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O Labirinto da Linguagem
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E-book335 páginas5 horas

O Labirinto da Linguagem

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Sobre este e-book

Esta pequena composição literária é continuidade ao projeto vitalista trágico, filosófico e antropológico inaugurado em sua publicação sob o título Palinódia ao Niilismo. Que segue sua leitura existencialista, histórica a contrapelo. A história como é lida não se pretende qualquer caráter revisionista de antigas leituras comuns, mas instaura registros e regimentos outros de produção de verdades. Para além de reforçar hipóteses expostas no primeiro livro e percorrer teses fronteiriças não desbravadas na obra anterior, se aventura por temáticas outras, uma filosofia séria enquanto pode, mas que não se furta a ser também irônica, brincalhona, fugaz ao se fazer necessário humor. Especialmente devido a minha antiga paixão pela fotografia, a cada uma de suas camadas de sentido, a obra expressa, assim como a primeira, essa vontade de levar as últimas consequências o equilíbrio entre a percepção analítica de um mundo se expandindo ao macroestrutural e, por outro lado, outros tendendo a microestruturas. Seja apresentando questões em termos teóricos amplos ou quando a análise é deslocada, orbitando nitidamente um campo mais aplicado de acontecimentos vividos. Em seu âmbito político tem por tema base as relações entre cidadania e desdobramentos dos problemas educacionais. Em termos epistemológicos a obra é, assim como a primeira da sequência, parte de um manifesto filosófico indissociável ao infinitismo artístico-perspectivístico inconsciente nietzscheano, assim como em termos secundários continua um projeto de reabilitação do pensamento pré-socrático e sofistico, da riqueza da filosofia do Devir e da diferença aventada por Heráclito, daquela dinâmica natural de forças de Anaximandro. Sobretudo, da atmosfera na qual a poesia era parte da composição do pensamento e ambos não poderiam estar separados. Por fim, o nome desta obra retirei de apenas uma dentre minhas hipóteses desenvolvidas ainda durante uma pesquisa universitária realizada entre 2016 a 2018. A saber, tese desenvolvida a partir de hipóteses do chamado jovem Nietzsche, a qual propõe a linguagem em sentido artístico e simbólico constituída de figuras ou, se quiser, o inconsciente como um labirinto. A pesquisa que deu origem a essa abordagem acerca dos limites estéticos, artísticos e epistemológicos das chamadas figuras de linguagem foi exposta em um TCC em 2019. Em absoluto, não há nada escrito aqui que já não vinha sendo defendido pessoalmente anos antes. Além, tudo o que pode ser encontrado na obra seria ainda mais enfaticamente defendido em pessoa, cada palavra é um compromisso e vinculo inarredável
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de abr. de 2023
ISBN9781526067463
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    O Labirinto da Linguagem - Heyson Mello

    Modelo

    Prólogo

    Esta pequena composição literária é continuidade ao projeto vitalista trágico, filosófico e antropológico inaugurado em sua publicação sob o título Palinódia ao Niilismo. Que segue sua leitura existencialista, histórica à contrapelo. A história como é lida não se pretende qualquer caráter revisionista de antigas leituras comuns, mas procura muito mais instaurar registros e regimentos outros da produção de verdade. Para além de reforçar hipóteses expostas no primeiro livro e percorrer teses fronteiriças não desbravadas na obra anterior, se aventura por temáticas outras, uma filosofia séria enquanto pode, mas que não se furta a ser também irônica, brincalhona, fugaz ao se fazer necessário algum humor. Especialmente devido a minha antiga paixão pela fotografia, a cada uma de suas camadas de sentido a obra expressa, assim como a primeira, essa vontade de levar as últimas consequências o equilíbrio entre a percepção analítica de um mundo se expandindo ao macroestrutural e, por outro lado, outros tendendo a microestruturas. Seja apresentando questões em termos teóricos amplos ou quando a análise é deslocada orbitando nitidamente um campo mais aplicado de acontecimentos vividos. Em seu âmbito político tem por tema base as relações entre cidadania e desdobramentos dos problemas educacionais.

