Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Miss Kate
Miss Kate
Miss Kate
E-book259 páginas3 horas

Miss Kate

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A história de Kate não era complicada. Tinha dez anos quando os pais, então empobrecidos, recuperaram a fortuna em Havana. Depois de várias alternativas, aborrecidos da vida tropical, haviam-se transportado para Paris, onde ela fizera a sua educação no Sacré Coeur. Nesse colégio aprendera tudo quando se ensina, bem ou mal, às meninas da aristocracia francesa. Aos dezoito anos operara-se a maior catástrofe de sua vida. Isto sucedera por volta de 1879. Em viagem pelas costas da Noruega, seus progenitores eram tragados num naufrágio. Sem parentes, sem outro protetor senão o dinheiro, que ao mesmo tempo se lhe constituíra objeto de inconfessáveis apetites, por parte de pretendentes, ridículos, uns, perversos, outros, teve que esperar tristemente a sua maioridade para tomar uma resolução, e encetar a vida que lhe convinha.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de dez. de 2016
Miss Kate

Relacionado a Miss Kate

Ebooks relacionados

Artes Cênicas para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Miss Kate

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Miss Kate - Araripe Junior

    "A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades;

    fora daí insânia,

    insânia, e só insânia."

    Machado de Assis—Papeis avulsos,

    O Alienista, pag. 22.

    Rosto.jpgCr%c3%a9dito.jpgRosto2.jpg

    PREFÁCIO

    A Natureza, mãe previdente, dispôs que tudo na terra fosse temperado com um grão de loucura... E uma ironia de Erasmo, levemente cômica, mas cruelmente verdadeira, como toda ironia, de que apenas os espíritos leves têm visto a face aprazível e ainda os mais refletidos desatendem ao avesso tremendo. Feitio dessa enfase ingênua que lhe fez ver um reflexo próprio em todas as coisas, criadas ad usum de sua utilidade ou deleite, o homem fez passar as coordenadas da imensa natureza por sua fragilidade de anjo decaído, mas ainda assim guardando a centelha divina da origem. E dessa inteligência sutil de todo o mundo, como da loucura difusa que lhe é componente necessária, fez privilégio da sua pessoa, claro e escuro que deviam marcar-lhe a perspectiva na criação.

    Os Padres da Igreja, discutindo ainda na idade média se a mulher era provida de alma, como o homem, e até bem perto de nós filósofos, como Malebranche, negando a sensibilidade aos animais, representam todo o pensamento humano nessa prolongada tolice antropocêntrica que veio dos primeiros símios lógicos e que irá disfarçada, sob crismas diversas, aos super-homens progenerados com que nos ameaça o futuro da espécie.

    Se só o homem tinha alma, só ele teria o beneficio da loucura. E foi preciso uma longa evolução filosófica, em que a fé, armada dos argumentos piedosos das fogueiras, dos suplícios, dos exorcismos, e a ciência remissa na obstinação inconvencida e na pugnacidade recalcitrante, através de épocas e séculos, para chegarmos a aposentar a alma e conferir ao cérebro suas prerrogativas soberanas.

    Ainda assim, era do cérebro humano que se tratava. A mesma ciência, revendo na paleontologia os arquivos da criação, pretendia, pela autoridade de Cuvier, uma ascendência hierárquica da espécie, e, examinando o inventario da historia natural, pelo critério de Geoffroy de Saint-Hilaire, reclamava para o homem um reino honorifico que o separasse da ralé zoológica.

    Só começadas em Gall, por ensaios de psicofisiologia, chegando a Pierquin, que em 1839 teve a coragem de publicar o seu Traité de Ia folie des atiimaux, continuando nos Prichard, Barwin, Romanes, Houzeau, Espinas, Forel, Bucher, Luhbock..., que tentaram a ética zoológica,a observação e a experiencia da fisiologia, da patologia e da sociologia dos animais conseguiram estabelecer a continuidade somática e funcional do sistema nervoso, na evolução gradativa das especies.

