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Crônicas De Medepéia
Crônicas De Medepéia
Crônicas De Medepéia
E-book508 páginas7 horas

Crônicas De Medepéia

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Sobre este e-book

“Não é fácil viver em um mundo que parece estar contra você”, foi o que os irmãos Eric de 5 anos e Davi de 12 pensavam quando sentiam falta de seu pai que sempre estava viagem, foi o que Sofia pensou quando viu que sua mãe estava morta e agora com apenas 10 anos teria que se livrar sozinha pelo mundo e foi o que a princesa Carla com seus 5 anos pensou quando se sentia só, mesmo tendo várias irmãs, empregados e escravos no castelo de Ukarra, essas 4 crianças tinham seus motivos para reclamarem de suas vidas, mas o que eles não sabiam é que isso era apenas o começo de seus problemas em um mundo hostil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jun. de 2020
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    Crônicas De Medepéia - Matheus Dias Pereira

    Prefácio

    Quando eu era criança, eu comecei a desenhar mapas em um papelão, eram mapas sem muita finalidade na época, basicamente desenhava fronteiras e nomeava com nomes que via em algum lugar e chamava de países, esses rabiscos infantis foram a base para o mundo que vocês irão conhecer, um mundo cheio de estórias, magia e imaginação, seja bem vindo as crônicas de Medepéia.

    Parte 1 - Crianças em um mundo de adultos

    Ano 4993 da era dos homens ou 7 anos antes da queda da Baía

    1 - Um rei ukarriano

    Ukarra

    A sala do trono, dentro do palácio de Ukarra, é magnífica, com 100 metros de comprimento, 40 de largura e 30 de altura, ela é a maior de toda a Mompólia. Há uma escada de 10 degraus do pátio até o trono que é feito da madeira mais nobre oriunda das florestas do oriente entalhadas com desenhos de dragões, lobos, cavalos e guerreiros, o estofado vermelho é almofadado com lã vinda de além-mar.

    Um certo dia um conselheiro entra na sala do trono e caminha até o trono onde o rei estava, curvando-se começou a falar:

    - Chegou uma mensagem importante do seu espião em Gobi.

    - Leia. - disse o rei.

    Levantando e desenrolando um papel, o conselheiro lê:

    - Vossa majestade, Os reis, Júlio de Gobi, e Jonnie de Gobilo, e Harry, nobre da família dos vinhedos de Notam, estão tramando contra vossa majestade, não sei ainda o que pretendem fazer, mas sei que querem destituir vossa majestade do trono, acham-no muito imprevisível e acreditam que vossa filha possa ser manipulada por eles. Conforme a carta ia sendo lida, a feição do rei mudou de calmo para furioso, após o conselheiro terminar a leitura, o rei extravasou: -Como ousam. - apontando para o chefe da guarda que estava na porta do outro lado da sala.

    - Chame todos os generais que estão na cidade, agora. - o chefe da guarda então se retirou.

    - O senhor pretende atacar Gobi e Gobilo? - perguntou o conselheiro que tinha lido a carta.

    -Sim. - respondeu o rei.

    - E o tratado de paz que assinamos, não pode violá-lo assim, toda Mompólia irá nos condenar.

    - Você ouviu estão tramando contra nós, e se violarmos, quem irá nos questionar? Vulcotro? O rei gordo deles está tão preocupado com o resto do mundo, que ninguém o vê fora de Vulcotro faz duas décadas.

    - O senhor não irá nem consultar o conselho? E nosso aliado Uriel, rei de Notam, não irá avisá-lo? Um dos súditos dele nos traiu.

    - Então reúna o conselho, e quanto a Uriel melhor ele não saber agora. - disse o rei.

    Após isso o conselheiro saiu da sala do trono.

    Passado um pouco mais de uma hora, todos os 5 conselheiros já estavam na sala do conselho, quando rei chegou e sentou. O conselheiro mais velho começou:

    - O conselho se reuniu a pressas hoje, dia 10 do mês das montanhas do ano de 421 desde a aliança Ukarra-Notam, para discutir se declara guerra a Gobi e Gobilo.  - enquanto outro conselheiro mais jovem escrevia tudo o que era dito.

    - Eles estão tramando contra Ukarra, devemos surpreendê-los e atacá-los primeiro. - disse o rei.

    - Antes de tomarmos uma decisão, devemos pensar nas consequências - disse o conselheiro mais velho.

    - A decisão já está tomada, reuni vocês aqui apenas para comunicá-los, vou incendiar as cidades irmãs o mais rápido possível.

    - Mas meu rei…

    - EU SOU O REI- O rei esbravejou esmurrando a mesa - O que eu digo é lei, vocês vão me obedecer ou se não a cabeça de vocês guardará os portões da cidade, eu quero ver Gobi e Gobilo queimarem…

    2 - Dois irmãos, uma viagem e um incêndio

    Iraka

    O sol ainda não havia nascido em iraka e os irmãos Davi e Eric já estavam acordados, o primeiro de doze anos e o segundo de cinco, estavam se preparando para procurar frutas na floresta que cercava a pequena cidade, o pai dos garotos estava chegando de uma longa viagem, e os meninos queriam fazer uma surpresa. Na floresta os meninos se separaram durante um instante, e apareceu a Davi um garoto com roupas verdes engraçadas da mesma idade que ele, o garoto logo foi falando:

    - Ei Davi, não fala mais comigo?