    Em termos epistemológicos a obra é, assim como a primeira da sequência, parte de um manifesto filosófico indissociável ao infinitismo artístico-perspectivístico inconsciente nietzscheano, assim como em termos secundários continua um projeto de reabilitação do pensamento pré-socrático e sofistico, da riqueza da filosofia do devir e da diferença aventada por Heráclito, daquela dinâmica natural de forças de Anaximandro. Sobretudo, da atmosfera na qual a poesia era parte da composição do pensamento e ambos não poderiam estar separados. Por fim, o nome desta obra retirei de apenas uma dentre minhas hipóteses desenvolvidas ainda durante uma pesquisa universitária realizada entre 2016 a 2018. A saber, tese desenvolvida a partir de hipóteses do chamado jovem Nietzsche, a qual propõe a linguagem em sentido artístico e simbólico constituída de figuras ou, se quiser, o inconsciente como um labirinto. Parte do pressuposto que apenas sendo concebida como um labirinto a linguagem poderia ser compreendida em toda a multidimensionalidade e complexidade capaz de expressar. A pesquisa que deu origem a essa abordagem acerca dos limites estéticos, artísticos e epistemológicos das chamadas figuras de linguagem foi exposta em um TCC em 2019. Em absoluto, não há nada escrito aqui que já não vinha sendo defendido anos antes. Além, tudo o que pode ser encontrado na obra certamente seria defendido de maneira ainda mais enfática em pessoa, cada palavra é um compromisso e vinculo inarredável.


    Índice geral

    Capítulo 1 - Aforismos sociológicos e de antropologia filosófica

    Capítulo 2 - Acerca da filosofia da ciência e epistemologia

    Capítulo 3 - Aforismos e hipóteses psicológicas

    Capítulo 4 - Considerações e aforismos acerca da filosofia política

    Capítulo 5 - Acerca da ética

    Primeira edição publicada em 27/08/22

    Segunda edição publicada em 21/12/22


    Prefácio

    É um tema, por si, rico o bastante as maneiras que a ignorância lida consigo, as diferenças entre os graus de cautela quanto ao que não se conhece. Como há, de fato, mesmo já sob os limites de uma perspectiva despreocupada, gradações completamente distintas. Se a sabedoria existe e é possível a nós, certamente, passa por saber lidar com a própria ignorância. Não está no quanto se imagina dominar, explicar, mas no quanto se é capaz de perceber e saber lidar com limitações as quais pode estar sujeito. E essas nuances ficam mais perceptíveis quando se nota, por exemplo, como um leigo em história ao se deparar com um livro de história, didático ou não, pode compreender de maneira mais ou menos suficiente, mais ou menos imediata o tipo de contribuição. A função da perspectiva descritiva, da pesquisa e do registro histórico, que é relevante haver registros precisos sobre eventos que nos precedem. Por outro lado, devido à alienação histórica em relação ao conhecimento a que estão sujeitas as sociedades industriais, especialmente, na América Latina, quando se fala que da publicação de um livro de filosofia, frequentemente, imagina-se ser uma questão de pensamentos pessoais, particulares de um autor ou coisas como que cada um tem a sua filosofia de vida dentre comentários mais ou menos semelhantes. Como se, diferente da história, do direito ou da sociologia, por exemplo, a filosofia em especial estivesse distante ou impedida da objetividade e a chance de uma metodologia própria. E sujeita aos mesmos parâmetros de análise que quaisquer considerações idiossincráticas, se encerrando em questões de visões de mundo. Como se diz popularmente, que o treinador de futebol tem sua filosofia de jogo, que o empresário teria sua filosofia de vida e assim por diante. Mesmo quem não dispõe de qualquer grau relevante ou aprofundado de conhecimento sobre, dando a impressão de que qualquer um, sob quase quaisquer circunstâncias, possa moldar uma filosofia própria. Um pouco cômico o quão frequente é que nitidamente se diga coisas como essas, mas não que alguém tem uma ciência de vida, uma historeografia de vida ou coisa parecida. No caso da história, no máximo uma biografia. Nítido como o papel do historiador ou cientista, frequentemente, é compreendido distinto e separado em suas atribuições do não pesquisador, embora o do filósofo, em diferentes circunstâncias, não. Como mesmo o pouco conhecimento sobre história permite, ainda, alguma compreensão do que se propõe e em nada se compare ao buraco negro geralmente encarado quando o assunto é filosofia ou a origem das metodologias científicas modernas.

