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Roswell Um Sobrevivente
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E-book660 páginas5 horas

Roswell Um Sobrevivente

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Sobre este e-book

Domingos Francisco Martins Araújo através do encontro em Janeiro de 1991 com um extraterrestre, viu a necessidade de trazer-nos essa história à tona. Os mais informados em Ufologia sabem que parte da tecnologia vigente se encontra sem seus inventores. Ninguém apresentou patentes e muitos relacionam esse fato à queda de uma nave em Roswell, Novo México, em 1947. Nessa obra estão as provas da origem do transistor, da fibra ótica, do laser, e tantos outros elementos que hoje fazem parte do nosso dia a dia. Saiba quem são os nossos semeadores e aqueles que nos protegem aqui, a guerra entre a Humanidade da Galáxia e os Greys.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de nov. de 2017
Roswell Um Sobrevivente

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    Roswell Um Sobrevivente - Domingos Francisco Martins Araújo

    DOMINGOS FRANCISCO MARTINS ARAÚJO

    ROSWELL UM SOBREVIVENTE

    CURITIBA

    EDIÇÃO DO AUTOR

    2017

    1

    Primeiramente quero agradecer a Deus, a Alá, ao grande arquiteto do Universo, a Energia-Mãe ou a qualquer outro nome que lhe é dado, , ou seja,, conhecido em qualquer idioma ou língua falada na Terra, por eu estar vivo e poder trazer à tona esta história que agora torno pública. Lembrando que nada relevante desse escrito pertence somente a mim, ou será reivindicado como somente meu, mas sim uma divida para aquele que me esclareceu.

    Aqui o nomeei de Chico Boava.

    Agradeço também a um punhado de homens valentes, que por jamais se afastarem da verdade dos fatos estiveram em permanente contacto comigo, quando a vida me mostrou seu gosto mais amargo. Emprestaram–

    me mais que seus ânimos, seus conselhos, coragem, fraternidade, como também a certeza num amanhã que juntos acreditamos será melhor.

    De dentro do meu coração agradeço também a todos aqueles que apesar de não mais estarem aqui, pois ficaram no caminho, ainda que ausentes me serviram de âncora para prosseguir buscando um meio de trazer a Paz, a Verdade e o Progresso para o nosso mundo.

    Dom Alex Albuquerque, ( Taquari ), Anísio, Batista, Bush, Eduardo, Fumagali, Gino, Juliano, Melo, Renato, Reinaldo Cristo, Rose (saudades!) Sálvio , Dom Antonio , Valcir, Zanóti (Campo Largo ) e finalmente Dom Airton, sem os quais, estou certo, a muito eu teria desistido, ante a tantas lutas e sacrifícios sem no entanto esquecer minha promessa e meu propósito.

    2

    Que o nosso criador entre os já acima citados cubra a todos esses, de saúde prosperidade e bem aventuranças.

    Que meus votos se estendam a todos os que deles descendem e também aos que se guardarem em suas sombras amigas, são os meus desejos.

    Saúde,

    Domingos Francisco Martins Araújo.

    3

    Nota Preliminar

    Estados, Reinos e Forças

    Introito

    Encontro Com o Conhecimento

    A Pequena Esfera Luminosa

    O Livro

    A Transfiguração

    Um Estrangeiro na Terra

    O Rádio

    As Javas

    O Solzinho Fujão

    Os Numerais

    De Rico a Pobre no Mesmo Dia

    É útil a Alguém

    A Segunda Visita à Fábrica de Elins

    Motores a Implosão

    Os Sete Reinos da Matéria

    O Poder das Mega Ultracurtas

    4

    A Bobina Trixizada

    A Guerra com os

    O Conselho dos Setenta

    O Universo Ainda está em Criação

    Os 130 Elementos da Matéria

    Nossas Reservas Minerais

    Estranho Poder

    O Estado Compacto da Matéria

    Quase Deuses os Astronautas?

    Crônicas de um Sábado

    Visita no Hospital

    Você Ainda Respira. Levante e Lute!

    Nota Final

    Últimos Informes

    5

    Aqui está a síntese em que se baseia os ensinamentos por mim recebidos durante os quase dez anos em companhia desse que designei como meu mestre , obstante não estão nesta ordem os ensinamentos sobre conexão e maneabilidade das forças do Universo que serão descritas adiante por compreender que nisso será necessário a inserção a leitura e compreensão do livro e da história como um todo.

    6

    NOTA PRELIMINAR

    Esta é uma história real onde datas, nomes e locais sofreram pequenas alterações para manter o sigilo que as informações exigiam na época em que a história foi vivida e redigida. Especialmente no sentido de resguardar a fonte e sua família evitando situações para as quais o mundo ainda não estava apto a absorver. Naquele tempo não dispúnhamos de ferramentas e conhecimento adequados para lidar com tecnologia extraterrestre.

    Agora, finalmente vem a público a transcrição original, acrescida de informações relevantes porem mantida a integralidade do conteúdo original.

    Tenho a firme convicção de que a partir do conhecimento das informações extraídas dessa narrativa, possam haver respostas adequadas para aquilo que desde os primórdios da humanidade ainda não foi satisfatoriamente respondida em muitas áreas do conhecimento humano e onde repousem obscuridades limítrofes. O conhecimento humano é obra do esforço de muitos, teve muitos princípios formulados ampliando os horizontes

    em

    tempos

    de

    trevas

    profundas

    e

    estabelecendo os princípios culturais aos homens do nosso mundo e do nosso tempo.

    A seriedade contida nesse texto, que hora nenhuma tem a pretensão de polemizar sobre o que já conhecemos até os dias de hoje, sobre a vida e também sobre o Universo. No entanto, servirá como motivação para rever muitos dos conceitos sobre nossas origens e tudo mais com o qual fomos educados, fixando nossas crenças e costumes. Doravante persistirá uma nova e legítima indagação sobre qual será o nosso papel, perante 7

    a realidade de que jamais estivemos ou estaremos sós neste cantinho da Galáxia.

    Com o conhecimento aqui relatado, se devidamente assimilado, sentiremos a plenitude do que esperar doravante do Universo, e também da vida que habita nele.

    Espera-se

    de

    nós

    homens

    da

    Terra,

    quando

    abandonarmos de vez o revanchismo para com nossos semelhantes que caminhemos para um futuro de paz, prosperidade e progresso verdadeiros.

