Lupus In
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Lupus In - Lobo De Assis E Elizangela Guedes
LOBO DE ASSIS E ELIZANGELA GUEDES
LUPUS IN
Um mundo novo
1ª Edição
Luiz Felipe de Assis Souza
Rio de Janeiro
2018
Agradecemos em primeiro lugar a Deus.
Depois a todos que nos apoiaram.
Por fim, a todos que irão ler.
Nossa gratidão!
Sumário
I - Em busca de um emprego ...................................................... 7
II - O jogo ................................................................................. 16
III - A Loja ............................................................................... 26
IV - A Loja e o objeto ............................................................... 32
V - A Coruja ............................................................................. 42
VI - Uma revelação ................................................................... 46
VII - Relato de um mundo novo ............................................... 52
VIII - Dragão x coruja: quem voa mais? .................................. 59
IX - Rapidez em Vila Alcains ................................................... 67
X - Júlia e Régis: dois opostos .................................................. 74
XI - Necessidade de treinamento .............................................. 81
XII - O caminho de Monte Negro ............................................ 88
XIII - Mestre Pedro .................................................................. 95
XIV - Convencendo os amigos ............................................... 104
XV - Primeiras orientações de Eduardo.................................. 110
XVI - Fidelidade ..................................................................... 117
XVII - A traição ..................................................................... 126
XVIII - Eduardo diferente ...................................................... 135
XIX - Um estranho em minha casa ........................................ 142
XX - Reunião sob a luz ........................................................... 150
XXI - O Treino ....................................................................... 155
XXII - As grandes surpresas .................................................. 163
XXIII - Uma Equipe com quatro integrantes ......................... 168
XXIV - O desafio da árvore ................................................... 180
XXV - A Eleição ..................................................................... 189
XXVI - O pequeno grande arrogante ..................................... 196
XXVII - Um inimigo aparece ................................................. 204
XXVIII - As palavras de Clara ............................................... 207
XXIX - O inesperado encontro ............................................... 217
XXX - A revanche de João ..................................................... 224
XXXI - Farejando o passado .................................................. 234
XXXII - O início do novo exército ........................................ 238
XXXIII - A montanha e o gigante .......................................... 242
XXXIV - A Magia cai e o novo tempo surge ......................... 249
XXXV - As pedras elementares .............................................. 257
XXXVI - A Descoberta .......................................................... 263
XXXVII - A batalha ............................................................... 267
XXXVIII - O surgimento do leão prateado ............................ 273
IXL - Desfecho da batalha ...................................................... 280
XL - O começo de uma nova era ............................................ 284
Lupus In: um mundo novo
I
Em busca de um emprego
uma tarde de terça-feira, quando o relógio redondo
colocado propositalmente acima de onde ficava a
secretária acusava dezesseis horas e vinte nove mi-
nutos; um jovem simples escutou seu nome ser
chamado em alto e bom som.
— Senhor Eduardo Salofilo!!! – era a voz do responsável
executivo da empresa, de boa estatura, magro, cabelo bem pen-
teado, usando terno cinza, chamando o jovem para sua entrevis-
ta de emprego. — Queira me acompanhar, por gentileza.
Eduardo levantou-se da cadeira, e com passos confiantes, en-
trou numa grande sala cercada por vidros. No canto dessa sala,
havia uma imponente mesa com um moderno computador e
algumas pastas em cima dela. Atrás da mesma, estava o dono da
empresa, que há muito tempo atuava no mercado empresarial.
O nome do proprietário era Arthur Anigral. Provavelmente,
seu nome fazia uma clara referência ao famoso personagem his-
tórico. Arthur usou seu próprio sobrenome para denominar a sua
empresa. Ele era alto, cabelos grisalhos, olhos azuis, não possuía
barbas, estando bem vestido socialmente de um terno azul.
Eduardo se dirigiu até a cadeira após a sinalização do próprio
Arthur. No interior daquela sala, um silêncio se estabeleceu en-
tre os dois, até então, desconhecidos.
— Boa tarde! Podemos começar?
— Boa tarde! – disse timidamente Eduardo, ajeitando-se na
cadeira. — Podemos sim.