    Essa escrita é pulsional e, ainda, necessária. Pensamentos se alastram feito raios. Não escolho escrever nem um aforismo sequer, que já não me tenha surgido transbordando.


    1. AFORISMOS SOCIOLÓGICOS E DE ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA

    Índice

    1. Identidade pesada: princípio e contrariedade (07/21)

    2. Dissonância social (07/21)

    3. Erro econômico crasso (08/21)

    4. Avanço tecnológico, rentabilização de serviços e o problema virtual contemporâneo da autodeterminação social (09/21)

    5. Razão instrumental e inteligência artificial (08/21)

    6. Descrição jornalística (08/21)

    7. Pesquisas de intencionalidade eleitoral (08/21)

    8. Autoajuda (08/21)

    9. A espiritualidade perceptiva dos sentidos (09/21)

    10. Breve análise sobre a estrutura discursiva nós contra eles (09/21)

    11. Propaganda e marketing empresarial (09/21)

    12. Um primo distante e hipócrita dos discursos anticapitalistas (09/21)

    13. Elite econômica socialmente consciente e as políticas ESG (10/21)

    14. Φύσις technohilemórfica (10/21)

    15. Uma problemática metodológica econômica (01/22)

    16. A hipótese da blindagem político-institucional (10/21)

    17. O direito inalienável à educação reduzido à gramática econômico-política dos gastos’ e investimentos" (12/21)

    18. Simetria da proporção (08/21)

    19. Ἄτροπος (01/22)

    20. Jogos de linguagem (04/22)

    21. A cultura niilista do escapismo (06/22)

    22. Sobre o aborto (06/22)

    23. O humanizado (07/22)

    24. Niilismo de acordo com a moral cristã (07/22)

    25. O que é corrupção? (07/22)

    26. O pseudo-problema comportamental (09/22)

    27. Falsa dicotomia ou demagogia da exploração? (10/20)

    28. Música instrumental (11/21)

    29. Liberdade de expressão (10/22)


    1. Identidade pesada: princípio e contrariedade.

    A história da humanidade nos últimos 5 ou 6 milênios, ao menos, poderia ser encarada facilmente como uma multifacetada e portentosa prova do como e quanto a variação em relação a um padrão normativo hegemônico, socialmente erigido, com bastante frequência se mostra condição propícia à geração de atritos, conflitos, problemas, a algum isolamento ou autoisolamento forçado, à segregação, à estigmatização e, no caso de etnias, orientações sexuais ou religiões, inclusive, possivelmente à perseguição de segmentos sociais vinculados as variações. É uma tendência que não se limita a identidades em relação a um padrão hegemônico de reconhecimento e sua diferenciação aos demais, como ocorre a etnias e segmentos religiosos, mas também se faz perceptível em variações comportamentais, como nos casos em que tecemos relações espirituais próprias com forças e partes da natureza, variações relacionadas a gênero e sexualidade. No entanto, também não se limita a esses, se expandindo também, ainda que de maneira pouco diferente, a construções epistemológicas. Na mesma medida que, inclusive, um triângulo equilátero, por exemplo, uma linha reta ou um quadrado perfeito, enquanto constructos e princípios cognitivos, se permitem alguma existência no território simbólico analítico-hipotético matemático, encontrando mesmo em meio aos contornos do mundo físico e a realidade material contingencias ou imperfeições inevitáveis e, por sua vez, uma não realização plena da formalidade do princípio lógico-geométrico e espacial. No que, ao devir do mundo, mesmo um princípio matemático se mostra contrariedade, e vice-versa. O padrão e a métrica hegemônico-normativa poderiam ser um protótipo conceitual étnico, religioso, espiritual, político, cognitivo, ético, comportamental, de gênero, sexualidade, assim como o entrelaçamento deles. Como um jogo heraclitiano entre opostos ou a relação entre contrários originados do ilimitado, indeterminado como prevê o modelo ontológico de Anaximandro. Um ἀγών passa a existir na relação entre a afirmação do que atua como princípio, qualquer que seja ele, e o surgimento da(s) contrariedade(s) a(s) qual(is), por sua vez, tende(m) a se levantar.

