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Psicologia Da I Guerra Mundial Iii
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E-book379 páginas4 horas

Psicologia Da I Guerra Mundial Iii

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Sobre este e-book

Estudo psicológico da I Primeira Guerra Mundial, bem como suas estratégias e impactos na vida dos povos envolvidos e nas relações internacionais. Do criador da Psicologia Social e da Psicologia da Política.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de nov. de 2018
Psicologia Da I Guerra Mundial Iii

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    Psicologia Da I Guerra Mundial Iii - Gustave Le Bon

    Gustave Le Bon

    Psicologia

    da

    I Guerra Mundial III

    (O Pós-Guerra)

    Tradução: Souza Campos, E. L. de

    Teodoro Editor

    Niterói – Rio de Janeiro – Brasil

    2a Edição: 2018

    Psychologie des Nouveaux Temps. Paris, 1920.

    Tradução de Souza Campos, E. L. de

    © 2018 Teodoro Editor: Niterói – Rio de Janeiro - Brasil

    Ao meu eminente amigo,

    Louis Bondenoot

    Vice-Presidente do Senado

    Presidente da Comissão do Exército.

    Em reconhecimento por sua preciosa ajuda durante a redação de meus livros sobre a guerra.

    Gustave Le Bon.

    Psicologia da I Guerra Mundial III

    Gustave Le Bon

    INTRODUÇÃO

    As horas novas

    Sumário

    O ano de 1918 marcou uma data luminosa nos esplendores de nossa história. Após uma série de sucessos que pareciam lhes pressagiar um triunfo definitivo, nossos agressores mergulharam bruscamente num cataclismo que destruiu num só golpe as mais antigas monarquias da Europa.

    Nunca acontecimentos tão contraditórios e tão imprevistos se sucederam em um tempo tão curto. Na era dos milagres teria parecido certo que potências superiores misteriosas tivessem intervido para mudar o curso do destino.

    As potências capazes, apesar de todas as previsões, de subjugar o mais formidável império que o mundo conheceu, eram bem superiores mas não misteriosas. Elas pertenciam ao domínio transcendente das potências psicológicas que tantas vezes ao longo dos séculos conseguiram dominar as forças materiais, qualquer que fosse sua grandeza.

    Em todas as fases do formidável conflito, essas potências morais manifestaram sua ação. Nos países outrora sem material militar e sem soldados elas fizeram surgir, com inumeráveis legiões, navios e canhões.

    Dia após dia agentes materiais visíveis nasceram sob a influência de potências invisíveis, até o momento em que as primeiras se tornaram capazes de superar obstáculos tidos como intransponíveis.

    As forças psicológicas, das quais as ações morais fazem parte, não regulam somente a sorte das batalhas. Elas regem também todos os domínios da vida dos povos e fixam seu destino.

    *

    *    *

    Concebido no mesmo espírito que nossas obras anteriores sobre a guerra, este novo livro estudará sob o ponto de vista psicológico alguns dos problemas que o grande conflito fez nascer. Veremos mais uma vez que a maior parte das questões políticas, militares, econômicas ou sociais é do campo da psicologia.

    Essa ciência, tão imprecisa outrora, quando se confinava no domínio da teoria pura, tornou-se capaz de esclarecer as mais difíceis questões. Homens de Estado, generais, até mesmo industriais recorrem a ela a cada dia.

    Se tantos problemas, presentes ou passados, são de ordem psicológica é porque a vida dos povos tem por motivadores, fora suas necessidades biológicas, as concepções que eles fazem das coisas. No entanto, essas concepções são derivadas dos sentimentos e das paixões que sempre foram os grandes motores da humanidade, desde as origens de sua história.

    Civilizações novas nasceram e as lutas de outrora sobre a terra e sobre o mar acontecem agora sob a terra, sob o mar e nos ares, mas, se a inteligência evoluiu ao longo do tempo, os sentimentos permaneceram idênticos àqueles que animavam nossos mais longínquos ancestrais.

    Mesmo que a natureza dos sentimentos não tenha mudado, os agregados que eles podem formar e cujo conjunto constitui o caráter, variaram de um povo a outro e é por isso que os destinos dos diversos países foram tão diferentes.

    Sempre foi perigoso ignorar essas diferenças. Os alemães perderam a guerra por tê-las ignorado. Seus erros de psicologia dos povos armaram contra eles nações que só queriam permanecer neutras.

    Os Aliados cometeram também erros de mesma ordem, sobretudo depois da guerra. Eles serão estudados nesta obra.