    Estavam irmanados, em principio, os homens e os brutos nesse favor da loucura. Mas Erasmo deve ter razão ainda além, pois ficam as reivindicações dos outros comparsas da natureza. E terão sentença justa no dia em que o critério da loucura, que foi a alienação da alma a um corpo possuído por espíritos danados, na crença teológica,—e veio a ser doença da víscera cérebro-espinhal, traduzida em sintomas físicos e distúrbios psíquicos, na doutrina medica— passar, como deve, na concepção filosófica, a ser apenas a alteração da individualidade, transitória ou permanente, capaz de variar a identificação ontogênica de um ser com a sua característica natural.

    Sim; porque, sem paradoxo, a loucura não é somente uma doença como a iatria estreita nos procura convencer. E mais que isto, no próprio homem, porque é um modo de ser, efêmero ou definitivo, anômalo ou doente ou até colateral da normalidade.

    O idiota microcéfalo ou o cretino, cujo cérebro abortado parou definitivamente num atraso rudimentar; o degenerado eivado de taras que o descompassam na vida psíquica e social dos outros homens; o melancólico, cujo metabolismo se desconcerta e se traduz emotivamente nessa tristeza orgânica, a mais funda das dores psíquicas; o paranoico legítimo emfim, cuja observação começou em Westphal e se definiu em Kraepelin, como um aleijado do espirito, razoado senão razoável, logico e coerente no seu caminho falso, raciocinando certo sobre premissas erradas;— todos estes mostram que a formula geral que os abriga é estreita para os conter Já nos hospícios a loucura não é só uma doença do cérebro... é também uma monstruosidade da organização, envenenada ou peca; ou ainda uma anomalia desviada, desafinada, desacertada da traça, concerto ou taxia humana; e é até um, desvio da racionalidade comum, por isso que é apenas uma bastardia da rotina psíquica, porque é seu colateral na vida da inteligência.

    Se tais noções, em sua extensão e traduções correlatas, não se podem ainda delinear uma forma especifica definida, culpa da estreiteza filosófica da época, ainda atada aos poderosos compromissos do passado, é certo, porem, que já no ambiente palpitam verdades ou paradoxos, ideias contudo, e fecundas, como aquela poeira cósmica que no sonho panspérmico de Cohn deve trazer os germens da vida para a criação do mundo.

    Um exemplo temos nessa hipótese interessante da psicologia contemporânea, da assimilação da superioridade de espirito e da rebeldia social ao processo complexo das frenoses, definida em forma lapidar por um dos nossos poetas mais intelectuais:

    "O gênio, a loucura, o crime

    São faces de um só cristal."

    Outro, é uma das ideias mais brilhantes da anatomia patológica, na investigação da origem dos tumores malignos—essa loucura celular, aberrante e prolixa, que produz um tecido mórbido, diferenciado e monstruoso, como do núcleo das ideias sãs se geram as desformidades dos delírios vesânicos.

    Apagada de vez a separação entre animais e plantas, a ciência prossegue desfazendo aquela outra existente entre corpos brutos e corpos vivos.

    As hipóteses físicas são hoje essencialmente ativas: a matéria ou seus avatares—o éter, os íons, os átomos, as moléculas—têm uma alma eterna—a energia. Vibrações, atrações, afinidades, movimentos, são correspondências funcionais a essas somas elementares. E até, num intuito de simplificação inteligente dessa fenomenologia natural, a físico-clínica contemporânea estuda a fadiga da elasticidade, a fadiga do tacto elétrico dos metais, a defesa das ligas á ruptura, a adaptação do vidro á flexão, a migração das partículas materiais, a cicatrização, crescimento e geração dos corpos cristalinos, c até a criação dos cristãos de glicerina, factos todos dessa energia complexa, cujo transunto mais aparenta é a vida, que nossos sentidos imperfeitos e nossa inteligencia rudimentar sentem passar do cenário da natureza.

    O cérebro, ultima expressão atual da evolução da matéria no mundo e herdeiro de iodos os modos de ser de seus antecedentes físicos e biológicos, tem apenas em maior os apanágios e as contingências comuns. Da matéria cósmica ao pensamento humano o caminho pôde ser infinito, mas continuo sempre.