    À variação em relação a padrões se consumindo em devir contínuo, traz nas costas também o peso da resignação dos que, em muitos casos, não se permitiram vive-la, de variações semelhantes que, quando pessoas, frequentemente, silenciam, acatam e se assujeitam. Assim, tornando a variação cada vez mais exceção, como se fosse uma excentricidade ou contingência deslocada. Carrega-se o peso de uma variação, embora feita de vivências espontâneas, a outrem, tendendo a ser tida não natural. E um peso estranho devido ao embargo de ser imediatamente o que seria desimpedida. Portanto, a variação, o novo, bem como quem o defenda é, como Nietzsche apontava, em todo caso, mau, pois as almas boas cedem e se veem tolidas, podadas, tornando-se o que, espontaneamente, talvez, não seriam. Do mesmo modo que uma identidade demasiado anti-hegemônica, isto é, pesada demais, atua como o princípio matemático, tentando encontrar caminhos para a realidade. Não basta o mero impulso, que afirma a si a partir do que sente e conhece, meramente confiando no quão certeiros são os instintos – é preciso toda a coragem! Ao princípio-devir, a resistência se faz indispensável, ser e resistir são um e o mesmo. O mesmo ocorre à territorialização simbólica do pensamento político e jurídico, se uma realidade sociocultural e contextual carrega maior suscetibilidade em vez da compreensão ao pensamento feminista, ao machismo, a normatividade patriarcal, moralmente conservadora ou, em alguma medida, misógina, importaria em menor escala que a experiência político-ideológica implementada seja de raiz liberal ou tenha sido influenciada por ideais iluministas. Como a realidade brasileira nos mostra, mesmo a uma experiência ideológica como essas seria muito delicado e complexo se fugir à raiz desse conservadorismo.

