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PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes
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PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes
E-book401 páginas5 horas

PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes

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Sobre este e-book

Criado em 1997 e reunindo pesquisadoras/es da educação superior de diferentes instituições universitárias e de redes da educação básica do estado de Minas Gerais, o PRODOC (Núcleo de Pesquisa sobre Condição e Formação Docente) desenvolve estudos e pesquisas que abordam a formação de professoras/es em suas múltiplas facetas, bem como a condição docente, entendendo-a como parte intrínseca dessa formação. Para comemorar os 20 anos desse trabalho coletivo, foram reunidos aqui textos de diversas/os pesquisadoras/es do PRODOC, organizados em três eixos temáticos: trabalho e práticas docentes; a construção de identidades docentes e diversidade; e docência como objeto de pesquisa. Os doze capítulos desta obra, organizada por Júlio Emílio Diniz-Pereira, Margareth Diniz e João Valdir Alves de Souza, trazem análises acerca da problemática que envolve a profissão docente na atualidade, considerando desde os desafios políticos mais amplos e imediatos trazidos pelas mudanças políticas mais recentes, até questões concernentes à relação teoria-prática e o significado de prática pedagógica no cotidiano da sala de aula. Este livro reafirma, assim, o compromisso ético-político de uma abordagem crítico-investigativa que marca os 20 anos de existência PRODOC.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de out. de 2017
ISBN9788551303016
PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes

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    PRODOC - Júlio Emílio Diniz-Pereira

    Júlio Emílio Diniz-Pereira

    Margareth Diniz e

    João Valdir Alves de Souza

    (Orgs.)

    PRODOC

    20 anos de pesquisas sobre a profissão,

    a formação e a condição docentes

    PREFÁCIO

    É para mim uma grande satisfação apresentar esta obra que, além de todos os qualificativos do ponto de vista técnico-científico que possui, representa o coroamento de um trabalho coletivo, construído ao longo de duas décadas, envolvendo colegas pesquisadores comprometidos com uma temática de enorme relevância no contexto educacional brasileiro e internacional. Este livro apresenta ao leitor, mais que análises bem desenvolvidas a partir dos resultados de estudos e pesquisas que são descritos nos seus doze capítulos, mas também reafirma o compromisso ético-político de uma abordagem crítico-investigativa que marca os 20 anos de existência do Núcleo de Pesquisa sobre Condição e Formação Docente (PRODOC), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG).

    A criação do PRODOC, no ano de 1997, reunindo pesquisadores em torno das questões que envolvem a complexa temática da profissão docente, ocorreu em um momento muito particular. Após quase uma década de reformas neoliberais, que como uma onda inundavam os países da América Latina, reorientando o investimento estatal e pondo em risco os sistemas públicos de ensino e, consequentemente, seus profissionais, sua criação representou muito mais que a instituição de um núcleo de pesquisa, mas a demarcação de uma temática que ansiava por novos estudos e novas abordagens. Assim, o PRODOC, ao longo da sua história, veio contribuindo com a consolidação de um campo de investigação na educação brasileira e latino-americana que põe em foco a docência, interpelando suas condições de ser e de fazer.

    Reunindo pesquisadores da UFMG e de outras instituições, inclusive professores de educação básica, o PRODOC veio, ao longo das últimas duas décadas, desenvolvendo estudos e pesquisas sobre as temáticas da formação e da condição docentes. As produções do PRODOC têm assim contribuído para o avanço do conhecimento acerca da profissão docente, transcendendo os espaços da universidade. A sua proximidade com outros grupos e redes de pesquisa, tais como o Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente (Gestrado) e a Rede Latino-americana de Estudos sobre Trabalho Docente (Red Estrado), demonstram a postura aberta ao diálogo, ao confronto de ideias e à troca de experiências, que pautaram a existência do PRODOC na sua história de duas décadas.