    *

    *    *

    As forças morais que regem a evolução dos povos são criadas por longas acumulações herdadas. O estado presente de um ser é resultado de sua vida anterior, como a planta é derivada de sua semente.

    Decorre dessa lei essencial que as sociedades não podem __ como acreditam tantos sonhadores __ serem refeitas segundo sua vontade.

    Sem dúvida que as antigas sociedades como a nossa contém muitos elementos gastos, não adaptados às necessidades modernas e que, por consequência, devem desaparecer. Processos industriais muito antigos, métodos de administração de uma complicação inútil, marinha mercante inferior às necessidades atuais etc.

    Mas todas essas mudanças materiais implicam primeiro em mudanças de mentalidade. Não são as instituições que fazem o valor das almas, mas as qualidades das almas que fazem as qualidades das instituições.

    Os povos latinos são, infelizmente, vítimas de uma ilusão que pesa cada vez mais sobre sua história. Há pouco saídos de uma época em que a vontade dos deuses e dos reis constituía os grandes reguladores das coisas, eles permanecem inconscientemente convencidos de que seus governantes herdaram esse poder e devem dirigir toda a vida de um país.

    Com a evolução industrial moderna essa ilusão se torna a cada dia mais nefasta. Na fase atual do mundo nenhuma intervenção estatista, por mais judiciosa que a suponhamos, não conseguiria substituir a iniciativa individual, o amor pelo trabalho, o discernimento e a competência.

    *

    *    *

    Mas então, como modificar um pouco a mentalidade de um povo, já que os mais imperativos decretos seriam impotentes para transformá-la?

    Os meios de agir sobre a alma das pessoas são pouco numerosos. Fora das crenças religiosas __ que, aliás, só agem após séculos de fé __ a educação constitui o único meio de ação. Foi com ela que a Prússia unificou completamente, em meio século, a alma de germânicos divididos pelas aspirações, a etnia e as crenças.

    A mais necessária das reformas atuais seria transformar inteiramente nossa universidade. Tarefa difícil. Bem poucas pessoas na França compreendem que a educação do caráter é muito mais importante do que a da inteligência e que a recitação de grossos manuais não basta para transformar a alma de uma geração.

    O papel capital da educação deve ser criar essas atitudes que são as guias da vida cotidiana. Elas orientam a conduta e são também os melhores suportes da moral.

    Os povos que compreenderam __ como os americanos __ que para criar atitudes e particularmente a atitude de saber querer, é certamente sobre o caráter que se deve agir, serão, por este único fato, muito superiores àqueles cuja educação puramente livresca só se dirige à inteligência.

    *

    *    *

    Fala-se muito hoje em dia de tempos novos, de espírito novo, sem precisar o sentido destas expressões.

    O espírito novo se revela sobretudo como um estado de descontentamento geral acompanhado de uma necessidade de mudanças.

    Este estado mental é a consequência natural da terrível convulsão da qual o mundo ainda não saiu. Ela abalou concepções das sociedades que, mostrando-se ineficazes, perderam seu prestígio. Ideias com aparência de novas nasceram. Elas fervem violentamente e pretendem se impor pela força.

    O espírito de revolta é observado hoje em dia em todos os povos, em todas as classes.

    Espírito de revolta dos trabalhadores que, após terem obtido com fabulosos salários uma redução considerável das horas de trabalho, querem se apoderar do poder político e tornarem-se governo, por sua vez.

    Espírito de revolta das antigas classes médias, cuja situação tornou-se inferior a dos trabalhadores e dos comerciantes e que se sentem ameaçadas de desaparecer.

    Espírito de revolta também entre os terríveis inadaptados da universidade. Convencidos de que os diplomas obtidos decorando manuais deveriam lhes propiciar os primeiros lugares, eles querem destruir uma ordem social que não reconhece seus méritos. A ditadura do proletariado que eles reclamam é, na realidade, sua própria ditadura.

    *

    *    *

    As causas do descontentamento atual são então diversas. Uma das mais justificadas resulta da impotência dos chefes de Estado em criar, como prometeram solenemente, uma paz durável, mesmo detendo um poder ditatorial.

    Reunidos em conselho supremo os senhores do mundo fizeram os povos esperarem __ com seus discursos __ o desaparecimento do militarismo, uma paz universal e relações internacionais fundadas sobre a justiça e a proteção dos fracos.

    A realidade se mostrou bem outra. Mais uma vez é preciso constatar que em política os princípios invocados não tem relação com a conduta.