    Não poderia ser menos curioso como o jogo relacional entre princípio e resistência, mesmo sob a condição de ideologia hegemônica de regime econômico-político, como o pensamento liberal, atua encarando forte resistência para que se traduza em garantia do direito à diferença nas relações socioculturais, isto é, quando o tema é comportamento de grupos minoritários, respeito a variações ou diferenças filosóficas irredutíveis e suas cosmovisões, especialmente no caso das mulheres direitos sobre o corpo, mas também o reconhecimento amplo que a cada qual cabe o direito sobre ele, sobre o comportamento sexual (desde que não seja um crime), a oficialidade ou não de suas relações, o que pretende ou abomina consumir, a maneira que acredita ser mais construtiva se relacionar com a natureza ou, inclusive, se deseja viver ou morrer sem ser perturbado ao encontrar um antro deprimente como realidade político-humanitária. E sabe-se que não é essa a realidade política que vivemos. À economia-política brasileira, mesmo com a ênfase na relevância da dimensão do sujeito e sua iniciativa enquanto traços principais da ideologia liberal de regime produtivo, mesmo liberal, individualista e tendendo, ao menos, em alguma medida à garantia de liberdades privadas, seria, de fato, improvável escapar ao peso impositivo de uma heteronomia moral, católico-cristã colonizatória. Ou que impedisse idiossincrasias majoritárias ou a mera arbitrariedade comum a determinado contexto atuarem como lei, ainda que essa arbitrariedade fosse também obstáculo à igualdade plena de direitos na esfera privada, tão almejada no liberalismo clássico, sobretudo, quando os temas são gênero, direito sobre o corpo, sexualidade, liberdade filosófica, espiritual e religiosa. E mesmo essa contraposição é paradoxal, desde o Brasil colônia o imaginário político-moral é católico-cristão demais para a implementação plena de um modelo liberal e laico de Estado, mas também capitalista o bastante para que dificilmente pudesse levar a sério aquela raiz de princípios humanistas também presentes no cristianismo e que organizam em alguns traços sua moralidade. Em síntese, o que talvez se dê no Brasil no que, em escala mais ampla, mesmo ideais liberais nunca tomaram a forma de alguma luta vanguardista, ou atuaram como a ponta da lança de um movimento cultural, político e econômico que marcou o mundo, mas muito mais enquanto uma retaguarda conservadora no cenário internacional. Como a ideologia que, ao garantir a propriedade privada, seria mais propícia e adequada, portanto, também à garantia e proteção dos interesses de sua elite econômica-latifundiária.

    2. Dissonância social.

    Não constitui exatamente uma novidade ou tema desconhecido a distância discrepante que pode haver entre condições de existência social e posturas adotadas em relação a temas diretamente vinculados a essas. De fato, uma questão bastante própria à curiosidade sociológica como ser de um segmento social não implicaria, em absoluto, necessariamente, a garantia de uma postura política ativa em prol de outros que partilhem dele. De como não haveria a necessidade imediata de uma identificação entre a postura vivida e condições de existência social do segmento. De modo que são perfeitamente possíveis discrepâncias como, por exemplo, um homem heterossexual estar mais suscetível à afirmação da igualdade feminina em todos os direitos que uma mulher, da mesma maneira que, por outro lado, seria possível um LGBTQI+ ter eleito o atual presidente, que em diferentes momentos demonstrou posturas, machistas, hétero-normativas e intolerantes. Ou que uma pessoa branca tenha se dedicado à consciência de estruturas racistas em escala semelhante a uma pessoa negra, a depender de quem é comparado, se tratando de pesquisadores, até mais. Que, sem cerimônias, povos originários possam se aliar a garimpeiros e grileiros, que vem causando danos a terras nas quais seu próprio segmento étnico tenta sobreviver. Bem como, diferente de um descolar de interesses, no sentido contrário, há também a chance da aproximação pragmática, que se rentabilize a projeção ou imagem de uma afinidade a dado segmento. Um marketing político baseado na moralidade conservadora de origem judaico-cristã, por exemplo, não significaria que, em seu potencial humanístico, os valores em algum momento sequer foram levados a sério. Nesse sentido não seria descabido o exercício filosófico; imagine a sociedade completamente destoante à nossa não resultaria apenas uma defesa real da máxima de nossa própria religiosidade hegemônica brasileira, como aquele amai o próximo como a ti mesmo!? Apenas sob uma máxima, provavelmente, chegaríamos a algo semelhante ao oposto da realidade política e social vivida! Portanto, evitar atribuir nomes mentirosos ao comunicar talvez seja a condição mais rasteira da transparência, no que a maneira que nomeamos também manifesta o poder de se entranhar nele, ditar limites perceptivos, que determinam a maneira que retroativamente lidamos com ele, como na máxima wittgensteiniana. Quando se nomeia apenas a partir do desejo que se tem sobre algo, como esse não se pauta necessariamente pela autodisciplina, é possível que o reconhecimento sirva muito mais como autoindulgência ou fonte posterior de confusão e distorção objetiva. No melhor dos mundos, o nome é somente a última parte de um reconhecimento, desse modo, o final de uma longa cadeia e, inclusive, conquistado. Não basta almejá-lo – um nome exige ser conquistado!