    Assim, no seu aniversário, o PRODOC é quem presenteia o leitor com esta obra, "PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes". Organizada a partir de três eixos temáticos, o livro aborda i) trabalho e práticas docentes; ii) a construção de identidades docentes e diversidade; e iii) docência como objeto de pesquisa, reunindo análises acerca da problemática que envolve a profissão docente na atualidade, desde os desafios políticos mais amplos e imediatos trazidos pelas mudanças políticas mais recentes, que têm posto em risco a educação pública como um direito e ameaçado a condição profissional da docência, até questões concernentes à relação teoria-prática e o significado de prática pedagógica no cotidiano da sala de aula. As análises desenvolvidas nos diferentes capítulos demonstram o domínio conceitual e o rigor científico com que os estudos e pesquisas são desenvolvidos pelos membros do Núcleo, assim como o diálogo e interlocução com a literatura específica nacional e internacional, tratando problemas de ordem conceitual e prática que envolvem a docência na educação básica e superior.

    Merece ainda destaque as contribuições trazidas no segundo eixo do livro, no que se refere à atualidade temática de questões que envolvem a identidade profissional docente. Nesse eixo, estão reunidos textos que tratam do debate teórico, a partir da revisão das perspectivas predominantes que têm orientado as pesquisas sobre o tema, até os desafios dos novos contextos e das novas políticas que incluem a formação docente pró-inclusão, a formação intercultural indígena, a formação de educadoras/es para o trabalho com educação em sexualidade.

    Enfim, devo dizer que o convite para prefaciar o livro "PRODOC: 20 anos de pesquisas sobre a profissão, a formação e a condição docentes", é não só uma honra para mim, considerando os estreitos laços acadêmicos que tenho com vários dos seus autores e o respeito por suas trajetórias, mas, antes de tudo, uma alegria, por poder inscrever minhas impressões nesta obra e fazer parte desta história, da qual sou testemunha desde seu nascedouro. Parabéns pelos 20 anos e que venham muito mais!

    Dalila Andrade Oliveira

    Coordenação Geral da Rede Latino-americana

    de Estudos Sobre Trabalho Docente

    APRESENTAÇÃO

    Júlio Emílio Diniz-Pereira

    Margareth Diniz

    João Valdir Alves de Souza

    É com grande alegria e enorme satisfação que apresentamos este livro em comemoração aos 20 anos de existência do Núcleo de Pesquisa sobre Condição e Formação Docente, o PRODOC.

    A criação do PRODOC na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG) aconteceu em meados da década de 1990 quando, nessa Universidade, iniciou-se uma política de indução à criação de grupos de pesquisa¹. Nesse contexto, um grupo de pesquisadoras/es² da FaE/UFMG que investigavam o tema da docência e da formação de professoras/es decidiu organizar, no ano de 1997, o Núcleo de Pesquisa sobre Profissão Docente (PRODOC). Os membros-fundadores do PRODOC³ tiveram, na época, a lucidez de perceber que a profissão docente era o grande guarda-chuva sob o qual estariam, de maneira articulada e indissociável, algumas dimensões como a formação, o trabalho, a identidade e a condição docentes.

    Ao longo desses 20 anos, o PRODOC passou por várias mudanças – inclusive de nome. O grupo decidiu, por exemplo, focar suas pesquisas nas temáticas da formação e da condição docentes. A composição do grupo também variou bastante nesse período e outras/os pesquisadoras/es, inclusive de outras universidades, passaram a participar ativamente do PRODOC que deixou, então, de ser um grupo de pesquisa apenas da UFMG para se tornar também um grupo da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Outra mudança importante foi a incorporação de colegas professoras/es da educação básica nesse grupo e a atenção cada vez maior e mais sistemática às questões da prática docente.

    Sabemos da dificuldade e do enorme desafio que é manter, por tanto tempo, um grupo de pesquisa ativo e produtivo. É exatamente por esse motivo que decidimos marcar o aniversário de 20 anos do PRODOC com o lançamento deste livro. Reunimos, então, alguns textos de pesquisadoras/es do PRODOC e os organizamos em torno de três eixos temáticos: I. Trabalho e práticas docentes; II. Construção de identidades docentes e diversidade; e III. Docência como objeto de pesquisa. Uma síntese de cada um dos eixos e dos textos é apresentada a seguir, na mesma ordem em que eles aparecem no livro4.

    O primeiro eixo – Trabalho e práticas docentes – reúne textos que discutem teoricamente três conceitos importantes para o nosso grupo e para o campo da pesquisa sobre docência, no geral: trabalho, formação e prática pedagógica; bem como, textos que trazem resultados de pesquisas empíricas sobre o perfil das/os professoras/es da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais e sobre as práticas que esses docentes, mais especificamente, professoras/es de Sociologia, desenvolvem em escolas públicas do estado.

