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A Morte e o Sábio
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E-book144 páginas2 horas

A Morte e o Sábio

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Sobre este e-book

A morte é um assunto difícil que tem sido explorado pelos mais diversos campos do saber, inclusive a Teologia.E não há livro bíblico mais interessante para se estudar esse polêmico tema do que o livro de Eclesiastes, tradução grega do termo hebraico “Qohelet”, tradicionalmente traduzido como “pregador”.Neste livro, o teólogo Filipe Costa Machado apresenta ao leitor tanto aspectos do livro ― como autoria, temas e teologias ― como faz uma abordagem única e peculiar sobre a morte em Eclesiastes.Para quem gosta de um estudo feito com esmero, inteligência e senso crítico, esta obra é uma leitura perfeita e obrigatória. Todos que se aventurarem por estas páginas terão uma excelente leitura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de mar. de 2022
ISBN9786599132070
A Morte e o Sábio
Autor

Felipe Costa Machado

Filipe Costa Machado é engenheiro civil formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e teólogo pelo Seminário do Sul. Atualmente, o autor é mestrando em Teologia Sistemática, também pela PUC-Rio, e professor.

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    A Morte e o Sábio - Felipe Costa Machado

    AMorteDoSabio.CapaInterna.jpg

    Copyright© 2021 by Filipe Costa Machado

    Direitos em Língua Portuguesa reservados ao autor através da

    QUÁRTICA®RELIGARE.

    ISBN: 978-65-991320-6-3 (versão impressa)

    ISBN: 978-65-991320-7-0 (versão digital)

    Revisão: Heloisa Brown

    Capa: Teresa Akil imagem King Solomon in Old Age by Gustave Dore (1866)

    Editoração: Quártica Religare

    Editoria: Artur Rodrigues

    Deucimar Cevolela

    Conversão: Cevolela Editions

    CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    QUÁRTICA® RELIGARE

    CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948

    Av. Marechal Floriano, 143 sala 805 - Centro

    20080-005 - Rio de Janeiro - RJ

    Tel: (21)2223-0030/ 2263-3141

    E-mail: litteris@litteris.com.br

    www.litteris.com.br /www.litteriseditora.com.br / www.livrarialitteris.com.br

    Para minha mãe,

    sem a qual esse livro não se tornaria uma realidade.

    E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,

    Resignado tornar ao ponto de partida

    Se - Rudyard Kipling

    Sumário

    1. INTRODUÇÃO

    2. A MORTE

    2.1 A Morte no Antigo Testamento

    2.2 A Morte É um Fato Normal

    2.3 A Morte Não É Adorada

    2.4 Após a Morte

    2.4.1 O fim completo da vida

    2.4.2 A sobrevida no mundo dos mortos

    2.4.3 O arrebatamento e a ressurreição

    2.5 A Morte em Outros Textos da Antiguidade

    3. O SÁBIO

    3.1 Autoria e Datação

    3.2 Temas Principais

    3.2.1 Vaidade

    3.2.2 Morte

    3.2.3 Contentamento

    3.2.4 Outros temas

    3.3 Influências

    3.4 Composição e Questões Redacionais

    3.5 Teologias

    3.5.1 Retribuição

    3.5.2 Deus

    3.5.3 Antropologia

    4. A MORTE E O SÁBIO

    4.1 A Vaidade

    4.2 A Morte

    4.3 Alegria e o Contentamento

    5. CONCLUSÃO

    6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    7. SOBRE O AUTOR

    1.

    INTRODUÇÃO

    O livro de Eclesiastes é um dos mais enigmáticos e aparentemente destoantes de todo cânon bíblico. Seus temas são universais e complementares, como vida e morte, futilidade e relevância, sofrimento e alegria. Por isso, trata-se de uma das obras mais filosóficas e menos religiosas da Bíblia, já que faz perguntas que acompanham a humanidade desde sua origem e busca suas respostas no que se pode ver debaixo do sol e não em revelações sobrenaturais ou divinas, muito menos propõe dogmas e rituais para seu leitor.

    Não há nesse texto bíblico uma preocupação com o invisível ou o metafísico, com aquilo de que comumente as religiões se ocupam, o espírito. Nas palavras de Ed René Kivitz, ele [o livro de Eclesiastes] se concentra nos fatos, na vida nua e crua. Fala apenas do que é possível ser visto, iluminado pelo meio-dia, visível e aparente.