    Acredito que com a minha humilde contribuição, meus semelhantes muito poderão fazer em favor de si e de nossa humanidade. Peço uma profunda reflexão para com os temas aqui tratados, pois só assim poderá ser entendida a necessidade do silêncio mantido por mim durante mais de 10 anos, e dos porquês desta história ser vivida até o presente e somente agora ser trazida à publico. Peço que esse livro seja lido com o máximo de parcimônia e compreensão possível, uma dose de cada vez. Seu conteúdo é extremamente revelador, por isso é aconselhável ser digerido aos poucos, para haver tempo em ser assimilado no todo e avaliada a extensão do seu alcance.

    Este texto está protegido pela lei do direito autoral e de liberdade de imprensa, portanto o direito de publicar qualquer informação inédita deste, bem como de seus trechos, desenhos e informes, estará sujeita ao consentimento por escrito do autor, que o compilou com a devida e expressa autorização de seu mentor. Está igualmente

    assentado

    legalmente

    e

    devidamente

    registrado em cartório com a presença da fonte.

    Domingos Francisco Martins Araújo.

    8

    ESTADOS, REINOS E FORÇAS QUE

    COMPÕEM O UNIVERSO

    Os sete Estados da Matéria Estado Compacto

    Estado Sólido

    Estado Pastoso

    Estado Líquido

    Estado Gasoso

    Estado Flutuante

    Estado Etéreo.

    Os sete Reinos da Matéria

    Reino Mineral

    Reino dos Radioativos

    Reino dos Ácidos e Alcalinos

    Reino dos Metaloides

    9

    Reino dos Fungos e vírus

    Reino dos Micro-organismos

    Reino Biológico-vegetal e animal

    As sete forças ou energias do Universo Força Orgânica

    Força Hídrica

    Força Eólica

    Força Hidráulica

    Força da Combustão

    Força da Fissão Nuclear

    Força Estelar

    As três energias do Universo

    Energia da massa do Universo onde tudo é criado e paira ( Malha do Universo )

    Energia mantenedora do Universo, a Energia-Mãe .

    Energia suprema geradora de onde se originam as 148

    energias existentes: 130 transformáveis e 18 insolúveis.

    10

    INTROITO

    Esta é, mas também não é, a minha história. É

    porque em grande parte a escrevi e dela sou parte inseparável.

    Não

    é,

    porque

    não

    sou

    seu

    protagonista, este é homem maior que eu e desculpe que você, ilustrado leitor. Indo ao ponto: é uma história narrada a mim por um homem nascido em outro sistema solar e que, como se verá, ficou entre nós de forma imprevista. Quando o conheci já trilhava o meio do pedregoso caminho de minha vida, pois que sempre haverão pedras diante de nós, as vezes no meio do nosso caminho.

    Tropeçando de pedra em pedra, de mal em mal, topei com ele em pretenso encontro fortuito.

    Bem mais tarde pude ver que não fora imprevisto este encontro. É ele o autor do sumo desse texto e, surpresa máxima, faz revelações de várias ordens.

    Revelações que superam tabus e nos informam de como é lá a vida e o mais importante, dá instruções sobre tecnologias da mais alta relevância. Por certo esse é o maior objetivo em publicar este livro, colocar o homem deste planeta em um patamar tecnológico sequer suposto ou sonhado até aqui. Isto posto, é preciso que me apresente, e como no Pentateuco, pelo introito, começando pelos primeiros momentos da minha vida.

    Era madrugada do dia 17 de agosto de 1954

    ou seria antes da meia noite jamais ficaríamos sabendo. Onde minha mãe e pai estavam não haviam relógios, quando pelas mãos da negra Ozema, parteira sem par, vim à luz e ao mundo.

    11

    Nasci nas cercanias de Joaquim Távora, ao norte do estado do Paraná. Naquela madrugada, em frente ao rancho de pau a pique, coberto com capim sapé que nos servia de casa provisória, reuniram-se alguns amigos do meu pai e como a ocasião exigia, um garrafão de cachaça do norte em homenagem ao meu nascimento. Deram tiros para o alto, como era o costume daqueles trabalhadores, que juntos com nego Xandú , apelido do meu pai trabalhavam abrindo a estrada que corta a região. Minha tia, esposa do velho Izidoro empreitara um trecho da obra da Andrade Gutierrez.

    Às custas de carroções e burros cargueiros, com mão de obra de centenas de pedreiros e serventes trabalhando nas drenagens e arrimo, função que meu pai conhecia profundamente, o serviço de corte de blocos de pedra, ele estava vivendo entre os acampamentos ao longo da rodovia em obras. Foi assim que ocorreu o encontro com minha mãe na localidade de Joaquim Távora. Ela, mulher ainda jovem com quatro filhos órfãos do primeiro casamento. Como era viúva, juntou-se a meu pai que até ali fora solteiro e com quem daquele momento em diante viveu seu amor, mesmo sendo maltratada pelo vício alcoólico do novo companheiro.

    Passados apenas quatro meses, meus pais mudaram-se para a Colônia Presidente Farias, próximo a região metropolitana de Curitiba, devido a saúde dos pequenos que foi afetada pela insalubridade local e também pelo clima ser bem mais quente que Colombo, de onde provinham.

    12

    Agora sim, estávamos próximos à capital e de volta aos costumes italianos dos quais minha mãe jamais abriu mão, o orgulho da boa polenta e do macarrão feito em casa com galinha caipira e maionese. Traziam consigo, no entanto, um problema por enquanto de colo, que no decorrer do tempo seria chamado de irmão, embora causasse vergonha por ser negrinho. Ali continuei crescendo ante os olhares curiosos dos vizinhos que por desconhecerem como era um bebe de cor negra tornaram nossa casa o mais novo ponto turístico do lugar. Apesar de tudo, continuei crescendo sob vigilância cerrada dos irmãos e curiosos locais que por vezes se aproximavam, enquanto eu no colo de minha mãe aprendia a distinguir todos os tipos de olhares a mim dirigidos. Será que mia? Será que late? Mas que diabo! Ele chora igualzinho as nossas crianças brancas!

