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Névoa Vermelha
Névoa Vermelha
Névoa Vermelha
E-book408 páginas4 horas

Névoa Vermelha

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Sobre este e-book

- O que vocês irão fazer? - perguntou Luana, trêmula. - Só vamos nos divertir um pouco. - Lilla gargalhou. Cada uma segurou firmemente um deles pelo braço, enquanto passavam a corda por seus pulsos unidos. Eles se debatiam, dando cotoveladas sem parar, tentando se livrar desesperadamente. Nina acertou a perna de Justin com a ponta do sapato vermelho, fazendo com que este chiasse de dor. Começavam a sentir uma espécie de medo, sem acreditar que aquelas duas meninas, que um dia foram suas companheiras de trabalho e que aparentavam ser inofensivas, estavam ameaçando-os e planejando fazer algo perigoso. - Não vamos machucar ninguém se colaborarem. - Nina segurava a corda com firmeza, de forma que pudesse deixar claro que não via a hora de usá-la para algo. Seu objetivo era prendê-los, mas não seria nada ruim se pudesse apertá-la em seus pescoços. E os dois pareceram ter entendido o recado, pois ficaram quietos de repente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de set. de 2016
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    Pré-visualização do livro

    Névoa Vermelha - Lilla Martinez

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    Névoa

    Vermelha

    O início Lilla Martinez

    [ 2 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    Dedico este livro a todos

    os funcionários da bela

    BookStore, de onde tiro

    as mais brilhantes ideias.

    [ 3 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    Capítulo 1: O Primeiro emprego, ou o quinto

    Jovens vão se formando no ensino médio e começam a procurar novos

    objetivos de vida, já que o tão esperado (mais pelos pais do que por eles mesmos)

    diploma do colégio já foi alcançado. Alguns caem de cabeça em cursinhos para

    conseguir uma vaga nas melhores universidades de São Paulo, outros entram em uma

    faculdade qualquer e começam um emprego que só lhe permite pagar o curso.

    Lilla Martinez tinha cabelos ondulados castanhos escuros com a parte de

    baixo pintada de roxo-beterraba, olhos castanhos claros que ela adorava passar lápis

    preto bem forte, se sentindo rebelde; um blush suave quase parecendo que suas

    bochechas eram rosadas mesmo. Ela tinha um sorriso branco e sempre passava batom

    vermelho vivo nos lábios, com dentes grandes e perfeitos, ela conseguia tudo que

    queria com um sorriso. Altura mediana e magra, como todos costumavam dizer a ela,

    mesmo sempre se achando gorda. Estava sempre com uma cara séria, até perder a

    timidez e quem estava por perto notava o quanto ela era palhaça.

    Ela já estava na Universidade São Paulo, alguns a consideram a melhor do

    país, mas ela odiava aquele lugar, fazia tudo aquilo em agrado aos pais. Então

    resolveu fazer algo por ela e começou a trabalhar de sexta, sábado, domingo – só os

    piores dias para se trabalhar em um shopping – na livraria. Eram dias agitadíssimos, o

    fluxo de pessoas não parava naquela loja. Lilla sempre ficava indo e vindo do seu

    setor para poder fazer atendimento rápido tanto nos Caixas (onde trabalhava) quanto

    nos setores próximos que precisavam de apoio. Seus pais queriam que a filha largasse

    o emprego, só que ela não queria sair; amava o trabalho. Como uma boa funcionária,

    se estressava, xingava os clientes mentalmente e depois de um tempo começou a sair

    depois do expediente para desabafos e fofocas.

    [ 4 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    Para quem busca o primeiro emprego, o shopping é tentador. Lojas

    movimentadas, vendedores lindos e sempre sorrindo, como se fossem as pessoas mais

    felizes do mundo. Foi em uma livraria de shopping em que Nina Endo começou a sua

    jornada no mercado de trabalho.

