Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica: Volume I
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Práticas Educativas em Educação Profissional e Tecnológica - Patricia de Oliveira
Práticas educativas em educação profissional e tecnológica
volume I
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Patricia de Oliveira
Marcelo Souza Oliveira
(org.)
Práticas educativas em educação profissional e tecnológica
volume I
Sumário
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA: UMA INTRODUÇÃO
1
OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT)
Ivanice Santana Ramos
Maria Nazaré Guimarães Marchi
2
A MÚSICA NA ESCOLA SOB A PERSPECTIVA DA LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL E SUAS ORIENTAÇÕES NORMATIVAS
Tiago Rodrigo da Silva Mota
3
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E SERVIÇO MILITAR
Nadja de Assis Mendonça
Gilvan Martins Durães
Cristiane Brito Machado
4
A PRÁTICA EDUCATIVA EMANCIPATÓRIA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Eliana Lopes da Silva Medeiros Cruz
Joana Fidelis da Paixão
5
PROEJA: PRÁTICAS EDUCATIVAS E O DESAFIO DA FORMAÇÃO DOCENTE
Joana Fidelis da Paixão
Madiane Santos de Assis
6
PROEJA: O RESGATE DA CIDADANIA
Harrison Novaes Silva Pereira
Camila Lima Santana e Santana
7
A POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA POR MEIO DAS REDES SOCIAIS: COMO OS ESPAÇOS DIGITAIS PODEM CONTRIBUIR PARA O ENSINO DE FÍSICA
Ana Maria Silva Oliveira
José Rodrigues de Souza Filho
8
A PESQUISA COMO FONTE DE AUTONOMIA NA CONSTRUÇÃO DA AUTOAPRENDIZAGEM
Aldenice de Jesus Cardoso de Almeida
9
REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA DE NÍVEL MÉDIO À LUZ DO TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
Lerise Santos Zóffoli
10
O XADREZ COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO EDUCACIONAL E POTENCIALIZAÇÃO DA VIDA ACADÊMICA NA EPT: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Társis Cajado Chaves da Silva
Patricia de Oliveira
11
OFICINAS PEDAGÓGICAS SOB A PERSPECTIVA DAS METODOLOGIAS ATIVAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Alice Araújo de Souza
12
CONSIDERAÇÕES SOBRE A RELAÇÃO ENTRE TECNOLOGIAS DIGITAIS, EDUCAÇÃO E TRABALHO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Kleuber Gama Barreto
13
A INCLUSÃO DO ALUNO CEGO NA EPT:UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Rosemary Magalhães Lima
Patricia de Oliveira
14
DIVERSIDADE E A INCLUSÃO ESCOLAR DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO SISTEMA EDUCACIONAL
Adrina Mendes Barbosa
Patricia de Oliveira
15
REFLEXÕES SOBRE A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: RESSIGNIFICANDO PRÁTICAS EDUCATIVAS NO ENSINO SUPERIOR
Diêgo Pereira da Conceição
Jalisson dos Santos Henrique
Gilvan Martins Durães
SOBRE OS AUTORES
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA:
UMA INTRODUÇÃO
Patricia de Oliveira
Marcelo Souza Oliveira
Conforme apontado por Vieira e Souza Junior (2016), a educação profissional pode ser considerada parte da história, na medida em que o homem primitivo aprendeu a trabalhar a terra, a criar animais e passou a ensinar essas práticas aos demais membros de sua comunidade.
A história da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) em nosso país é bastante marcada por períodos de evolução e involução, sempre em conformidade com os interesses da elite de seu tempo. Especificamente na história recente, podemos considerar o ano de 2008 um marco para essa modalidade de ensino em virtude da promulgação das Leis no 11.741 (BRASIL, 2008a) e no 11.892 (BRASIL, 2008b).
A primeira, publicada em 16 de julho de 2008, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) no 9.394/1996 (BRASIL, 1996) para reorganizar a educação profissional técnica de nível médio, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) nessa perspectiva e a própria EPT. De acordo com o texto dessa lei, a EJA passou a poder se articular preferencialmente com a educação profissional; a EPT, em seus níveis e modalidades, passou a integrar as dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia; a organização dos cursos passou a poder proporcionar diferentes itinerários formativos, de acordo com o sistema e o nível de ensino; os cursos a serem ofertados foram orientados a proporcionar formação inicial, continuada e qualificação profissional, tanto em nível médio quanto superior e pós-graduação; os cursos de graduação e pós-graduação ofertados seriam regulados por diretrizes específicas do Conselho Nacional de Educação; e as instituições que ofertam EPT passaram a oferecer cursos à comunidade para fins de qualificação profissional, independentemente do nível de escolaridade dos participantes.
