Céu Negro
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Céu Negro - Renato Figueiredo
CÉU NEGRO
FUGA DO MUNDO VERMELHO
RENATO FIGUEIREDO
2º Edição
Edição do Autor
Orlando, Florida
2017
SUMÁRIO
PRÓLOGO .................................................................................... 3
CAPÍTULO 1 — Lixo, sopapos e ovos ......................................... 5
CAPÍTULO 2 — Meu muquifo .................................................. 13
CAPÍTULO 3 — O impacto........................................................ 19
CAPÍTULO 4 — Morte, caos e proteção .................................... 26
CAPÍTULO 5 — Depois da tempestade... .................................. 35
CAPÍTULO 6 — Diretrizes......................................................... 44
CAPÍTULO 7 — Começa a jornada ........................................... 52
CAPÍTULO 8 — Obstáculos....................................................... 61
CAPÍTULO 9 — Lambendo as feridas ....................................... 71
CAPÍTULO 10 — Rota alternativa ............................................. 81
CAPÍTULO 11 — Encarando a realidade ................................... 94
CAPÍTULO 12 — Águas e odores ............................................ 104
CAPÍTULO 13 — Galhos, rios e inimigos ............................... 117
CAPÍTULO 14 — Separados .................................................... 128
CAPÍTULO 15 — Tão perto, tão longe .................................... 140
CAPÍTULO 16 — Correr ou enfrentar?! .................................. 152
CAPÍTULO 17 — Sangue e lágrimas ....................................... 166
CAPÍTULO 18 — Rumo ao lago .............................................. 176
CAPÍTULO 19 — Planos... ....................................................... 187
CAPÍTULO 20 — Território inóspito ....................................... 198
CAPÍTULO 21 — Nas mãos do exército .................................. 209
SINOPSE ................................................................................... 221
Céu Negro – Fuga do Mundo Vermelho
CÉU NEGRO
FUGA DO MUNDO VERMELHO
PRÓLOGO
O dia está cinzento, parece antecipar algo de ruim.
Raios e nuvens aparecem em quase todo o país. O ambiente nas ruas é bem desfavorável, não o meteorológico, mas o clima entre as pessoas.
O governo corrupto do Partido Vermelho, que se sustenta no poder há quinze anos, não foi destituído do poder pelos meios legais após vários crimes cometidos, e uma frustração da população trabalhadora, que paga impostos, paira no ar.
Os governantes distribuíram benesses aos congressistas e, com o aparelhamento do supremo tribunal federal – a mais alta cúpula do judiciário no país –, conseguiram se blindar no poder.
Ao longo da história, muitas revoluções começaram pela insatisfação popular em relação a governos corruptos que aumentam a carga tributária para cobrir seus gastos estratosféricos. Pelo rumo que as coisas vão, não seria de se espantar que o presidente fosse tirado do poder aos pontapés, pois os protestos, que antes eram esporádicos, agora tornam-se mais frequentes e, mesmo que não reúnam dez milhões de 3
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pessoas, como os anteriores, esta presença constante dá condições ao executivo de usar o que de mais importante tem nas mãos: a caneta.
Já existe boato que o Partido Vermelho começa a costurar um plano para suprimir as manifestações decretando um Estado de Sítio
, em que o poder executivo suspenderia as prerrogativas do legislativo e do judiciário, além dos direitos individuais.
E não deu outra. Foi decretado o Estado de Sítio, e o exército já começa a tomar as ruas, dispersando manifestantes que pedem a saída do governo corrupto. Com a popularidade em torno de cinco por cento de aprovação e os ânimos ficando mais acirrados, relatos de confrontos entre populares e milicianos pipocavam por todo país, era de se esperar que o status quo tomasse esta atitude.
Finalmente, os comunistas estão conseguindo seu intento; após várias décadas, terão o controle da população como Stalin teve na URSS por quase trinta anos.
Realmente, o dia cinzento foi um prenúncio de dias nebulosos à nação!
O ano de 2017 entrará para a história, mas não por um motivo que seja para celebrarmos.