    Nesse sentido, o livro consegue agradar aos religiosos, pois é parte do cânon, ou seja, se insere na totalidade da revelação de Deus na Bíblia, mas também alcança aqueles que se cansaram das religiões, suas histórias manchadas e rituais cansativos, visto que se concentra na vida como ela é e dessa realidade tira suas conclusões sem meias palavras.

    Tem-se daí sua originalidade e beleza, pois se encontra na linha tênue entre o físico e o metafísico, o visível e o invisível, com sinceridade e olhar crítico sobre temas complicados, por exemplo a morte, o trabalho e o poder, sem medo de fazer afirmações indigestas como tudo é vaidade ou não há nada de novo debaixo do sol. Em outras palavras, a obra é uma mistura de abertura ao mundo e de conservadorismo, de ceticismo e fé.

    Por isso, o teólogo espanhol Vílchez Líndez afirma que Eclesiastes manifesta de forma paradoxal a riqueza inesgotável da revelação de Deus em palavras humanas. Seu estudo, portanto, sempre será fundamental, já que revela uma parte da maravilhosa natureza divina e dos seus planos para o ser humano, mas de forma originalmente compreensível até àqueles que não entendem ou não conhecem o vocabulário religioso.

    De todos os temas amargos que o livro traz, a morte é o mais difícil e universal. Os homens e mulheres que pisaram nesta terra não vivenciaram necessariamente todos os assuntos abordados no livro, como a insatisfação com seus trabalhos ou governos, problemas com seus cônjuges, tédio ou falta de propósito pelo qual viver, crises com os modelos religiosos tradicionais, mas, sem dúvida, todos morreram. A morte é o único evento certo na existência de qualquer ser vivo e por isso recebeu profunda atenção do Sábio, autor de Eclesiastes.

    São essas características, inevitabilidade e universalidade, que fazem da finitude humana um assunto tão temido e, ao mesmo tempo, matéria de tantas obras filosóficas, literárias e principalmente religiosas. Todas elas tentam responder ao questionamento que sempre acompanhará a humanidade em todos os dias que Deus lhe dá debaixo do sol: o que fazer com uma vida que inevitavelmente caminha para seu fim?

    Portanto, o objetivo deste livro é propor uma resposta satisfatória à luz das palavras impactantes e divinamente inspiradas do Sábio. Para isso, é preciso antes entender como os diversos redatores do Antigo Testamento entendiam o fenômeno da morte, tema do primeiro capítulo. Em seguida, são apresentadas algumas informações sobre Qohélet (ou Coélet), outra expressão para o autor de Eclesiastese que será explicada mais adiante, tais como datação, autoria, influências, temas e questões redacionais, a fim de ampliar e auxiliar a compreensão do livro. Por fim, aprofunda-se nos principais assuntos tratados pelo Sábio, vaidade, morte e o contentamento, a pérola escondida em meio à mensagem aparentemente niilista e pessimista.

    Finalmente cabe aqui um último comentário. O leitor que não está acostumado com livros de teologia bíblica pode achar estranho existirem diferentes visões dos mais variados autores do Antigo Testamento sobre os temas abordados nesta obra, como a morte ou a doutrina da retribuição, que afirma que o justo será abençoado e o ímpio sofrerá, ou seja, que cada um será retribuído conforme suas ações.

    É preciso ter em mente que existe uma progressão da revelação divina, ou seja, uma evolução do pensamento teológico ao longo do texto bíblico. Os ensinamentos mais antigos ainda não continham toda a mensagem de Deus para seu povo e por isso são atualizados à medida que Ele se revela aos seus. A beleza da teologia bíblica está em entender livros diferentes dentro do próprio cânon, compreender os contextos dentro dos quais estão inseridos e avaliar como eles podem ser complementares e úteis para a vida cristã na atualidade.

    Sem dúvida, é tarefa árdua ler um texto difícil como Eclesiastes e pensar sobre um tema hostil como a morte. Questionar os fundamentos da vida e toda atividade humana, como faz o filho de Davi, e em tudo perceber vaidade pode nos trazer questões complexas e crises marcantes. Entretanto, a voz do Sábio ecoa não somente no texto bíblico, mas em toda literatura ocidental, e chama todos que já passaram por esse mundo a uma inspeção profunda da existência. Seu leitor nunca mais será o mesmo.