    ***

    Nina é oriental, também tinha uma estatura média, magra e cabelo escuro

    levemente ondulado. Olhos escuros e delicados. Tem um olhar doce e frágil. Andava

    sempre com uma maquiagem leve, um pouco mais forte nos olhos, para realçar seu

    olhar oriental. Ela é linda. Sabe aquelas meninas que, por onde passa os homens

    olham e querem ter? Essa é Nina. Andava sempre na moda e com um leve ar de

    "licença, porque eu sou demais e você não merece minha presença querido". Até

    hoje ninguém sabe como, mas ela é pessoa mais simpática que se existiu.

    Ela não tinha experiência na área, mas conseguiu ir bem a todas as provas

    de admissão para trabalhar no setor infantil. Ela sabia atender, ser simpática, sorrir,

    organizar tudo e sempre deixar o setor em ordem. Ela podia odiar aquelas crianças e

    seus pais metidos a ricos por comprar um livro de trinta reais aos filhos, porém

    achava o trabalho tranquilo e era bom ter um começo até decidir que universidade

    cursar.

    "Aff, são trinta reais e seu filho terá um pouco de cultura nessa vida,

    imbecil". Pensava Nina cada vez que um cliente chorava para pagar mais barato no

    livro, enquanto não se importava em pagar duzentos reais em um jogo de tiro que

    deixava as pessoas violentas e burras.

    Lilla e Nina começavam agora a trabalhar na mesma livraria em setores

    diferentes. Essa loja faz treinamentos com os novatos que também é usado como

    modo deles se conhecerem. E lá foram elas. O treinamento parecia ser algo chato e

    [ 5 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    monótono: uma psicóloga falando dos seis pilares da empresa e da grande

    importância que era fazer um bom atendimento.

    O que essa mulher sabe de bom atendimento se ela não é vendedora?

    Lilla pensava toda hora nisso, esperando ansiosamente acabar para poder voltar para

    sua casa.

    - Bem, agora que vimos os seis pilares, vamos ao coffeebreak e depois

    faremos uma dinâmica em grupo. – Falou a psicóloga para alívio de todos. A garota

    continuou sentada, observando um rapaz acordar com o cutucão que recebeu. Quando

    decidiu sair do anfiteatro ficou observando um grupo de pessoas que trabalhavam

    junto a ela. Nina conhecia algumas pessoas e ficou em uma rodinha conversando e

    comendo os deliciosos pães de queijo que estavam na mesa.

    Sem a menor dúvida os pães de queijo eram o que fazia valer a pena em

    todo aquele treinamento, e com certeza ele foi o mais comentado depois disso.

    Quando voltaram para o anfiteatro, a psicóloga pediu para dividir em grupos de até

    umas sete pessoas. Haviam duplas ou trios de cada loja, porém, a da Mega Center

    Norte, seis pessoas estavam presentes, então eles se juntaram, achando que eram os

    melhores. Alguns já se conheciam, outros eram completos desconhecidos, como Lilla,

    que se sentia fora de todo aquele grupo.

    A psicóloga passou a primeira atividade. Rapidamente se uniram e a

    fizeram, zombando todo aquele treinamento. Ganharam notas altas e falavam que sua

    loja era a melhor. Como estavam na parte mais alta do auditório marrom e bege, se

    sentiam mais superiores ainda. Quando chegou a segunda atividade em diante, já não

    estavam com a mesma garra, e começaram a ficar para trás na dinâmica.

    - Vamos lá gente, nós iremos acertar agora. Demos chance para os outros

    grupos ganharem, mas agora é a nossa vez. – Falava Lilla com uma voz serena, um

    [ 6 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    tanto forçada, muito parecida com o modo que a psicóloga falava, alguns perceberam

    e riram com ela.

    - Qual o seu nome? – A Nina perguntou.

    - Lilla e você?

    - Nina. Hey, Lilla, você vai para o setor de autoajuda? – Perguntou Nina.

    - Eu não, tenho amor a minha vida. Sou parttime.– respondeu Lilla.

    Parttime trabalhava apenas de sexta, sábado e domingo. A principio ficaria

    apenas no caixa, trabalhando mais horas que os demais. Como um reforço para os

    dias de movimento da loja. Mas depois de um tempo, Lilla, virava uma peça que se

    encaixava bem em qualquer setor da loja que precisasse. Sendo muito útil para manter

    a ordem em dias cheios.