O céu cinza, em poucos minutos, torna-se negro, sendo um prenúncio da tempestade que nos assolará daqui em diante.
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Céu Negro – Fuga do Mundo Vermelho
CAPÍTULO 1 — Lixo, sopapos e ovos
O sol começa a surgir, raios atingem meu rosto suavemente, como se quisessem me avisar de que o dia está começando e que o período para ficar na cama acabou. Não que estivesse tão agradável assim, um travesseiro surrado e um colchão fino, como um saco de dormir, estão longe de ser uma cama " king size" e um travesseiro de pena de ganso, mas, nas condições em que a população se encontra, posso me dar por satisfeito.
Hoje é vinte e oito de fevereiro de dois mil e cinquenta e um, tenho que continuar a luta diária, coletando materiais recicláveis para aumentar a mísera renda que o governo me paga.
Sim, é isto mesmo, desde que os revolucionários tomaram o poder, num golpe de estado, calando o congresso — entregando o poder a conselhos populares
, às milícias, a supostos movimentos sociais —, não temos muitos empregos à disposição. As indústrias que não foram tomadas pelo establishment deixaram o país antes da expropriação estatal.
O que rege a economia agora é o capitalismo de Estado, em que empresários que estão em conluio com o governo dominam empresas que destruíram a concorrência, comprando os menores e criando empecilhos judiciais aos maiores, até que os donos dessas companhias fossem exauridos da vontade de investir por estas bandas.
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Mas é óbvio que os que estão no comando vivem como nababos, espoliando a população, que trabalha em troca de migalhas.
Fazemos parte, geopoliticamente, da União Socialista das Américas (USA), que tem como participantes países da América Central e do Sul. Alguns países vizinhos conseguiram se manter imunes às conquistas comunistas e, com a ajuda dos grandes capitalistas do extremo norte, prosperam e impedem que os vermelhos dominem todo o continente sul.
Não temos informações sobre o mundo, a imprensa é controlada pelo governo e não possuímos acesso à internet. O
que não mudaria muita coisa, pois não há como pesquisar via sites de busca ou outros meios quaisquer, já que todos os acessos são monitorados.
Bom, mas essas histórias não encherão minha barriga, afinal, minha ração — sim, ração... desenvolvida pela Universidade Che Guevara, que, segundo eles, tem todos os nutrientes para sustentar uma pessoa durante o dia — acabou e preciso me alimentar para continuar meus treinos de MMA e resistência física, pois, em breve, pretendo partir para um país vizinho, livre desta ideologia maldita.
A tarefa não será fácil. O governo baixou um decreto que impossibilita a saída de pessoas de bem para o exterior, portanto, se eu quiser uma vida melhor, terei que enfrentar as barreiras do exército da USA, que tem ordens para prender imediatamente quem não apresentar a documentação exigida pelo Estado. Se a pessoa oferecer resistência, pode ser executada, sem nenhuma cerimônia.
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Apesar da extensa fronteira, existe uma patrulha ostensiva nas divisas entre o país em que vivo e os inimigos da " Revolucion", que são ajudados financeira e logisticamente pelo grande irmão do Norte.
Mas, agora, voltando ao meu cotidiano, você deve estar se perguntando como um peregrino como eu treina MMA.
Respondo de primeira: treino sozinho, com um saco de pancadas que achei num lixão e tenho uns pesos com latas de tinta cheias de concreto, para exercitar os músculos.
Antes de fugir da escola, fiquei amigo dum professor de jiu-jítsu, que tinha experiência em MMA. Fiquei, dos quinze aos dezessete anos, treinando e principalmente aprendendo técnicas de luta. Os treinos acabaram, pois tive que fugir da escola. Tudo aconteceu após uma discussão com um professor de História das Revoluções, acabei perdendo o controle e xinguei-o de pelego — eles detestam ser chamados por este apelido. Ele não se conformou com minha atitude reaçonária e partiu para a agressão. Quando tentou me acertar um cruzado, esquivei pendulando para a direita e mandei um direto de esquerda, nocauteando-o.
Naquele momento, percebi que a arte marcial estaria ao meu lado quando precisasse me defender de asseclas do regime vermelho.
Tive que me evadir imediatamente, pois pelegos que estudavam comigo — o governo tem olheiros em toda parte— começaram a gritar, clamando pelos seguranças, os populares chapos, que rapidamente vieram ao meu encalço, mas consegui despistá-los e me escondi num armário, dentro da sala do zelador. Esperei o sinal tocar e me misturei com os outros alunos para deixar a escola.
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Não senti nenhuma falta das aulas após abandoná-las, pois éramos doutrinados pelos professores marxistas. Livros de autores conservadores e liberais eram proibidos. Todos que foram encontrados foram queimados. Quando eu encontrava algum, escondia-o mais que depressa.
A única lembrança de que tenho saudade é de apreciar a beleza da Cristina Paiva Torres Nunes, de seus olhos cor de mel que ficavam esverdeados quando refletiam a luz do sol, sua pele branca como a neve e seus cabelos negros como a noite sem lua. Seu sorriso sempre alegrava meu dia, e não sei se era devaneio, mas notava que ela me olhava de canto de olho. E parava por aí. A bela sempre andava cercada por seguranças, pois era filha de um integrante do alto escalão do governo.
Mas, voltando aos livros, tive a sorte de encontrar uns bons, de alguns autores anticomunistas como Olavo de Carvalho, Rodrigo Constantino, Lobão, Bruno Garschagen, Adam Smith, entre outros. Consegui a maioria deles quando entrei na casa do seu Manoel, um senhor de aproximadamente setenta anos de cabelos brancos encaracolados, mulato e de uma aparência serena, logo após os chapos o prenderem por conspirar
contra o regime.
Gostava de ouvir as estórias dele, mas alguém o delatou como reaça
— é assim que são chamados quem discorda do governo —, e ele foi levado para alguma penitenciária onde presos políticos apodrecem até a morte.
Enquanto me lembro destas estórias, caminho e já noto, ao longe, meu destino. Ando poucos quilômetros e pronto, cheguei no lixo mais promissor de todos, o do restaurante da 8
Céu Negro – Fuga do Mundo Vermelho
prefeitura. Latas e materiais plásticos são descartados aos montes, aqui eu encho três enormes sacos de estopa com tudo que possa me render algum dinheiro.
Não há muita disputa para conseguir meus materiais, marquei meu território, claro que não foi na base do com licença
, se é que vocês me entendem, hehehe... Mas há um cara novo por aqui, olhando-me fixamente, próximo de alguns desafetos meus.
O cidadão tem cerca de um metro e noventa, aparentemente pesa uns cento e dez quilos, loiro com o cabelo bem baixo, como se tivesse passado a máquina de cortar cabelo com a lâmina número dois, camiseta rasgada nas mangas, calça jeans também surrada, mas o que mais me chama a atenção é seu calçado, um coturno de aparência do exército.
Provavelmente este cara deve ter sido expulso ou deserdado das forças comunistas, tenho que ficar atento, pois ele pode me dar trabalho num eminente confronto.
Acabo de encher meu terceiro saco e me preparo para sair do local quando vejo o polaco vindo em minha direção.
Ao fundo, observo dois vadios cochichando e dando risadinhas; pelo jeito, acreditam que serei expulso do meu território.
Finjo que estou distraído e ouço a voz rouca me interpelando:
— Ei, você...
Respondo com ar de surpresa:
— Eu?
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Neste momento, estou abaixado, fingindo que pegarei um dos sacos quando noto ele dando mais um passo e preparando o braço direito para me golpear. Numa fração de segundo, impulsiono meus noventa quilos, distribuídos em um metro e oitenta, num direto de esquerda, antecipando o golpe do polaco grandalhão, que sente a pancada no queixo, mas, para meu espanto, não tomba. Na continuação do movimento do golpe, atiro-me em seu quadril. Com o impacto — e por estar meio grogue —, desequilibro-o e parto para a montada (um tipo de imobilização usada no jiu-jítsu), travando-o no chão, faço postura para atacar e desfiro vários golpes com os punhos e com os cotovelos, até o grandalhão apagar.
Levanto meio ofegante e, ao longe, vejo dois vagabundos, os mesmos que incentivaram o polaco a brigar comigo, correndo para escaparem da minha ira, que, com certeza, seria abrandada somente por uma sova bem dada em ambos.
Para evitar uma possível perseguição e garantir uma vantagem, amarrei os braços e as pernas do meu adversário.
Caso ele queira uma revanche rápida, estarei longe quando se soltar.
Devo acelerar o passo, pois preciso chegar ao centro de reciclagem o mais rápido possível, tenho que pegar logo o dinheiro para conseguir o que preciso.
O Revitaliza Mais é um centro de reciclagem do governo e, com estas latas que peguei, conseguirei uns dez Fidéis — que é a moeda oficial do país —, que me ajudarão na alimentação de hoje.
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Céu Negro – Fuga do Mundo Vermelho
Pronto, peguei a grana e agora é seguir mais cinco quilômetros a oeste, em direção a um assentamento de terra, onde encontrarei um piá que tenho amizade, conhecido como Rato. Tenho um trato com ele, uma vez ao dia passo neste acampamento, escondido dos militantes, para comprar ovos que o Rato rouba das galinhas deles antes da turma apanhá-
los pela manhã.
Já passa das quatro horas da tarde e me escondo no arbusto de sempre. Logo vejo o rapaz magro, de estatura mediana, cabelo curto e espetado, aproximando-se sorrateiramente. Quando ele me vê, dá um sorriso contido, mostrando seus dentes que lhe dão o apelido.
— E aê, irmão, trouxe meus ovos?! — pergunto.
— Tá na mão, Pit..
Ah, sim... Várias pessoas me conhecem pelo nome de Pit, pois não levo muitos desaforos para casa, se é que vocês me entendem.
— Beleza, Rato! Manda os vinte ovos pra cá.
Ele faz uma cara de contrariedade e me fala: — Poxa, irmão!! Quebrei um ovo na corrida até aqui, quase que um zumbi me pegou, mas ele não chegou a me reconhecer. — Calma, não estamos num filme de andarilhos cadavéricos, daqueles seriados de mortos-vivos, só chamamos esta turma de pelegos por este carinhoso apelido.
— Ok, Rato... Desta vez, passa!
Diante da estória, não tive muito como contestar a perda de um ovo, afinal, ele é a minha fonte confiável de proteína que preciso para me manter em forma.
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Pago-o, embrulho os ovos numas folhas de jornal, para evitar que quebrassem com facilidade e rumo para casa, se é que aquele muquifo pode ter esta conotação, mas não tenho outra opção a não ser colocar o pé na estrada com o sol se pondo às minhas costas.
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CAPÍTULO 2 — Meu muquifo
Estou quase em casa. Vivo escondido num espaço dentro de um prédio abandonado. O lugar deve ter uns três metros de comprimento por dois metros de largura, com chão e paredes de concreto. Para ter um certo conforto, puxei um gato
da rede elétrica principal e tenho como ligar um ponto de luz, é assim que leio meus livros. Numa área aberta, no fundo do prédio, deixo meus aparatos de treino, tudo improvisado, mas, para as circunstâncias em que vivemos, posso me dar por satisfeito.
Tenho esperança de conseguir poupar um dinheiro e partir para um país vizinho, tentar uma vida nova, num lugar que dê oportunidade para quem quer estudar, trabalhar e vencer na vida, sem depender de migalhas do governo. Tenho uma carta na manga, o nome de alguém do exército de lá que poderá me ajudar, mas isto são mais desejos que algo palpável, tenho que voltar à minha realidade.
Aliás, não sei o que me dá mais prazer entre ler livros e treinar meu condicionamento físico. Pratico ambos desde meus doze anos