Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Diário Científico De Uma Pandemia
Diário Científico De Uma Pandemia
Diário Científico De Uma Pandemia
E-book176 páginas2 horas

Diário Científico De Uma Pandemia

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Da receita de cloroquina da Dona Helena, personagem do canal humorístico porta dos fundos, aos impactos sociais causados pela crise de saúde pública do novo coronavírus, esse livro de divulgação científica e popularização da Ciência busca expor o conhecimento que temos sobre a pandemia de 2019-2020 e seus desdobramentos. A pandemia causada pela COVID-19 se originou na China e se espalhou pelo mundo infectando mais de 6 milhões pessoas até o início de Junho de 2020, deixando grande parte da população vivendo cenas dignas de um filme de ficção científica devido principalmente ao isolamento social. Diante de muita informação e também desinformação, o presente livro em linguagem para leigos apresentou dados e publicações científicas relacionadas ao “novo” coronavírus SARS-CoV-2, a contextualização desta pandemia na história e uma breve visualização das conseqüências sociais, políticas, ambientais e econômicas trazidas pela pandemia.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de ago. de 2020
Diário Científico De Uma Pandemia

Relacionado a Diário Científico De Uma Pandemia

Ebooks relacionados

Ciências e Matemática para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de Diário Científico De Uma Pandemia

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Diário Científico De Uma Pandemia - Juliana Albarelli

    Introdução

    O ano de 2020 começou como qualquer outro ano, cheio de expectativas. Os meios de comunicação anunciavam felizes O Brasil teve grandes festas em Copacabana, no Rio, e na Avenida Paulista, em São Paulo. Pelo mundo, o público comemorou a chegada de 2020 em cidades como Nova York, Londres, Paris e Berlim. Rio de Janeiro bate recorde de turistas, nosso excelentíssimo presidente desejava 2020 tão vitorioso quanto 2019. Ideologias e bobagens políticas a parte, o ano aparentemente começou com o pé direito, a bolsa de valores estava no topo e a esperança de todo brasileiro e demais pessoas do mundo era de mais um ano de crescimento e realizações. Mas a festa não durou nem até o carnaval, mais precisamente ela começou a azedar próximo ao ano novo chinês. O ano do rato, segundo o horóscopo chinês, se iniciou no dia 25 de Janeiro de 2020. Eu achando que a festa no bairro da liberdade em São Paulo seria nesta data, apareci pontualmente dia 25 para a celebração que na verdade só aconteceu no final de semana seguinte. Mas o fato foi que alguns dias antes o governo Chinês anunciou um alerta de uma epidemia causada por um vírus e pretendia cancelar a celebração do ano novo chinês. A província de Wuhan na China estava sendo epicentro de uma epidemia causada por um tipo de coronavírus (vírus SARS-CoV-2).

    Batizada com o nome de COVID-19 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), esta nova doença atinge inicialmente o trato respiratório podendo provocar síndrome respiratória aguda grave além de outros problemas de saúde como excesso de coagulação sanguínea, paradas cardíacas, insuficiência renal. Apesar de a primeira vez que eu escutei falar desse vírus tivesse sido no café da manhã indo para a celebração do ano novo Chinês no bairro da Liberdade, os Chineses já haviam detectado os primeiros casos a mais de um mês. Os primeiros casos confirmados se deram em dezembro de 2019 e tinham principalmente ligações ao Mercado Atacadista de Frutos do Mar, que também vendia animais vivos. Neste mesmo mês, médicos Chineses da província de Wuhan verificaram a gravidade da doença e estavam lutando para que o governo não abafasse os casos e informasse a OMS. A Figura 1 mostra a linha do tempo do início da epidemia de coronavírus localizada na China até a declaração de pandemia pela OMS. A partir dos primeiros casos em Dezembro de 2019, as coisas foram se desenrolando como um carro deixado sem freio de mão em uma descida, transformando rapidamente energia cinética em potencial. O número de pessoas infectadas foi crescendo e em 22 de janeiro de 2020, o assunto chegou à OMS para ser discutido em um comitê emergencial se o surto deveria ser tratado como um possível problema internacional. A discussão entre os especialistas buscava identificar se o incidente constituía uma PHEIC (sigla em inglês que significa Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional) sob os Regulamentos Internacionais de Saúde. Foi um momento de dúvida na própria OMS que ficou entre declarar ou não o surto, mas em 30 de Janeiro confirmou a PHEIC.