    - Então você faz psicologia, né? – Perguntou uma menina baixa e bem

    magra, cabelos crespos e escuros, com um alargador estranho na orelha, olhos caídos

    castanhos escuros. Seu rosto parecia sempre que ela estava com sono e aquilo tudo era

    muito chato.

    - Não, não! Eu faço química – respondeu Lilla com risadinhas tímidas.

    Não precisa ser um gênio para saber que essa equipe ficou em ultimo lugar

    na dinâmica, mas eles não estavam nem aí só queria ir embora.

    - Dane-se tudo isso! – Falava a menina baixa de cabelos crespos.

    - Muito bom pessoal! Hoje nós fomos gentis e deixamos as outras lojas

    ganharem. Isso que é ter um bom coração. Parabéns! – Lilla disse ao grupo com

    [ 7 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    aquela voz serena de quem esta zombando os psicólogos. Todos riram e foram

    embora.

    ***

    Passado alguns meses chega ao setor infantil da loja uma menina baixa e de

    peles negras. Cabelos alisados com as pontas formando um cacho muito bem feito.

    Um sorriso branco que era capaz de iluminar o lugar que entrava. Olhos escuros e

    cílios imensos e negros. Ela vestia-se de modo bem formal, com uma blusa de lã com

    gola em V que formava um leve decote. Estava sempre sorrindo, que se mostrava

    muito animada por estar ali. Essa é Gabryella Assumpção. Uma garota doce e

    inocente.

    Esse é o quinto trabalho da Gabryella. Em geral ela trabalha por menos de

    um ano e muda. Parece ser uma garota estranha. Alegre e muito empolgada todos os

    dias, inclusive as segundas-feiras. Ela não fala da família, disse apenas que mora com

    uma amiga e que ainda não começou a faculdade.

    Gaby e Nina trabalham juntas no setor infantil, usando avental amarelo na

    BookStore. Lilla vivia indo lá, ajudar as meninas e conversar com elas. Começando

    assim uma amizade entre as três garotas. No fim do expediente elas saiam para comer

    um doce. Tentar se acalmar após o dia cheio.

    - Meninas, vocês viram aquela menina que estava na loja? Ela comprou um

    livro do setor de vocês. – Começou Lilla enquanto comia seu sundae de chocolate

    grande com canudos de chocolate.

    - Aii, aquela com a cara de Patati-Patatá? – Perguntou Nina, que comia o

    seu grande sorvete de Ovomaltine com calda extra de chocolate DUPLO.

    [ 8 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    - Essa mesma! Ela ficou no caixa gritando com as amigas porque não

    pegaram o CD daquele cantor viadinho. Na boa, ela tem mão, o que custa ir ela

    mesma buscar? – Disse Lilla.

    - Ah gente, para. Às vezes ela não podia ter ido buscar. Estava com pressa e

    precisava muuuuito do CD e do livro né. – Respondeu Gabryella. Nina e Lilla

    jogaram aquele olhar perverso revirando os olhos. – Está bem, não defendo mais a

    cara de Patati-Patatá.

    Todas caíram na gargalhada e continuaram a comer seus sorvetes falando

    dos homens lindos, altos e loiros que passaram na loja falando francês.

    Assim começa uma nova amizade, um trio inseparável. Gabryella a parte

    inocente que vê bondade em tudo e todos. Nunca enxerga o defeito dos outros. Já

    Lilla e Nina, bem, essas não precisam ir ao oculista, conseguem ver bem como são as

    pessoas e não cansam de lembrar a si mesmas e as novas amigas os pontos negativos

    dos outros. Sim, elas são simpáticas, alegres, sorridentes e tudo mais. Só que se mexer

    com uma delas, só posso dizer que o jeito de se salvar é mudar de cidade, se possível

    do país, pois elas farão da vida da pessoa um verdadeiro inferno.

