Ciências Sociais E Contemporaneidade

De Raphael De Souza Cruz

Os artigos apresentados neste livro se debruçam sobre autores e obras que ocupam lugar de destaque nas Ciências Sociais contemporâneas, especialmente na Sociologia e na Antropologia.

• Idioma: Português
• Editora: Clube de Autores
• Data de lançamento: 21 de fev. de 2020

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CIÊNCIAS SOCIAIS E

CONTEMPORANEIDADE

Diálogos Interdisciplinares

1ª Edição

Raphael de Souza Cruz

Campina Grande

Edição do Autor

2020

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SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................... 7

Franz Boas e Gilberto Freyre: um Diálogo entre Casa-Grande

& Senzala e o Culturalismo Americano .................................. 9

A totalidade e o Individualismo Metodológico em Marcel Mauss e E. P. Thompson ...................................................... 49

Envolvimento, Alienação e Crise Ambiental: uma Análise do Aquecimento Global sob a Ótica da Sociologia dos Processos

............................................................................................... 72

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Ciências Sociais e Contemporaneidade: Diálogos Interdisciplinares Apresentação

Os artigos apresentados neste livro se debruçam sobre autores e obras que ocupam lugar de destaque nas Ciências Sociais contemporâneas, especialmente na Sociologia e na Antropologia.

O primeiro texto, Franz Boas e Gilberto Freyre: um Diálogo entre Casa-Grande & Senzala e o Culturalismo Americano, estabelece relações entre dois autores cuja obra já é amplamente reconhecida.

No caso de Franz Boas, no entanto, grande parte da sua obra só foi traduzida para o português recentemente, oferecendo a pesquisadores da Antropologia um olhar mais amplo sobre um dos nomes mais importantes do campo, primeiro responsável direto por uma conceitualização mais precisa do relativismo e um dos autores a lançar as bases para o importante movimento teórico do Culturalismo Norte-Americano. Através da obra de Gilberto Freyre, que foi aluno de Boas, é possível estabelecer tensões e aproximações entre esses dois seminais pensadores da cultura.

A totalidade e o individualismo metodológico em Marcel Mauss e E. P.

Thompson estabelece um novo diálogo, desta feita entre Antropologia e História. Thompson, historiador marxiano fundamental para a compreensão da classe trabalhadora para além dos aspectos unicamente econômicos, se encontra aqui com o

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Ciências Sociais e Contemporaneidade: Diálogos Interdisciplinares antropólogo francês Marcel Mauss, responsável pela teoria da dádiva, que vem sendo reapropriada e reelaborada por distintas áreas do conhecimento. No artigo em questão, a discussão se dá principalmente no plano epistêmico, em torno das bases conceituais que embasaram o pensamento dos dois autores.

Finalmente, Envolvimento, alienação e crise ambiental: uma análise do aquecimento global sob a ótica da sociologia dos processos se fundamenta na obra do autor Norbert Elias, em conexão com a questão da emergência climática. Aqui percebemos que a relevância dada a determinados temas no âmbito da ciência internacional depende, ela própria, de uma configuração societária que estimule e alimente uma visão global dos fenômenos que nos atingem.

Em conjunto, os artigos oferecem um curto panorama da produção teórica contemporânea no campo das Ciências Sociais, demonstrando a importância do diálogo interdisciplinar em tempos de conhecimento cada vez mais fragmentado.

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Ciências Sociais e Contemporaneidade: Diálogos Interdisciplinares Franz Boas e Gilberto Freyre: um Diálogo entre Casa-Grande & Senzala e o

Culturalismo Americano

Introdução

Muitos pensadores, ideias e escolas marcaram, ao longo da história, o desenvolvimento da Antropologia. Como em qualquer outro campo das Ciências Sociais, também aqui é difícil falar em superação de uma determinada linha teórica, uma vez que o conhecimento na área é construído de maneira interdisciplinar e dialógica, por mais que as estruturas pedagógicas rígidas da Universidade pretendam sugerir o contrário. Em outras palavras, uma determinada escola antropológica não simplesmente some para dar lugar a outra, mais avançada e verdadeira – uma ilusão que nos é passada de acordo com a distribuição cronológica das disciplinas dentro da Academia.

Talvez uma das exceções a este quadro seja a Antropologia de Franz Boas e aquela que veio a ser denominada de escola do Culturalismo Americano. Não sem razão, Franz Boas é considerado o fundador da Antropologia contemporânea; suas ideias representaram uma real ruptura dentro da teoria

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Ciências Sociais e Contemporaneidade: Diálogos Interdisciplinares antropológica em direção às discussões que até hoje são consideradas relevantes dentro do campo. Depois de Boas, o Evolucionismo e a ideia de movimento linear da cultura (no singular) em direção ao progresso (um progresso Ocidental) praticamente sumiu – a não ser enquanto registro histórico do desenvolvimento da teoria – do campo antropológico. As noções de relativismo cultural e influências múltiplas (ambientais, psicológicas, sociais, biológicas) que trabalham em conjunto na constituição de um sistema cultural particular não apenas fundaram uma importante escola antropológica, como também marcaram indelevelmente toda a reflexão antropológica posterior.

Depois de Boas, é imperativo falar em culturas, no plural.

Apesar desta tremenda importância de Franz Boas para a Antropologia atual, pouco se bebe da fonte de seus textos originais, seja pela ausência destes textos no Brasil ou devido ao uso já repisado de seus pontos de vista. Fato é que as ideias de Boas assumiram um espectro estático, de lugar-comum, que pouco revela sobre como foram elaboradas, sobre o contexto histórico de sua concepção, transmitindo uma falsa noção de ausência de tensões e contradições na trajetória do pensamento boasiano.

Os reflexos das ideias de Boas chegaram até o Brasil, com igual importância para o pensamento social do país. Gilberto

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Ciências Sociais e Contemporaneidade: Diálogos Interdisciplinares Freyre, em seu clássico Casa Grande & Senzala, assume explicitamente a influência de Franz Boas – do qual foi aluno – na construção de seu pensamento. Para além dos estigmas que recaíram sobre a obra e sobre o próprio personagem de Freyre, é preciso que se diga que Casa Grande & Senzala foi um importantíssimo marco das Ciências Sociais no Brasil. A conotação positiva da miscigenação, algo absolutamente inovador para a época, aliada à tentativa grandiosa de reconstruir a formação da nação brasileira através do entrecruzamento de fatores econômicos, sociais e culturais, onde a raça não se apresentava enquanto elemento preponderante, fizeram de Casa Grande uma referência obrigatória para todos aqueles que pretendem estudar a cultura brasileira.

Este ensaio propõe-se a discutir a relação entre Gilberto Freyre e sua obra máxima, Casa Grande & Senzala, e as discussões desenvolvidas por Franz Boas, que findaram por originar o Culturalismo Americano. Neste sentido, nos deteremos nas tensões constitutivas do pensamento boasiano e em como estas tensões se fizeram sentir na obra de Freyre, seja na concepção de método científico adotado pelos autores, na distinção entre raça e cultura ou na relação entre etnocentrismo e relativismo. Tal empreitada significa também o aprofundamento