    Sendo assim, a partir da formação etimológica das palavras trabalho (trípãlíum) e escola (schola, skholé) e de algumas distinções conceituais, João Valdir Alves de Souza pretende polemizar sobre a atual campanha contra o trabalho infantil. O texto se propõe a dois objetivos básicos: um deles é explorar o conceito de formação, distinguindo-o de seus correlatos educação, escolarização, instrução e ensino; o outro é fazer uma defesa da formação pelo trabalho, incluindo aí a defesa do trabalho infantojuvenil. A fim de evitar sobressaltos entre os que condenam o trabalho infantil, o autor faz uma discussão conceitual sobre o trabalho, a partir de referências da sociologia clássica, para ressaltar que ele tanto pode formar quanto deformar. Assumindo o trabalho como a ação humana sobre a natureza para, sob determinadas relações sociais, produzir as condições da existência, o autor afirma que é preciso distinguir os diferentes tipos de trabalho e destinar às crianças e jovens apenas aquela porção do trabalho adequada a cada etapa do seu desenvolvimento. Encerra o texto discutindo a parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº 8.069/1990) que trata do trabalho juvenil, tomada como referência para dizer que a campanha deve ser contra a exploração do trabalho, sobretudo da exploração do trabalho infantil, e não contra o trabalho, porque ele é constitutivo do humano.

    Ao tomar como referência uma perspectiva crítica, Anna Salgueiro e Samira Zaidan pretendem aprofundar entendimentos e apresentar elementos que compõem uma concepção de realidade, uma visão de relação teoria-prática e o significado de prática pedagógica. Elas focam a prática pedagógica como uma prática social complexa, construída no cotidiano escolar e, em especial, na sala de aula, mediada pela relação professor-aluno, que se desenvolve de modo intrinsecamente articulado a conhecimentos-saberes-valores-emoções. As autoras problematizam os termos prática e práxis, tratando o segundo com referência às ações que se colocam na perspectiva de uma transformação social estrutural. Visando a apoiar estudos e pesquisas de análises de práticas escolares, elas procuram entender os elementos que estão direta ou indiretamente nelas presentes, situadas que estão em contextos com características próprias de âmbitos local e geral.

    O capítulo escrito por Débora Oliveira e Marina Amorim apresenta o perfil dos professores concursados e temporários do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais (REE-MG). Para traçar esse perfil, foi desenvolvido um estudo de caráter quantitativo com base nos dados do Cadastro de Profissional Escolar do Censo Escolar do INEP de 2015. O objetivo da pesquisa foi analisar o perfil sociodemográfico, a escolaridade e algumas características do trabalho desses docentes, e identificar possíveis diferenças entre professores concursados e temporários. Os resultados da pesquisa contribuem para ampliar a compreensão sobre quem são os professores da REE-MG e fornecer subsídios para a elaboração de políticas públicas que visem à valorização dos docentes e a melhoria da educação no estado.

    Ao considerar a implantação da Lei nº 11.684/2008, o capítulo de Tatiane de Carvalho e Santuza Amorim tem como objetivo analisar a prática e o fazer docentes das/os professoras/es que lecionam Sociologia na Rede Estadual de Ensino de Minas Gerais, levando-se em consideração a formação acadêmica e o habitus constituído ao longo da trajetória profissional. As autoras adotaram a metodologia do estudo de caso e recorreram à revisão bibliográfica, à análise documental, ao uso de questionários, entrevistas e observação. Elas verificaram que, apesar da presença de profissionais não habilitados lecionando na área, não há diferença significativa nas práticas desempenhadas pelas/os professoras/es habilitadas/os e as/os não habilitadas/os em Ciências Sociais. Embora as/os educadoras/es contemplem em suas aulas discussões de problemas e desafios contemporâneos, carece, para a maioria delas/es, uma postura de indagação mais científica da realidade social. As autoras concluíram, ainda, que a insuficiência de materiais didáticos, o tempo escasso para discutir os conteúdos relevantes para a formação escolar das/os discentes, a ausência de formação continuada para as/os professoras/es e, em alguns casos, uma formação inicial incipiente, são os principais obstáculos para o ensino da disciplina.