    Estávamos em uma das muitas colônias constituídas por emigrantes italianos, como as demais situadas nos arredores de Curitiba e que segundo minha mãe, se assemelhava ao lugar em que

    nasci.

    Faltavam

    todos

    os

    itens

    que

    consideramos hoje como conforto mínimo.

    A

    noite

    na

    colônia

    começava

    cedo,

    acendíamos o lampião à querosene que ficava pendurado na parede da cozinha, trazendo aquela claridade rósea ao ambiente onde caminhávamos seguidos pelas sombras, usávamos velas que exalavam o odor de parafina queimada, serviam para clarear os quartos sem nunca esquecermos em apagá-las antes de dormir. As famílias mais abastadas como os Ceccon, os Coradin, Ferrarini e 13

    Rosenente e poucas outras, contavam com até dois lampiões à querosene e haviam algumas que orgulhavam-se do lampião à gás com camisinha de fulgor que era conhecida como lampião Aladim.

    Lembro-me da tia Pina com seu chiareto (lampião clarinho) aceso que devido às frestas do rancho criava riscos luminosos quando visto pelo lado de fora. Sabíamos onde a pessoa se encontrava devido as frestas nas paredes. Mas ali eu me tornara um dos primeiros moradores diferentes daquele lugar. Cresci sob égide europeia, aprendendo a língua comum entre os habitantes, um dialeto vindo da Itália. Até meus seis anos de idade falava e compreendia mal o português porque, como era o costume local, minha mãe falava com os filhos e vizinhos somente no dialeto dos meus avós.

    Comecei desde cedo a sentir na própria pele o que seria ter sangue mestiço. Meus irmãos não me deixaram esquecer que eu era um bastardo.

    Ainda cedo quis o destino que eu e minha irmã mais velha que aprendi a gostar mais do que dos outros irmãos, nos tornássemos unidos com nossa mãe pois juntos dela éramos solidários ante as bebedeiras do meu pai. Por conta disso, minha mãe resolveu depois ouvir os muitos e muitos conselhos de parentes e de gente amiga para que deixássemos a Colônia e acompanhando nossa mãe nos mudamos para Quatro Barras deixando meu pai por ali. Foi meu primeiro desafio, ali passei por maus bocados para aprender enfim a língua de Camões e de Pessoa, o nosso idioma pátrio, o português.

    14

    Aprendi a suportar as brincadeiras e chacotas na escola, por me tratar de um menino de cor, falando com sotaque de italianos gauleses, vale dizer de brancos europeus, enquanto na colônia eu era um emigrante negro. Ali continuei com o status de aluno evitado e sem colegas de sala. Para minha sorte, na mesma escola tinham três crianças descendentes de japoneses com quem eu dividia a carteira na escola.

    Jorge Ishiro e suas irmãs Tsuko e Iuki. Tenho saudades do bolinho de feijão doce e do recanto feliz onde eles viviam com os pais.

    O mais difícil para mim na época foi pronunciar palavras grafadas com dois erres como carro, carrinho, carroça etc. No dialeto italiano não usávamos esse fonema. Por isso, repousou sobre mim o apelido italianinho da cara suja, ou ainda

    fogoió, por causa de algumas mechas de cabelos ruivos que apareciam por entre minha farta cabeleira negra. Foi também um momento muito especial da minha vida. Ali eu conheci a luz elétrica e pela primeira vez assisti a um filme no cinema. Às vezes o filme era interrompido e a luz acesa para que o abusado apagasse o cigarro pois a fumaça impedia a projeção sem fantasma. Puxa, inesquecível mesmo era quando arrebentava a fita, a emoção de se ver entre as pessoas bem trajadas e perfumadas me é até hoje algo indescritível. Naquele tempo os filmes eram voltados ao heroísmo e à benevolência humana, bem mais que a violência estéril que hoje mais se vê nos cinemas.

    Quando os filmes apresentavam cenas que motivavam repúdio, ouvia-se um coro discordante como se pudéssemos influenciar ou mudar o final da 15

    história. Quando o mocinho vencia e tudo acabava bem, aplausos e vivas!

    O fato mais marcante daquele tempo e que ficou gravado com mais força em minha memória foi o surgimento de um circo itinerante por lá. Aquilo foi um Deus nos acuda, todos os meninos trataram de conseguir o dinheiro necessário para assistir aos espetáculos no circo em que o dono era um pouco de tudo. Para quem dispunha em sua casa de frascos vazios de bebidas facilmente vendáveis no velho armazém do Celso Creplive era fácil, infelizmente em Quatro Barras, não era o meu caso.

    O circo permaneceu uma semana em Quatro Barras, mas só consegui assistir ao último espetáculo me comprometendo com o proprietário que no dia seguinte o ajudaria a desmontá-lo para que levassem suas lonas maltratadas para um outro lugar. Lembro-me do entardecer e da tristeza que aquilo me trouxe no dia seguinte ajudei-os a desmontar o circo,fiquei por ali feito cão sem dono tendo a sensação de que os outros tinham visto muito mais que eu. Onde ficava o picadeiro restou um perfeito círculo de serragem macia espalhada no chão, quando caiu o sereno da noite começou a umedecer. Por muito tempo fiquei ali caminhando descalço olhando atentamente o chão até escurecer, em busca de qualquer coisa que eu pudesse guardar como lembrança do circo. Algum objeto do palhaço, alguma pista do atirador de facas e principalmente qualquer coisa do mágico. Talvez sua cartola amassada ou mesmo um botão de sua capa antiga, talvez uma pena da velha pombinha que ele retirou da manga de seu casaco durante o último 16

    espetáculo. Encontrei pedaços de uma gaiola carcomida onde acreditei que vivia a pombinha que ele tirou do bolso do casaco sob os aplausos de muita gente. Naquela noite o que prevaleceu no auditório foi o brilho e um cheiro forte de glostora dos cabelos da Valquíria, que era filha do Osvaldo açougueiro. Mas ali naquela tarde restaram as lembranças. Acariciei aquele pedacinho de grade com peninhas presas e pensei em como o pássaro saíra da gaiola e aparecera em suas mãos no picadeiro?

    Nesse tempo eu estava concluindo o primeiro ano escolar e já soletrava muito bem, praticamente eu já lia devagar, esforçando-me para compreender as palavras e o sentido que elas faziam entre si e no todo, até frases completas eu já reunia com orgulho.