    - Pra que? Você não existe.

    - Como assim?

    - Só eu vejo você, só eu falo com você, só eu te escuto, enfim você não é real, é só minha imaginação. - Então o garoto falou:

    - Se eu não sou real, você não vai sentir isso. - E empurrou Davi que caiu num riacho.

    - Eu vou te pegar, você vai ver. - Gritou Davi.

    Nesse momento Eric apareceu no meio das árvores indagando: - Está falando com quem?

    Davi, olhando para Eric depois olhando para onde estava o garoto, que agora havia sumido, respondeu gaguejando:

    - Com um ma...macaco que jogou uma fruta em mim e eu, eu eu cai aqui no rio e depois ele sumiu entre as árvores.

    Eric rindo disse:

    - Ah bom, pensei que estava gritando com seu amigo imaginário. - Terminou a frase caindo na risada.

    Aquelas palavras de Eric chatearam Davi, mas ele não disse nada, pois estava claro que aquilo que acontecerá não era imaginação, era muito real. Após colherem algumas frutas, os dois irmãos voltaram para a pequena cidade onde moravam quando chegaram a casa, o pai dos garotos já estava lá. Os dois quando viram o pai, foram correndo colocar as frutas na mesa para abraçar o pai, que percebendo que Davi, estava molhado, logo perguntou:

    - Por que está molhado?

    - Um macaco jogou uma fruta em mim e acabei caindo no rio.  - respondeu Davi, e seu pai aceitou a resposta sem questionar.

    Logo Eric, perguntou:

    - Quanto tempo o senhor irá ficar?

    - Uma semana. - respondeu o pai.

    - Uma semana só? Mas você vai ficar com a gente aqui em Iraka, dessa vez? - disse Eric com uma voz triste.

    - Seu pai tem que vender algumas coisas que comprou nas tribos do norte. - disse a mãe dos garotos ao perceber que os dois ficaram tristes.

    O Pai dos Garotos era comerciante, por isso passava muito tempo fora da cidade, ele ia até os mercados das principais cidades mompóis como: Ukarra, Notam, Gobi e Gobilo, comprar produtos de outros comerciantes mompóis e sacis, depois viajava até as tribos do norte onde trocava por outros produtos que eram raros na Mompólia, ao voltar aos mercados de seu país, vendia essas mercadorias raras e recebia moedas Ukarrianas em troca.

    - Posso ir com o senhor para Gobi e Gobilo? - perguntou Davi.

    - Não sei, a estrada pode ser um lugar perigoso para uma criança - respondeu a mãe.

    - Pode sim filho, desde que Ukarra controla essas estradas, elas não são perigosas quanto as do norte e das terras bárbaras, não há perigo.

    - E eu posso? -perguntou Eric.

    - Quando você crescer mais, eu te levo também Eric. Tudo bem?- disse o pai.

    - Tudo bem. - respondeu Eric.

    Após o jantar Eric e Davi foram dormir e o pai deles lhe contou a história favorita deles, a famosa lenda mompol de Fifo, o viajante:

    Na época das guerras ronbianas, (guerras das cidades irmãs de Gobi e Gobilo e contra a cidade de Rio Raso, cujo rei se chamava Ronbi), em Rio Raso havia um homem chamado Fifo, ele era um comerciante e viajava entre as cidades aliadas do rei de Rio Raso, por causa da guerra um cidadão de Rio Raso não podia se abrigar em uma vila ou cidade inimiga isso era considerado alta traição, porém em uma noite chuvosa Fifo foi atacado por Lobos e se perdeu na floresta, após horas de caminhada achou uma pequena vila onde conseguiu abrigo, ao amanhecer Fifo reconheceu o estandarte do rei de Gobilo tremulando no topo das casas da vila, ao ver a bandeira estremeceu, ele sabia o que significava aquilo, se voltasse para Rio Raso e alguém descobrisse seria executado na praça, ele teria que fugir. Então Fifo fugiu para terras desconhecidas além das grandes montanhas do leste, viveu anos junto com os estrangeiros, aprendeu a língua deles, a história deles e costumes deles, um certo dia encontrou no mercado um homem que falava mompol, se aproximou e começou a conversar com o estranho, perguntou para ele sobre a Mompólia e o homem lhe disse que Rio Raso havia sido destruída,  o rei Ronbi estava morto e desde então Gobi e Gobilo estavam devastando o vale lutando um rei contra o outro, então Fifo decidiu voltar para a Mompólia, chegando no país conversou com os reis de Gobi e Gobilo, contou-lhes a história do povo do lugar onde ficou, explicou que sempre havia duas grandes cidades que sempre lutaram entre si, quando uma era destruída outra menor crescia ao ponto de ser uma ameaça à sobrevivente das guerras anteriores, então começava outra guerra pela supremacia do país, e isso se repetiu inúmeras vezes, até que em uma certa época veio um inimigo do sul aproveitando a divisão entre as cidades dominou todo o país facilmente, o inimigo só foi expulso quando os povos das diversas cidades deixaram suas diferenças de lado e  uniram-se na luta contra os invasores. Após contar essa história disse aos reis das cidades irmãs que ao invés de lutarem uma cidade contra a outra, formassem uma aliança, essa aliança dura até os dias de hoje.