    Longe de desaparecer, o militarismo só fez crescer e se impõe agora a povos que jamais o conheceram. Estados poderosos como a Inglaterra não hesitam em anexar países muito fracos para lhes resistir. A situação dos povos fracos em relação aos povos fortes tornou-se aquela de uma caça sem defesa diante de um caçador sem piedade.

    Apesar dos princípios ruidosamente proclamados o mundo continua a se deixar guiar pela necessidade de conquistas e os apetites que o conduziram até aqui. Nada mudou e as massas devem suportar a morte das recentes esperanças.

    É por isso, sem dúvida, que vemos as concepções que inconscientemente dirigem suas almas divergirem cada vez mais das concepções dos governantes.

    Disso resulta que no seio de cada país crescem dois princípios opostos: o imperialismo e o internacionalismo. Sendo inconciliáveis, eles estão fatalmente destinados a entrar violentamente em luta e de novo perturbar o mundo.

    O imperialismo continua a reger a história. A Inglaterra se aproveitou da guerra para aumentar imensamente seu império, impor sua vontade aos povos fracos e substituir na Europa a hegemonia da Alemanha pela sua.

    Na outra extremidade do mundo __ nos Estados Unidos e no Japão __ se formam dois outros centros de imperialismo, destinados a se confrontar pela posse da Ásia e que equilibrarão, talvez, a hegemonia inglesa.

    O internacionalismo, que se opõe ao imperialismo, possui uma base econômica muito certa: a interdependência dos povos, resultantes da evolução industrial moderna, mas que só é representado atualmente pelas aspirações incertas de classes trabalhadoras rivais. É então muito duvidoso que sua hora tenha chegado.

    *

    *    *

    Os imperialismos que se formam não serão certamente muito ternos com relação aos povos que não tenham suficiente força para se defender. Mesmo com seus aliados, a Inglaterra, desde o fim da guerra, não parou de impor sua vontade.

    Ela se apoderou de todas as colônias alemãs e declarou seu protetorado sobre o Egito, a Palestina, a Pérsia, a Mesopotâmia etc. sem falar do domínio indireto do Mar Báltico e do Mediterrâneo, por guarnições inglesas instaladas em Dantzig e em Constantinopla. Mas quando a França quis anexar alguns quilômetros de uma bacia carbonífera destinada a substituir suas minas destruídas pelos alemães, a Inglaterra se opôs com energia. Ela se opôs aliás à maior parte de suas demandas.

    Se a hegemonia de um povo se caracteriza pela possibilidade de impor sua vontade às nações menos fortes, é preciso reconhecer que a hegemonia inglesa está solidamente constituída. Os historiadores do futuro se espantarão talvez que a França tenha aceitado isso tão facilmente.

    *

    *    *

    O imperialismo, que permite a uma nação se atribuir o direito de governar os países conquistados e o internacionalismo, que prega a igualdade e a solidariedade entre as nações, representam, como eu já disse acima, formas de ideais nitidamente contrários. Os dois pertencem ao domínio das forças místicas, que não podem ser julgadas pela razão, mas apenas segundo sua ação sobre as almas.

    O imperialismo, que domina a hora presente como dominou o curso da história, sempre foi um poderoso gerador de sentimento patriótico, necessário para a prosperidade dos povos. Sem sua poderosa ação a Alemanha teria definitivamente nos escravizado.

    O patriotismo derivado do imperialismo faz parte desses ideais místicos que em todas as épocas foram necessários para sustentar as almas das nações.

    Elas podem mudar de ideais, mas não poderiam jamais passar sem eles. Que este ideal seja o poder de Roma, a grandeza de Alá ou a hegemonia da Inglaterra, ele age de uma mesma maneira e dá, às almas dominadas por ele, uma força que nenhum argumento racional conseguiria substituir.

    *

    *    *

    Uma das dificuldades da era atual está justamente em que ideais místicos contraditórios e irredutíveis estão em presença.

    A alma humana, qualquer que seja seu nível, sempre teve necessidade de ilusões místicas para sustentar suas aspirações e orientar sua conduta. É por isso que, apesar de todos os progressos da ciência, as influências místicas que tantas vezes perturbaram o mundo continuam a agitá-lo ainda.

    Em nossos dias as crenças políticas substituíram as crenças religiosas, mas elas não passam, na realidade, de religiões novas. Uma fé cega é seu verdadeiro guia, mesmo que elas invoquem sem parar a razão.

    O mundo está atualmente tão agitado pelas crenças políticas quanto esteve durante os grandes movimentos religiosos: islamismo, Cruzadas, Reforma, guerras de religião e muita outras ainda.