7
Lobo de Assis e Elizangela Guedes
— Para começarmos, uma pergunta bem simples: Por qual
motivo, acredita ser a pessoa certa para esta vaga de emprego? –
Arthur perguntou com um tom sarcástico, olhando o jovem de
cima a baixo. Enquanto girava uma caneta prateada por entre os
dedos, o empresário ajeitava sua gravata cinza escura.
— Sendo franco com o Senhor – Eduardo olhou para o entre-
vistador a sua frente –, eu não tenho muita experiência de traba-
lho, sempre busquei ajudar minha família com alguns serviços
temporários, quando conseguia arrumar. Vi o anúncio da vaga
de emprego e me interessei.
— Entendi. Então, pelo visto, nunca trabalhou numa empresa
como esta antes. — Questionou o entrevistador, vendo o curri-
culum do jovem acima da sua mesa, com um olhar de desdém.
— Não. Com certeza não. Na reali... – o rapaz nem terminou
a frase, e outra pergunta surgiu da boca do senhor:
— Sabe outro idioma?
— Não – sentindo as pernas tremerem, respondeu Eduardo.
— Tem alguma formação especifica, que te qualifica ao em-
prego? – Arthur olhava com olhos de abutre em direção ao inde-
feso jovem. Ele sabia, perfeitamente, qual seria a resposta do
entrevistado. Mas, mesmo assim, perguntou.
— Eu pensei que a vaga do emprego fosse para auxiliar na
máquina de xerox: como está escrito no anúncio dos classifica-
dos – encarando, respondeu o jovem com firmeza. — E isso eu
posso fazer muito bem.
Sem querer se estender naquela conversa, disse Arthur: —
Infelizmente, você não tem os requisitos mínimos que pedimos.
Por isso, não está apto para nossa empresa. Entretanto, guarda-
remos seus dados. Quem sabe num futuro...
— Muito obrigado pela oportunidade - falou Eduardo com a
voz quase embargada.
Lupus In: um mundo novo
O jovem Salofilo, abatido, levantou-se da cadeira; esticou a
sua mão, um pouco trêmula, na tentativa de se despedir do arro-
gante entrevistador. Todavia, o mesmo, fingindo que não vira o
cumprimento, dirigiu-se até a porta e fez um sinal para que en-
trasse outro candidato.
Não se havia passado nem mesmo 20 minutos, Eduardo en-
contrava-se de volta à rua desempregado, do mesmo modo que
estava ao entrar pela porta automática da empresa Anigral minu-
tos antes. Como ele daria essa triste notícia à sua mãe? Depois
de tanta expectativa criada por ambos, mais por ela, neste possí-
vel primeiro emprego. Eduardo, desanimado com a situação,
não entendia o porquê de tanto orgulho: o entrevistador não o
deixou terminar a sua apresentação.
Mil coisas vinham a sua mente, era como se ele estivesse
bem no meio de um furacão de pensamentos. A expectativa é
ruim – pensou ele, lembrando dos planos feitos caso fosse aceito
como funcionário da empresa. Por causa de toda essa agitação
em seu interior, não percebeu que cruzava a rua. Para piorar, um
carro vermelho se aproximava numa velocidade considerável.
Um idoso, estando do outro lado da rua na calçada, vendo a ce-
na, deu um grito, despertando, assim, a atenção do jovem distra-
ído:
— Ei, rapaz, cuidado! – exclamou o idoso, ao levar suas
mãos enrugadas até a altura da cabeça, encostando-as em seus
cabelos curtos.
Em uma fração de segundo, Eduardo parou de repente. O car-
ro cor de sangue, fritando os pneus, passou bem pertinho do
jovem, agitando a blusa dele. Muito educado que era, recupera-
do do susto, acabou de atravessar a rua e foi agradecer ao senhor
que o salvou de um atropelamento.
— Obrigado pelo seu grito que me fez despertar! – Eduardo
deu um abraço caloroso no senhor.
9
Lobo de Assis e Elizangela Guedes
— Não precisa agradecer. – disse o senhor, um pouco sem
graça pelo inesperado abraço recebido. — Todos nós podemos
ser heróis na vida uns dos outros, basta a vontade de ajudar ao
próximo – uma fala convicta adquirida pela experiência de vida.
— Exatamente – concordou Eduardo.