    Figura 1.png

    Figura 1. Linha do tempo do início da pandemia causada pelo COVID-19

    Devo dizer que nesse ponto do caminho eu não estava muito convencida da periculosidade da doença. Em menor ou maior grau todos passamos por esse ponto de dúvida, inclusive pesquisadores, que atuam em divulgação científica, mais populares na mídia como o biólogo Atila Iamarino e o médico Drauzio Varella, ainda mostravam tranqüilidade e acreditava que o surto não chegaria ao Brasil. A informação que chegava para a maior parte do público era sobre a taxa de mortalidade da COVID-19 que, sim é maior que da influenza, mas é muito menor que a da dengue, chingchua e outras doenças típicas aqui da região onde moro. Muitos acreditavam que o calor dos trópicos também freasse a evolução da doença. Mas os chineses já tinham levantado bandeira vermelha, no final de janeiro a OMS pediu uma ação coordenada de combate à doença, a China fechou a província de Wuhan para conter o surto, muitos outros lideres ficaram olhando com cara de alface para o escarcéu formado, alguns se adiantaram e se prepararam e outros ficaram esperando a chegada de uma gripezinha.

    A doença foi sendo levada através das barreiras geográficas, passando sem nenhuma dificuldade. Espalhou-se pela Ásia e entrou na Europa. Na Itália, onde slogans como Milão não para defendia vida normal diante da epidemia, a doença começou a se espalhar com força no final de fevereiro. A não restrição de convívio social aliada ao grande número de população idosa elevou a taxa de mortalidade acima do esperado no local. Países como Alemanha que tinham reagido ao pedido da OMS e iniciado o preparo para receber a doença desde Janeiro, registrou menor mortalidade, mas mesmo assim precisou tomar medidas de isolamento social para conter o surto. Ainda em fevereiro a doença atravessou o atlântico e chegou à America, encontrando suas primeiras vítimas nos Estados Unidos no final de fevereiro.

    A doença foi deixando um rastro de caos, medo e problemas econômicos por onde passava. Com uma predileção pelas pessoas mais sábias de nossas comunidades, idosos morreram aos montes. Ao hospitalizar cerca de 20% das pessoas que contraíram o vírus e que um quarto destas além de cuidados especiais precisam de estrutura hospitalar como respiradores e UTI, o coronavírus causador da COVID-19 sobrecarregou os sistemas de saúde dos países onde o vírus circulou. Com muitas pessoas precisando de tratamento muitos lugares excederam sua capacidade e não pôde oferecer cuidado a todos que necessitavam. O sistema funerário também ficou abarrotado e câmaras frias era utilizadas para armazenar os corpos. Diversos países como Itália, Espanha, Brasil e Estados Unidos registraram mais de 1.000 mortes por dia. A combinação de falta de imunidade dos humanos para o vírus SARS-CoV-2 e a alta taxa de transmissão deste provocou um efeito cascata necessitando medidas drásticas. Inaptos a conter o vírus, que se espalha rapidamente dobrando o número de infectados a cada 5 ou 6 dias, os países foram fechando suas fronteiras e parando qualquer local de aglomeração, comércio, escolas, teatros, espaços públicos. A maior parte dos países optou pela quarentena ou completo lockdown para impedir a disseminação do vírus.

    Alguns países criticaram a OMS, outros criticaram a China. Outros se uniram para desenvolver tratamentos e vacinas. Alguns defenderam remédios inadequados para o tratamento da COVID-19 a fim de incitar a população a voltar a trabalhar, independente das conseqüências disso, para que a economia não parasse. Pessoas se juntaram, arrecadaram comida e suprimentos para os mais necessitados. Empresas também fizeram sua parte adiando o pagamento de dívidas e auxiliando de várias formas a população. Países anunciaram pacotes bilionários para incentivar a economia e dar renda às pessoas que tiveram que parar de trabalhar durante a quarentena ou perderam o seu emprego. Vimos vividamente as faces escuras e claras da personalidade humana. E daí? Bom, e daí que vidas sim importam, todas. E países que procuraram salvar todas as vidas foram os que apresentaram medidas duras de restrição, deram informação clara para a população e tiveram uma liderança transparente e baseada na ciência. Esses foram os primeiros a sair da crise e parar a disseminação do vírus.