    O segundo eixo temático deste livro – Identidades docentes e diversidade – traz inicialmente uma discussão teórica sobre o conceito de identidade docente e, logo em seguida, três textos que analisam a questão da formação de educadores e a diversidade: no que diz respeito à inclusão, às comunidades indígenas e ao tema da sexualidade.

    Dessa maneira, o propósito do capítulo escrito por Júlio Emílio Diniz-Pereira é discutir, com base nas leituras do autor sobre as obras de pensadores estadunidenses como Michael Apple, Deborah Britzman, Thomas Popkewitz e outros, três modelos teóricos – o modelo essencialista, o modelo relativista e o modelo crítico-integrativo – que, de maneira consciente ou não, orientam as principais discussões acadêmicas a respeito da construção da identidade profissional docente. Ao fazer isso, a ideia de Diniz-Pereira não é rotular autores e seus trabalhos ou tentar achar uma maneira de encaixá-los em um ou outro modelo que ele sugere nessa análise e sim enfatizar que diferentes lentes teóricas podem conduzir a análise dos dados empíricos para caminhos completamente diferentes.

    No Brasil, após mais de duas décadas de formação docente efetivamente pró-inclusão, ainda escutamos um grande contingente docente afirmar que não estão preparados/as para lidar com a inclusão. Nesse sentido, o capítulo de Margareth Diniz interroga a formação docente standard, a qual não está provocando um deslocamento subjetivo desse discurso fixo. A autora percorre inicialmente fragmentos da história da educação integradora e da educação inclusiva no Brasil, cotejada mais recentemente pela perspectiva intercultural. Em seguida, visa fundamentar uma leitura psicanalítica da escuta de professoras/es, escuta esta que tem por objetivo propiciar novas perspectivas na formação docente e, por sua vez, novas possibilidades de ensino e aprendizagem que viabilizem a inclusão escolar de sujeitos com deficiência, seja no ensino fundamental, seja no ensino superior, demonstrando ser possível um trabalho com professoras/es composto pela escuta psicanalítica e por intervenções específicas, com o objetivo de localizar a posição do sujeito diante da diferença e da diversidade. A oferta da escuta, cria por sua vez uma demanda, pois a/o professora/professor passa a contar com esse espaço de troca e discussão em que os relatos de suas experiências e as dificuldades enfrentadas em sala de aula podem ser ouvidos e compartilhados com outros colegas de modo que se produza um novo olhar e novos questionamentos sobre o seu fazer frente a seus/suas alunos/as, uma vez que não obtém respostas fechadas sobre como deve proceder e se conduzir em sua tarefa pedagógica que a/o professora/professor se vê lançado a criar seu próprio fazer educativo pautado na singularidade de seu/sua aluno/a, não negando sua condição de sujeito, implicando-se e responsabilizando-se em seu fazer profissional.

    No capítulo escrito por Karla Cunha Pádua, o tema da investigação na formação de educadoras/es emergiu na pesquisa sobre as repercussões da formação intercultural na vida de professores/as indígenas, que utilizou como instrumentos de investigação a entrevista narrativa e a observação participante. A análise de narrativas de professores/as indígenas que cursaram a primeira turma do curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (FIEI), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destacou as pesquisas desenvolvidas durante os seus Percursos Acadêmicos como um dos aspectos mais relevantes da formação. O capítulo de Pádua contextualiza esse tema na proposta curricular do FIEI e descreve os projetos desenvolvidos pelas/os professoras/es entrevistadas/os, apontando como tais pesquisas continuam produzindo muitos frutos para a vida coletiva, interferindo positivamente nas dinâmicas e na proposta pedagógica da escola.