O jovem Salofilo, dando uma rápida olhada no relógio, viu
que daria tempo de pegar o próximo ônibus e voltar à sua casa
com a triste notícia de sua reprovação à vaga do emprego. No
entanto, ele pressentira que aquela pessoa idosa teria algo para
lhe dizer. Uma dúvida se instaurou: ir ou ficar?
O jovem decidiu dar crédito a sua intuição. Começou a pu-
xar uma conversa ou, pelo menos, uma tentativa de conhecer
aquele que o livrou de tão grande perigo:
— Eu me chamo Eduardo Salofilo. E o senhor? – esticou sua
mão, cumprimentando o idoso.
— Eu sou Francisco Leispamar. – com uma de suas mãos re-
tribuía a saudação, e com a outra dava leves tapas nos ombros
do jovem, continuando a dizer: — Você deve tomar mais cuida-
do, por pouco não aconteceu um acidente. Foi por um detalhe.
Francisco era um senhor negro, com um rosto fino e oval.
Possuía cabelos rentes a cabeça. Na sua face, sobressaia a cor
escura de seus olhos. Era magro, sem ser muito alto. Carregava
um cajado, segurado por sua mão direita. Por cima de sua roupa,
um manto marrom que cobria boa parte do seu corpo.
— É verdade! Concordo com o que o senhor acaba de me
aconselhar! — Respondeu Eduardo. No mesmo instante, coçava
a cabeça; disfarçando, ou ao menos tentando, o constrangimento
que sentia pelo fato ocorrido minutos antes.
— Percebo pelos seus olhos que não está sendo uma tarde
muito agradável para você. Acertei? – questionou o senhor. —
Aconteceu alguma coisa?
Lupus In: um mundo novo
O jovem começou a refletir como seria possível que aquele
senhor, que há poucos minutos não o conhecia nem sabia da sua
existência, estivesse, naquele momento, perguntando sobre sua
frustação ao ser recusado na entrevista.
Vai valer a pena abrir o meu coração a um estranho? –
Eduardo, em silêncio, perguntou-se, vendo o alto edifício da
empresa que minutos antes o recusara como funcionário.
— Realmente, a tarde não está sendo nada fácil para mim.
— Pode desabafar, se quiser – propôs Francisco – é claro.
— Veja só – falou o jovem, olhando para o edifício nova-
mente, com uma feição de raiva pela rejeição – fui fazer uma
entrevista de emprego naquela empresa ali e me dispensaram
agora a pouco.
— Que pena, jovem! – o senhor colocou a mão no ombro de
Eduardo, confortando-o.
— São uns arrogantes, isso sim! – afirmou rispidamente Sa-
lofilo.
Francisco, olhando aquela raiva misturada com frustação do
jovem bem a sua frente, argumentou com muita firmeza em suas
palavras: — Como é bom ser jovem! Sentimos que somos os
donos da verdade. Ah, se vocês jovens gastassem toda essa
energia a fim de se formarem melhor e não ficassem só recla-
mando! O mundo, realmente, seria muito melhor.
— Como fazer um mundo melhor com esta sociedade injusta
e desigual? – O sangue revolucionário fervilhava naquele mo-
mento na sua fala.
— Calma, jovem – disse o senhor, num tom mais ameno –
entenda uma coisa: essa injustiça
que falou está presente em
todas as esferas do mundo. Observe, por exemplo, a natureza:
alguns animais são rápidos, como aquele carro que quase te
atropelou; outros apenas rastejam; uns voam bem alto, outros
são fortes; outros são fracos sem muitos recursos.
11
Lobo de Assis e Elizangela Guedes
— Só que os animais não precisam fazer um curso para se
sustentar – afirmou Eduardo.
— O problema não está no que você tem ou falta ter. A ques-
tão é, justamente, saber utilizar o que já possui em mãos; para
assim adquirir o que ainda não tem. Só que tal aquisição deve
ser feita de forma gradual e com perseverança. Só assim, conse-
guirá dar valor ao que conquistar.
Mesmo percebendo que Francisco estava certo, Eduardo ain-
da estava com vontade de continuar o debate. Então preparou
mais um de seus argumentos:
— Digo mais este detalhe: eles exigiram coisas que não tive
condições de ter: outro idioma. E só para poder trabalhar numa
máquina de xerox? Não é um exagero?