    3. Erro econômico crasso.

    No contexto de análises econômicas, apesar do reconhecimento quanto ao peso de determinações intersubjetivas em meio à atuação e configurações do mercado, (como seria, para citar um exemplo, dentre outros, a praxeologia de Mises), por outro lado, ao lidar com o cenário político desenhado no último século, a economia neoliberal, frequentemente, quase parece compreender-se lidando com a vida como é. Também desapercebida em larga escala da carga de determinação que o modo de compreendermos, delimitarmos, atribuirmos valores e significarmos o mundo impõe sobre a construção final, material, econômica e política da realidade social vivida. Identifica-se, por fim, então, o conjunto de escolhas permitidas e amplificadas pelo desejo em toda a arbitrariedade de seu objeto com a construção de uma noção do que seria a vida humana em sua organicidade social, funcional, intersubjetiva e autorregulatória. Na construção desse mito da organicidade econômica perde-se de vista como, inclusive, boa parte das configurações do mercado se sustentaram historicamente a partir de escolhas que refletem essa mesma ordem de arbitrariedades. Por exemplo, à exceção de seu valor de uso como excelente condutor elétrico, posterior ao momento em que passa historicamente a ter algum valor econômico, seria bastante complicado argumentar que o ouro possuiria algum tipo de valor intrínseco ou objetivo em si. E esse fato histórico pode se tornar um tanto mais evidente no que civilizações originárias do território brasileiro, de matriz étnica cultural não indo-europeia* poderiam atribuir valores infinitamente menores em sua hierarquia econômica social ou ainda nem chegar a agregar propriamente algum valor de uso social a exatamente o mesmo objeto físico.

    Do fato seria possível inferir facilmente, como o idealismo alemão, que o valor mesmo dos entes que assumiram papéis tão relevantes ao desenvolvimento gradual das economias nunca esteve fundado nele, estritamente enquanto realidade objetiva, mas na experiência perceptiva, linguística e simbólica moldada e socializada. Nesse valor, em todo caso, ficcional e intersubjetivo que determinada matriz cultural se permitiu atribuir a ele. E se não dependesse de sua ficção, isto é, se o valor do objeto é mais determinado por sua existência física que pela construção e percepção cultural que se fez dele, sua valorização tenderia à manifestação de alguma regularidade. Sendo, por exemplo, capaz de despertar reações regulares e consistentes ou mais ou menos semelhantes mesmo em observadores completamente distintos, o que não ocorre. Apenas no agregar de valor de troca à mercadoria há atribuição de uma importância indiscutível a uma arbitrariedade completa. Entretanto, esse não consiste num enquadramento que se limita apenas a como se lida com o ouro, e também se aplica a pedras preciosas e outras mercadorias, cujo valor econômico de uso se viu dependente da mesma natureza estética-ficcional e que, em todo caso, moldaram o funcionamento da economia imperial da Europa e a atividade colonial nas Américas, ainda como mero nomos. Mesmo 3000 anos antes da era comum, na era dos impérios do mundo antigo, dos regimes feudais, monarquias medievais até o início da tentativa de formação de Estados modernos no século XVIII, o ouro serviu de base material à moeda e, posteriormente, sua quantidade em reserva acumulada como lastro regulatório da moeda impressa. Não é que a moeda nos últimos anos tenha perdido o lastro, mas que o lastro nunca chegou a ter lastro.

