Presa Por Nós
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Presa Por Nós - Karem Dyovana
PRESA POR NÓS
Karem Dyovana
...A todos aqueles que acreditaram e mim...
Prólogo
Paredes, pontes, estradas, florestas e km separam pessoas fisicamente, mas quando existe uma forte conexão de dois corações que batem na mesma sintonia não existe nada no mundo que faça a distância ser um problema. Sempre pensei assim antes de todas as minhas viagens, o que confortava o coração de meu namorado, que a poucos dias se tornou marido. Eu adoro fotografias e viagens, hoje eu posso realizar um sonho singular que sempre tive, que é visitar a ilha de Koh Tao, na Tailândia. Todos questionam sobre minha coragem, não de entrar num avião com meia dúzia de pessoas interessadas em fotografia, mas de deixar meu filho de dois meses a cuidados do meu marido e uma babá. James é um grande homem e eu sou uma grande mulher, nós dois sempre tomamos decisões juntos e se deixar Eduard por uma semana a cuidados do pai fosse um problema para nós, eu não estaria de malas prontas para realizar um dos meus maiores sonhos. O céu é o limite.
Capítulo 1- O Retorno
Moema
Existem imagens que ficam para sempre na memória e quando você se depara com a imagem do seu marido junto de outra mulher e seu filho chamando-a de mãe, você percebe que essa é uma das imagens que mesmo se o seu cérebro fosse transplantado (se é que existe essa possibilidade) você jamais esqueceria. Eu sempre me considerei uma mulher forte e eu tinha certeza disso até chegar a Madrid, depois de sete anos perdida em uma aldeia. Eu nunca imaginei que quando eu fosse encontrada e retornasse até aqui, as coisas estariam tão mudadas como estão. Eu levei uma profunda
facada no peito
, quando vi por trás do vidro fumê do carro dos pesquisadores que me trouxeram de volta da aldeia, a imagem de James, meu marido, junto de Helena, minha melhor amiga, e meu filho a chamando de mãe. Naquele momento eu hibernei, eu não me movia, não sentia meu coração bater e nem conseguia respirar direito, só voltei em mim quando o sinal ficou verde e o motorista do carro dos pesquisadores acelerou bruscamente, impedindo que eu me movesse e tomasse alguma atitude precipitada, e tudo que restou por ali, fui eu e meus pensamentos que estavam a mil.
-Senhorita Rivetta? Você está bem? -perguntou o delegado-Os pesquisadores que me encontraram decidiram por mim mesma que eu deveria conversar com a polícia antes de chegar em casa, que entendiam que eu estava desesperada para ver minha família, mas que causas como a minha devem ser tratadas com a maior cautela possível. Se eu soubesse que ao chegar aqui veria o que vi, eu teria desconsiderado todo o meu desespero
em retornar e não teria feito as mil perguntas que fiz sobre Como estava Madrid
-Sim, apenas um pouco cansada da viagem...ou talvez eu esteja selvagem demais e não saiba... as coisas mudaram muito desde o acidente. E como mudaram...- respondi ironicamente-
-Eu espero que tenha uma boa recuperação psicológ...
-Eu não estou louca, delegado. Por favor, não ache que eu vim de um filme a qual estou transformada em uma loba selvagem ou estou com super poderes que tomam de conta da minha mente e me impedem de raciocinar, eu ainda sou a Moema Rivetta de sete anos atrás, talvez sem uma concepção de moda e um pouco desatualizada, mas estou bem- falei impedindo-o de dizer que preciso de acompanhamento psicológico-.
-Ok, desculpe-me. Apenas assine aqui e está liberada, não quero causar mais confusões em sua cabeça, deve estar desgastada demais.
-Delegado!-bati na mesa- Não ouse achar que seu distintivo me assusta, eu não estou confusa, nem desgastada, apenas quero ir para casa e poupar meus olhos de ver a sua imagem, você sabe quem eu sou, e de onde eu vim, então não ouse me afrontar dessa forma- assinei o documento- passar bem.-
virei as costas e saí pisando forte pelos corredores da delegacia, que não mudaram nada desde que parti daqui.