— Caro Eduardo, eu até entendo a sua revolta. Contudo, não
adianta um guerreiro querer modificar as regras para tentar ven-
cer um guerreiro mais forte num duelo. O que esse tem que fa-
zer é o seguinte: treinar tão ou mais que o melhor guerreiro para
se superar, antes de superar seu adversário. No seu caso: se eles
pedem um curso, faça e mostre que pode ocupar a vaga como
qualquer um.
— Sem as condições iguais? Isso seria impossível! – questio-
nou Salofilo.
— Impossível?! - com um olhar de surpresa, o senhor conti-
nuou: — Essa é uma palavra que você não deve pronunciar! O
impossível pode ser apenas uma projeção negativa. Para que
algo se torne realidade, devemos agir com confiança e esforço.
Porém, antes, devemos acreditar nessa verdade!
— O senhor falando, chega a ser bonito. Mas, muitas vezes,
não condiz com a realidade que vivemos.
— Que realidade? – surpreso, Francisco olhava para ele.
— Não sei de qual mundo o senhor veio. Todavia, neste em
que vivo há um tirano: o dinheiro – Eduardo dizia, esfregando o
Lupus In: um mundo novo
dedo polegar com o médio. — Ele controla tudo e todos, ditando
o que é certo ou errado, bom ou ruim. Só que não faço parte
daqueles que controlam tal ditador – abaixou a cabeça desani-
mado.
— Em todos os lugares, acontece a mesma coisa. Volto a di-
zer se eles querem um curso de língua estrangeira, mesmo que
seja para operar uma máquina, você deve buscar fazer esse cur-
so, caso queira o tal emprego. Ficar reclamando não te dará o
diploma nem, muito menos, o emprego – Falou sério Francisco.
— Eu sei disso perfeitamente, no entanto, como eu pagarei o
curso se não estou trabalhando e, com isso, não tenho dinheiro?
— Compreendo. Se ainda não tem uma situação financeira
favorável, busque criar meios de economizar, e atender ao mer-
cado que deseja ingressar.
No momento que as pessoas passavam pelo local, o jovem
Salofilo parou, pensou e falou: — Isso é uma verdade. – ficou
convencido com a fala que acabara de ouvir do senhor — Anali-
sando o que me disse, percebo que muitas vezes desperdicei
tempo e dinheiro com coisas sem importância. Poderia ter me
preparado melhor.
— Sempre é tempo de começar ou recomeçar, Eduardo. A
maturidade é justamente isto – dizia Francisco –: quando conse-
guimos entender o que é essencial e o que é secundário em nos-
sa vida. Ao fazer isso, você poderá progredir e não desperdiçar
seu tempo em assuntos fúteis.
A conversa era muito boa, entretanto Eduardo queria voltar a
sua casa e comunicar a sua mãe o desfecho, não tão legal, da sua
busca por um trabalho.
— Foi muito bom conversar com uma pessoa mais experien-
te. Obrigado por cada palavra. Saio mais confiante para enfren-
tar os desafios futuros. – comentou Eduardo, olhando o relógio.
— Agora, minha mãe me espera.
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Lobo de Assis e Elizangela Guedes
— O diálogo entre as gerações é sempre muito bom, desde
que feito de forma respeitosa – concluiu Francisco.
— Tchau e até breve! – acenou o jovem Salofilo, andando
em direção ao ponto de ônibus.
— Até, meu jovem – o velho Leispamar retribuiu a despedida
acenando com a mão.
Eduardo refletia as palavras que acabara de ouvir, no instante
que se dirigia ao local que esperava o transporte coletivo. En-
costado num poste, aguardava a chegada do ônibus. Passados
poucos minutos, finalmente chegou a sua condução, estacionan-
do no local indicado e abrindo a porta com aquele barulho bem
conhecido. Havia algumas pessoas na frente dele para também
entrar no ônibus, ele esperou pacientemente sua vez.
Ao entrar no ônibus, pagou sua passagem e achou um assento
no qual pôde recostar sua cabeça na janela do veículo. O jovem
se distraiu, mergulhado em suas reflexões. Ao voltar a realidade,
já estava muito perto do seu destino final. Levantou-se depressa
e deu o sinal para que o motorista parasse alguns metros a dian-
te, bem perto da sua casa.