    Andando de um lado a outro por ali notei que entre a serragem no chão pisado onde acontecera o espetáculo

    ficara

    um

    calhamaço

    de

    papéis

    amassados. Com muito cuidado fui removendo a serragem em sua volta e me deparei com o que sobrou de uma revista com fotos em preto e branco.

    Balancei-a várias vezes até que estivesse livre de todo pó e chegando embaixo da luz do poste pude soletrar as letras maiúsculas, ficção científica.

    Estava bastante amassada, mas com muitas folhas ainda intactas.

    De ficção naquela época eu nada sabia, mas científica...isso era coisa de loucos, como dizia minha mãe, essa gente sabe tudo e sem Deus, segundo seu modo de ver. Pensamento medieval o dela, sabia que se ela visse aquilo em minhas mãos queimaria imediatamente minha relíquia, por isso 17

    dobrei-a com carinho escondendo por baixo da camisa e ao chegar em casa escondi com muito cuidado a já fragmentada revista sem capa, como se fosse um pergaminho valioso, um documento histórico. A santa inquisição da minha mãe não poria os olhos sobre meu tesouro profano. Aquilo que me restara do circo sabia que nas mãos dela viraria papel de acender fogo.

    Naquelas páginas amassadas encontrei a história de um ser parecido com um lagarto que chegara à Terra vindo de outro planeta, ele chegara na Terra dentro de um tubo metálico. Este ser foi incompreendido e viveu em fuga por toda sua curta vida entre nós. Naquela revista compreendi também o sentido da palavra extraterrestre. Na mente de um menino de sete anos foi o suficiente para que aceitasse o fato ou a possibilidade de vida em outros mundos.

    Eu

    havia

    ficado

    profundamente

    impressionado e comovido e imaginava os pedaços faltantes da história cujas páginas foram arrancadas restando somente o início e parte do fim. Mas naquele tempo e naquele lugar, eu nunca tinha nem ouvido coisa igual nem pela boca do Ísse, aquele menino - o sabichão da escola, que não tinha nada para me dizer sobre aparições de naves de outros mundos. Eu tinha sete anos de idade, era apenas mais um menino pobre vivendo em Quatro Barras que andava descalço porque a alpargata era só para ir à escola.

    A família Gasparin ajudava minha mãe doando-nos leite, queijo e verduras, e às vezes um salame caseiro. Sempre que podia eu auxiliava em tarefas que não exigissem muita força física como o 18

    espaçare a corte, ou seja, varrer o terreiro. Outro aspecto marcante em minha vida se deu em virtude dos meus dois irmãos mais velhos terem sido desde muito cedo adotados por uma família abastada, cuja matriarca era uma católica fervorosa, Dona Cândida, de origem italiana. Era uma senhora decidida, extremamente

    justa

    e

    divinamente

    generosa.

    Mantinha todos os adotivos junto dela e sempre envolvidos em ocupações. Com seus 18 alqueires de Terra, sua chácara mantinha um aspecto de arraial devido ao vai e vem dos empregados que também eram moradores, ali passei horas felizes longe da preocupação do que comer amanhã.

    Conheci a ordenha das vacas e como arriar os cavalos e conduzir a carroça e era ao menos o que me deixava mais próximo dos cowboys americanos.

    Lembro que sempre que havia necessidade de levar os cavalos no ferreiro, o velho Mangi, um velhinho grisalho de origem polonesa ou alemã, quem sabe italiano... não soube ao certo, sua ferraria ocupava um barracão antigo na subida do tigre, na estrada que vai para Campina Grande do Sul. Quando ocorriam as visitas por lá eu fazia questão de estar presente e me encantava em como as ferraduras se encaixavam nas patas dos cavalos, sem que isso provocasse dor ou incômodo, pois os animais não davam coices ou ao menos demonstravam sentirem alguma dor.

    Quando em vez as caixas de madeira estouravam no saltitar da carroça pelo caminho esburacado de macadame, um tipo de saibro comum na região, e ali deitava o leite manchando o assoalho e deixando um risco sobre o pó da estrada .

    19

    Fascinava-me ver o trabalho do velho Mangi construindo novas carroças, aquilo tinha para mim um pouco do Gepeto em sua oficina imaginando o Pinóquio. Havia um esmero ao lidar com ferros em brasa para moldá-los com o malho sobre a bigorna, dando-lhes forma. Para mim era uma fábula vê-lo lidar com as peças que compunham os artefatos, pois exigiam um profundo conhecimento da dureza e resistência do ferro, dado o peso que suportariam.

    Contemplava-os e sabia que com as chuvas e os anos de serviço eles voltariam às origens, devido à ferrugem imposta pela agrura dos anos e da natureza.

    Na chácara as pessoas se reuniam em torno da cerca, extasiados com o tropel dos cavalos na hora de amansar algum potro novo, os garanhões não cediam fácil a montaria. Ali vinham o Mario Nhôca, o Mudinho irmão da Valquíria, o Keniche Cassatchoqui, e era tanta gente! Tudo isso fez com que minhas decisões futuras ganhassem um tom de, tem que ser desse jeito!

    Quando minha memória volta a Quatro Barras sinto que ali o tempo deslizou qual manteiga em chapa

    quente.

    Eu

    gostava

    de

    estar

    ali,

    principalmente em ocasiões na chácara onde minha mãe ajudava a preparar os fartos banquetes, patrocinados pelo generoso Faustino, embora de poucas palavras era sempre cordial, mas também metódico. Sua família se reunia aos domingos, vinham cedo da cidade para o almoço, vinham cedo e partiam da chácara ao anoitecer. Tinha os seis dias da semana em que eu e minha irmã dependíamos da sua pensão minguada do IPASE. Ao entardecer eu 20

    me afastava o suficiente da casinha que era alugada e me sentava no barranquinho no campinho em frente ao velho paiol dos Creplive, onde morava a dona Leonidia avó do meu mais novo amigo João, havia ali uma mancha de Terra vermelha no gramado gasto, um pontinho mágico onde tinha ficado o circo...onde eu passava horas dando asas à minha imaginação. A saudade do circo sentava ali comigo até o anoitecer quando as luzes do poste clareavam a rua determinando um vá pra casa!