    Que não passe desapercebido que, para além da correlação ou identificação problemática e enganosa entre construção de valores de uso com base em ficções arbitrárias e alguma organicidade econômica, há também a diferença entre o mundo vivido e o que se escolhe viver. No modelo de Estado Democrático de Direito brasileiro, por exemplo, a escolha oficial foi assegurar ao princípio de dignidade da vida humana a condição formal de cláusula pétrea da Constituição Federal. Enquanto, por outro lado, o mercado financeiro parte em sua tábua de valores bastante antagônicos e essas linhas de valoração não conversam muito bem entre si. Diferente da primeira, segundo a tábua de valores do mercado, no que surgem dispositivos e formas cada vez mais eficientes para produção e prestação de serviços tecnologicamente mediados, e dispensam pessoas, um trabalhador aos moldes da CLT, frequentemente, em algumas faixas tenderia a ser tomado como um fardo empregatício. Enquanto uma pepita de ouro ou um diamante, em determinadas condições, valeriam o bastante para garantir a subsistência vitalícia de famílias inteiras, no mercado global à procura de mão de obra barata, uma pessoa com determinada qualificação pode não chegar a valer três dólares a hora de trabalho, mesmo nos últimos séculos supostamente iluministas. E a instabilidade empregatícia permitida em meio à sobreposição valorativa é apenas o abre alas a uma série de debilitações sociais. Sem emprego, assim como trabalhando na informalidade sem direitos trabalhistas, certamente há outros problemas que atingem diretamente a dignidade de sua existência, assim como afetam familiares, filhos ou pessoas próximas.

    No Brasil, o número no último trimestre de 2016 era de 12;6%, girando em torno de um mínimo de, ao menos, 13 milhões de pessoas sem renda. No entanto, tendo por base que em condições semelhantes, porém com renda, há também trabalhadores informais e em condições de trabalho extenuantes, além de não terem nenhuma cobertura de direitos trabalhistas mínimos. O total de trabalhadores informais no início de 2017) era de 40,8% de toda a população ocupada, 37,3 milhões. Em que se pese que, frequentemente, esses desempregados ou trabalhadores em condições empregatícias vulneráveis (como no caso dos informais) são também a fonte de renda de seus lares. Portanto, pensando seu entorno, o número geral de afetados diretos e indiretos poderia atingir facilmente 30 milhões, apenas considerando o desemprego. E mesmo que a quantidade de pessoas, recentemente, tenha sido algo em torno de, no mínimo, duas vezes e meia a seis vezes a população inteira de países como a Nova Zelândia, apenas de desempregados, mas se considerando a informalidade e a fragilidade dos direitos trabalhistas, o número gira em torno de duas vezes e meia a nove vezes. Todavia, mesmo quando um número tão expressivo se vê diluindo em outro mais massivo (o da população) se perde qualquer efeito de alarme. O Brasil é colossal e a linguagem conceitual, fria. O que causa, talvez, ainda alguma perplexidade é que diferente das pessoas (Art. 1º, III), mesmo que o minério não tenha garantia constitucional que lhe atribua dignidade valorativa própria, seu valor mínimo operacional de mercado nos últimos séculos foi mais regular e estável que qualquer vigência ou garantia recente do princípio filosófico-jurídico e humanístico. E, por fim, nos exime do esforço de perceber como são nitidamente distantes e incompatíveis regimes produtivos neoliberais stricto sensu e valores humanísticos mínimos de um Estado Democrático de Direito.

    * Que não Maias e Astecas que, de acordo com a arqueologia recente, o valorizavam.