    Ainda naquela madrugada Davi foi acordado pelo seu pai e ambos saíram de Iraka rumo às cidades irmãs de Gobi e Gobilo, colocaram na carroça, alguns produtos adquiridos nas tribos do norte, e saíram através do portão de Iraka na única estrada de terra que levava até a cidade. - Na volta, se não conseguirmos vender tudo nas cidades irmãs, nós vamos passar por Notam - disse o pai - e talvez em Ukarra, eu sei o quanto você quer conhecê-la, agora durma que a viagem é longa.

    Gobi e Gobilo eram duas cidades vizinhas divididas apenas por um pequeno rio de planalto com menos que 30 metros entre uma margem e outra, conhecido como o rio das cidades irmãs, Gobi ficava na margem oeste e Gobilo na leste. A viagem de Iraka até Gobi era de cerca de 1 dia e 1 noite já que a carroça estava cheia, após passar o dia inteiro viajando a noite cai, após algumas horas surge um clarão e muita fumaça preta sai de algum lugar além da floresta. - Esse fogo, vem da direção das cidades irmãs.  - disse o pai. Quando eles finalmente alcançaram o limite da floresta, já está amanhecendo e eles puderam ver de onde vinha o clarão e a fumaça, lá embaixo no vale, as cidades de Gobi e Gobilo ardiam em chamas.

    Assim que Davi e seu pai finalmente chegaram aos portões de Gobi, boa parte do fogo já havia sido apagado, o pai parecia não acreditar, enquanto Davi ficou paralisado, a carroça entrou na cidade, e o que viram era um horror, a cidade inteira em choro e sofrimento, no chão muitas pessoas feridas com graves queimaduras ou totalmente carbonizadas, pessoas chorando nos cantos, casas, carroças, barracas dos comerciantes, formaram um entulho de madeira e cinzas, diversas casas que ainda pegavam fogo e pessoas iam correndo  com baldes para ajudar a apagar,  o pai desceu da carroça sem se preocupar com sua carga, levantou uma grande tábua e libertou uma pessoa que estava embaixo agonizando de dor, com dificuldade arrastaram o homem seu rosto estava cheio de fuligem e respirava com dificuldade, mais a frente uma mulher de joelhos segurava  um bebê morto, ela o acariciava enquanto chorava amargamente, do outro lado da rua uma pessoa totalmente queimada se contorcia, enquanto pessoas corriam com baldes e outros feridos no colo, essas cenas se repetiam por toda a cidade, até onde a vista de Davi alcança, enquanto ele assistia a tudo paralisado e horrorizado.

    3 - Uma menina indo para o sul

    Fifia

    Do outro lado do continente, numa terra castigada pelo frio duradouro e intenso, há uma pequena vila muito mais ao norte do que qualquer outra, lá o gelo e a neve são eternos, em meio ao frio, há um julgamento por bruxaria acontecendo e há uma mulher amarrada de joelhos na neve, suplicando por sua vida.

    A vila em questão é conhecida por Becta Tdanik Frif que no idioma local significa vila do muro de gelo, tem esse nome por ficar em frente da chamada muralha gelada que é uma cordilheira, as íngremes paredes rochosas possuem centenas de metros de altura, e se estendem por centenas de quilômetros, do mar do norte ao leste da vila, até a chamada entrada do inferno, uma grande fenda onde é possível observar lava fluindo de seu interior, os nativos dizem que é de lá que os demônios entram no mundo.

    Uma repentina nevasca começa no vilarejo e um vento invade a frágil tenda que fora armada para o julgamento ela subitamente é levantada a vários metros no ar, é a distração perfeita que a suposta bruxa precisava, inexplicavelmente a suspeita se soltou das cordas, corre em direção da sua filha e a agarra, depois entra na tempestade de neve, os homens da vila tentam persegui-la, mas logo desistem, a nevasca estava muito forte e podiam morrer se tentassem alcança-la. A mulher corre pelo meio da nevasca com sua filha de dez anos no colo, todas as roupas que as duas estavam vestindo eram feitas de pele de raposa com os pêlos voltados para dentro, como é de costume da região, após uns 10 minutos a nevasca para do mesmo jeito que começou: repentinamente, se alguém as visse veria apenas duas ruivas, uma mãe e sua criança morrendo de frio, mas a mãe tem um segredo, as acusações eram verdadeiras, não só ela, mas sua filha também é uma bruxa.