    Quatro Barras conhecia naquele tempo o seu primeiro prefeito, Aníbal Borba Cordeiro, homem zeloso e íntegro cujo interesse era a educação e demais expedientes do município. Já estava chegando o dia da inauguração do colégio local que fica defronte a Chácara Mirim, sendo que até ali estudávamos na escola Dom Orione, um antigo pavilhão de madeira situado ao lado da igreja.

    Infelizmente estudei por poucos dias ali pois pouco depois, por decisão da minha mãe, nos mudamos para a Colônia Maria José, próxima a Granja do Canguiri na Estrada da Graciosa .

    Outra casa, outro lugar e também outros desafios, brigas na escola e medos permeados de bolachas de mel do armazém do memorável Ernesto Canestraro. Ali permanecemos pela gentileza do primo Nande que não nos cobraria aluguel mediante algumas trocas de favores, pois minha mãe, sua tia, forneceria a comida, roupa lavada e assim não arcaríamos com aluguel. Pagávamos somente a luz, mas foi por pouco tempo. Os antigos hábitos nos chamavam para a velha pátria, a Colônia Farias, onde quase todos andavam de tamancos, falavam 21

    italiano - a língua que eu aprendi a amar, e comeríamos fartamente a nossa polenta sem sermos vistos como pobres, já que voltaríamos a morar no que era nosso.

    Retornamos à Colônia Farias com as

    promessas de meu pai de que deixaria a bebida alcoólica. Isso se deu quando eu cursava o terceiro ano escolar, mas por troça do destino, tivemos que morar por um tempo nos fundos da escola da Colônia Farias que por sinal fazia divisa com nosso terreno, a chácara herança do meu avô para com minha mãe. Moraríamos no fundo da escola enquanto estivéssemos às voltas com o conserto da nossa velha casa que jazia em escombros, fosse pela idade da madeira ou por desleixo dos inquilinos.

    Por serem nossos parentes, não pagavam aluguel e a mãe fazia questão de não cobrar nada. Deixaram nosso terreno, que antes tinha grandes espaços limpos, parecendo uma tapera velha. Sobrou a casa com o assoalho apodrecido e frestas qual cerca de ripas, com o vigamento de baixo todo apodrecido por tanta água recebida . Nos bons tempos, nosso assoalho era encerado todos os sábados, depois que passou a servir para aquela gente não viu mais do que água e sabão todo dia - pingo d’água em pedra dura tanto bate até que apodrece. O assoalho que era do tempo do meu avô estava se desfazendo, tornando até perigoso andar pela casa.

    Mas temporariamente nos emprestaram a moradia que estava vazia nos fundos da escola, por falta de zeladora, ficamos ali por um tempo e me restava o consolo de ser o único aluno que podia dormir até mais tarde, pois o que me separava da 22

    sala de aulas era apenas uma parede de madeira.

    Naquele tempo haviam acertos entre as pessoas e para não pagar aluguel tudo era muito bem vindo, com os parcos recursos da minha mãe, meu pai reformou a velha casa usando toras de eucaliptos, que ele e meu irmão valentemente derrubaram a golpes de machado em nosso terreno, e assim puderam trocar o vigamento do antigo assoalho da cozinha e da dispensa. Ganhamos assoalho novo com tábuas de pinheiro da serraria do Antonio Ferrarini, meu pai remendou o que restava da nossa casa, ficando tudo como novo ou quase novo!

    Nas pinturas a cal e corante das paredes encontrei riscos novos e nomes próprios que detestei, mas pintaríamos tudo novamente já que a cal era farta e barata. Achei frases riscadas em nosso antigo quarto, não eram minhas crenças e com cola de trigo e água cobri aquilo pendurando ali meu São Francisco das Chagas. O quarto me pareceu maior do que era antes, pois de agora em diante eu dormiria ali sozinho, mas gostei mesmo assim, pelo menos o assoalho ainda era o mesmo que eu conheci desde infante, com suas manchinhas tão amigas no assoalho e frestas cobertas de cera.

    Eu nem imaginava que meu tempo de brincar estava acabando. Ao findar o quarto ano primário, em que tive como professora D. Margarida, brilhante educadora, uma senhora de fala mansa. Entre nós em casa, minha mãe a tratava de pata choca e não pejorativamente, mas por achá-la zelosa e paciente demais, reconhecidamente uma figura ímpar em instruir e educar aquelas crianças que traziam de casa a razia das famílias, os costumes e crenças dos 23

    ancestrais e o ainda o orgulho intacto dos sobrenomes. Guardei a imagem recorrente dessa professora quando descia rua abaixo em direção à escola, caminhando em meio a profusão de crianças que vinham lhe acompanhando. De certa forma sentiam-se protegidos ante o imaginado perigo em disputar a estrada com caminhões dos lenheiros que naquele horário raramente cruzavam pela estrada da Colônia, somente eram vistos ao entardecer quando os meninos se amontoavam sobre os barrancos para acompanhá-los com olhares curiosos.

    D. Margarida jamais demonstrou preconceito para comigo, sinto até hoje um carinho e respeito muito profundo pelos professores que muito se esforçam para nos trazer o conhecimento. Sem eles, o país e o mundo estariam ainda vivendo na idade média, queimando betume para clarear suas cavernas, aqui está uma classe que até hoje é pouco lembrada quando jamais deveria ser esquecida, todos somos seus devedores eternos.

    Assim a vida foi passando como um rio caudaloso e sombreado, deslizando lentamente.

    Lembro-me que todas as tardes, eu e meu primo Pôpo buscávamos um litro de leite na casa de dona Matilde. Ela possuía algumas vacas leiteiras e morava na estrada a caminho do Passo das Pombas. Minha mãe, malgrado nossa humildade, jamais dispensou o leite fresco e um queijo caseiro que como parte da nossa cultura, devorávamos com farta polenta. Aliás, eu costumo dizer que cheirávamos o queijo e comíamos a polenta.

    Naquele tempo o fubá era comum, e o milho provinha das plantações de roças colonas.