Ao chegar em sua casa, Andréia Salofilo (como matriarca da
família) esperava ansiosa por notícia. Andreia era branca, traços
fortes, cabelo curto, na altura dos ombros, de cor avermelhada,
seus olhos eram de uma cor castanhos claros, era encorpada e
com braços fortalecidos. Eduardo sempre admirou sua mãe, mu-
lher trabalhadora, pois se tornara viúva poucos anos após o seu
nascimento. Seu pai, um militar, foi morto em uma emboscada
ao sair do seu serviço. Uma dor que sua mãe procurou superar
amando e se dedicando a Eduardo cada vez mais.
— Como foi lá, meu filho? — A esperança era visível em
seus olhos, ao ver seu filho entrar na casa.
— Infelizmente, não tenho uma boa notícia para dar à senho-
ra - lágrimas escorreram dos olhos do jovem Salofilo.
Lupus In: um mundo novo
— O que aconteceu?
— Não fui aceito. Pior ainda, fui descartado em poucos mi-
nutos de entrevista.
Num instinto maternal, Andreia, que lia um livro, levantou-se
de sua poltrona, foi em direção ao filho e enxugou as lágrimas
dele. Em seguida, abraçando-o, falou:
— Está tudo bem, meu filho, foi apenas uma batalha, mas
você está longe de perder esta guerra pelo seu primeiro empre-
go. Vão surgir muitas outras oportunidades honestas para que
você comece a trabalhar.
— Obrigado, mãe. A senhora tem toda a razão, porém eu te-
nho que me preparar melhor – disse Eduardo, olhando sua mãe
com muito afeito.
— E vai, meu filho. Por agora, vá tomar um banho para re-
frescar seu corpo – propôs sua mãe, indo em direção a cozinha.
— Depois eu vou preparar um café da tarde reforçado para nós
dois.
— Vou sim.
A atitude de sua mãe, surpreendeu e, ao mesmo tempo, ani-
mou jovem Salofilo. Ele, de forma inconsciente, acabara criando
uma possível atitude de desânimo por parte de sua mãe. O que
não chegou a acontecer. É justamente isto o que se espera de
uma família: o acolhimento num resultado desagradável.
15
Lobo de Assis e Elizangela Guedes
II
O jogo
pós o delicioso café preparado com muito carinho
por sua mãe, Eduardo Salofilo recebeu uma ligação.
Era o seu amigo de infância, chamado João Esnenim,
lembrando-o da partida de futebol que aconteceria
mais tarde. Eduardo, depois da decepção, não tinha ânimo para
participar de um jogo esportivo. Contudo, aceitou assim mesmo.
Será bom distrair um pouco depois de tudo que me aconteceu –
pensava ele . A partida aconteceria às dezenove horas no campo
ao lado da padaria.
Ele preparou então seu material esportivo: meiões, chuteiras
e caneleiras. Esperava ansioso o amigo chamar, visto que sua
casa era antes do local onde praticariam o esporte. Por isso, ne-
cessariamente João passaria por ali. Não demorou muito para ele
ouvir uma voz (um pouco enrouquecida) de alguém no portão.
— Vamos lá, perna de pau?! – era João, o amigo brincalhão.
— Hoje eu te ensino a jogar um futebol de qualidade. Você terá
uma aula prática, apenas tem que observar o craque em ação.
— Ninguém ensina o que não sabe, meu amigo – brincou
Eduardo. João riu.
João era um jovem moreno, cabelo liso, quase sempre arrepi-
ado com gel. Usava óculos quadrado que se ajustava no seu ros-
to redondo. Em relação ao Eduardo, era mais baixo, e mais pe-
sado que ele.
E lá se foram os dois andando pelas ruas da cidade até o local
da partida. Jogavam a muito tempo pelo Falcão Dourado, um
Lupus In: um mundo novo
dos times do bairro. O jogo daquela noite seria contra um velho
conhecido, talvez o adversário mais difícil que eles enfrentavam
regularmente, eram chamados de Tubarões.
Estavam no vestiário, junto com o time concentrado. Foram
informados pelo juiz da partida que o jogo começaria um pouco
atrasado. O atraso se daria apenas por poucos minutos, visto que
o time adversário esperava o goleiro que ainda não havia chega-
do. Todavia, ele já havia informado que estava a caminho.
— Provavelmente, está com medo de levar o gol que farei
nele hoje! – João exclamou, arrancando risadas de todo time.