    2.

    A MORTE

    Pois bem, tenhamos coragem com a morte! Tomemos essa terrível ideia com as mãos e examinemo-la de frente. Saibamos o que ela é, o que quer, voltemo-la em todos os sentidos, soletremos o seu enigma e olhemos de antemão para o sepulcro.

    (Victor Hugo)

    Houve um momento na história em que não existia passado ou futuro, não existia o ser humano, não existia vida além do Criador e por isso tudo era a eterna repetição do tempo presente. A criação do mundo e dos seres vivos é precedida necessariamente da criação do tempo cronológico, da passagem dos segundos, minutos e horas, a tarde e a manhã dos diferentes dias, como descrito em Gênesis 1, sem os quais não conseguimos imaginar como seria a vida.

    O ser humano está de tal forma impregnado com a noção do tempo que pensar a vida sem ele é impossível. Em geral, todos os dias dormimos de 5 a 8 horas, comemos a cada 4-6 horas, não podemos ficar 3 minutos sem respirar, nosso coração bate 60 a 100 vezes por minuto. A cada 365 dias, comemora-se mais um ano completo do nascimento e se imagina como se aproveitarão as próximas férias e cada estação do ano com suas peculiaridades.

    A passagem do tempo é condição necessária para a organização da vida, principalmente na nossa época. Mesmo considerando o ser humano na Antiguidade, por mais que não estivesse tão preocupado com a rotina exaustiva de trabalho ou os projetos para o ano seguinte, ainda assim organizava sua vida pela luz do dia ou pelas estações do ano e, quanto melhor esse planejamento, mais chance de sucesso em cada empreitada.

    Essa mesma passagem do tempo, fundamental para a vida, contudo, leva cada ser humano um pouco mais próximo do seu fim. Karl Rahner, importante teólogo do séc. XX, afirma que a vida é um lento morrer; Fernando Pessoa, com sua costumeira ironia, dizer ser o homem apenas um cadáver adiado. A existência tem seus dias contados, tudo que nasce uma hora necessariamente perece e ter esse entendimento talvez seja a maior diferença entre seres humanos e animais. A consciência da finitude é um passo extremamente importante no processo evolutivo, ainda mais que a descoberta do fogo, o uso da escrita ou de utensílios em geral. Segundo o sociólogo José Carlos Rodrigues, a consciência da morte é uma marca da humanidade.

    O homem da Antiguidade não estava alheio a sua condição finita. Pelo contrário, já se descobriram restos de cerimônias fúnebres e sepulturas de mais de 40 mil anos, o que torna essa compreensão uma das mais antigas já vistas na história do ser humano. Por isso, o importante pensador da atualidade Edgar Morin defende que a conscientização da morte é a aurora do pensamento humano.

    Em certo sentido, toda atividade humana é uma revolta contra sua condição de finitude ou pelo menos uma tentativa de aceitação ou explicação dessa. Uma parte considerável da produção filosófica, artística e literária da humanidade tem por tema a morte e a expressão dos sentimentos de luto; as religiões, por sua vez, em sua maioria, tentam responder ao problema da morte. As ciências naturais têm seu primeiro desenvolvimento na tentativa de prolongar a vida por meio do conhecimento do mundo que nos cerca.

    Por isso, a morte não pode ser de forma alguma banalizada, reduzida ou ignorada, ela não permite nenhuma forma de evasão. Pelo contrário, avaliá-la em toda sua influência e estar consciente de sua realidade como fim inevitável da existência humana é fundamental para que se tenha uma vida melhor, ou como afirma o teólogo italiano Orazio Piazza, ela é parte integrante do sentido e do significado de todo um trajeto existencial.

    Estudar a morte, entretanto, é uma tarefa complexa, justamente por causa dessa influência em toda a produção humana. Pode-se pesquisá-la pelo viés da filosofia, literatura, sociologia, antropologia, ciência da Religião ou Teologia, e cada uma dessas áreas do saber terá diferentes abordagens e conclusões acerca desse tema.

    José Carlos Rodrigues, por exemplo, considera o estudo da morte no nível antropológico e sociológico, ou seja, para o indivíduo e para grupos de pessoas, e em ambos os casos percebe a dificuldade de aplicação de um método científico clássico ou de uma metodologia

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