    24

    Numa tarde de inverno, quando voltávamos do tal buscar leite, depois de passarmos defronte a igreja, enquanto descíamos pela estrada que dava para o antigo bosque do cemitério, vimos nitidamente um vulto envolto pelas sombras no anoitecer. Surgiu a poucos metros diante de nós dois, vindo por entre as árvores, apesar de já estar escurecendo, pudemos perceber que se tratava de coisa incomum, aquilo nos pareceu um bezerro desmamado andando as tontas, mas assustava devido ao tamanho caminhando a quatro pés fora do compasso como um cão assustado. Cruzou a uns cinco metros diante de nós. Nem é preciso dizer que mal adentrou na capoeira à direita da estrada, e estávamos correndo a plenos pulmões.

    Mesmo com a habilidade de meninos, o que sobrou do leite no frasco de vidro não seria mais suficiente para a família naquela noite. O educador rabo de tatu, uma espécie de açoite muito usado antigamente na lida com os animais, fez a sua parte.

    Minha mãe queria a verdade pelo ocorrido, até hoje acredito na existência de lobisomens, mas não em vampiros, para eles eu descobri que existem outras explicações para a volúpia de sangue humano ocorrida na idade média .

    Numa tarde de verão, enquanto cruzava um enxame de abelhas, bastante comum para aquela época do ano, devido ao forte zumbido comentei com o Pôpo que eu já tinha ouvido um zumbido parecido, ainda quando morava em Quatro Barras, numa ocasião em que fui buscar o leite na chácara dos Gasparin. Naquele tempo eu tinha por voltas de 25

    sete anos, e por estar próximo a um poste onde ficava o antigo transformador da companhia elétrica não me assustei quando notei que provinha do céu um ruído que julguei ser do transformador que poderia estar com defeito, pois o som era mais audível do que o de costume.

    Daquele tempo em diante ou depois daquilo, não lembro ao certo, passei a perceber lapsos em minha memória. Aquele entardecer especifico ganhou uma qualidade única, uma nostalgia quase indefinível, até tempos atrás sempre que ouvia algo similar percebia a presença de alguma coisa inexplicável no ar, nas empresas onde contávamos com profusão de motores elétricos.

    O que ouvi durante aquele entardecer me deixou assim ...

    Na colônia os dias corriam frouxos e sem noticias, pois não dispúnhamos de luz elétrica e assim ninguém sabia ao certo o que acontecia em Curitiba, quanto mais pelo mundo, o povo vivia distraído em suas ocupações nos quintais, nas roças ou embaixo dos laranjais, numa época em que as laranjas eram impunemente colhidas sem preço algum, pois na colônia todos as tinham em casa. Às tardes eu cortava lenha para o fogão e buscava o leite para o gasto da casa, aguardando com ansiedade o regalo, os domingos de missa , a maioneses e a galinha caipira do almoço. Nessa época comprávamos leite do ranzinza, porém bom e velho patriarca, Joanim Barão, cujas enormes sobrancelhas prateadas pelo tempo protegiam seus grandes olhos amendoados da luz do sol. Era nosso 26

    vizinho na mesma estrada, a uns quinhentos metros da nossa casa. Com esse velho italiano aprendi a compreender os animais, pois nessa lida a meu modo de ver ele foi ímpar, embora fosse uma pessoa bastante excêntrica, tinha bons costumes e pétreas manias.

    Era

    um

    católico

    fervoroso,

    muito

    hospitaleiro, uma de suas manias era guardar pequenas somas em dinheiro nos sacos de farelo abertos no paiol, pois ele mesmo dizia - !se deixar no bolso da calça, a minha mulher acha quando for lavar e o dinheiro vira dia de ontem!"

    - E teu pai, Mingo, tem bebido menos? O tuta el diornofá uno... Pedo que nantro?

    - Bom Joanim, o pai não tem jeito mesmo.

    Ficou quase um mês sem beber da maldita e agora é todo o dia. Ele prometeu pra mãe, mas... até agora, ficou só na promessa.

    Minha vida foi assim até eu completar quatorze anos e começar a trabalhar fora, meu primeiro emprego com carteira de menor e assinada, meu primeiro maço de cigarros. Eu nem sabia,que abrindo aquele maço de cigarros eu tinha aberto as portas do inferno. O primeiro emprego foi num posto de gasolina como faxineiro, mas considerei um cargo importante. Aquela empresa era a mais falada nas proximidades da Colônia Farias. Ali meus melhores amigos iniciaram suas carreiras como faxineiros, o Picolé, o Dinho, o nego Rocha, o Faísca, o Bugio e tantos que seria muito extensa a lista. Por oito meses trabalhei duro e fui promovido à frentista, usando com orgulho meu macacão no abastecimento de veículos. Trabalhar nas bombas de gasolina e diesel 27

    era mais um sonho realizado, mas antes da promoção ocorreu um fato que vale citar, pois concorreu para a promoção, fui o primeiro faxineiro a limpar o escritório do posto. Ser o primeiro a fazer limpeza ali não era coisa pouca, afinal os patrões eram de origem alemã, tipo linha dura, oriundos de Blumenau, Santa Catarina, os Klótz. Tempos depois veio a promoção para trabalhar nas rampas como lubrificador e com ela o meu primeiro relógio de pulso, um Seiko automático à prova d’água e à prova de choques! Também a minha primeira bicicleta, uma Marck Swiss, pois até ali eu andava seis quilômetros a pé no ir e vir, comprei ela do meu irmão e fui pagando em prestações. Aliás, será que quitei as últimas? Já nem lembro, mas tenho certeza que ele sim .

    Eram tempos simultaneamente bons, embora difíceis e ali. Passei a conhecer e respeitar o zelo alemão,

    pois

    naquela

    empresa

    tudo

    era

    precisamente organizado e limpo o que me lembrava o espaçare e corte dos italianos aos sábados (espaçare e corte ou varrer terreiros). Nesse tempo eu já tinha 16 anos e perdi minha virgindade com alguém da BR 116, com camisinha claro, tempos únicos... Uma época de muitas festas de igreja não idas em virtude da folga no domingo só uma vez por mês, mas mantinha assim mesmo minha rotina de católico meio praticante, apesar de receber críticas da minha santa mãe que dizia, Mande os alemães pra...Você tá virando um ateu! Mas depois do dia de pagamento vinha o meu prazer, pois comprava livros dos mais diversos autores, e incipiente que eu era já lia Alan Kardec e Sigmund Freud. Ela achava tudo bobagem, dinheiro jogado fora! Mas nada abalava 28

    minha fé em Deus e sempre que podia tomava a comunhão na igreja.