    Por fim, a pesquisa de Anna Cláudia d’Andrea e Júlio Emílio Diniz-Pereira teve como objetivo analisar as iniciativas de formação de educadoras/es para o trabalho com educação em sexualidade na Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte entre os anos de 1989 e 2009. Por meio de um estudo de caso do município de Belo Horizonte, os autores realizaram sete entrevistas com funcionários aposentados ou atuantes da Prefeitura Municipal e analisaram documentos. Eles optaram por uma abordagem emancipatória da educação em sexualidade, o que significa lidar com o tema inserido historicamente e de uma maneira comprometida com a transformação da sociedade rumo à equidade de gênero e valorização da diversidade sexual. Em relação aos dados empíricos, os autores organizaram as iniciativas de formação em quatro movimentos: articulação regional, cujo expoente foi o Núcleo de Educação Afetivo-Sexual na Regional Barreiro; articulação municipal, que evidencia a existência de iniciativas de formação de educadoras/es em sexualidade em Belo Horizonte coordenadas pela Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte; articulação intersetorial, que revela a parceria de saúde e educação no Programa BH de Mãos Dadas contra a AIDS; e, finalmente, articulação interinstitucional, em que a Universidade Federal de Minas Gerais, o Ministério da Educação, o Núcleo de Relações Étnico-raciais e de Gênero da Secretaria Municipal de Educação e os movimentos sociais se unem e promovem o projeto Educação sem Homofobia. Na análise das iniciativas, d’Andrea e Diniz-Pereira perceberam que nenhuma delas abarca apenas uma abordagem da educação em sexualidade e todas são marcadas pelo hibridismo. Com base nas iniciativas analisadas, os autores compreenderam que um caminho para a formação de educadoras/es em sexualidade é a não valorização de uma única forma de expressão da sexualidade e nem a prescrição de abordagens didáticas enfatizando a criação de um processo dialógico em que saberes podem ser compartilhados, questionados, explicitados, buscando a valorização da diversidade e a legitimação da diferença. Para isso, é imprescindível compreender o debate mais amplo em que a sexualidade se insere, questionando os fundamentos político-ideológicos de uma educação em sexualidade exclusivamente preventiva.

    O terceiro e último eixo temático deste livro – Docência como objeto de pesquisa – apesar de privilegiar a questão da docência universitária por meio da apresentação de três textos sobre a temática, também destaca um tema ainda pouco discutido no campo: a interface da docência com o cinema e a utilização da sétima arte como estratégia de formação de professoras/es.

    Os primeiros três textos desse eixo tratam, então, da docência universitária. Esse campo tem adquirido destaque como objeto de estudo no contexto das produções acadêmicas sobre professoras/es. Tais estudos têm ressaltado as questões inerentes à condição docente no âmbito do ensino superior e a relevância de sistematizarmos as investigações de forma a contribuir para configurar linhas de pesquisas e estudos convergentes com as questões contemporâneas da temática em questão.

    Desse modo, Maria José Flores, Juliana Santos e Célia Nunes apresentam investigações com professoras/es que vêm sendo desenvolvidas na UFMG e na UFOP. Elas traçaram um panorama em torno da condição da docência no âmbito do ensino superior, situando aspectos relativos aos processos de sua profissionalização no cenário contemporâneo da educação superior e os apontamentos advindos dos estudos sobre as/os professoras/es nesse contexto. Além disso, as autoras trataram sobre as especificidades da formação, saberes e práticas dessas/es professoras/es na constituição da profissionalidade docente e, por fim, apresentaram as pesquisas que elas têm desenvolvido tomando como objeto de estudo a docência no ensino superior, explicitando as perspectivas de investigação que têm assumido sobre as mesmas. Os esforços em sistematizar investigações sobre iniciativas de formação docente, tal como as que têm sido desenvolvidas pelas autoras, nos indicam a relevância em consolidar uma produção de conhecimento mais robusta que ofereça subsídios para problematizar a condição docente no ensino superior e, assim, sinalizar possibilidades e limites das políticas e práticas que temos desenvolvido no cenário da educação superior contemporânea

    Dentro da mesma temática, Auxiliadora Barboza e Célia Nunes realizaram uma pesquisa em uma universidade privada no Brasil, cujo interesse investigativo voltou-se para os modos de produzir e interpretar sua prática docente. Como metodologia da pesquisa, as autoras recorreram a uma abordagem qualitativa em que realizaram a observação direta de situações de aula e entrevistas semidiretivas com duas professoras universitárias, que disponibilizaram suas salas de aulas e socializaram suas narrativas para o desenvolvimento do estudo. A escuta das professoras acerca do que pensam sobre a aula, sobre as relações entre docentes e estudantes, sobre a prática pedagógica entre outros elementos mostrou às autoras uma reelaboração dos códigos do universo e da cultura acadêmica, até então, pouco investigados, mas vistos de maneira naturalizada, como constituintes desse universo. Com efeito, é uma direção que nos obriga a olhar a prática pedagógica e a aula universitária, não mais como unidimensionais, mas como multidimensional, com ações vivas que se conjugam de múltiplas formas.