    4. Avanço tecnológico, rentabilização de serviços e o problema virtual contemporâneo da autodeterminação social.

    É típico ao pensamento contemporâneo alguma confusão entre avanços científicos lato sensu que beneficiam a condição humana (e independem de ideologias políticas) com a fabricação, produção e distribuição de dispositivos tecnológicos, programações ou serviços rentáveis e rentabilizados no mercado. Concebe-se, frequentemente, as redes sociais, por exemplo, como avanços pró-comunicação, tendendo a melhorias na qualidade de vida, que se defenda as redes sociais como serviços revolucionários que nos trouxeram ganhos indispensáveis à vida social. Sobretudo, nesses casos, seria preciso ter ainda mais nítida a distância entre eles. A zona de atuação da ciência e criação artística-tecnológica em sentido propositivo e globalmente benéfico, por exemplo, possibilitou a computação de dados e a internet, em meio à digitalização do mundo analógico, por sua vez, foram motores de uma agilização inigualável de inúmeros processos antes manuais, taxas maiores de processamento de dados e assim por diante. Além de um ganho potencial de propagação comunicativa à distância, na troca de informações instantâneas, especialmente, em relação a limitações nos meios comunicativos até então existentes como o rádio, o telefone e a televisão. Conquistas em pesquisas voltadas ao processamento de dados e da computação deram origem aos computadores. Essa, de fato, uma tecnologia de guerra que, posteriormente, décadas depois, permite também uma aplicação em escala reduzida aos microcomputadores e depois ainda menor aos celulares. O primeiro computador, por exemplo, é concebido em meio à tentativa de deciframento e previsão de comunicações, signos e códigos de grupos-alvo, bem como também há algoritmos nas redes algum tempo depois atuando sob finalidade bastante semelhante. Assim como as pesquisas relacionadas aos sistemas de comunicação de longa distância, também foram fortemente nutridas por períodos de belicismo intenso entre os Estados. A partir da segunda metade da década de 1990, a tecnologia dos chipsets de PC passou a ser propriamente adaptada ao mercado de consumo doméstico de celulares. Os quais se tornavam cada vez mais miniaturas de micro-computadores, dispondo das mesmas principais funções mecânicas de hardware como, por exemplo, chipsets de processador, memória RAM e memória interna.

    Nesse sentido, não chegaria exatamente a surpreender que dispositivos tecnológicos e aplicativos sejam usados há algum tempo de forma estratégica em guerras de informação e na defesa de interesses de ordem privada. Portanto, ao contrário do que a tese apresentada inicialmente apontaria, mesmo a maravilha moderna da comunicação instantânea em massa, se pensando seu suporte tecnológico, nunca foi exatamente dependente, por exemplo, de redes sociais. Troca instantânea de mensagens em escala global, compartilhamento de imagens e vídeos, lojas online, propaganda e uma série de outras utilidades enquanto possibilidades físicas precedem a era dos aplicativos e redes mais comuns. Sendo um produto rentável secundário, ao contrário, a rede social sim, de fato, foi dependente do grau de avanço tecnológico, do suporte material de sua programação, apenas como a ponta do iceberg em escala comercializada. O que seus criadores, em geral, fazem e fizeram com o Facebook, Twitter, Instagram, ou WhatsApp foi compilar funcionalidades e modalidades possíveis, anteriormente separadas e não rentabilizadas fora de contextos de pesquisa ou militares, em pacotes mais atraentes. Em alguns casos, como o Facebook, reunindo um conjunto maior de funções num único serviço virtual, tornando-o mais concentrado de funções possíveis e, assim, em termos de apelo mercadológico, montando um produto potencialmente mais atraente e pregnante. Entretanto, diferente de como frequentemente a imagética de marketing daria a entender, é muito pouco provável que a maioria das redes sociais (ao menos, as que conseguiram se fixar) tenham sido construídas apenas feito canais abertos de troca entre pessoas. Ou romanticamente voltadas, por exemplo, à melhora da qualidade de vida e da comunicação. Pela maneira que os grupos de convívio social espontâneo se constroem e são também reproduzidos nas redes, há pouca ou quase nenhuma abertura à diversidade no pensamento, seriam improváveis as chances, por exemplo, dos que pensem de maneira diametralmente adversa sejam participantes proativos das mesmas redes de contatos e amigos. Configurando-se, assim, uma tendência ao isolamento de perspectivas, ainda que em blocos.

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