    Numa manhã estando eu na missa e como de costume com 99% da minha atenção nos rituais.

    Mantendo o padre ao centro da minha visão, comecei a perceber que um leve brilho emanava ou surgia no altar. Foquei os olhos nos detalhes da vestimenta do oficiante e pasmei, havia um suave clarão em volta do padre. Me envolvi deixando a visão ganhar mais presença pois me parecia um arco íris desbotado, a seguir tive a nítida sensação de estar surdo enquanto ganhava mais percepção visual do suave clarão que evoluiu e acabou se formando um círculo luminoso em torno do oficiante, e onde ele fosse, lá estava a claridade ao seu redor. Achei aquilo muito bonito e especial, por momentos surgia um leve tom multicor semelhante com as tonalidades das bolhas de sabão em manhãs de sol. Eu tentava ouvir suas palavras durante a homília, quando percebi que quanto mais me esforçava para ouvi-lo mais a visão enfraquecia, diminuindo a intensidade e quase sumia. Lembro que terminou a missa e eu segui na direção da porta de saída da igreja. A sensação que tive foi de não sentir o peso total do meu corpo ao caminhar. Houveram cumprimentos na saída mas passei indiferente, tomando o acesso da estrada que na época era ainda de macadame, sem sentir o toque dos pés contra o chão pois perdi a noção do solo. Caminhei assim por quase oitocentos metros até o portão lá de casa. Quando entrei o encanto acabou, e tudo voltou ao normal. Contei a minha mãe aquilo tudo. Depois de me ouvir aplicou–

    me a costumeira censura.

    29

    - Mas você não tomou café antes de ir? Tinha que ter comido alguma coisa e não ir em jejum pra igreja.

    - Mas mãe eu queria tomar a comunhão! E é só jejum pra tomar!

    - Ah...Vá...Vá...Vá...Buro ! A comida não vai estrová Jesus nessa barriga que cabe o céu intero!

    Em 1972, o meu casamento e dele um filho, Alexandre, quanto orgulho, um cara autêntico.

    Depois já morando em Ponta Grossa em 1975 outro filho, Alessandro. Hoje, muitos netos. Voltando a morar na Colônia Farias em 1987: Alediane, depois Alex e por fim Alisson. Fotografias de aniversários por certo esquecidos por eles.

    Ano de 1991 aos 37 anos. Prossigo lendo tudo o que minhas posses e salário permitem, trabalho no grande clube pela segunda vez e certo dia atendi ao convite de uma pessoa que a princípio ao conversarmos despertou a minha atenção e curiosidade, prezado Dr. Amauri. Por seu intermédio visitei uma pequena sala no sexto andar de um prédio antigo na rua XV de Novembro em Curitiba.

    Deparei-me com livros que anunciavam com ênfase serem da Cultura dos discos voadores!

    Finalmente, chego aos quarenta e poucos anos. Não me sinto cansado, mas estou convicto que a procura acabou ou desisti não sei, embora como todo mundo continuo sem respostas para tantas perguntas que desde sempre me vieram a mente, continuo sendo um católico não praticante mas 30

    acima de tudo, acredito muito na existência do criador que está presente em tudo e em toda parte.

    Sinto uma ternura sem limites quando escuto a voz da minha mãe a orar para Nossa Senhora Aparecida a virgem negra, como sempre a vi fazer em tantas ocasiões desde a minha infância. Minha mãe com seus generosos oitenta e poucos anos , testemunhos da pobreza que sempre nos acompanhou, continua com a mesma nobreza dos gauleses em não dever nada a ninguém , reza todos os dias apesar da doença até agora incurável que se abateu sobre ela, mas seus olhos continuam azuis e firmes como sempre foram, Muitas imagens da santinha se quebraram no decorrer do tempo , em quedas de cima de armários antigos enrugados como a sua pele, talvez também pelos desgostos que lhe dei ao não conseguir ser tão igual a todos como o são meus outros

    irmãos

    , por

    isso

    sou eternamente

    arrependido mas a fé que minha mãe tinha na santa e em Deus a acompanhou ate a hora da sua morte quando de coração partido eu estava ao lado do seu leito e deixava a santinha em suas mãos , ajudando-a a segurá-la ensinando-a a morrer enquanto eu rezava pedindo o melhor a ela para Deus , depois em silencio senti o salgado de minhas lagrimas , e ela gesticulando um aperto em meus dedos da o seu ultimo suspiro , eu escondo suas mãos entre as minhas até senti-las sem vida .

    31

    ENCONTRO COM O

    CONHECIMENTO

    Fazia um frio característico de julho. Ia bater as 13hs quando, malgrado o acinzentado do céu, eu e minha esposa embarcamos na velha lambreta LD, com destino ao hospital em Campina Grande do Sul.

    Devido sua gravidez que se adiantava, dias antes ela tinha marcado uma consulta com o ginecologista. Seria nosso segundo filho de um casamento que até ali dava certo. Como eu poderia saber que aquele dia ficaria marcado para sempre em minha vida? Assim, descemos pela Avenida Presidente Farias, e tomamos a esquerda, cruzando à frente da antiga serraria dos Ferrarini. Subimos pela estrada de macadame, que hoje homenageia o velho vinheiro Marcelino Zanon. Pouco adiante já atingíamos o bairro do Timbu Velho. Até ali tudo ia bem, a antiga LD resmungava, mas, qual cavalo dorido e em ponta de cascos, valente não arrefecia no intento. Porém, quando atingimos a base mais alta, no lugar onde viveu o Bepe Simioni já entrando na reta do Timbu a máquina começou a tossir indignada. Puxei firme o acelerador para tentar o truque do desengasgar, mas quê! Tinha alguma coisa errada e eu sabia que essa coisa era sujeira no carburador.

    Chegamos

    aos

    trancos

    embaixo

    das

    generosas sombras de pinheiros a direita da estrada.

    Ali o motor apagou totalmente, deixando o cheiro de gasolina no ar. O remédio foi empurrá-la sozinho, 32

    mesmo porque minha esposa estava no sétimo mês de gestação e não poderia fazer força alguma a não ser a que já estava fazendo ao levar dois corpos.

    Estávamos numa planície, dali se via nitidamente a velha torre da igreja da Colônia Farias centenária e imponente como um guardião solitário vigiando os arredores, qual mãe cuidando dos filhos.