    O papel das crenças foi tão preponderante na história que o nascimento de um ideal místico novo sempre provocou a eclosão de uma civilização nova e o desmoronamento de civilizações anteriores. Quando o cristianismo triunfou sobre os deuses antigos, a civilização romana foi, por este único fato, condenada a desaparecer. A Ásia se viu igualmente transformada pelas religiões de Buda e de Maomé. E quando, em nossos dias, uma crença política nova, com forma de religião, veio escravizar a alma móvel dos russos, o mais gigantesco império do mundo foi desagregado em alguns meses.

    *

    *    *

    Se o socialismo exerce hoje em dia tanta ação sobre as multidões é justamente porque ele constitui uma religião, com seu evangelho, seus sacerdotes e também seus mártires. O evangelho de Karl Marx contém tantas ilusões quanto todos os evangelhos anteriores, mas seus fiéis não as percebem. Um dos mais maravilhosos privilégios da fé é não poder ser influenciada, nem pela experiência, nem pela razão.

    Os adeptos da nova fé a propagam com o ardor dos primeiros cristãos, para os quais os deuses que eles queriam derrubar não passavam de impuros demônios, filhos malditos da noite.

    Como a história mostra a que ponto a maior parte das crenças novas foram destrutivas antes de se tornarem construtivas, pode-se invejar os povos __ como os anglo-americanos __ que, tendo sabido adaptar sua antiga fé às necessidades dos novos tempos, conseguiram conservar seus deuses.

    A filosofia pragmática, desenvolvida no solo dos Estados Unidos, ensina que é pelo seu grau de utilidade social e não de veracidade que devem ser apreciadas as crenças.

    Por isso, não é apenas pelas luzes da razão que é preciso julgar os deuses e as forças místicas derivadas deles. A filosofia deve considerá-los como fazendo parte da série de hipóteses necessárias e fecundas que nem mesmo as ciências jamais puderam dispensar.

    Essas considerações são aliás sem interesse, pois o nascimento e a morte dos deuses independe de nossas vontades. Ignoramos ainda sua gênese e sabemos apenas que, sofrendo uma lei comum, eles acabam por declinar e perecer, mas que o espírito místico que os viu nascer guarda através das eras uma indestrutível força.

    Mais de uma vez ao longo da história a lógica mística entrou em conflito com a lógica racional, mas elas pertencem a esferas do espírito muito diferentes para poder se influenciar. Quando as pessoas de uma época renunciam aos deuses que elas adoram é para adotar outros.

    *

    *    *

    Estamos numa dessas horas de transição em que os povos oscilam entre crenças antigas e uma fé nova. A hora presente é difícil. A Europa política, a Europa moral também, representam imensos edifícios semidestruídos que será preciso reconstruir.

    Nesta obra gigantesca cada um deve fazer sua parte, por mais modesta que ela possa ser. A colaboração dos cientistas e dos pensadores não será a menos importante.

    Preocupado sobretudo em seguir os caprichos da opinião pública, sem a qual ele não pode viver, o homem político se limita aos casos particulares de cada dia e se contenta com soluções paliativas, que a história mostrou tantas vezes os perigos. Seu destino, como destacou justamente Clémenceau, é deixar aos pensadores a glória das altas iniciativas do espírito, para se confinar na expressão mediana das fórmulas medianas, onde os sentimentos médios das massas medianas podem se encontrar.

    *

    *    *

    Jamais a reflexão foi tão necessária quanto hoje em dia. Nós sem parar nos recomendamos agir, mas o que vale a ação sem o pensamento como guia? Refletir leva a prever e prever é evitar as catástrofes. Eles tinham longamente refletido, os muito raros escritores que, vendo chegar o inevitável conflito, aconselharam sem parar que se preparasse para ele. Suas vozes não foram ouvidas. As massas e seus senhores preferiram escutar as certezas de uma legião de pacifistas que afirmava, de acordo com as luzes certeiras de sua razão, que as guerras tinham se tornado impossíveis e era inútil se preparar para elas.

    É a tais teóricos, que só viam o mundo através de seus sonhos, que a França é, em parte, devedora de suas ruínas. Se eles fossem ainda escutados, dever-se-ia se desesperar com o futuro e se resignar com uma decadência sem esperança.

    Um célebre ministro inglês disse com razão, diante de seu parlamento, que o futuro dos povos dependerá sobretudo do partido que eles souberem tirar dos ensinamentos da guerra.

