpin preto brilhante fazendo toc-toc-toc enquanto andava pelos caixas, calça social
preta-giz com a camisa rosa por dentro da calça. A calça era de cintura alta e ficava na
altura da cintura, o que fazia a garota sempre pensar "ela precisa tomar cuidado para
não se enforcar com a calça". A gerente sempre andava muito arrumada. Ela se
aproximou de Lilla e disse:
- Lilla, hum, você tem um minuto? – Lilla assentiu e a Gerente continuou –
Essa semana nós teremos o inventário aqui na loja. Parttimes não podem participar,
porém eu falei com a direção e eles concordaram em chamá-la para ajudar. – Lilla
pensou e respondeu que tudo bem. A gerente abriu um sorriso – Ok, então terça-feira
às 21 horas aqui na loja.
A gerente se dirigiu até o setor infantil e chamou Nina e Gaby para
participarem do inventário também. Gaby ficou super feliz, pois são poucos novatos
que participam do tão falado inventário nesta época do ano.
O inventário é uma madrugada em que um grupo de funcionários contam,
literalmente, pela loja todos os produtos para atualizar o sistema. Uma empresa passa
em cada prateleira com um leitor de código de barras e colocam um papel com o
numero de produtos presente naquela prateleira, depois um funcionário da loja passa
contando para ver se está certo. Se tudo estiver ok, o funcionário assina o papel e
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
parte para a próxima, se não ele chama a empresa para refazer aquela prateleira.
Alguns, como a Gaby, começaram a amar o inventário quando souberam que ganharia
extra com adicional noturno no salário por passarem a madrugada lá. Outros como a
Nina achavam tudo aquilo uma merda, mas iria porque de madrugada não havia
cliente para irritá-la.
- Lilla, telefone. – Avisou Fabíola.
Bem, Fabíola não era uma mulher, mas esse foi o nome que as três deram
para o menino de olhos verdes e cabelos totalmente bagunçados, barba malfeita e
roupas que pareciam ser escolhidas por uma criança de três anos. Ele só fazia piadas
idiotas nos caixas, sua idade física com a idade mental tinha uma diferencia
significativa. E ele nunca foi visto com uma mulher, então deve gostar mesmo de
homem né?
A Nina tinha um jeito de definir os sentimentos de Fabíola: "E seu coração
estava sempre em transe, em uma escolha difícil entre meninas, meninos, meninas
que gostam de meninas e meninos que gostam de meninos..." . Um dia foi visto com
uma margarida na mão fazendo bem-me-quer mal-me-quer, mas aparentemente
sempre dava mal-me-quer. Quase chegava a dar dó. Quase.
- Valeu – respondeu Lilla ignorando totalmente o olhar de "por favor, me
beija" que Fabíola sempre tinha sobre Lilla. – Lilla – respondeu ao telefone.
- Oi, é a Nina. Acho que já era o pub, a gerente me chamou para ajudar no
inventário. Que merda, viu! O bom é que não vou aturar os malditos clientes né.
- Ela também me chamou. Achei legal, e o melhor é que aquele ser do caixa
não estará aqui para ficar com aquele olhar depravado sobre mim. Na boa, eu achei
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que ele só beijava rapazes. – Nina riu muito alto e parou quando viu um cliente
chegando.
- Preciso atender. Até depois. Ah, a Gaby também virá ao inventário
- Até.
***
Lilla passava muito tempo pensando no que fazer dali para frente. Se
continuava o curso, se continuava o trabalho.
