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Quine: Linguagem e Epistemologia Naturalizada
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Quine: Linguagem e Epistemologia Naturalizada
E-book230 páginas3 horas

Quine: Linguagem e Epistemologia Naturalizada

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Sobre este e-book

O livro Quine: Linguagem e Epistemologia naturalizada possibilita acompanhar os instigantes debates que marcaram o pensamento filosófico de língua inglesa ao longo do século XX, condensando as principais teses que nortearam esses debates e que se constituem em informações imprescindíveis para a compreensão do atual panorama filosófico.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento17 de set. de 2020
ISBN9788547334710
Quine: Linguagem e Epistemologia Naturalizada

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    Quine - José Nilton Conserva

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Dedico a minha família.

    Apresentação

    Esta obra apresenta o conjunto de teses desenvolvidas por Quine para sustentar a sua postulação da naturalização da Epistemologia, como consequência de uma renovação do Empirismo e de uma doutrina holística do significado. Para que a eficácia e viabilidade das teses apresentadas sejam compreendidas no contexto do debate clássico sobre o conhecimento, a obra toma com porta de entrada para o âmbito da Epistemologia a caracterização do modelo padrão de conhecimento a partir de uma análise dos seus elementos constituintes: a crença, a verdade e a justificação.

    As principais dificuldades e objeções relacionadas a esse modelo dizem respeito à necessidade de se estabelecer os mecanismos adequados e satisfatórios para se justificar crenças e definir a verdade. Além do mais, muitas interpretações desse modelo apontam a sua dependência do fundacionalismo e do normativismo, posturas teóricas que desagradam a Quine. Desse modo, a obra apresenta um esboço das principais teses quineanas desenvolvidas em função de uma naturalização da Epistemologia, isto é, desenvolver uma Epistemologia fisicalista orientada pela Ciência e que permita construir uma possibilidade de contornar todas as teses fundacionalistas e normativistas da antiga Epistemologia, fazendo dela um capítulo das Ciências da natureza.

    Dando sequência a análise proposta, a obra contextualiza a Filosofia quineana em relação à tradição empirista, apontando o que o autor mantém e o que abandona dessa tradição cuja preocupação epistemológica mais marcante consiste em tentar elucidar a relação entre conhecimento e mundo. Assim, apresenta a leitura quineana da evolução do Empirismo e suas reações à própria matriz intelectual da qual participa, pois são nessas reações que ele constrói um caminho filosófico próprio e estrutura sua resposta ao problema do conhecimento fora do modelo padrão. Argumenta ainda que o aprimoramento do Empirismo descrito por Quine é um resumo de teses centrais do seu próprio pensamento: uma postura empirista desenvolvida como alternativa para superar as dificuldades teóricas do Empirismo Lógico no que diz respeito ao intento de se fundamentar o conhecimento científico como uma construção lógica a partir da experiência imediata.

    O autor analisa como Quine utiliza-se de conquistas teóricas desenvolvidas por pensadores ligados à tradição empirista para desfazer convicções arraigadas no modo dessa tradição conceber o conhecimento. Refina conquistas teóricas como o princípio holístico e o princípio de contextualidade, relacionados a Duhem e Frege; abandona outras posturas, como a distinção analítico – sintético e o reducionismo radical. Abandonando o que ele chama de dogmas, Quine enfrenta a Epistemologia do Empirismo Lógico nos seus programas fundacionalista e reducionista, ao mesmo tempo em que faz um acerto de contas com os seus antigos compromissos teóricos e inaugura um caminho próprio que conduz à naturalização da Epistemologia.