    A mão da mãe esquenta rapidamente como brasa aquecendo as duas, a filha decide romper o silêncio:

    - Pra onde vamos?

    - Para o sul, não irão nos aceitar mais em Becta Tdanik Frif.

    - Para Mosvo?

    - Sim, e talvez mais ao sul.

    O povo daquela região gélida eram conhecidos como Frífianos, que na língua local significa homens do gelo, eles viviam espalhados em pequenos povoados por toda aquela região gélida, eram muito conhecidos pelos povos do sul pela quantidade de pessoas com cabelo ruivo, esse povo havia construído apenas uma cidade, Mosvo cujo significado do nome e sua origem são desconhecidos, a cidade de  Mosvo era o orgulho dos Frífianos, a cidade resistiu a várias tentativas de conquista do Reino da Baía.

    A viagem da Vila do muro de gelo até Mosvo levava entre 7 e 8 horas em um trenó puxado por cães, a noite era mortal na Frífia, por isso as viagens até Mosvo só eram feitas no verão quando os dias são mais longos,  enquanto as duas caminhavam rumo ao sul, a noite estava chegando e não havia nenhum lugar para mãe e filha se abrigarem, em todas as direções que olhavam havia só uma imensidão branca, eis que no horizonte surge uma pequena caverna, as duas começam a correr em direção a caverna enquanto o sol desaparecia no Oeste, a noite chegou fria e mortal como sempre, as duas conseguiram chegar na pequena caverna, devia ter pouco mais de 2 metros de comprimento e apenas meio metro de altura, a mãe usa o mesmo truque de antes, e com suas mãos em brasa se aqueciam, antes de dormir a mãe olhou pra filha e deu uma pequena faca e disse: - Filha, eu quero que você sempre se lembre de mim quando usar essa faca-, a menina pegou a faca sem entender e se acomodou nos braços da mãe, aquela noite de inverno  foi longa, durou intermináveis dezoito horas.

    Quando os primeiros raios de sol iluminaram a entrada da caverna a menina já estava acordada e ainda presa nos braços da mãe, a chamou várias vezes, quando finalmente se soltou, percebeu que sua mãe estava morta. Porém sabia que não podia ficar de luto, passou-se poucos minutos após descobrir que a noite e o frio haviam ceifado a sua mãe a pequena ruiva se dispôs a andar, tinha apenas 10 anos, mas já sabia que não conseguiria sobreviver sozinha, conhecia muito bem o poder do frio da Frífia. Não demorou muito e ela viu no horizonte dois trenós puxados por cães, cada um deles com um homem, ela gritou e não demorou muito para eles contornarem e viessem na sua direção. - O que faz uma menina sozinha aqui? - perguntou o mais velho dos dois, era um homem alto com cerca de 40 anos, tinha uma barba muito longa e preta, usava uma cabeça de urso polar como chapéu e esta ainda possuía os dentes da arcada superior e usava uma blusa também feita de urso polar, com os pelos para fora e para dentro, uma excentricidade que a pequena ruiva nunca tinha visto, aquele homem parecia um urso se não estivesse conduzindo os cães, de longe ela pensaria ser um urso.

    - Estou indo para Mo..Mo...Mosvo - disse a menina gaguejando e com medo do homem vestido de urso, ao qual ela apelidou mentalmente de homem urso.

    - Sozinha? - indagou o mais jovem, Diferentemente do outro homem, esse não era nada assustador, era muito jovem, devia ter entre 16 e 20 anos, Não possuía barba, vestia vestes comuns de pele de raposa da neve e um chapéu comum também de pele de raposa

    - Não podemos levar você para Mosvo garotinha. - disse o homem urso.

    - É seis horas de viagem pelo menos até lá, e o sol nessa época do ano tem apenas 6 ou 7 horas, e uma hora de sol já passou. - disse o Jovem.

    - Ainda mais sozinha, de onde você vem Garotinha?- Continuou o Homem urso: - Cadê seus pais? Para estar aqui ou você vem das vilas perto do muro de gelo ou das vilas que ficam na beira do mar gelado.

    A pequena ruiva ficou calada, após alguns segundos, o homem urso continuou:

    -Sabe o que eu acho? Você está fugindo de algo ou de alguém ou foi expulsa da sua vila, não sei o que uma menina do seu tamanho pode fazer para ser expulsa de uma vila, mas não vamos te levar para Mosvo, vamos te levar para a nossa vila e lá decidiremos o que fazer com você.

    - Chefe. - O Jovem interrompeu: - Posso falar com o senhor a sós?

    O homem urso acenou com a cabeça e os dois se afastaram da garota, e o jovem continuou:

    - Eu sei que o que vou falar pode soar horrível, mas e se levarmos essa menina para Mosvo e a vendemos para os comerciantes sulistas?.

    o Homem Urso se enfureceu e em tom de briga falou:

    - Você sabe o que eles fazem com meninas?