    O trabalho de Suzana Gomes investigou o papel da Didática na formação docente universitária, abordando especialmente a construção da identidade, os saberes docentes, o uso das tecnologias na prática pedagógica. Os dados foram obtidos por meio de pesquisa qualitativa de abordagem sócio-histórica, envolvendo estudo de caso, observação participante, análise documental e entrevistas com alunos/as de mestrado e doutorado. O referencial teórico envolveu pesquisas sobre a formação de professores, entre eles: Monteiro (2001); Veiga e Castanho (2001); Cunha (2007); Zabalza (2004); Pimenta e Anastasiou (2010). A autora considerou fundamental identificar a contribuição e o lugar do saber didático na formação e na prática docente, apreender os processos de produção da identidade profissional e do saber ensinar em situações concretas. Os resultados destacam o investimento na formação continuada de professoras/es para a Educação Superior como um dos fatores determinantes para a qualidade universitária.

    Finalmente, o capítulo de Ana Lúcia Azevedo, Inês Teixeira e Inés Dussel discute questões da educação e cinema na Argentina e Brasil (1990/2010), analisando concepções sobre a formação de professoras/es na interface com o cinema, em projetos e políticas para o magistério. Com base em referenciais teóricos da educação e cinema, elas realizaram levantamento e análise de fontes documentais e entrevistas semiestruturadas. As autoras concluíram que a exibição e debates de filmes foram a principal estratégia de formação, enfatizando-se aspectos ético-políticos e a prática pedagógica.

    Desejamos uma boa leitura a todas/os e, principalmente, vida longa para o PRODOC! Que uma nova geração de pesquisadoras/es que, aliás, já se incorporam ao grupo e participam inclusive deste livro, dê continuidade a essa história e que o PRODOC continue contribuindo para o crescimento e a organização do campo da pesquisa sobre a profissão, a formação e a condição docentes no estado de Minas Gerais e no Brasil.


    ¹ Na época, a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (FUNDEP/UFMG) lançou editais com a destinação de recursos para a criação de grupos de pesquisa na Universidade, nas diversas áreas do conhecimento. Essa iniciativa da FUNDEP/UFMG tornou-se, mais tarde, uma política nacional em que agências de fomento à pesquisa, como o CNPq, passaram a incentivar e valorizar o desenvolvimento de investigações acadêmicas por meio do estabelecimento de grupos de pesquisa.

    ² Conscientes do papel que a língua pode ter na reprodução de discriminações de gênero, adotaremos, ao longo deste texto e deste livro, um padrão diferente daquele usado na norma culta que adota o masculino como norma. Todas as vezes que nos referirmos aos profissionais da educação básica e também às/aos pesquisadoras/es do nosso grupo de pesquisa, em que as mulheres são nitidamente a maioria, partiremos do feminino e faremos a diferenciação do masculino: professoras/es; pesquisadoras/es.

    ³ Os membros-fundadores do PRODOC, professoras/es da FaE/UFMG, foram, em ordem alfabética: Anna Maria Caldeira Salgueiro, Eustáquia Salvadora de Sousa, Júlio Emílio Diniz-Pereira e Samira Zaidan.

    ⁴ Essa síntese foi escrita a partir dos resumos produzidos pelas/os próprias/os autoras/es dos textos.

    INTRODUÇÃO

    PRODOC: 20 anos de pesquisas

    sobre a profissão, a formação

    e a condição docentes

    Coletivo de pesquisadoras/es do PRODOC

    O Núcleo de Pesquisa sobre Condição e Formação Docente (PRODOC) desenvolve estudos e pesquisas que abordam a formação de professoras/es⁷ em suas múltiplas facetas, bem como a condição docente, entendendo-a como parte intrínseca dessa formação.

    Criado em 1997, com novo registro em 2006, o PRODOC – cujo nome original era Núcleo de Pesquisa sobre Profissão Docente – reúne pesquisadoras/es da educação superior de várias instituições universitárias e de redes da educação básica do estado de Minas Gerais. Desde a criação do grupo, tínhamos clareza de que a profissão docente – expressão que deu origem à sigla do nosso Núcleo de Pesquisa – era o grande guarda-chuva sob o qual estariam diferentes dimensões como, a formação, o trabalho, a condição, as identidades, as práticas, etc.