A Lei no 11.741/2008 (BRASIL, 2008a) também incluiu a seção IV-A − Da Educação Profissional e Tecnológica de Nível Médio no Capítulo II – Da Educação Básica na citada LDB, tratando especificamente da articulação entre o ensino médio (EM) e a EPT. O texto dessa seção abordou vários aspectos sobre a organização da oferta da EPT, apontando as formas de oferta e de certificação.
Em 29 de dezembro desse mesmo ano, foi promulgada a Lei no 11.892 (BRASIL, 2008b), a qual instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, criou os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, entre outras providências. Essa lei definiu as instituições que compunham a rede federal, criou 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), definiu quais finalidades, características, objetivos e estrutura organizacional dos IFs, entre outros.
Com base no exposto, podemos constatar que a EPT foi ressignificada a partir da promulgação dessas leis, assumindo tanto a formação profissional quanto a educação formal sob uma perspectiva científica e tecnológica, ou seja, promover o desenvolvimento físico, intelectual e cidadão por meio de práticas pedagógicas libertárias, progressistas e democráticas. E para que essa ressignificação seja efetiva, é preciso pensar um currículo integrado de fato, e a formação inicial e continuada dos docentes que irão atuar nessa nova perspectiva de EPT.
O currículo integrado, segundo Ferreira e Felzke (2021), é uma proposta de trabalho pedagógico articulado de forma que todas as ações sejam conjuntas, superando a divisão do conhecimento em disciplinas/conteúdos programáticos, alcançando uma educação integral ao proporcionar uma prática educativa que explore e faça uso de todas as dimensões desse conhecimento. Em outras palavras, significa que o corpo docente atuará de forma transdisciplinar, ou seja, de maneira tão integrada que todas as disciplinas atuarão como se fossem apenas uma (ALMEIDA FILHO, ١٩٩٧). Mas, para que os professores atuem desse modo, é preciso que sejam formados para tal: que tenham acesso aos conhecimentos sobre as especificidades da EPT já em sua formação inicial; que sejam formados por meio de práticas que permitam que experimentem e vivenciem o ensino por meio de um currículo integrado.
Ciente de que há lacunas referentes a esses aspectos na formação docente, a publicação desta obra coletiva se justifica como uma colaboração para os processos de formação continuada para professores atuantes na EPT ou para aqueles que desejam vir a atuar. Os textos que irão compor a obra foram desenvolvidos pelos mestrandos e mestres do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT) do Instituto Federal (IF) Baiano, campus Catu, como parte dos estudos do componente curricular obrigatório Práticas Educativas em EPT, o qual tem por objetivo discutir, desenvolver e promover a produção do conhecimento sobre o fazer pedagógico nessa modalidade de ensino.
O primeiro capítulo, intitulado Os espaços não formais de educação: possibilidades educativas na Educação Profissional e Tecnológica (EPT)
, de autoria de Ivanice Santana Ramos e Maria Nazaré Guimarães Marchi, aborda os espaços não formais da Educação Profissional e Tecnológica, elucidando seus aspectos e sua relevância social.
O segundo capítulo, com o título de A música na escola sob a perspectiva da legislação educacional e suas orientações normativas
, escrito por Tiago Rodrigo da Silva Mota, aborda os aspectos legais e históricos do ensino de música nas escolas brasileiras.
No terceiro capítulo, de autoria de Nadja de Assis Mendonça, Gilvan Martins Durães e Cristiane Brito Machado, com o título Educação profissional e serviço militar
, os autores apontam a relação existente entre o serviço militar obrigatório e a EPT, e quais os mecanismos utilizados pelo primeiro para promover a formação profissional dos jovens reservistas, para além das Forças Armadas.
No quarto capítulo, de título A prática educativa emancipatória na Educação Profissional e Tecnológica
, de autoria de Eliana Lopes da Silva Medeiros Cruz e Joana Fidelis da Paixão, as autoras procuram promover uma reflexão sobre os sentidos e os significados da emancipação humana por meio da educação, e a maneira como a EPT busca suscitar processos formativos voltados para esse fim.
No quinto capítulo, sob o título Proeja: práticas educativas e o desafio da formação docente
, as autoras Joana Fidelis da Paixão e Madiane Santos de Assis abordam os desafios da formação docente para atuar na Educação de Jovens e Adultos, e as especificidades do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja).
Ainda sobre a Educação de Jovens e Adultos, os autores Harrison Novaes Silva Pereira e Camila Lima Santana e Santana apontam no sexto capítulo, intitulado Proeja: o resgate da cidadania
, a importância dessa modalidade de ensino para corrigir as desigualdades em um país como o Brasil.
