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O Pentateuco: Leituras Tardias
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O Pentateuco: Leituras Tardias
E-book163 páginas1 hora

O Pentateuco: Leituras Tardias

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Sobre este e-book

Este trabalho trata do Pentateuco. Procura-se um estudo da exegese, priorizando as possibilidades literárias e as contribuições de autores tardios, que deram origem às fontes javista, eloísta, deuteronômica e sacerdotal. Buscam-se possibilidades etiológicas em todo o contexto do Pentateuco, as quais dariam o formato final dos cinco livros. Ressalta-se a importância etiológica da posse da terra de Canaã, como objetivo central da existência de Israel como nação escolhida e exclusiva para seu Deus. Encerra-se com um estudo estratégico e geopolítico do Êxodo, da transposição do Jordão e invasão da terra, pelo Leste, assim como da ocupação das principais cidades cananitas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento15 de dez. de 2016
O Pentateuco: Leituras Tardias

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    O Pentateuco - Ivo Mikilita Filho

    PREFÁCIO

    Aquelas caminhadas após as sessões de treinamento físico militar eram sempre agradáveis. Afinal, todos aproveitavam os poucos dias de sol daquele ano. Eram também bons momentos para os dois amigos conversarem; e sempre foram bons amigos. Desde outros locais onde trabalharam, conversavam muito, mesmas ideias sobre a guerra, estratégia, táticas para treinamentos, e também para impressionar namoradas, enfim, uma amizade de irmãos.

    Um era judeu-brasileiro; o outro era brasileiro, não judeu.

    Por vezes, o assunto descambava para a situação no Oriente Médio; aí a temperatura aumentava, o consenso passava ao longe, como se os dois vivessem a situação, mas em lados opostos.

    Naquele dia, em meio à acalorada, mas também divertida discussão, um fala:

    - Meu amigo, há entre nós um abismo. A minha relação com meu Deus é muito diferente da sua. É especial, você não sabe o que é isso, Deus ter escolhido o meu povo para ser assim, somente ele o eleito. Nós temos essa vantagem, que vocês nunca alcançarão.

    Como era de se esperar, o assunto prolongou-se, até que, antes de irem almoçar, o mesmo diz:

    - Sabe, a culpa também foi nossa por essa situação. Se nós tivéssemos feito o que Deus nos mandara, nada disso estaria acontecendo. Quando Ele disse para a gente matar a todos, depois de Jericó, não deixar ninguém vivo – nenhum; então não haveria esse resto lá para incomodar.

    O fato de se sentir excluído, ser o lado B das escolhas de Deus, e da imagem de matança de seres humanos sendo tratada com tanta naturalidade, não fez muito bem ao outro. Aliás, nesse dia, o almoço teve um gosto meio amargo.

    As conversas deram-se em 1998. Dez anos após, Israel, vindo pelo Leste, penetra a fronteira da faixa de Gaza, ocupa as maiores cidades lindeiras, avança sobre as demais e divide o território ao meio. Da operação, o saldo foi de 13 israelenses e 1400 palestinos mortos. Ao que parece, os palestinos descendem dos Filisteus, o povo que os israelitas não conseguiram exterminar.

    Quase duas décadas após as conversas, apresenta-se este trabalho.

    Qual seria então a intenção de se pesquisar a respeito do Pentateuco? E que ligação teria o trabalho com os eventos já relatados? Na verdade, após os anos nas salas de aula da Faculdade, a situação na Palestina ainda suscita muita discussão, muito estudo, muito retorno às suas origens.

    As interrogações sobre o porquê de Deus ter escolhido um povo, mesmo que esse povo seja a matriz genética humana para o advento de Cristo (sendo que esse próprio povo não o aceita ainda). As pesquisas tentando perceber a mensagem divina contida nas admoestações e nas ordens ao rebanho de Moisés para que não tenha condescendência e elimine as nações. Enfim, esse assunto precisava dar vazão em algum lugar. Aqui, pretende-se ao menos lançá-lo; ao leitor, fica a crítica e as contrapropostas.

    A maneira com que o autor pretende entender, ou ao menos ver justificativas para a situação descrita é a por meio de uma leitura de viés etiológico do Pentateuco. Em nenhum momento se descaracteriza a qualidade ser a Bíblia a Palavra de Deus, apesar de que deste termo, a Palavra, também derivem outras questões polêmicas e ainda não resolvidas (haja vista a tentativa de se considerar a Bíblia como a Palavra ou como o livro que contém a Palavra, de teólogos de renome).

    Também é oportuno considerar que não se busca uma resposta puramente teológica para os questionamentos. Uma Teologia do Pentateuco percorrreria outros caminhos, com outras considerações,e, logicamente, outras conclusões.

    A condução do trabalho, por questão de coerência, necessita firmar-se sobre um assunto sempre polêmico: a autoria dos livros do Pentateuco. Se for adotada a mosaicidade completa, então caminhar-se-á mais pelo rumo puramente explicativo, pois a certeza autoral derrubará toda e qualquer interrogação etiológica. Se for seguida a estrada das composições tardias, então haverá mais oportunidade de se envolver etiologicamente, pois assim pode-se considerar os escritos como posteriores, a desenterrar tradições do passado israelita, como que para corroborar todos os eventos narrados nessa parte da Bíblia.