    - Está óbvio que ela está fugindo, ela pode ser uma bruxa, quantas garotinhas você já viu que sobreviveram uma noite no gelo sozinha? E chefe, o inverno já chegou, está ficando cada vez mais frio e logo não teremos mais como pescar, nem no mar que é nossa última esperança, nossa reserva para o inverno está muito baixa, ela tem cabelos vermelhos e é muito nova, vale muito dinheiro para os sulistas, podemos pegar esse dinheiro e comprar peixes em Mosvo, ela é a garantia que não voltaremos de mãos vazias, estamos indo há semanas para tentar pescar no mar e cada vez mais voltamos de mãos vazias, e quando voltamos com peixes são poucos e pequenos, com essa garota poderemos conseguir peixes grandes em Mosvo.

    Visivelmente incomodado com a conversa o homem urso retrucou:

    - Esses sulistas fazem coisas horríveis com meninas do tamanho dela se a levarmos para Mosvo, estaremos condenando ela a uma vida de escravidão, dor e sofrimento e também não podemos arriscar a vida de nossos homens e cães por causa de uma ideia dessas, temos apenas sete horas de sol, nunca fizemos a viagem em menos de 6 horas, nossos homens podem ser pegos em uma nevasca, o caminho pode estar obstruído por uma árvore, avalanches podem ter acontecido ao sul e há ladrões espreitando as trilhas.

    - E se não a levarmos podemos estar condenando nossa vila à morte, a vida de seus filhos, suas filhas e das suas esposas, sua família pela vida de uma garota que não sabemos quem é.

    Em tom de ultimato o homem urso disse:

    - Vamos levá-la para nossa vila e lá a tribo decidirá o que faremos com ela.

    - Como quiser, chefe.

    - Cadê a garota?

    A pequena ruiva estava agora há vários metros deles correndo pela imensidão branca estava indo para a caverna que passará a noite a fim de se esconder dos dois homens, os dois estavam distraídos enquanto conversavam e a menina aproveitou para tentar se esconder, eles subiram em seus trenós e foram atrás dela, e logo a alcançaram.

    - Não iremos te fazer mal. - disse o rapaz que a parou derrubando-a na neve com sua vara de pescar.

    - Se não vão me levar para Mosvo me deixam em paz. - Gritou a menina.

    - Iremos te levar para nosso vilarejo e lá decidiremos se te levamos ou não para Mosvo.

    - Vocês juram?

    - Sim, mas promete que não vai tentar fugir de nós de novo? - perguntou o homem urso.

    - Prometo.

    Ela subiu no trenó do jovem e eles a levaram para a vila.

    Quando a noite chegou os líderes dos aldeões, se reuniram em uma tenda para decidirem o que fariam com a garota misteriosa, a pequena ruiva ficou em outra tenda sobre os cuidados de uma mulher, porém a menina aproveitou a distração da mulher e ficou escondida próxima a barraca onde estava acontecendo a reunião, as tendas dessa tribo era igual à de sua tribo, formada por varas de madeiras que são amarrados uns aos outros acerca 15m do solo e com telhado inclinado para impedir desabamento por acúmulo de neve, formando algo parecido com um cone, sobre os troncos são colocados diversas peles de animais costuradas, principalmente pele de rena, e são bem vedadas para reter o calor. Enquanto a reunião acontecia, a menina tentava prestar atenção a cada detalhe:

    -Já não basta o problema de comida, agora tem essa menina que quer ir para Mosvo. - disse uma mulher idosa, e ela continuou:

    -Isso está fora de questão.

    O rapaz jovem que ela conhecerá falou:

    -Senhores, eu não sou um dos líderes, mas peço a permissão para falar.

    -Permissão concedida. - disse outra voz masculina.

    -O inverno chegou, não temos muito mais tempo, devemos ir o mais rápido possível para as cavernas ao sul, mas não temos provisões suficientes, essa menina é nova e com cabelos vermelhos, podemos levá-la para Mosvo vendê-la para um sulista e com o dinheiro comprar peixes.

    Após o comentário do jovem, houve agitação diversas vozes murmuravam e a menina não conseguia ouvir direito, até que outra voz masculina disse:

    - Você é jovem, não conhece o mundo ao sul de Mosvo, se a vendermos para um sulista estaremos condenando-a a uma vida de tristezas e sofrimento.

    -Mas, se  não o fizermos, poderemos estar condenando nossa vila a morte. -Retrucou o jovem.

    - Quem somos nós para decidirmos o destino dessa menina? Ela que decida sozinha, se ela quer ir para Mosvo, levaremos. - disse uma mulher.

    Então um homem disse em um tom de voz mais alto.

    - Para levá-la a Mosvo, precisaríamos de no mínimo 7 horas de sol, os dias estão com apenas 6 horas de sol, eles não podem chegar a Mosvo antes do anoitecer, e mesmo se chegarem terão que arranjar um lugar onde ficar, podemos perder nossos cães, trenós e nossos homens no caminho, tanto na ida, quanto na volta, há muitas armadilhas, há ladrões, árvores caídas, Ursos, Lobos, e claro as tempestades de neve que surgem do nada, se essa garota quiser que levemos a Mosvo, ela terá que esperar até o verão.