No sétimo capítulo, com o título "A popularização da ciência por meio das redes sociais: como os espaços digitais podem contribuir para o ensino de Física", os autores Ana Maria Silva Oliveira e José Rodrigues de Souza Filho apresentam uma interessante proposta para o ensino e a aprendizagem de Física mediante a interação nas redes sociais.
Também versando sobre o fazer científico, o oitavo capítulo, de título A pesquisa como fonte de autonomia na construção da autoaprendizagem
e de autoria de Aldenice de Jesus Cardoso de Almeida, aborda a maneira como a pesquisa pode ser um importante instrumento para a formação discente na EPT.
No nono capítulo, intitulado "Reflexões sobre a prática pedagógica do estágio supervisionado na Educação Profissional e Tecnológica de nível médio à luz do trabalho como princípio educativo", a autora Lerise Santos Zóffoli apresenta uma importante reflexão sobre as práticas de estágio supervisionado, assim como quais os sentidos e os significados por trás do conceito de trabalho como princípio educativo.
O décimo capítulo, intitulado O xadrez como instrumento de inclusão educacional e potencialização da vida acadêmica na EPT: um relato de experiência
, de autoria de Társis Cajado Chaves da Silva e Patricia de Oliveira, apresenta um relato de experiência sobre o ensino de xadrez e suas possibilidades no processo educativo.
No décimo primeiro capítulo, com o título Oficinas pedagógicas sob a perspectiva das metodologias ativas: uma revisão integrativa
, a autora Alice Araújo de Souza descreve seu estudo bibliográfico sobre teses e dissertações que tiveram o uso de oficinas como recurso pedagógico.
No décimo segundo capítulo, de título Considerações sobre a relação entre tecnologias digitais, educação e trabalho em tempos de pandemia
, o autor Kleuber Gama Barreto apresenta uma importante reflexão sobre como se deu a relação entre tecnologias digitais, educação e trabalho durante a pandemia.
O décimo terceiro capítulo, de autoria de Rosemary Magalhães Lima e Patricia de Oliveira, com o título A inclusão do aluno cego na EPT: um relato de experiência
, traz um relato sincero sobre as dificuldades enfrentadas pelos docentes no atendimento de alunos com deficiência na sala de aula comum.
O décimo quarto capítulo, intitulado Diversidade e a inclusão escolar de pessoas com deficiência no sistema educacional
, de autoria de Adrina Mendes Barbosa e Patricia de Oliveira, apresenta um breve histórico do processo de inclusão dos alunos com deficiência nos sistemas escolares de nosso país.
E o décimo quinto e último capítulo, de título Reflexões sobre a avaliação da aprendizagem: ressignificando práticas educativas no ensino superior
, de autoria de Diêgo Pereira da Conceição, Jalisson dos Santos Henrique e Gilvan Martins Durães, apresenta uma importante reflexão – e necessária! – sobre os sentidos e os significados da avaliação no ensino superior.
Esperamos com esta obra coletiva fomentar a discussão sobre o fazer pedagógico e a formação docente para a Educação Profissional e Tecnológica, pois o aprimoramento da oferta de uma educação pública gratuita e de qualidade é um tema de estudos e pesquisas que nunca se esgota.
Referências
ALMEIDA FILHO, N. Transdisciplinaridade e saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva, v. 2, p. 5-20, 1997. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/1997.v2n1-2/5-20/. Acesso em: 17 out. 2021.
BRASIL. Presidência da República. Lei no 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: [s. n.], 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 14 out. 2021.
BRASIL. Presidência da República. Lei no 11.741 de 16 de julho de 2008. Altera dispositivos da Lei no ٩.٣٩٤, de ٢٠ de dezembro de ١٩٩٦, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. Brasília: [s. n.], 2008a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11741.htm#art2. Acesso em: 14 out. 2021.
BRASIL. Presidência da República. Lei no 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília: [s. n.], 2008b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm. Acesso em: 17 out. 2021.
FERREIRA, F. G; FELZKE, L. F. Currículo integrado na educação profissional: concepções de alunos e professores sobre projeto integrador. Contexto & Educação, v. 36, n. 113, p. 413-432, jan./abr. 2021. Disponível em: https://redib.org/Record/oai_articulo3023803-curr%C3%ADculo-integrado-na-educa%C3%A7%C3%A3o-profissional-concep%C3%A7%C3%B5es-de-alunos-e-professores-sobre-projeto-integrador. Acesso em: 17 out. 2021.
VIEIRA, A. M. D. P; SOUZA JUNIOR, A. A educação profissional no Brasil. Interacções, Lisboa, v. 12, n. 40, p. 152-169, 2016. Disponível em: https://revistas.rcaap.pt/interaccoes/article/view/10691. Acesso em: 14 out. 2021.