    Discorre sobre o modo como o pensamento quineano enfrenta dois temas importantes para sua proposta de naturalizar a Epistemologia: os temas do significado e da evidência empírica. Quine recorre a dois experimentos filosóficos: o processo de aprendizado da linguagem infantil e de um linguista em processo de tradução radical, para, a partir deles, derivar duas grandes teses fundamentais para a descrição do conhecimento: a indeterminação da tradução e a inescrutabilidade da referência. Descrever o modo como temos acesso à linguagem, e como a relacionamos ao mundo, permite apresentar evidências empíricas para a indeterminação da tradução e inescrutabilidade da referência, justificar o holismo e a naturalização da Epistemologia.

    Por fim, apresenta algumas considerações sobre a nova imagem do conhecimento decorrente de uma consequente naturalização da Epistemologia. As regras da Epistemologia são tomadas em continuidade direta com as regras da Ciência, de modo que ao invés de insistir na necessidade de justificação de crenças para alcançarmos o conhecimento, enfatiza-se a importância do aprimoramento dos conhecimentos já estabelecidos, tal como é vigente na Ciência natural. Novas conquistas teóricas possibilitam outras aproximações da realidade, exigindo constantes aprimoramentos nas descrições do mundo que são postuladas. Assim, o autor destaca como conquistas fundamentais dessa descrição do conhecimento desenvolvida em paralelo com a Ciência natural, o abandono da hierarquia epistemológica, do fundacionalismo e do normativismo.

    Prefácio

    Na obra em tela, Quine: Linguagem e Epistemologia naturalizada, Nilton Conserva guia-nos nos labirintos do pensamento quineano, apresentando de modo didático suas principais teses e contribuições. Partindo de um cotejamento das teses quineanas com as exigências estabelecidas no chamado modelo padrão de conhecimento, fórmula canônica estabelecida desde o Teeteto de Platão, exigindo que as crenças recebam justificação racional e sejam verdadeiras para atingirem o padrão de conhecimento, a obra conduz-nos ao cerne da Filosofia do autor de Palavra e objeto. Assim, não encontramos neste escrito somente uma comparação de um modelo filosófico com outro, mas um guia seguro pelos intrincados debates no campo da Filosofia da linguagem, da Lógica, da Epistemologia, da Teoria do Conhecimento e da Metafísica.

    Uma questão multissecular que anima a reflexão filosófica pode ser balizada a partir do ponto de vista de dois importantes autores: Hume e Kant. Ambos são fundamentais para as tradições associadas aos seus sistemas filosóficos. Hume sustenta que a mente humana é parte da natureza, portanto seu estudo deve ser guiado pela metodologia empírica vigente nas Ciências da natureza; Kant, por outro lado, argumenta que a mente humana contém a natureza, constituindo-se na fonte das leis mais abstratas sobre ela, exigindo, portanto, outro caminho de acesso para sua realidade mais recôndita.

    Quine é um autor que defende com firmeza uma posição nesse debate. A sua conhecida afirmação acerca da impossibilidade de separação entre a Metafísica especulativa e as Ciências da natureza traduz uma postura instigante, sobretudo em contextos nos quais se pretende de modo pouco refletido estabelecer uma separação absoluta entre a Filosofia especulativa e a metodologia das Ciências naturais.

    Nesta obra, Quine: Linguagem e Epistemologia naturalizada, o professor Nilton Conserva apresenta de modo claro e argumentado as razões pelas quais o autor de Palavra e objeto posiciona-se contra a alegada distinção e separação entre as duas ordens de conhecimento. Uma das razões apresentadas repousa na convicção quineana de que uma adequada teoria da mente e da linguagem deve ser construída a partir do comportamento dos falantes em contextos de uso da fala, pois a partir dessa realidade pública e acessível a uma abordagem empírica será possível unir a abstração filosófica e a metodologia científica na tarefa comum de descrever as características da realidade.

    Se iniciarmos uma conversação filosófica pela questão central da Metafísica – O que há? – compreenderemos que essa é uma questão que em parte deve ser respondida por teorias verdadeiras. No contexto do triunfo cada vez mais abrangente da Epistemologia científica, as teorias científicas serão imediatamente identificadas como aquelas associadas ao predicado verdade.