    A loucura, até agora deformada e aumentada no espelho concavo de nossa imaginação, há de buscar uma característica que lhe defina a compreensão na extensa natureza, de que é uma fortuita, mas imanente condição.

    E assim, a palavra de Erasmo palpitará como uma eterna verdade.

    Se de fato é tão amplo o domínio da loucura na natureza, porque então, nos mesmos homens, cuja observação é mais fácil a físicos e médicos, ficou restrita a uma minoria insignificante, segregada nos hospícios e estudada com raridade?

    A resposta é fácil.

    Só os casos extremos e incompatíveis com a vida social, exigindo segurança própria e respeito alheio, movem a internação e os estudos para esse feito ou dele consequentes. Se das mesmas doenças, em geral, Héricourt chegou a dizer que o medico e o vulgo só conhecem as que acabam com a saúde ou com a morte, muito mais se dirá da loucura, condição difusa de ser, extensa e variada, em gradações infinitas de intensidade e aparência, das quais apenas uma Ínfima proporção reclama uma assistência social, que mais vela pela defesa de todos, que pelo interesse de cada um.

    Não se estranhará que habituados a considerar apenas a loucura hospitalizada ou hospitalizável, ficassem os clínicos unilateralizados por esse veso secular, não logrando distinguir a verdade que lhes avizinhava.

    Desconheceram o caráter humano. Nenhuma noção de psicologia possuíram; não podiam, e quase todos, por ignorância, desleixo ou remissão, não podem ainda compreender como das raízes do normal brotam as ramadas dos delírios vesânicos. Porque a psicologia científica tem de idade uma porção do século passado e a psiquiatria filosófica começa apenas a ensaiar os passos pelo braço da primeira. . .

    Foi nesse estado que, quando a miopia medica não via e a cegueira filosófica não permitia ver, a literatura e as belas artes, apenas com a observação, chegaram a se antecipar séculos.

    Da tragédia grega ao drama escandinavo acumulou-se colossal arquivo de observações exatas, desatendidas sempre pela jactância profissional e só agora havidas por presciência de tais estudos.

    A epilepsia psíquica de Orestes, a histeria de Hamlet, a dissolução paranoica de D. Quichote antecederam de muito as noções das equivalências mentais das crises convulsivas, da possibilidade de atingir a nevrose proteiforme ao sexo masculino, da organização sistemática das decisões e sua ruína numa lenta desagregação demencial.

    Enquanto os homens de ciência viam pouco e -viam curto, os artistas viram antes e viram longe.

    Se isto lhes é louvor, cabe não esquecer que a verdade foi sempre a mesma. Observaram fartamente o que existia por toda a parte.

    Esse mesmo pensamento, que me dá razão á tese favorita, confirma-se no depoimento de um ilustre psiquiatra eslavo.

    « É parle minima dos alienados, diz Orchansky, a que se encontra nos asilos, na Rússia; ao invés, grande massa de muitas centenas de milhares desses inválidos do espirito vive em liberdade.»

    Não é de surpreender, pois, a notável copia de observações que se encontra na literatura russa, em Gogol, Tourguenieff, Garchine, Tcherkhof Tolstoi... e sobremodo nesse divino Dostoiévski, a maior retentiva que ainda teve o sofrimento humano...

    Mas não é só na Rússia que tal ocorre, senão no mundo inteiro. E quando psiquiatras deliberam ver somente a fauna dos hospícios, grande admiração deve ficar aos homens de arte, que, sem tal senso parcial, integram o conhecimento humano com observações profícuas de sua historia natural.

    Todos esses pensamentos e lembranças acudiram-me ao espirito lendo Miss Kate. Deparou-se-me ai uma noção tão exata, tão precisa, daquilo que sinto realidade frequente, e, entretanto, quase ignorada dos profissionais e dos livros da especialidade, que me não contive nas generalizações precedentes.

    Porque nem os asilos, nem as casas de saúde, nem os diagnosticas dos clínicos, nem. os tratados de doenças mentais, contém casos como o do Dr. Agripino Simões... mas na vida, e por esses motivos, como eles pululam nos nossos consultórios, em nossa convivência, mal equilibrados, mas todavia a prumo semidoidos como lhes chama o Prof. Grasset, num eufemismo que já é uma concessão, mas é ainda uma condescendência ao veso antigo?