1
OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA (EPT)
Ivanice Santana Ramos
Maria Nazaré Guimarães Marchi
Introdução
A educação, definida como ato ou processo de educar-se
(Dicionário Online de Português, 2022)¹, como Aplicação de métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano
(VASCONCELOS; ROSAS, 2020), é para Freire (2005, p. 25) concebida como: Além de um ato de conhecimento. [...] é também um ato político. É por isso que não há pedagogia neutra
.
A partir dessas concepções de educação, abordar-se-ão neste capítulo as caracterizações específicas da educação não formal, destacando alguns aspectos fundamentais a serem observados na perspectiva de melhorar o funcionamento e o desempenho da educação profissional e tecnológica, a partir do interacionismo institucional entre espaços formais e não formais de educação.
De acordo com a história da educação no Brasil, é notório o descaso de seus governantes para com a educação pública desde os tempos coloniais, marcada pela dualidade, oferecendo uma educação propedêutica de melhor qualidade para as elites brancas e um faz de conta instrucional
para os pobres. Tanto tempo se passou e constatamos a permanência das precariedades educacionais para a maioria da população. Porém, reza a Constituição Federal de 1988, em seu capítulo III, artigo 205, que,
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, p. 1).
Cibele Bastos Nessa ótica legal, como dever do Estado, cabe, portanto, a ele, sua manutenção destinando recursos para sua adequada realização. Entretanto, estrategicamente, foi providenciada a desigual atribuição de responsabilidades de custeio da educação entre união, estados e municípios. Temos municípios que sobrevivem de verbas federais e são os responsáveis pela principal parte da educação básica, o ensino fundamental, aquele que está na base, que deveria preparar adequadamente o(a) estudante para o entendimento dos conhecimentos científicos sistematizados aplicados pelos demais segmentos.
Nessa linha, levando-se em conta a definição de Paulo Freire (2005) de que a educação é um ato político, podemos compreender as razões implícitas nos projetos governamentais de educação, marcados pela falta de políticas públicas e parcos recursos.
Entretanto, levando-se em conta que educação é compromisso, investimento e responsabilidade de todos, defende-se aqui sua causa, por considerar que seus reflexos beneficiam toda a sociedade. Nessa linha, entende-se que as consequências decorrentes da carência/ausência de recursos geram o desaparelhamento das escolas frente ao desenvolvimento tecnológico e o condicionamento de práticas pedagógicas ineficazes, a ingerência das escolas e o consequente desalinhamento político-pedagógico, também relacionados à ineficiente formação, à capacitação e à carência de professores, coordenadores e de outros profissionais da educação; sobretudo, a desvalorização dos professores é intencional. Cabe então um questionamento: a quem interessa o tipo de educação que resulta de tamanho caos?
Essas são apenas algumas das incoerências concernentes ao nosso sistema público de educação em âmbito nacional que vão de encontro ao estabelecido na lei, ao prometer educação pública, laica e de qualidade para todos.
Nesse entendimento, percebe-se que a educação das classes trabalhadoras, dos oprimidos, de acordo com Freire (1996), nunca foi prioridade para o Estado. Do contrário, a educação cumpriria sua função de formação crítica, reflexiva, favorecendo o exercício da cidadania participativa, direcionando o conhecimento a oportunizar a transformação de sua realidade. Entretanto, quando se trata de manter o status quo, sim, a educação cumpre sua função como aparelho ideológico, pois:
[...] o fato é que as relações entre o subsistema da educação e o sistema global da sociedade não são mecânicas. São relações históricas. São dialéticas e contraditórias. Isto significa que, do ponto de vista da classe dirigente, das pessoas que estão no poder, a tarefa principal da educação sistemática é reproduzir a ideologia dominante (FREIRE, 2000, p. 49).
Relevância da educação não formal
Diante de tamanha contradição, buscaremos justificar a necessária ressignificação dos espaços não formais de educação como um complemento formativo e dispositivo educacional que possam colaborar para a libertação e a transformação social junto à EPT, uma vez que favorecem a construção social da memória e a percepção crítica da sociedade por ser desenvolvida por instituições, como organizações não governamentais (ONGs), museus, sindicatos, associações comunitárias, clubes, igrejas etc., que buscam o bem-estar social e o desenvolvimento da pessoa humana, contribuindo, assim, para a construção de uma identidade coletiva.
Para tanto, ao se refletir sobre as práticas pedagógicas tradicionais ainda muito frequentes nas escolas de educação profissional, centradas no conteudismo e na formação para o mercado de trabalho, sugerimos a exploração dos espaços não formais de educação, que podem funcionar como parceiros no processo de construção do conhecimento devido a suas oportunidades culturais, educativas e politizadoras, visto que, segundo Brandão (2007, p. 9): "Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez