Lendas Árabes
De L P Baçan
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Lendas Árabes - L P Baçan
O COMERCIANTE E O GÊNIO
Havia um comerciante que possuiu grande riqueza, tanto em terras, mercadorias como também em dinheiro. Ele era obrigado, de tempos em tempos, a viajar para cuidar de seus negócios. Numa dessas vezes, ele montou seu cavalo, levando com ele uma sacola pequena na qual ele tinha posto alguns biscoitos e tâmaras, porque teria que atravessar o deserto, onde nenhuma comida poderia ser encontrada. Ele chegou ao seu destino sem qualquer infortúnio e, tendo terminado seus negócios, partiu em retorno. No quarto dia da jornada, o calor do sol era muito grande e ele decidiu descansar debaixo de algumas árvores. Ele achou, ao pé de uma enorme nogueira, uma fonte de água clara e corrente. Ele desmontou, amarrou seu cavalo a um galho da árvore e se sentou junto à fonte, depois de ter tirado da sacola algumas tâmaras e alguns biscoitos. Quando ele terminou de comer, lavou a face e as mãos na fonte.
De repente, ele viu um gênio enorme, pálido de fúria, vindo para ele, com uma cimitarra nas mãos.
— Levante-se! — ordenou o gênio, com uma voz terrível. — Deixe-me mata-lo como você matou meu filho!
Ao dizer estas palavras, ele deu um grito horroroso. O comerciante, totalmente petrificado diante da face horrorosa do monstro e com as palavras contra ele, respondeu tremulamente:
— Ai, meu bom senhor bom, o que posso eu ter feito a você para merecer esta morte horrorosa?
— Eu o matarei! — repetiu o gênio. — Da mesma forma como você matou meu filho.
— Mas — disse o comerciante, — como possa eu ter matado seu filho se não o conheço e nunca o vi até agora?
— Quando você chegou aqui, você não se sentou no solo? — perguntou o gênio. — E você não apanhou algumas tâmaras de sua sacola e, ao comê-las, não lançou os caroços fora?
— Sim, eu certamente fiz isso — confirmou o comerciante.
— Então, eu lhe falo você matou meu filho. Enquanto atirava os caroços fora, meu filho passou a sua frente e um deles o acertou no olho, matando-o. Assim, eu também matarei você.
— Ah, senhor, me perdoa! — implorou o comerciante.
— Não terei clemência com você — respondeu o gênio.
— Mas eu matei seu filho sem querer, assim eu imploro que me poupe a vida.
— Não! Eu o matarei como matou meu filho!
Dizendo isso, ele amarrou os braços do comerciante, lançando-o ao solo. Ergueu a cimitarra para lhe a cabeça. O comerciante protestou mais uma vez sua inocência e lamentou as crianças de sua esposa, tentando evitar seu trágico destino. O gênio, com a cimitarra erguida acima de sua cabeça, esperou até que ele tivesse terminado, nem um pouco sensibilizado com as súplicas do outro.
Quando o mercador percebeu que o gênio estava determinado a lhe cortar a cabeça, ele disse:
— Só mais um pedido, eu peço. Conceda-me um adiamento, apenas um pouco de tempo para eu ir para casa dizer adeus a minha esposa e filhos e fazer meu testamento. Quando eu fizer isto, eu voltarei aqui e você me matará.
— Se eu lhe conceder o adiamento que me pede, temo que você não volte mais aqui.
— Eu lhe dou minha palavra de honra — respondeu o comerciante. — Eu voltarei sem falta.
— Quanto tempo você quer? — perguntou o gênio.
— Eu lhe peço a graça de um ano — respondeu o comerciante. — Eu lhe prometo que, daqui a doze meses, eu o estarei esperando debaixo desta árvore para lhe entregar a minha vida.
Nisso o gênio o deixou perto da fonte e desapareceu. O comerciante, tendo se recuperado do susto, montou seu cavalo e retomou seu caminho. Quando chegou em casa, a esposa e as crianças o receberam com a maior das alegrias. Mas em vez de abraçá-los, ele começou a se lamentar amargamente. Eles adivinharam logo que algo terrível havia acontecido.
— Fale, conte-nos o que aconteceu! — pediu a esposa dele.
— Ai! — respondeu-lhe. — Eu só tenho um ano para viver.
Então ele lhes contou o que tinha acontecido entre ele e o gênio, e como ele tinha dado sua palavra de voltar ao término de um ano para ser morto. Quando eles ouviram esta notícia terrível, entraram em desespero e lamentaram muito. No dia seguinte, ao retomar seus negócios, a primeira coisa que o comerciante começou a fazer foi pagar suas dívidas. Deu presentes para os amigos e grandes esmolas para os pobres. Ele determinou a liberdade de seus escravos e cuidou para nada faltasse à esposa e aos filhos.
O ano passou logo, obrigando-o a partir. Quando ele tentou dizer adeus, quase foi vencido pelo sofrimento e, com dificuldade, tomou a direção de seu destino final. Quando lá chegou, ele desmontou e se sentou junto à fonte, onde ele esperou a chegada do gênio terrível. Estava ali, esperando, quando um homem velho que conduzia uma corça veio até ele. Saudaram-se e então o velho indagou:
— Deixe-me perguntar, irmão, o que o trouxe a este lugar do deserto, onde há tantos gênios maus? Vendo estas belas árvores, qualquer um imagina que o local é habitado, mas, na verdade, é um lugar perigoso para se parar por muito tempo.
O comerciante falou para o velho por que era obrigado a estar ali. O outro o ouviu com surpresa.
— Mas esse é um acontecimento maravilhoso! Eu gostaria de ser testemunha de seu encontro com o gênio — falou o velho, sentando-se ao lado do comerciante.
Enquanto eles conversavam, outro velho chegou, seguido por dois cachorros negros. Ele os saudou e perguntou o que eles estavam fazendo naquele lugar. O velho que estava conduzindo a corça lhe contou a aventura do comerciante com o gênio. O segundo velho, que jamais ouvira uma história semelhante, também decidiu ficar para ver o que iria acontecer. Sentou-se junto aos outros e estavam conversando, quando um terceiro velho chegou, trazendo em seus braços um pote amarelo. Ele perguntou por que o comerciante que estava com eles parecia tão triste. Eles lhe contaram a história e ele também decidiu ficar para ver o que aconteceria entre o gênio e o comerciante.
Estavam esperando, quando viram uma fumaça espessa, como uma nuvem de poeira. Aquilo