    [ 9 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    Capítulo 2: Milhões de pensamentos

    Lilla crescerá com seus pais e duas irmãs mais novas. Sempre foi muito

    independente e sempre soube se virar. Ela nunca desistia de suas ideias, e ninguém

    nunca tentou convencê-la do contrário. Quando começou a faculdade de química

    achava que seria algo legal e que seria feliz com algo que foi boa no ensino médio e

    ganhou destaque onde estudava nessa matéria. Mas com o passar do tempo o curso se

    tornou um porre e começou a trabalhar para poder aguentar tudo aquilo. Ela gostava

    da vida corrida e poder se sentir importante. Aulas em período integral durante a

    semana, trabalho nos fins de semana, onde não parava um minuto.

    Lógico que o jeito prático dela ajuda muito. Qualquer pessoa que chegava com

    um problema, Lilla pensava por dois minutos e já apresentava planos A, B e C de como

    resolver tudo aquilo. Na maioria das vezes não entendia porque as pessoas faziam tantas

    besteiras na vida se era tão fácil tomar cuidado e pensar. As pessoas acham que Lilla age

    por impulso, só que não sabem que, quando ela começa a agir, já pensou em tudo e sabe

    como resolver os eventuais problemas que podem surgir.

    ***

    Nina sentia falta da sua vida baladeira, sentia falta de poder sair aos sábados à

    noite com os amigos e voltar no dia seguinte em um carro importado com um cara lindo

    dirigindo, o qual ela não sabia o nome. Nina sabia como fazer os homens a mimarem.

    No dia em que estava de folga do trabalho, ela foi até um pub na região da Paulista e

    conheceu um gringo lindíssimo. Um loiro, alto, musculoso, de olhos verdes muito

    intensos. Ele estudava em Oxford e fazia parte do time de rúgbi. Era só isso o que Nina

    lembrava.

    [ 10 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    - Lilla, aquele homem é perfeito! Eu devia ter pedido o telefone dele,

    perguntado o endereço e me mudado pra Inglaterra. – Nina contou às meninas

    enquanto devoravam uma deliciosa pizza Brasileira na Pizza Hut. Lilla ria e

    concordava com a amiga.

    - Não, Nina, você não pode nos abandonar por um carinha qualquer. Você

    não o beijou, né? – Perguntava Gaby, assustada com o fato de a amiga ficar

    conversando com desconhecidos no meio da noite.

    - Claro que beijei né! O cara era perfeito! Pelo amor de Deus Gaby, você se

    preocupa muito. Só dei uns beijos nele e dançamos a noite toda. Claro que ele me

    levou em casa, mas aí falei que a noite foi ótima e estava cansada e não o deixei

    entrar. Ainda não estou louca. – Nina se defendia e olhava para Lilla, procurando não

    rir da Gaby.

    - Gaby, você precisa sair um pouco e relaxar, sabe? – Começou Lilla –

    Quando você namorar vai ser como? Andar de mãozinhas dadas pelo parque? E

    quando casar? Como pretende ter filhos? A cegonha não anda fazendo entregas de

    bebês por aí, viu. – Nina começou a rir muito alto junto com Lilla. Todos no shopping

    olharam para elas deixando Gaby corada.

    - Aaaah gente, para. Quando eu namorar não ficarei agarrando ele, é

    nojento. E quando for para ter filhos, bem, aí eu faço né. – Falava Gaby com o rosto

    rubro, mas seu tom de voz era calmo, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

    - Enfim, – cortou Nina – o cara é perfeito. E acho que semana que vem

    volto naquele pub atrás dele. Vocês podiam ir comigo né? Assim posso beber um

    pouco mais. – Lilla concordou com a amiga de irem. Gaby hesitou um pouco, mas

    acabou concordando, com medo de que Nina passasse mal, e preferiu ir para cuidar.