    De repente todas pareciam concordar com o homem, e ele continuou:

    - Nossa prioridade agora é sobreviver ao inverno, na última noite morreu três anciãos e um bebê, a cada noite o frio está mais intenso, eu sugiro que arrumem vossas coisas e partimos amanhã mesmo para as cavernas ao sul.

    - Não temos provisões. - disse o homem-urso, a voz dele era reconhecível para a pequena ruiva que escutava tudo tão atenta. - não iremos sobreviver.

    - Há outras tribos que se refugiam naquelas cavernas, se tivermos sorte, alguma outra tribo tem provisões de sobra.

    - E se todas as tribos estiverem famintas que nem nós?

    Nesse momento a garotinha lembrou-se que nessa época nos anos anteriores sua tribo estava refugiada do frio junto a outra tribo ao oeste, onde havia grandes cavernas com águas termais que os mantinham aquecidos por todo o inverno, porém eles ainda não haviam saído de seu local original esse ano, por causa da falta de provisões, após alguém ver sua mãe fazendo magia, a acusavam de bruxaria e colocaram toda a culpa da fome que a tribo estava passando nela, mas agora ela havia percebido que sua mãe era inocente, outra tribo estava passando por dificuldades também, ela agora havia decidido: tinha que ir para o sul de qualquer jeito, se ficasse ali, morreria de fome junto com toda a tribo, ela não queria ouvir mais nada, voltou até a tenda onde deveria estar, deitou-se e não dormiu, pois um pensamento estava em sua cabeça: Assim que o sol nascer, vou roubar um trenó de cães e vou sozinha para Mosvo.

    O sol tinha acabado de surgir no horizonte e a vila já estava movimentada, pessoas para lá e para cá, a menina observava atenta os cachorros, ela estava esperando alguém montar um trenó para roubá-lo, ela olhava e disfarçava para ninguém suspeitar, enquanto isso as pessoas amontoavam seus pertences em caixas e sacos de pele, ela sabia que aquilo significava que eles haviam decidido ir ao sul imediatamente, por um momento ela se sentiu mal por querer roubar o trenó, foi quando sentiu uma mão sobre seu ombro.

    - Oi, tudo bem? - Era uma mulher nova, devia ter cerca de 20 anos.

    -Sim. - Ela respondeu timidamente.

    - Acho seu nome lindo, ele não é Frífiano, qual a origem dele?

    Ela tentou se lembrar qual foi o nome que ela inventou, durante a viagem para a aldeia, o jovem e o homem-urso se apresentaram e perguntaram seu nome, ela já não lembrava o nome deles, e não queria, já que os nomes significavam apego em sua cultura, mas ela mentiu sobre seu nome e não lembrava o nome que inventou, o silêncio deixou a mulher curiosa, e deu a resposta que a menina queria.

    - Sofia? Está tudo bem? Você está muito quieta. - Sofia! Era esse o nome que ela inventou, ela não sabia bem a origem do nome, entre tantas histórias que os anciões contavam sobre o mundo ao sul de Mosvo, havia uma história de uma princesa com esse nome, ela mal se lembrava da história quem dirá da origem do nome e só respondeu.

    - Meu nome? é do sul.

    - Do Reino da Baía?

    - Sim - Ela não sabia o que responder, e falou o que era mais fácil para ela.

    - De qual parte? Frífia, Kola, Criam, Calélia?

    Ela estava irritada já com a mulher e pela primeira vez foi sincera com alguém daquela tribo e disse rispidamente:

    - Não sei. - A mulher percebeu a irritação e se afastou.

    A menina volta sua atenção para os trenós, um jovem está montando os trenós e amarrando os cachorros, ela se aproxima devagar observando atentamente, e quando ele solta um trenó, ela corre e rouba-o, ela rapidamente faz os cães correrem, quando olha para trás vê o jovem atrás dela em outro trenó, quando ouve uma voz:  -Deixe-a - o jovem obedeceu a voz e retorna para a aldeia, a pequena ruiva olha uma última vez para trás e viu o dono da voz: o homem-urso.

    O vento gelado batia no rosto dela e o congelava, uma nevasca surgiu do nada e a encobriu, mal enxergava os cachorros, mesmo assim ela não diminuiria a velocidade do trenó por nada, estava a horas correndo na velocidade máxima e os cachorros começaram a cansar até que um deles tropeça em algo e o trenó vira.

    Quando ela acordou, estava zonza, confusa e coberta de neve, o sol já estava próximo do horizonte, apesar que ela não ter conseguido vê-lo devido a neve que caía no momento, confusa, não sabia quanto tempo ficou desacordada se foi horas ou alguns minutos, não estava acostumada a ver as poucas horas de luz do inverno, era difícil, os dias eram curtos e as noites longas, levantou-se e notou a neve vermelha, e um latido choroso de um dos cães que tinha quebrado as patas, os outros 3 estavam ao redor dele, lambendo sua ferida exposta, ela caminhou cambaleando até os cães e os soltou, depois foi até o ferido, falou sussurrando no ouvido dele: - Me desculpe - e o matou com a faca que sua mãe lhe deu, sem uma lágrima no olho continuou andando enquanto a noite se aproximava rapidamente, a nevasca parou e ela pode ver uma fumaça subindo no horizonte, então caminhou em direção a ela, no limite de até onde podia ver notou algumas luzes, caminhou em direção à elas e notou algumas casas estranhas, viu algumas pessoas, e antes de cair com a cara na neve exausta gritou:

    - Ajudem-me.