    Subiu ainda mais minha admirarão, porque é destes últimos anos a noção da Frenastenia, de Dana, ou, mais acertadamente, da Psicastenia, de Janet. Da fórmula analítica das nevroses, junto da neurastenia, entre a histeria e a epilepsia, com a participação talvez de estados constitucionais da degeneração e quiçá de desvios educativos originários da paranoia, fez-se, sinteticamente, uma formação nova, modalidade esbatida e complexa, mas verdadeira e distinguível na pratica, conhecida por aquelas enfáticas designações.

    Sem a sintomatologia definida como a neurastenia na sua tríade característica; sem a limitação do campo da consciência e a localização topográfica limitada da histeria; sem a queda da tensão mental, tão rápida, tão profunda e tão prolongada, como nas crises epiléticas; sem as perversões multiplicadas e várias que são apanagio desse proleo da degeneração; sem a lógica sistematização da paranoia,—a psicastenia, se por estes caracteres todos, imperfeitos, irregulares, mitigados, inconstantes se lhes avizinha, tem por outro lado uma fisionomia própria nas lesões profundas da vontade, da atenção, do sentimento e da emoção adaptada ao presente, faculdades que relacionam o espirito com a realidade. A tensão mental baixa determina um mal estar, uma inquietação, uma sensação de deficiência que podem conduzir á tristeza, d ansiedade ou ao desespero.

    Em tal estado persistem funções subalternas, como a inteligência discursiva, a exteriorização pela linguagem, estados de humor incoerentes e desproporcionadas, movimentos inadaptados e automáticos, dando origem a ruminações psíquicas obsidentes, a loquacidade analítica e prolixa, a emoções angustiosas, a agitações motoras, a tics, etc. ideias que se formam para interpretar estes estados, guardam os caracteres dessa gênese torturada, sedimentam-se, arraigam-se, tornam-se habito mental, na oscilação continua entre ideias fixas e emoções angustiosas, novos circulas de inferno dentro da consciência.

    Agripino Simões foi provavelmente um hereditário degenerado, educado sem princípios, cultivado precocemente, de uma inteligência aguçada e propensa aos estudos filosóficos, rico e portanto sem as ligações salutares d vida de trabalho, ocioso e procurando no jogo desporto ou absorção, perdendo consideravelmente no Encilhamento e criando graves apreensões, alcoolizando-se por habito de boemia a principio, para adormecer cuidados ou apagar preocupações dolorosas, depois, exaurindo-se em filosofias improfícuas e em viagens sem objectivo...

    Nesse terreno físico e nessa estofa mental preparada, começa o quadro inteiro da psicastenia, aqui e ali, por influencia das nevroses vizinhas, sombreada de tintas que a um clinico inexperto podem falsear o diagnostico.

    A epilepsia se lhe reconhece nas auras, ausências, vertigens, na amnésia retrógrada, nos acessos de movimentação, no automatismo ambulatório, no delírio de ação, na irregularidade de humor, nas crises de suscetibilidade e desconfiança, na facilidade da sugestão, na hipnotização pronta, no sonambulismo natural, na hiperestesia quase telepática, nas crises de hipestesia ao cansaço físico da marcha e ausência de sono, e até nas alucinações oníricas e poligonais, das quais um exemplo típico, digno de ilustrar uma pagina de Regis, está naquele sonho erótico da aranha, do Capitulo III.

    A neurastenia lhe confere a hipocondria, a dispepsia acida, a dor difusa na base do cérebro, a sensação de vazio cerebral, a ansiedade e a angustia súbitas, a estafa das forças físicas, a anafrodisia e as mais das vezes o erotismo mórbido.

    Não ha dizer da degeneração, tanto a observação inteira reproduz o quadro mental e social da vida desses desequilibrados, excêntricos e atáxicos do espirito.

    E até, lá por volta do Cp. XI uma ideia paranoide surge para marcar a identidade do doente observado cora os descritos por Pierre Janet: é quando reconhece que o medico Salcedo e Miss Kate se combinavam para o perseguir.

    Nada falta, pois, nos acessórios: e ali está entretanto a psicastenia inteira, na abulia ou paralisia da vontade, tornando-o irresoluto e ás vezes incapaz de deliberar, agir, pensar, viver... ; nos distúrbios do sentimento e da emoção, levando-o aos extremos mais afastados, ora alegre, ruidoso, crédulo, loquaz, impaciente, já desconfiado, colérico, choroso, vencido, em momentos vizinhos, sem correspondência exata com as impressões recebidas; nas agitações emotivas, em fobias diversas, desde o honor á curva, até o medo dos ângulos; nas agitações intelectuais, desde a mania da precisão, até a mania da duvida; nas obsessões bem definidas no livro todo, nessa síntese aguda, trabalho do cérebro em operação continua, infernal mecânica da lógica sintética, continuo entrechocar de teoremas, racionação, metafisismo, A < B...

    Esse estado de espirito tem como componentes ideias fixas que vão alem da verdadeira aritmomania e que não são bem compreendidas naquela rubrica que lhes destina Janet, entre as manias do au-delá: são diversamente matemáticas e vão até ao subjetivismo transcendente.

    Para exemplificar, bastam as expressões desse agripinismo inconsciente, como lhes chama o próprio doente, e que se expressam pelo livro afora, em termos que tais: «alucinação das alavancas conjugadas, potencial da vida, certeza do quociente triunfal, dança macabra de esquemas históricos e topográficos, sensação de círculos viciosos cujo eixo se deslocava a cada instante...

    Junte-se a um tal estado de espirito, o trato de um medico charlatão e explorador e as aventuras de uma amante exótica e complicada por filosofias dissolventes, um meio de repórteres boêmios e estudantes pernósticos, e o fim da psicastenia do Dr. Simões não podia ser senão uma impulsão suicida, antecedida por um delírio de ação e uma recapitulação de percepções ilusórias, angustias, erotismos, desesperos, e terminada por um cadáver precipitado na via publica, contundido e escorrendo sangue.

    Fatalidade preparada pelas circunstâncias, no juízo da superstição obsoleta, eliminação necessária da incapacidade de viver, no determinismo contemporâneo, ali há uma lição e um exemplo, em paginas escritas de tal arte, que muitas vezes a realidade concreta dos sucessos se mistura a fantasia onírica da nevrose, para um efeito incomparável de perplexidade e de sonho.

    Como obra de arte, Miss Kate fixa na retentiva um momento da dor humana, com precisão fotográfica que raramente possui a retina da observação; obra de ciência, coincide, alonga, completa, sem o pretender, aliás, e só pelo prestigio de observar bem, essa noção atual da psicastenia e das nevroses congeneres.

    Sequencia nova, portanto, das paginas ansiosas de Dostoiévski e complemento amável do II volume da obra magnifica de Janet e Raymond.

    AFRANIO PEIXOTO.

    Conteúdo

    Advertência 19

    Capítulo I 21

    Capítulo Ii 32

    Capítulo Iii 43

    Capítulo Iv 56

    Capítulo V 67

    Capítulo Vi 80

    Capítulo Vii 94

    Capítulo Viii 108

    Capítulo Ix 123

    Capítulo X 133

    Capítulo Xi 142

    Capítulo Xii 161

    Capítulo Xiii 188

    O Autor 206

    ADVERTÊNCIA

    Miss Kate carece de classificação como gênero literário.

    A intenção do autor era fazer um conto, quando em 1901 traçou os primeiros capítulos. O conto, porém, que devia ser fantástico, tomou depois as proporções de uma novela; e o elemento fantástico amalgamou-se com alguns fatos de observação colhidos por quem não possui competência em psiquiatria.

    O leitor discreto e benevolente verificará, pois, até onde chega a realidade da ação mórbida traduzida no personagem Agripino e quando começa a trabalhar a fantasia ilógica do escritor.

    Em 1904 esse trabalho apareceu, com excepção da última parte do capítulo XI, nas colunas de uma revista literataria desta capital.

    Tendo-o lido, então, o eminente psiquiatra Dr. Afrânio Peixoto, achou que esta edição era digna de um prefácio de

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1