— Vou cobrar depois do jogo essa promessa – disse Vinícius,
o técnico do Falcão Dourado, mexendo o seu bigode - mas, por
agora, vamos repassar a tática, que treinamos durante a semana,
a fim de usarmos nesta noite. Vamos surpreendê-los!
Os refletores estavam ligados, e os jogadores em campo. Do
lado direito, o time Falcão Dourado usava camisa num tom de
amarelo fosco, short vermelho escuro e meiões da cor da cami-
sa. Do lado oposto, os Tubarões usavam camisa listrada de ver-
de e azul, short e meiões azuis escuro. No estádio, havia um
bom público assistindo ao jogo. A bola rolou. Como acontece
num verdadeiro clássico, o jogo, desde o primeiro minuto, foi
acirrado. O tempo passava. Nenhuma jogada que proporcionasse
um gol acontecia nem para um time, nem para o outro.
O jogo já estava na marca dos trinta minutos do primeiro
tempo, Eduardo, que era atacante camisa sete, recebeu a bola
com liberdade na entrada da grande área. Ele a dominou com
facilidade, avançando até a baliza adversária. Rolou a bola um
pouco à frente, para dar um bonito chute...
De repente, o zagueiro adversário, chegando pelo lado es-
querdo com uma força desproporcional, derrubou o jovem Salo-
filo dentro da área. O juiz não teve outra alternativa: levou o
apito até a boca e marcou o pênalti. Tal atitude gerou uma revol-
17
Lobo de Assis e Elizangela Guedes
ta em todo o time dos Tubarões, principalmente do jogador que
cometeu a infração e levou o cartão amarelo. O capitão, com as
mãos para trás, tentava explicar que o lance foi normal. Porém,
tudo em vão. O juiz não estava para conversa e, uma vez que já
havia marcado, não voltaria atrás por maior que fosse a pressão.
Após a paralização, devido as inúmeras reclamações, esta-
vam na área: o juiz, o goleiro (o mesmo que atrasara) e João
(cobrador oficial de pênaltis do time). Ambos estavam de frente
um para o outro. O nervosismo de João era nítido. O comporta-
mento de aflição do jovem camisa dez não era pela cobrança do
pênalti, pois já havia feito alguns gols na sua carreira amadora; e
sim pela promessa que fizera: um gol naquela partida. Seria um
tanto frustrante se viesse a perder essa clara oportunidade. Ele
olhou para o técnico, este lhe respondeu com um sorriso de con-
fiança e um sinal de positivo com a sua mão direita.
O juiz apitou... o jogador correu em direção a bola e chutou...
segundos se passaram, até ele ver a bola no fundo da rede: gol
para o time dos amigos. João era falador e brincalhão, no entan-
to sabia bem cobrar um lance de pênalti. Bola para o lado direito
e o goleiro, desanimado, caído para lado esquerdo. A única rea-
ção do camisa um, após o gol sofrido, foi dar dois leves socos
no gramado, lamentando a escolha errada do lado que o impediu
de praticar uma defesa. Time do Falcão Dourado comemorando
com muita alegria, e João aliviado.
Recomeçou a partida. O time adversário foi para cima, fa-
zendo jus ao nome Tubarões. Estavam querendo terminar o pri-
meiro tempo com o empate conquistado. Então, o lateral dos
Tubarões cruzou a bola para dentro da área... o alto atacante
pulou e cabeceou a esfera sem marcação do zagueiro do Falcão,
devido a um erro de posicionamento. Entretanto, por centíme-
tros não lhe foi atribuído a possibilidade de extravasar seu gol.
A bola passou por cima da trave e foi para fora. Depois disso, o
Lupus In: um mundo novo
goleiro do Falcão Dourado cobrou o tiro de meta, e o juiz encer-
rou o primeiro tempo.
No vestiário, o técnico Vinícius discursou num tom persuasi-
vo e apaixonante para o time Falcão Dourado:
— Eles vão querer buscar o empate e a virada – discursava
como um comandante –, tem tempo que não nos vence. Vamos
continuar jogando sério e manter a posse de bola, tocando-a sem
pressa. Quando surgir a oportunidade, aumentaremos o placar.
Em seguida, Vinicius foi até Eduardo, deu um tapinha em seu
ombro e o elogiou pela jogada que proporcionou