    Neste campo, a única certeza é justamente a de não haver consenso. Cada estudioso, e cada crente, segue suas sensações individuais. E fazendo o papel de algodão entre cristais, encontra-se a fé; mas a fé não terá seu questionamento no trabalho, uma vez que ela permeia todo o estudo. Nada é feito para confirmar ou negar os porquês de se ter fé. Tem-se fé, ou não se a tem! Mas ela esteve presente durante toda a preparação para o tema, como também se mantivera durante aqueles diálogos , já ao longe no tempo.

    Todo trabalho literário deve ter um objetivo claramente definido, senão corre o risco de se perder em devaneios, tornar-se monótono e inconcluso. Neste caso, foca-se a possibilidade de os escritores (inspirados) terem, tempos após os ocorridos, a necessidade de confirmar ao seu povo (quase sempre em situações extremamente desfavoráveis) que ele fora eleito, separado, e que era a nação da promessa, e por isso a necessidade de tanto isolamento de outros povos. É escopo também sublinhar que o elo entre o cumprimento da promessa e Israel sempre fora a posse de uma terra. Mas, com certeza, os antigos habitantes dessa terra não haviam sido avisados de que faziam parte do concerto divino-israelita, mesmo que do lado errado. Eis o porquê das guerras de conquista.

    Também não se pode falar em etiologias, escritos tardios como se fossem profecias auto-realizadoras, sem ao menos se procurar entender as composições. Assim, o trabalho começa com uma visão geral do Pentateuco.

    A seguir, pretende-se distinguir as possibilidades da formação dessa Torá (a Lei), desde a antiguidade até a seu formato mais recente, historicamente. Nessa fase, debater-se-á com o eterno problema da autoria: até que ponto seria mosaica? Haveria uma composição posterior?

    Seguir-se-á, ao longo dos temas, a visão de que, com mais probabilidade, vários autores, durante quase um milênio, seriam contribuintes para a emolduração e conteúdo da obra.

    Como já foi definido o caminho (não totalmente claro e fácil, mas penoso e por vezes traiçoeiro), serão detalhadas as possíveis fontes que contribuíram para a formação do Pentateuco, de acordo com uma das hipóteses formuladas pelos teólogos.

    De posse desse arcabouço crítico-teológico, serão levantados vários aspectos etiológicos, em todo o Pentateuco, que serviriam para justificar atos do passado israelita, num contexto teologizado, por escribas, profetas, populares, sacerdotes e anônimos.

    Por último, aliando-se o narrado em Êxodo, mais Juízes (apesar de o último não fazer parte do Pentateuco, senão seria Hexateuco), e um pouco de conhecimento de estratégia e geopolítica, traçar-se-á um paralelo entre a marcha através do deserto e a conquista de Canaã, com as possibilidades da estratégia operacional, que evolve grandes efetivos, e um objetivo bem definido; neste caso, Canaã.

    E a conclusão? Bem, tratar-se dela na fase introdutória deve ser como contar o final de um filme. Para que o enredo então?

    Enfim, o trabalho é fruto de uma pesquisa que busca retornar o diálogo entre dois ainda bons amigos, com respostas também ainda fraternas, mas solidificadas na leitura. Talvez agora, com os porquês emergindo, não haveria o silêncio do rejeitado e auto-desconsiderado, nem a surpresa em ouvir a lamúria de um trabalho de extermínio mal-feito. Até mesmo o almoço desceria melhor. Aliás, sinceramente, naquele dia, apenas um almoçou.

    CAPÍTULO 1 – VISÃO GERAL DO PENTATEUCO

    1.1 O Pentateuco na Bíblia

            Fazer uma leitura do Pentateuco, isolando-o simplesmente dos demais livros da Bíblia, seria no mínimo empobrecê-lo, correndo-se o sério risco de mesmo desvirtuar sua compreensão. Estes livros, que constituem o início de toda a obra bíblica, possuem conteúdo que se entrelaça e se aplica em todo o percurso do Antigo e do Novo Testamentos. Uma leitura atenta, seja exegética, hermenêutica, ou simplesmente alicerçada na fé, com certeza fará com que se desloque o pensamento, a curiosidade, ou a religiosidade, de um livro para outros, de um profeta para outro e para suas bases históricas anteriores, e para a mensuração de suas mensagens, adiante nos textos, em várias passagens.

    Quando o cristianismo finalmente resolveu suas pendências basilares quanto aos seus escritos canônicos, em 367 dC, e sob a égide de Atanásio, o fez considerando o Antigo Testamento parte de seu Livro. O próprio termo Antigo Testamento já suscitou divergências, com várias correntes o chamando de Primeiro Testamento, de Bíblia Hebraica, primeira Aliança, entre outros. Neste trabalho, seguir-se-á a expressão mais consagrada na cristandade, de Antigo Testamento, ou AT.

    È muito importante ressaltar que a atenção cristã ao AT, especificamente ao Pentateuco, coerentemente realizada ao se colocar a Bíblia cristocentricamente, ou seja, ao absorvê-la tendo Jesus Cristo com o ponto lógico, e interpretar o antes o depois, em função de sua encarnação, ministério, morte e ressurreição, necessita também da clareza de perceber que o AT é uma obra antes de qualquer fato judaica. E esta transmitindo os albores de um povo, seus hábitos, sua cultura, seu nascer como nação, suas vicissitudes, seu crescimento com um aprendizado calcado numa pedagogia do deserto, cheia de lutas, de revelações da relação entre Deus

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