    A realidade é que a chegada do vírus mexeu profundamente com o dia a dia de milhares de pessoas ao redor do mundo. Como quando uma pequena gota atinge a superfície tranqüila de um lago e diversas ondas são formadas, assim foi a chegada e disseminação do vírus em cada país. A Figura 2 mostra as duas primeiras ondas que se levantaram com a chegada do vírus, mas muitas outras virão certamente decorrentes das mudanças que adotarmos depois desta crise. A primeira onda vista é a de efeito direto como o impacto na economia, nas relações interpessoais, na saúde, nas viagens e deslocamentos. Essa primeira grande onda acabou gerando uma segunda, um pouco mais profunda e talvez pouco visível a olho nu. Temas diversos se tornaram pauta para reflexão governamental e pessoal variando dependendo do país atingido. Temas como desigualdade social, favelas, envelhecimento populacional, direitos humanos, ciência e tecnologia e as conseqüências destes assuntos para a saída da crise de saúde pública e econômica foram discutidos pela mídia, pessoas, governos.

    Figura 2.png

    Figura 2. Impacto da disseminação da COVID-19 pelo mundo em duas ondas.

    Quarentenados, foi assim que ficamos no primeiro semestre de 2020. Quarentenados e desiludidos em momentos, ou motivados e sonhadores para mudar o paradigma atual, em outros. Informações muito bem fundamentadas podiam ser encontradas em diversos meios de comunicação, apesar de informações erradas e teorias conspiratórias disseminadas pela grande massa. Mas o que todo mundo queria mesmo saber, e o que os meus filhos perguntavam claramente, era quando isso iria terminar. A resposta certa, não tínhamos. A quarentena não é uma solução definitiva, é apenas o retardamento da disseminação do vírus para impedir o colapso da estrutura hospitalar e conseqüentemente mais mortes. O jeito era viver para ver, a única coisa possível no momento era me informar, ler e entender melhor o que está acontecendo, além de lavar as mãos. Foi assim que criei este diário, um diário científico por assim dizer, como os meus cadernos de pesquisa que escrevo no dia-a-dia do meu trabalho como pesquisadora/cientista. Cada capítulo mostra um pouco dos temas que estudei para compreender a situação atual, anotações e fatos curiosos que encontrei. Para cada tema vários livros poderiam ser escritos para conter todos os detalhes e aprofundamentos, e de fato muitos livros já foram escritos, então deixo na bibliografia o material consultado e sugestões para o aprofundamento no final do livro. Não, eu não sou historiadora, não sou médica infectologista, não sou bióloga nem sou o Átila ou o pessoal do Nerdologia. Não sou um montão de coisas, sou apenas uma pesquisadora da área de exatas, com um currículo razoável para a minha idade, que está auxiliando na pesquisa de remédios para a COVID-19 em um grupo de pesquisa na UNICAMP. Baseio este livro em dados científicos comprovados, publicados em diversos periódicos, livros e publicações de grandes organizações internacionais como a OMS e o Fórum Econômico Mundial. Tendo como objetivo reunir informações importantes sobre o tema e auxiliar na disseminação do conhecimento científico, compartilho, portanto, este diário com vocês.

    CAPÍTULO 1

    A humanidade e as epidemias

    A história da humanidade e as epidemias vêm de longa data. Para ser mais precisa, desde a revolução agrícola cerca de 10.000 anos antes de Cristo, no período neolítico, quando o homem deixou de ser caçador-coletor e decidiu fixar moradia e plantar sua própria comida, criando seus próprios animais de abate. Nossos antepassados nômades sofriam pouco de doenças infecciosas. Além disso, tinham hábitos que impossibilitariam que epidemias se sustentassem, eles viviam em pequenos bandos, passavam a maior parte do tempo em locais abertos e trocavam constantemente seus assentamentos. A maioria das doenças infecciosas que temos hoje em dia, como a varíola, o sarampo e a tuberculose se originaram em animais domésticos e foram transferidos a humanos. Caçadores coletores antigos, que haviam apenas domesticado o cachorro, estavam livres destes inconvenientes. Após a revolução agrícola, as pessoas passaram a viver em assentamentos permanentes, densos e sem higiene, situação ideal para proliferação das mais variadas pragas.

    Desde então, a humanidade sofreu de diferentes epidemias, que foram se intensificando à medida que foram surgindo as cidades e a densidade populacional foi aumentando nos grandes centros. No mundo antigo, e também no atual, epidemias mudaram o rumo da história. Fizeram cidades ganhar e perder batalhas ao infectar combatentes e população. Também foram usadas como motivo político para exclusão e preconceito, estimulando conflitos e criando tensões. Dizimaram populações inteiras e promoveram êxodos, propiciando a miscigenação e a mescla de culturas. Fortaleceram ou enfraqueceram povos e nações. A inaptidão de explicar de onde surgiam estes males foi encarada de formas diferentes pelos povos. Alguns tomaram uma abordagem mais empírica, observando as pessoas doentes e sadias, procurando formas de cura através da natureza

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1