Tempos atrás eu tive problemas com o delegado, fui assediada por longos quatro dias na academia pública que eu frequentava, quando os assédios começaram a vir com ameaças eu criei coragem e decidi denunciar, o grande problema era que o assediador era sobrinho de Robert Cosambra, o próprio delegado. O caso foi inteiramente acobertado por ele, minha família reuniu um grupo de advogados que intercederam pelo caso, mas Robert encontrou uma maneira de sobressair dele, quando os advogados não tinham mais o que fazer minha mãe bateu o martelo e disse que não valia a pena lutar por isso, colocou seguranças para me vigiarem 24h e deixou tudo abafado. Eu nunca fui de aceitar injustiças, decidi resolver tudo com minhas próprias mãos, passei noites em claro tentando conseguir imagens das câmeras de segurança da academia, consegui conversas do delegado com seu sobrinho e
quando finalmente vi que as evidencias que eu tinha eram suficientes para incriminar o assediador e seu tio, entreguei tudo nas mãos do ministério público, que tratou de afastar o delegado por uns meses e seu sobrinho foi preso.
Saí de meus devaneios, pois tudo o que eu mais queria era chegar em casa, eu estava de certa forma atordoada, não sabia como andar em uma rua com cheiro de flores ou de pão assado com café expresso, pois em minhas narinas ainda estava impregnado o cheiro de fumaça da aldeia.
-Senhorita Rivetta!-ouvi um grito-
Virei de costas e vi a imagem de Joshua, um dos pesquisadores que me trouxe de volta da ilha.
-O delegado pediu que eu a levasse em casa, disse que não era bom você andar sozinha, pois Madri não é mesma desde que você se foi.
-Na verdade ele acha que estou louca, mas eu não estou bem para recusar uma carona, por favor, me deixe o mais rápido possível em casa-respondi-.
-Você que manda! - Joshua disse e deu partida no carro-.
Cheguei em casa, não me despedi de Joshua, nem agradeci pela carona, apenas corri, abri a porta e esperei que todos estivessem me aguardando na sala, pois a notícia da minha chegada já havia sido espalhada por todos os lugares. Meu sorriso se desfez quando encontrei todas as luzes da casa apagadas e apenas o som dos ponteiros do relógio batendo, eu subi as grandes escadas que ligavam a sala de estar aos quartos e quando eu simplesmente pensei que não poderia piorar, encontrei meu irmão no quarto mais escuro da casa, com meia dúzia de antidepressivos ao lado. Eu arregalei os olhos e ouvi o mais alto grito da minha vida, Max começou a correr pelos lados da casa implorando que eu não o levasse e que por mais que quisesse, ele não podia partir agora.
-Maxwell! Eu estou viva, pare com isso e não me deixe pior do que já estou. -
implorei-
Ele escorou suas costas na parede e negava lentamente com a cabeça, como se não estivesse acreditando no que estava vendo, eu fui me aproximando de mãos levantadas como sinal de rendição e quando ele conseguiu sentir minha presença de perto, abraçou-me tão forte como se no mundo, só existisse nós dois. O choro de Max era doloroso, era uma mistura de saudade com angustia, ele falava tantas coisas no meu ouvido, as quais eu não tinha mais forças para ouvir.
-Por favor, me diga que isso é mentira! Eu não aguento mais ouvir e ver tantas coisas ruins. O que posso ter feito eu para merecer tanto dessabor? -
gritei aos prantos no colo de Max-.
-Eu sinto muito, Moe. Já fazem oito meses...
-Por benditos oito meses eu não consegui despedir-me da única pessoa, além de você, que me amava com todas as forças... - falei baixinho tentando conter meu choro-.
-Não diga isso, Moema. Você não se lembra do... James?
James, cinco letras, duas sílabas e dois fonemas que mais doíam em meus ouvidos, e coração. Por questão de segundos eu comecei apenas me questionar