Ficava no ônibus com o vidro aberto e ignorava todas as pessoas que
reclamavam que estava frio. Para ela, a melhor coisa era um vento gelado, que parecia
chegar a cortar a pele de tão frio. Ela dizia que isso era uma das coisas que a fazia
pensar melhor. Em geral se sentia perdida. Tinha vontade de fazer tudo e achava que
não tinha tempo de aproveitar do jeito que gosta. Queria viajar e conhecer o mundo,
trabalhar, estudar curso ligado à comunicação social, fazer aulas de desenho e alguns
programas de animação. Muitos falavam de Lilla como exemplo de pessoa; seus pais
sentiam orgulho de onde a filha tinha chego até ali (com exceção de trabalhar na
livraria), mas ela nem ligava. Seus amigos já se acostumaram com a correria dela, e
mesmo ela fazendo várias coisas quando precisavam dela, Lilla estava lá.
Como achar tempo para namorar assim? Ela nem sabia o que vestir todo dia
pela manhã, imagine saber se o seu boy magia seria alguém compreensivo que estaria
ao lado dela e a ajudaria? Por causa disso, Lilla seguia sua vida só com amizades. Não
saia como Nina, de ir a pubs e se divertir adoidada com um lindo desconhecido. Ela
curtia mais ficar em casa jogando Xbox, com seu joguinho de dança, tomando
RedBull e comendo esfihas do Habib’s. E quando estivesse cansada colocariam um
filme com a Leighton Meester ou assistiriam Gossip Girl comendo sorvete com
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
chocolate. Claro que nem todos os seus amigos gostavam disso, mas essa era a
definição de noite ideal para ela.
Lilla queria ter mais tempo em sua vida. Se ao menos ela tivesse uma moto,
não gastaria horas e horas no caótico trânsito de São Paulo. Ela só queria poder se
locomover mais rápido para poder ter tempo de fazer tudo que gosta.
***
Nina tinha seus pensamentos agitados. A pressão para entrar em uma boa
universidade era o que mais passava em sua mente. Ela podia ter um ótimo trabalho, mas
diploma é essencial. Ela não gostava de namorar, não agora com tantas coisas pela frente,
e sem contar que amava passar as noites com aqueles gostosos que frequentavam a
Paulista. Um sonho a seguia por anos e anos: ir a Disney. Juntava uma parte do salário
para poder ir para lá. Lia livros sobre isso e separava os melhores hotéis que poderia
ficar. Ela escrevia muito para relaxar, isso a fazia pensar melhor e descansar mais a
mente.
Nina não possuía mais os mesmos horários livres que seus antigos amigos, e eles não
eram as pessoas mais compreensíveis do mundo para isso. Brigavam com ela por
estar trabalhando e não sair com eles. Será que esses pseudo-amigos nunca pensaram
em sair depois do expediente dela? Ou mudar os dias e horários uma vez para
acompanhá-la?
A melhor coisa que Nina fez foi ignorá-los e sair para se divertir com Gaby
e Lilla. Ela queria aproveitar bem a vida, todos os momentos, mas sentia que algumas
pessoas resistiam as suas ideias e isso a frustrava. Ela gosta de se sentir no controle, e
conseguia várias coisas com sua beleza natural e argumentos. Tinham algumas
pessoas que diziam não a Nina – essas vocês podem ter certeza, que a invejava muito
– e ao falar não declaravam guerra, das quais sempre perdia a batalha, o bombardeio,
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Névoa vermelha, por Lil a Martinez
a guerra, os namorados, enfim, perdiam tudo que Nina achava que a pessoa não
merecia ter.
Para ela não importava o que os outros pensavam e sim em se sentir feliz com
tudo aquilo. Queria permanecer acima, no controle e saber exatamente o que passava a
sua volta.
***
A Gaby era o oposto dessas duas. Agia por impulso, isso é, quando agia. Ela
tinha medo de tentar, então sua vida era pacata e sem grandes emoções. Bem, sua vida
era assim, porque quando ficou amiga de Nina e Lilla, tudo mudou. Ela passou a
conhecer gente nova, descobriu suas qualidades com elogios e suportes que recebiam
delas. Ficou mais confiante e um pouco ambiciosa. Mas não era nada quando comparado
ao jeito das amigas lidarem com as oportunidades que surgiam. Gaby fazia