    [ 11 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    ***

    No dia seguinte a loja estava cheia. Estavam nas férias de inverno e os

    Juvenis viviam no shopping e não compravam nada. Era uma época chata porque

    tinham muita coisa para se arrumar na loja ao mesmo tempo em que não havia muitas

    vendas entrando. Lilla estava nos caixas, como sempre atendendo freneticamente para

    não formarem as gigantescas filas. A gerente da loja vinha em sua direção. Lilla

    observou que ela estava com seus cabelos lisos até o ombro e com muitas, luzes o

    deixando quase loiro médio, seus olhos castanhos com uma maquiagem impecável,

    scarpin preto brilhante fazendo toc-toc-toc enquanto andava pelos caixas, calça social

    preta-giz com a camisa rosa por dentro da calça. A calça era de cintura alta e ficava na

    altura da cintura, o que fazia a garota sempre pensar "ela precisa tomar cuidado para

    não se enforcar com a calça". A gerente sempre andava muito arrumada. Ela se

    aproximou de Lilla e disse:

    - Lilla, hum, você tem um minuto? – Lilla assentiu e a Gerente continuou –

    Essa semana nós teremos o inventário aqui na loja. Parttimes não podem participar,

    porém eu falei com a direção e eles concordaram em chamá-la para ajudar. – Lilla

    pensou e respondeu que tudo bem. A gerente abriu um sorriso – Ok, então terça-feira

    às 21 horas aqui na loja.

    A gerente se dirigiu até o setor infantil e chamou Nina e Gaby para

    participarem do inventário também. Gaby ficou super feliz, pois são poucos novatos

    que participam do tão falado inventário nesta época do ano.

    O inventário é uma madrugada em que um grupo de funcionários contam,

    literalmente, pela loja todos os produtos para atualizar o sistema. Uma empresa passa

    em cada prateleira com um leitor de código de barras e colocam um papel com o

    numero de produtos presente naquela prateleira, depois um funcionário da loja passa

    contando para ver se está certo. Se tudo estiver ok, o funcionário assina o papel e

    [ 12 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    parte para a próxima, se não ele chama a empresa para refazer aquela prateleira.

    Alguns, como a Gaby, começaram a amar o inventário quando souberam que ganharia

    extra com adicional noturno no salário por passarem a madrugada lá. Outros como a

    Nina achavam tudo aquilo uma merda, mas iria porque de madrugada não havia

    cliente para irritá-la.

    - Lilla, telefone. – Avisou Fabíola.

    Bem, Fabíola não era uma mulher, mas esse foi o nome que as três deram

    para o menino de olhos verdes e cabelos totalmente bagunçados, barba malfeita e

    roupas que pareciam ser escolhidas por uma criança de três anos. Ele só fazia piadas

    idiotas nos caixas, sua idade física com a idade mental tinha uma diferencia

    significativa. E ele nunca foi visto com uma mulher, então deve gostar mesmo de

    homem né?

    A Nina tinha um jeito de definir os sentimentos de Fabíola: "E seu coração

    estava sempre em transe, em uma escolha difícil entre meninas, meninos, meninas

    que gostam de meninas e meninos que gostam de meninos..." . Um dia foi visto com

    uma margarida na mão fazendo bem-me-quer mal-me-quer, mas aparentemente

    sempre dava mal-me-quer. Quase chegava a dar dó. Quase.

    - Valeu – respondeu Lilla ignorando totalmente o olhar de "por favor, me

    beija" que Fabíola sempre tinha sobre Lilla. – Lilla – respondeu ao telefone.

    - Oi, é a Nina. Acho que já era o pub, a gerente me chamou para ajudar no

    inventário. Que merda, viu! O bom é que não vou aturar os malditos clientes né.

    - Ela também me chamou. Achei legal, e o melhor é que aquele ser do caixa

    não estará aqui para ficar com aquele olhar depravado sobre mim. Na boa, eu achei

    [ 13 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    que ele só beijava rapazes. – Nina riu muito alto e parou quando viu um cliente

    chegando.

    - Preciso atender. Até depois. Ah, a Gaby também virá ao inventário

    - Até.

    ***

    Lilla passava muito tempo pensando no que fazer dali para frente. Se

    continuava o curso, se continuava o trabalho.