    Quando acordou, estava em uma grande cabana muito diferente das da sua tribo, na verdade era uma casa de madeira e pedras, com o teto muito alto, seu telhado era de palha e em formato de V invertido, o chão era forrado com algum tipo de tapete de grama, e sobre ele havia muitas estacas e peles de tendas,  a pequena ruiva estava deitada numa cama feita com peles de rena e com cobertas feitas de animais que ela não tinha certeza se conhecia ou não, ao seu lado uma pequena fogueira queimava numa rústica lareira de pedra com uma chaminé mais rústica ainda, algo que ela nunca tinha visto antes.

    - Você acordou? - A pequena Ruiva ainda não tinha notado que tinha alguém naquela casa com ela, e não respondeu a velha senhora de cabelos brancos que voltou a falar:

    - Você estava muito mal quando os jovens a encontraram caída na neve. - o Silêncio da menina pareceu ser um convite para a mulher que acabará de conhecer se apresentar.

    - Eu sou Hécate, a curandeira da aldeia, e você minha doce criança como se chama?

    - Aldeia? aqui não é Mosvo? - Finalmente a menina disse a menina.

    - Olha só, parece que a raposa não comeu sua língua - disse Hécate dando um sorriso. - Não, minha criança, Mosvo está a 2 ou 3 horas de trenó daqui, depende da condição do caminho e claro do condutor do trenó, eu demoro mais de 4 horas, por isso peço pra me levarem, por que se depender de mim…- ela fez uma pausa - Ora, onde estão meus modos, estou aqui tagarelando e não te ofereci nem um chá quente, você aceita?  A menina fez sim com a cabeça. Hécate colocou cuidadosamente o chá numa pequena vasilha de barro e deu pra menina, esperou-a experimentar e depois perguntou?

    - Gostou? - Novamente a pequena ruiva acenou que sim com a cabeça.

    - Mentirosa!- Exclamou a velha- Isso é ruim demais, ninguém gosta, tem gosto de mato, bom na verdade é mato, enfim, não precisa mentir pra me agradar, eu também não gosto, está com fome?- Sem esperar a resposta da menina, ela pegou uma concha de madeira, mergulhou no caldeirão e encheu outro pote com aquilo que estava dentro do caldeirão.

    - Sopa de Rena, acho que deve ter algum pedaço de coelho ou raposa, enfim é o melhor que podemos oferecer.

    Enquanto comia a menina ficava olhando aquela senhora falando, mas não prestou atenção só queria ir para Mosvo, fez as contas a vila anterior está a 7 horas de Mosvo, agora estava a 3 horas, andou de trenó por 4 horas, os dias estão durando apenas 6 horas, então ela teria 3 horas de sobra, então algo que a mulher falou chamou sua atenção….

    - ...Vamos amanhã para Mosvo, pedi um pouco ma...

    - Mosvo? - interrompeu a menina.

    - Sim, Mosvo, normalmente ficamos na aldeia e só vamos pras cavernas nos dias escuros, mas esse inverno está rigoroso demais, não temos comida para sobrevivermos nas cavernas, então vamos para Mosvo e talvez, mais ao sul, até o clima melhorar. Boa parte das pessoas da aldeia já foram, apenas nós, os mais teimosos ficamos, mas não tem jeito, o chefe nos mandou partir amanhã de ma…

    - Posso ir junto? - falou a menina enquanto pensava: Essa mulher não cansa de falar não?

    - Claro que pode querida, não te deixaríamos pra trás, apesar de os outros acharem estranho uma menina do seu tamanho sozinha na neve.

    - Me perdi da minha família, estávamos indo para Mosvo, quando a tempestade nos atingiu, cai do trenó e eles sumiram - mentiu a menina fingindo um pouco de emoção na fala.

    - Coitada!!! vou te levar a Mosvo e vou te ajudar a encontrar sua família- Ah não!, pensou a menina.