    A originalidade do pensamento quineano, apresentado por Nilton Conserva nesta obra, consiste em nos fazer entender que a pergunta central da Metafísica – O que há? – é também a pergunta fundamental a movimentar a pesquisa científica. Sendo assim, ambos participam de um projeto comum, porém com uma divisão de tarefas especulativas e teóricas. Compete aos cientistas naturais responderem, em larga medida, a essa questão, mas como tarefa comum, não é prerrogativa exclusiva deles. A resposta a ela envolve o que Quine chama de ascensão semântica, isto é, quando nos pomos a fazer uma reflexão sobre os termos utilizados nos discursos sobre a natureza não nos limitamos mais a elaborar um discurso descritivo sobre ela, mas refletimos sobre os termos utilizados nesses discursos.

    Qualquer descrição da realidade envolve uma dupla tarefa: por um lado, construir um discurso racional que explique as características gerais da realidade; por outro lado, refletir sobre as categorias e conceitos utilizados nessa descrição. Se a tarefa for bem-sucedida, alcança-se, por fim, uma descrição satisfatória da realidade. Do quadro conceitual utilizado para a descrição da natureza participam conceitos como existência, objetos, propriedades, tempo e causalidade. Usamos essas categorias na descrição da nossa realidade, mas sentimos a necessidade de refletirmos sobre elas ao mesmo tempo em que as usamos. Perguntamo-nos a respeito do seu estatuto, da sua natureza. A reflexão quineana apresentada por Nilton Conserva nos faz entender que a diferença entre a contribuição própria do filósofo e a que compete ao cientista natural na tarefa comum de confeccionar uma representação robusta da realidade será apenas de grau, não de espécie ou natureza.

    A diferença na graduação diz respeito ao caráter abstrato e à generalidade dos seus temas e abordagens. No campo específico da pesquisa há cada vez mais uma convergência de interesses nos temas e em questões precisas. Tanto filósofos quanto cientistas desenvolvem esforços teóricos para determinar a natureza geral da realidade. Nilton Conserva apresenta-nos como as celebradas teses quineanas acerca da impossibilidade de se sustentar a dicotomia entre verdades analíticas e verdades sintéticas têm como consequência mais imediata e direta colocar a Filosofia especulativa e a Ciência natural irmanadas nesse projeto descritivo da realidade. Embora assumam perspectivas distintas na construção desse projeto comum, a Metafísica não é diferente em espécie da física, há apenas distinções de grau em função da generalidade em que operam, pois se considerarmos que a Metafísica versa sobre as bases nas quais tem lugar o mundo físico, ela se constitui em uma abordagem mais abstrata que a própria física. Nilton conserva afirma no seu texto:

    Analiso como ao radicar suas principais teses em bases empíricas, Quine poderá argumentar que o abandono no campo da semântica do dualismo analítico-sintético e no terreno da epistemologia do reducionismo radical, será uma consequência direta do modo como nós constituímos a significatividade e a evidência empírica para os nossos enunciados. O holismo semântico permite estabelecer os significados dos termos e sentenças, mas somente em relação ao todo dos quais participam: os termos como parte, em relação aos enunciados como o todo; os enunciados como parte, em relação às teorias como o todo. O holismo epistemológico assegura que a verificação é possível, mas somente quando os enunciados forem tomados como parte das teorias que participam é que eles poderão ser infirmados ou confirmados.

    A obra analisa como essa ampliação do Empirismo postulada por Quine afasta o reducionismo, assume uma perspectiva holista, implicando em um redimensionamento da teoria do significado e da verificação, pois ele extrai consequências da ideia de que não há como se estabelecer uma experiência isolada para cada sentença ou teoria. Posto nessas bases holísticas, o pensamento quineano afasta o fundacionalismo, ao impedir que qualquer área do conhecimento possa colocar-se em um ponto de vista externo e neutro, e a partir dali pudesse julgar, fundamentar e normatizar outras áreas do conhecimento. No todo da crítica voltada à Filosofia especulativa ou à requerida exigência de verificação empírica para que uma sentença ou teoria sejam significativas, a aplicação do conjunto de teses quineanas gera a necessidade de uma nova imagem para o conhecimento.