    Sendo assim, o grupo tem por objetivo a pesquisa sobre a condição docente e a formação de professores em todos os níveis, desdobrando-se nas seguintes questões, dimensões e categorias de análises: as/os professoras/es como sujeitos socioculturais; o cotidiano de vida e trabalho; dimensões e processualidades da condição de professora/professor; vidas, experiências e histórias da/o professora/professor; questões da subjetividade; os tempos docentes, a materialidade e registros simbólicos na condição e no trabalho docentes; corporeidade, temporalidades, gênero e ciclos de vida no exercício do magistério; a questão étnico-racial na docência; a questão geracional e intergeracional na sala de aula e na docência; tempos, espaços e processos da formação de professoras/es; multiculturalismo e interculturalismo no exercício da docência. A escola e a sala de aula como espaços socioculturais e as relações docentes-discentes. Processos de construção de identidades docentes: continuidades e rupturas. Significações/ressignificações, emoções e sentimentos da docência e das/os docentes sobre sua vida e seu trabalho. Dificuldades e problemas vividos pelas/os professoras/es no exercício do magistério na contemporaneidade. As/os docentes e as áreas de conhecimentos e de pesquisa. Os conteúdos disciplinares como mediação na prática e a construção curricular. As/os docentes e a educação infantil, fundamental, média, de jovens e adultos, e superior: sujeitos, cotidianos, representações, saberes e práticas. As/os professoras/es de escolas do campo: sujeitos, cotidianos, representações, saberes e práticas. A mediação da terra nas relações docentes-discentes nas escolas do campo. Trabalho e imagens da docência em gerações de professoras/es. Elementos de heterogeneidade na categoria social dos professores. Práticas pedagógicas de professoras/es. Educação, docência e cinema.

    Tem-se, a seguir, um breve panorama sobre a pesquisa educacional na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG) nos últimos anos, e, mais especificamente, sobre a produção acadêmica do PRODOC desde a sua criação, em 1997, bem como as concepções de docência e de formação de professoras/es com que esse grupo trabalha ao longo desses anos.

    O movimento de renovação pedagógica iniciado em Minas Gerais, em meados dos anos 1980, aproximou a FaE/UFMG das redes públicas de educação, a partir do momento em que várias/os professoras/es dessa Instituição foram chamadas/os a colaborar na elaboração e no desenvolvimento de propostas educacionais inovadoras. Esse processo coincide ainda com a mudança do referencial teórico que predominava entre as pesquisas desenvolvidas na FaE/UFMG. Até o final da década de 1980, a teoria da reprodução orientava a maioria das investigações ali realizadas e, apesar disso, questões sobre os movimentos sociais e educação sempre estiveram presentes, evidenciando, neste caso específico, um menor interesse pela educação escolar.

    Nos anos 1990, ganham corpo e espaço as pesquisas com o enfoque qualitativo e que se voltam mais para o interior da escola, bem como para o cotidiano da sala de aula e de suas práticas educativas. Essa década foi marcada por propostas de inovação político-pedagógica da educação básica (como a Escola Cidadã, a Escola Plural, a Escola Candanga, entre outras), pela elaboração de nova legislação educacional em âmbito nacional, a LDB de 1996, que ampliou direitos à educação com a introdução dos debates sobre as diversidades na sociedade e nas escolas brasileiras. Aparecem, então, muitos relatos de práticas, observação e descrição de ações do cotidiano escolar. A prática pedagógica, seus sujeitos e contextos adquirem grande importância como objeto de reflexão nas pesquisas, tanto em análises de projetos de escolas como nas salas de aulas e do cotidiano escolar em geral, que passam a focalizar o ensino de capacidades e habilidades disciplinares e interdisciplinares. A prática pedagógica esteve presente em muitos trabalhos, como inovação, como resistência, para apontar avanços ou dificuldades no trabalho pedagógico.

    No entanto, será na década de 2000 que a noção da educação como direito se amplia e a busca pela universalização desse direito transparece nos discursos, na legislação e nas pesquisas. Os temas relativos à diversidade ganham ainda mais espaços (condição dos sujeitos da educação: criança, adolescência, juventude, adulto; questões de gênero, étnico-racial; inclusão da pessoa com deficiência; a educação do campo, indígena, quilombola; a importância da cultura e das artes em geral, etc.), e se expressam em projetos de educação

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