    A noite veio e várias pessoas entraram naquela grande casa de madeira cantaram algumas músicas e depois se juntaram para dormir próximo a fogueira, a pequena ruiva decidiu contá-los, tinha 22 pessoas excluindo ela, 18 homens e 4 mulheres todos adultos, ela não conseguia dormir, sabia que acordariam antes de amanhecer, para preparar a viagem, ficou pensando na sua mãe, no homem-urso, no jovem que queria vendê-la e no seu pai, ah seu pai, ela tinha tantas saudades, foi banido quando ela era um bebê e retornou alguns anos depois, apenas para ser banido novamente, queria encontrar ele, quem sabe ele não está em Mosvo? seria perfeito, ele cuidaria dela, enquanto pensava nisso adormeceu. - Acorde minha querida. - Por um momento a pequena ruiva pensou estar sendo acordada pela mãe, e que tudo o que acontecerá nos últimos três dias não passava de um pesadelo, mas quando abriu os olhos teve vontade de chorar, era Hécate que continuou falando:  - Deixamos você dormir mais um pouco, sei que passou por muita coisa, mais do que nos disse, mas te entendo, prefere manter seus segredos, como seu nome por exemplo, de qualquer jeito tem que levantar, vamos. - Hécate levantou-a e levou pra fora da casa, lá fora havia um homem em cima do tronco de uma árvore falando, enquanto os demais ouviam:

    - Hécate e a menina vão no trenó do Ileu - disse o homem quando as notou, e continuou falando o nome das outras pessoas e o trenó que elas iam.

    - Olá meu nome é Ileu- Um jovem se aproximou da pequena ruiva que se assustou um pouco: - Você vai no meu trenó.

    - Eu sei, eu ouvi.- respondeu ela.

    - Posso saber o nome de uma menina tão adorável? - disse Ileu em tom irônico.

    - Não.

    Após resposta ríspida da menina, Hécate decidiu pedir desculpas, por ela:

    - Desculpa, é que ela teve um dia complicado ontem, está um pouco desconfiada ainda, mas nós vamos ajudar ela a encontrar com a família dela em Mosvo, não precisa falar seu nome se não quiser querida, nós te entendemos.

    - Ah sim entendo, eu que peço desculpas, espero que encontre sua família - Ileu disse gentilmente antes de afastar.

    - Nós vamos no trenó daquele jovem, acho bom você tratar ele um pouco melhor, vai que ele nos larga no caminho - Após falar isso Hécate esboçou um sorriso, ao notar a seriedade da menina continuou:

    - Partimos assim do sol nascer, o que deve acontecer em uma hora, você irá amar Mosvo, é incrível tem tantas casas, tantas pessoas, tem búfalos lá,  já viu Búfalos queridas? são grandes, chifrudos,  peludos e …

    A menina realmente não estava interessada na conversa fiada de hécate, ficava observando aquelas casas de madeira, nunca tinha visto casas de madeira antes, só tendas, nunca tinha ido tanto ao sul, a viagem mais longa que tinha ido era pras cavernas com águas termais ao oeste e ao mar gelado ao leste, nunca atravessou o muro de gelo ao norte como seu pai, nem tinha ido ao sul como sua mãe quando era jovem, ficou pensando na voz  que ouviu na outra tribo quando estava escondida: você é jovem, não conhece o mundo além de Mosvo , e se perguntou se era mesmo melhor ela ir pro sul em direção ao desconhecido ou ficar com aquela tribo que a recebeu tão bem, se sentiu triste por ter roubado um trenó da tribo anterior.

    -Está na hora. - A voz do homem que estava sobre o toco da árvore, vamos partir na ordem combinada.

    - Vamos querida. - Hécate pegou na mão dela e a levou até um Trenó grande onde havia lugares bem confortáveis para elas sentarem logo atrás do condutor, atrás delas havia alguns Sacos com coisas dentro e oito cães puxariam o trenó.

    Hécate pegou uma pele de raposa e cobriu a pequena ruiva, a menina olhou para trás e havia trenós maiores carregando muito mais coisas e com muito mais cães, nunca havia visto trenós tão grandes, olhou pra frente e havia mais alguns trenós com menos carga e menos cães, até chegar no trenó do líder, com carga nenhuma e apenas 2 cães, as pessoas iam se acomodando nos trenós, Ileu subiu no trenó e perguntou: -Confortáveis? Prontas? - Hécate respondeu prontamente: -Sim, né minha querida? Estamos prontas desde que acordamos - Virou pra menina e continuou: - Você vai adorar Mosvo é encantadora, quer dizer é um pouco fedida é claro com aqueles peixes e aquela fumaça toda, Ah mas não importa seus pais devem estar lá, então você não vai se importar com o cheiro…

    Ainda era noite quando a viagem começou, a conversa fiada de Hécate, o conforto do trenó, o calor da roupa de raposa, fizeram a menina cair no sono, quando acordou já havia amanhecido e Hécate conversava com Ileu sobre uma raposa que tinha sido morta um dia antes da viagem e que isso seria o almoço deles, agora a garota sabia da onde havia vindo aquela pele, Espero que dê para todos comer: -disse Ileu parecendo preocupado, Hécate virou pra menina que fingia que ainda dormia: -Coitada, está tão cansada, nem imaginamos pelo que passou. - Hécate disse.

    - Se eu fosse você não me apegar tanto a ela: - Ileu falou rispidamente.

    - Não posso evitar, você sabe.

    - Eu sei, mas nós não sabemos nada sobre ela, nem o nome ela nos disse, essa menina irá te abandonar lá em Mosvo, irá te magoar, você já nos contou que passou por isso antes, não

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