    Ficava no ônibus com o vidro aberto e ignorava todas as pessoas que

    reclamavam que estava frio. Para ela, a melhor coisa era um vento gelado, que parecia

    chegar a cortar a pele de tão frio. Ela dizia que isso era uma das coisas que a fazia

    pensar melhor. Em geral se sentia perdida. Tinha vontade de fazer tudo e achava que

    não tinha tempo de aproveitar do jeito que gosta. Queria viajar e conhecer o mundo,

    trabalhar, estudar curso ligado à comunicação social, fazer aulas de desenho e alguns

    programas de animação. Muitos falavam de Lilla como exemplo de pessoa; seus pais

    sentiam orgulho de onde a filha tinha chego até ali (com exceção de trabalhar na

    livraria), mas ela nem ligava. Seus amigos já se acostumaram com a correria dela, e

    mesmo ela fazendo várias coisas quando precisavam dela, Lilla estava lá.

    Como achar tempo para namorar assim? Ela nem sabia o que vestir todo dia

    pela manhã, imagine saber se o seu boy magia seria alguém compreensivo que estaria

    ao lado dela e a ajudaria? Por causa disso, Lilla seguia sua vida só com amizades. Não

    saia como Nina, de ir a pubs e se divertir adoidada com um lindo desconhecido. Ela

    curtia mais ficar em casa jogando Xbox, com seu joguinho de dança, tomando

    RedBull e comendo esfihas do Habib’s. E quando estivesse cansada colocariam um

    filme com a Leighton Meester ou assistiriam Gossip Girl comendo sorvete com

    [ 14 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    chocolate. Claro que nem todos os seus amigos gostavam disso, mas essa era a

    definição de noite ideal para ela.

    Lilla queria ter mais tempo em sua vida. Se ao menos ela tivesse uma moto,

    não gastaria horas e horas no caótico trânsito de São Paulo. Ela só queria poder se

    locomover mais rápido para poder ter tempo de fazer tudo que gosta.

    ***

    Nina tinha seus pensamentos agitados. A pressão para entrar em uma boa

    universidade era o que mais passava em sua mente. Ela podia ter um ótimo trabalho, mas

    diploma é essencial. Ela não gostava de namorar, não agora com tantas coisas pela frente,

    e sem contar que amava passar as noites com aqueles gostosos que frequentavam a

    Paulista. Um sonho a seguia por anos e anos: ir a Disney. Juntava uma parte do salário

    para poder ir para lá. Lia livros sobre isso e separava os melhores hotéis que poderia

    ficar. Ela escrevia muito para relaxar, isso a fazia pensar melhor e descansar mais a

    mente.

    Nina não possuía mais os mesmos horários livres que seus antigos amigos, e eles não

    eram as pessoas mais compreensíveis do mundo para isso. Brigavam com ela por

    estar trabalhando e não sair com eles. Será que esses pseudo-amigos nunca pensaram

    em sair depois do expediente dela? Ou mudar os dias e horários uma vez para

    acompanhá-la?

    A melhor coisa que Nina fez foi ignorá-los e sair para se divertir com Gaby

    e Lilla. Ela queria aproveitar bem a vida, todos os momentos, mas sentia que algumas

    pessoas resistiam as suas ideias e isso a frustrava. Ela gosta de se sentir no controle, e

    conseguia várias coisas com sua beleza natural e argumentos. Tinham algumas

    pessoas que diziam não a Nina – essas vocês podem ter certeza, que a invejava muito

    – e ao falar não declaravam guerra, das quais sempre perdia a batalha, o bombardeio,

    [ 15 ]

    Névoa vermelha, por Lil a Martinez

    a guerra, os namorados, enfim, perdiam tudo que Nina achava que a pessoa não

    merecia ter.

    Para ela não importava o que os outros pensavam e sim em se sentir feliz com

    tudo aquilo. Queria permanecer acima, no controle e saber exatamente o que passava a

    sua volta.

    ***

    A Gaby era o oposto dessas duas. Agia por impulso, isso é, quando agia. Ela

    tinha medo de tentar, então sua vida era pacata e sem grandes emoções. Bem, sua vida

    era assim, porque quando ficou amiga de Nina e Lilla, tudo mudou. Ela passou a

    conhecer gente nova, descobriu suas qualidades com elogios e suportes que recebiam

    delas. Ficou mais confiante e um pouco ambiciosa. Mas não era nada quando comparado

    ao jeito das amigas lidarem com as oportunidades que surgiam. Gaby fazia

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