    A partir das conquistas teóricas alcançadas, seja o abandono do projeto de se construir uma Filosofia primeira, seja a impossibilidade de verificação termo a termo ou sentença a sentença de uma teoria, a naturalização da Epistemologia aparece como a resposta mais consequente para o desafio teórico, pois a Epistemologia naturalizada brota da confluência entre a Metafísica especulativa e a Ciência natural. Como a obra nos apresenta, além de dissipar a fronteira entre as duas áreas de pesquisa, alcança-se ainda o consequente afastamento do modelo fundacionalista e normativista associado à epistemologia.

    Prof. Dr. Julio Cesar Kestering

    Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)

    Campina Grande, fevereiro, 2018

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    PRIMEIRA PARTE

    CONHECIMENTO PARA ALÉM DO MODELO PADRÃO: ESBOÇO DAS TESES QUINEANAS

    O modelo padrão de conhecimento

    A reação quineana ao modelo padrão

    O problema relacionado com a justificação de crenças

    A consequência fundacionalista na Tradição Filosófica e no Empirismo Lógico

    A opção por descrever processos de conhecimento: Saber como e Saber que

    A recepção da condição verdade no pensamento quineano

    SEGUNDA PARTE

    ANÁLISE CRÍTICA E AMPLIAÇÃO DO EMPIRISMO

    Aspectos da relação da Epistemologia do Empirismo Lógico com o pensamento fregeano

    A descrição quineana dos cinco passos na evolução do Empirismo

    O princípio de contextualidade fregeano

    A tese Duhem-Quine 

    As críticas quineanas ao dualismo analítico-sintético 

    Os impasses relacionados à noção de sinonímia

    Os impasses relativos ao uso das noções de definição e permutabilidade 

    O impasse relativo ao uso de regras semânticas 

    A crítica à teoria verificacional e ao reducionismo

    Algumas consequências da revisão e ampliação do Empirismo 

    TERCEIRA PARTE

    O LUGAR DO APRENDIZADO LINGUÍSTICO E DA EVIDÊNCIA EMPÍRICA NA DESCRIÇÃO DO CONHECIMENTO

    A relação da noção de significado com o aprendizado e o uso da linguagem

    Descrição do experimento da tradução radical e suas consequências epistemológicas

    Consequências epistemológicas: indeterminação da tradução e inescrutabilidade da referência 

    Descrição do aprendizado infantil da linguagem natural e suas consequências

    As seis fases do aprendizado infantil da linguagem

    Consequências epistemológicas: relatividade ontológica e objetos abstratos

    QUARTA PARTE

    NATURALIZAÇÃO DA EPISTEMOLOGIA: A DESCRIÇÃO DE PROCESSOS DE CONHECIMENTOS CONFIÁVEIS

    Superar o antipsicologismo 

    Eleger a Ciência como processo de conhecimento confiável

    Recusar o normativismo e o fundacionalismo

    A necessidade de se recorrer às hipóteses analíticas 

    O papel das sentenças observacionais 

    A função das sentenças eternas

    Conhecimento natural e verdade

    O fim do fundacionalismo e do normativismo: Uma nova imagem para o conhecimento

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    A indagação a respeito do que pode ser acolhido como conhecimento foi sempre amplamente debatida na tradição filosófica, estabelecendo um campo teórico fértil e ao mesmo tempo problemático. No transcorrer da história desse debate na Filosofia ocidental, a noção de conhecimento foi fortemente associada ao que se convencionou chamar de modelo padrão ou modelo canônico, tal modelo toma o conhecimento

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