    À direita de onde paramos partia uma rua secundária, recoberta por macadame que eu já conhecia de antemão, levava a um loteamento, tomamos à direita e na cabeceira da descida embarcamos, afinal, com uma rampa tão longa o motor tinha uma boa probabilidade em funcionar no tranco.

    Depois deslizamos por uns trezentos metros ou mais e o motor retomou a tosse, ao invés de roncar bonito afogou novamente, bafejando o forte cheiro de gasolina sobre o pó da estrada. Chegamos no final da rua que acabava num córrego a céu aberto, olhei em volta e respirei fundo, positivamente aquele não parecia era o meu dia de sorte.

    A solução foi empurrar a máquina de volta morro acima, enquanto minha mulher me seguia à distância segurando a volumosa barriga muito mais desanimada que eu. Ao passar diante de uma casa humilde a construção de muro ainda inacabado, tive uma grata surpresa. Acreditei que o vento enfim mudaria a meu favor. Exatamente diante da casa sobre um amontoado de madeiras jazia o esqueleto de uma lambreta LD ou LI nunca soube .

    Empoeirada e sem rodas com falta de outros 33

    componentes, mas o motor escondido entre manchas de óleo seco ainda estava ali.

    Sem a menor timidez, que normalmente acompanha quem é criado às antigas, parei e me aproximei de onde provavelmente no futuro passaria o muro da casa e demonstrando respeito bati palmas. Logo surgiu um cão pequinês maltratado e velho, que fez a máxima questão de mostrar os dentes cariados para mim ao latir. Creio que tenha sido por desencargo da consciência dele, pois percebi que nem ele próprio acreditava poder me intimidar, fez isso sendo contemplado por um gato mourisco que se lambia despreocupado sobre o muro da vizinhança. O cão parou diante de mim fazendo todo o possível para anunciar a minha presença. Apesar dos seus ganidos mantive a postura superior e olhei para os fundos do lote onde havia um galpão com a porta entreaberta, divisei algumas pessoas que lidavam com ferragens e ferramentas, provavelmente uma serralheria, pensei.

    De lá surgiu um menino com cabelo

    desgrenhado com vasta mecha sobre o nariz que sem me ver direito veio em minha direção quase babando ofegante. Aparentava uns dez anos, falei com ele sobre o meu problema e indaguei se havia alguém ali que entendesse de lambretas.

    Ele ergueu melhor o cabelo e sem graça me fitou. Ah, de lambreta, falou com desdém, bom acho que meu pai entende, espere um pouco eu vou chamar ele.

    34

    Dito isso, ele partiu aos saltos em direção ao galpão no qual se viam as figuras indiferentes a transitar. Dentre elas surgiu um homem que à primeira vista me pareceu descendente de nórdicos, um alemão, não sei... naquele momento aconteceu algo que eu jamais vou poder explicar de modo convencional. Ele deu alguns passos em minha direção e parou como que para se certificar do que se tratava, parou a uma dezena de metros de onde eu estava e pude notar nitidamente suas feições, e me pareceu sorrir cordialmente.

    - Deu problema na tua lambreta?

    Notei em seu semblante um quê de

    perplexidade e indagação para além da própria pergunta.

    Naquele

    momento,

    acabei

    por

    compreender todo o esforço que a humanidade tem feito desde quando alguém falou em conhecimento, desde que o homem deixou seus símbolos estampados em cavernas e grutas num passado distante .

    Surgiu-me uma fortíssima vibração entre as sobrancelhas, me pareceu haver um tremor num ponto central acima do meu nariz . Era uma coceira incomum muito intensa que só cessou por eu ter achado aquilo um fato tão inédito que em dado momento tornou-se incômodo. Temi que o sujeito tivesse notado algo e levei as costas da mão direita esfregando a testa para ver se aquilo cessava. O

    efeito de esfregar a mão foi suficiente para fazer com que no mesmo instante aquela inesperada e estranha sensação desaparecesse. Então eu soube naquele momento que literalmente eu não estava de 35

    modo algum diante de uma pessoa comum. O

    homem é espírita dos bons!

    Devolvi a fala comentando meio embaraçado que havia descido por mais de trezentos metros morro abaixo com a lambreta afogada, e como notei haver uma em frente a sua casa resolvera pedir ajuda.

    - Fez bem, disse ele ainda me olhando firme.

    É certo que hoje não terei tempo de mexer com sua máquina, mas vamos fazer o seguinte: recolha-a aqui na garagem, logo mais eu vou dar uma olhada, sem compromisso claro. Se fosse há vinte anos atrás você encontraria um mecânico de lambreta em cada esquina, mas hoje elas saíram da moda e convenhamos , pouca gente entende deste tipo de condução.

    De certo modo ele pareceu curioso pelo fato de eu ter tomado justamente a sua rua e mais de ter encontrado a sua casa por meio da lambreta que segundo ele enferrujava ali na frente . Enquanto minha mulher era servida com um copo de água fresca pela esposa do solidário senhor até então desconhecido. Concluí que ele deixara aquela lambreta ali para logo mais vendê-la para algum ferro velho. Conversamos um pouco e ele me contou que aquela lambreta outrora teve grande participação em sua vida, pois o conduziu por uma longa viagem dos confins do Rio Grande do Sul de onde partiu com tudo o que lhe restara e o trouxera até ali são e a salvo .

    36

    Agradeci a hospitalidade reiterando que no dia seguinte eu voltaria para me inteirar do problema da máquina, nos apresentamos , pois me ocorreu que eu nem sabia o seu nome, declarei o meu e ouvi o seu.

    Domingos eu me chamo Chico Boava , mas aqui na vila todos me conhecem por Dom Boava, e as crianças da vizinhança por velho Boava. Nos despedimos e ele meio por troça declarou que para não confundir-me com a rua era só procurar pela rua das mulheres feias e cães vagabundos, naquele momento circulava uma matilha de animais emagrecidos por ali .

    Tomei minha companheira pela mão e

    subimos a pé morro acima em direção ao ponto do ônibus, que a levaria até o hospital. Quanto a mim, tomaria outro no sentido a Curitiba, ao meu destino para trabalhar no grande clube de campo, onde eu me ocupava como massagista na sauna masculina já

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