    Após ter contribuído para dominar os canhões, o pensamento deve agora orientar a conduta. Se os escritos influenciam pouco as gerações velhas eles podem pelo menos agir sobre as gerações novas, cujas ideias ainda não estão cristalizadas. O pensamento representa o que há de mais vivo na história de um povo. Ele modela lentamente sua alma.

    ***

    LIVRO I

    A evolução mental dos povos

    __________

    CAPÍTULO I

    O papel da psicologia dos povos em sua história.

    Sumário

    Elementos diversos podem determinar o futuro das nações; os mais poderosos serão sempre os fatores psicológicos. É sobretudo com as qualidades das almas que se tece o destino dos povos. Grandes progressos sociais serão realizados no dia em que os cidadãos estiverem  convencidos de que o triunfo de tal ou qual partido político, de tal ou qual crença, não conseguiria deslanchar magicamente uma felicidade definitiva.

    Muitos séculos se passaram desde que Aristóteles e Platão dissertavam sobre a psicologia. Eles tiveram continuadores mas, se buscarmos em seus livros os meios de diagnosticar o caráter das pessoas e de influenciar sua conduta, constataremos que os progressos realizados durante dois mil anos de estudos são, na realidade, bem pequenos. A leitura das mais sábias obras acrescenta pouca coisa aos conhecimentos sumários ensinados pelas necessidades da vida.

    Os acontecimentos modernos darão forçosamente um impulso novo a uma ciência muito incerta ainda.

    A guerra mundial constituiu, com efeito, um vasto laboratório de psicologia experimental. Ela fez compreender a importância dos métodos psicológicos e a insuficiência das indicações fornecidas pelo ensino clássico para conseguir determinar o caráter dos povos e, por consequência, sua conduta. O que sabíamos da alma dos germânicos e da alma dos russos? Nada, na realidade. Os alemães não suspeitavam igualmente, nem da alma dos franceses, nem da alma dos ingleses.

    As ignorâncias psicológicas de nossos inimigos foram a nossa felicidade, pois elas tiveram como resultado fazer fracassar suas previsões sobre a orientação de vários países, cuja neutralidade parecia certa.

    Esse desconhecimento da mentalidade dos povos não se deve apenas à dificuldade de observá-los de outra maneira que não seja através de nós mesmos, mas também ao fato de que os caracteres nacionais em tempos normais não são exatamente aqueles manifestados durante os grandes acontecimentos.

    Estudando em outra obra as variações da personalidade eu mostrei que o eu de cada ser representa um equilíbrio suscetível de importantes variações. A constância aparente do caráter resulta apenas da constância do meio em que vivemos habitualmente e com o qual estamos equilibrados.

    Se então uma ciência psicológica muito mais avançada do que a nossa conseguisse determinar com a precisão de uma análise química o caráter habitual de um povo e os meios de agir sobre ele, essa ciência estaria incompleta ainda. Ela só se aproximaria da perfeição mostrando como reagem os caracteres sob a pressão dos acontecimentos novos no qual eles estão envolvidos.

    *

    *    *

    As descobertas da psicologia moderna permitem, no entanto, diagnósticos bem precisos. Sabemos agora que a psicologia individual e a psicologia coletiva estão submetidas a leis bem diferentes. Assim, por exemplo, se um indivíduo isolado se mostra geralmente muito egoísta, este egoísmo, pelo único fato do indivíduo estar incorporado a uma multidão, se transformará em um altruísmo suficientemente completo para levá-lo a sacrificar sua vida a serviço da causa adotada pela coletividade da qual ele faz parte.

    Sabemos ainda que, ao lado dos elementos móveis do caráter individual, encontram-se elementos ancestrais muito estáveis, fixados pelo passado. Suficientemente fortes para limitar as oscilações da personalidade, eles criam imediatamente a unidade de um povo nas circunstâncias críticas de sua existência.

    São esses elementos característicos de cada povo que determinam seu destino. Se sessenta mil ingleses mantêm agora sob o jugo trezentos milhões de hindus que os igualam em inteligência é graças às qualidades de caráter dos invasores. Se os espanhóis só puderam dar a anarquia às províncias latinas da América foi por causa de suas falhas de caráter.

    Veremos igualmente nesta obra que foi unicamente a certas deficiências de nosso caráter nacional que devemos nossas inferioridades industriais de antes da guerra.

    Os alemães desconheciam todas essas noções fundamentais quando, no início do recente conflito europeu, eles acreditaram como certa a neutralidade da Inglaterra, envolvida em lutas políticas e no meio de uma

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