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Contos De Verão: A Casa Da Fantasia
Contos De Verão: A Casa Da Fantasia
Contos De Verão: A Casa Da Fantasia
E-book355 páginas5 horas

Contos De Verão: A Casa Da Fantasia

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Sobre este e-book

A trajetória de Pedro e Solange determina o movimento do cotidiano da pousada Contos de Verão, em Ilhéus, onde ambos, saídos de Belo Horizonte, foram parar. Pedro é um sujeito maduro, experiente, ora místico, ora racional demais, e Solange é quase a antítese da descrição de Pedro, exceto pelo fato de que instintamente – e ela descobre aos poucos – ambos têm características fortes parecidas, que ela desconhece em si. No desenrolar da trama, à cada virada de página, o casal, com a ajuda das outras personagens, oferece ao leitor valiosas dicas que vão desde comportamento e diálogos dentro das relações humanas, quanto conhecimentos, às vezes simples, às vezes complexos, que compreendem à um sem número de áreas de atuação da sociedade humana, não só com relação ao trabalho, mas também ao lazer. Nisso, novas propostas e confirmações de propostas olidificadas aparecem para intrigar o leitor. Julgamentos tabus, técnicas de empreendedorismo, competição mercadológica dentro de um sistema aberto,tecnologia, marketing, práticas para aperfeiçoamento humano para todos os fins, informações culturais, resgates históricos, estatísticas, misticismo, religião, espiritualidade, motivação, conflitos sociais,ideologia, preconceito, reencontro, erros e acertos, ajustes e soluções, omprometimento, perdão, romance, sexo e uma série quase infinita de assuntos são discutidos nesta história simplesmente fantástica, escrita baseadamente na experiência de vida do autor e à distância do local onde acontece, tendo sido usado bastante dos recursos da tecnologia de pesquisa dos dias de hoje para facilitar o realismo da narração.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de dez. de 2012
Contos De Verão: A Casa Da Fantasia

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    Contos De Verão - A. A. Vítor

    A. A. VÍTOR

    Contos de Verão: A casa da fantasia

    1ª Edição

    Belo Horizonte

    Antônio Augusto Vítor

    2012

    Editor: Antônio Augusto Vítor Revisão e ilustrações: Antônio Augusto Vítor Capa: LX Design. www.lxdesign.com.br

    Contato do autor: aavitor2008@gmail.com ISBN 978-85-914736-0-1

    É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou para qualquer fim, sem autorização prévia, por escrito, do autor.

    Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais

    PREFÁCIO

    Obtive êxito, onde outros fracassaram

    Pedro e Solange se conheceram por acaso quando seguiam para um aeroporto a fim de tomarem o mesmo avião rumo à Bahia para trabalharem no mesmo local, a pousada Contos de Verão. Além dessas notoriedades desse encontro, o casal se alojou na mesma morada, descobriu junto que atuaria como chefes de equipes de áreas próximas na empresa – e não só como simples empregados – e que teria atividades extra-setoriais, a maior parte delas baseando-se em suas habilidades pessoais.

    Seus desempenhos poderão ser usados como veredito para que os números do faturamento do empreendimento tornem possível um exercício desejável na próxima estação, o que determinará a extensão do contrato de trabalho de ambos - ou daquele que se apresentar viável -, o qual é previsto ter a duração de três meses, que correspondem a alta estação ou o período de melhor expectativa para o empreendimento: o verão.

    O casal se enrosca em um romance inicialmente subentendido e promove diversos acontecimentos que dão vida ao complexo empresarial, conquistam amigos, criam empatia com clientes e fornecedores, que re-tribuem com bons relacionamentos, o que reflete em uma divulgação positiva da empresa.

    No andar da carruagem, o Sr. Wilson, dono da hospedaria, junto à seu braço direito, a psicóloga e chefe de finanças e departamento pessoal, Odete, bolaram um jogo que visa movimentar seu corpo de funcionários no campo do empreendedorismo, ganhando, os participantes e a empresa, recompensas financeiras. Um jogo caracterizado pela a ação de cada funcionário em pró de aumentar a satisfação do hóspede e dos visitantes da pousada, fazendo com que estes gastem mais do que o previsto nas categorias de serviços que a empresa oferece, além de elevar o percentual de popularidade da hotelaria, a fim de que isto possa trazer mais clientes, mesmo na baixa estação, e fazer o empreendimento caminhar à solidez dos negócios bem administrados.

    Um jogo bastante empolgante e didático, que traz na narração das ações dos profissionais envolvidos em pró de agradar o cliente e fazê-

    lo sentir um diferencial que destaca a estalagem das demais do ramo, grandes lições de táticas empreendedoristas, além de funcionar como panorama para o desenrolar do romance embutido no conto, que discute situações de relacionamento, oferecendo formas de solucionar impasses, entre pessoas muito comuns.

    Romances, técnicas profissionais e lições de empreendedorismo coletados empiricamente, vindo diretamente da inteligência coletiva, a busca de pessoas comuns pela felicidade, misticismo, filosofia, neurolinguística, um enorme leque de assuntos envolventes, procurando serem levados à luz ou simplesmente se discutir sua lógica, se abre à cada capítulo.

    E encoberto por tudo isso um grande enigma: o Sr. Wilson. Quem é e o que quer esse homem que se assemelha mais a um hóspede permanente da pousada do que ser o próprio dono dela. E porque a fala obtive êxito onde outros fracassaram é tão aguardada para ser dita por ele?

    Aprofunde nessa história e se surpreenda com cada idéia divulgada, cada situação de relacionamento humano vivida e, acima de tudo, cada enigma que ao longo do romance se desvenda.

    Aos meus pais, familiares e amigos

    por terem iniciado minha trajetória, confiado em mim e caminhado comigo.

    Contos de Verão:

    A casa da fantasia

    Criado por A. A. Vítor

    Partindo

    Contos de Verão: A casa da fantasia Estava uma soalheira danada mais cedo, não consegui me livrar das sensações de desconforto que o calor gera, mesmo tomando um baita banho de água fria. O vento entra pela janela da caminhoneta e até que alivia um pouco a sensação de desconforto. Carros nos ultra-passam e são ultrapassados por nós, se enfileiram mais adiante, e eu aqui, de carona com meu irmão, que me leva para o aeroporto. Ouvimos uns sambas e estamos com o espírito bem tropical. A gente se mantém alegre enquanto seguimos o percurso. Quero dizer, eu com um pouco de tristeza por deixar a família por pelo menos três meses. Os meses do verão. Devia vir lá em casa, quando me despedi de todo mundo. Não foi fácil. Eu disse

    Calma, gente, dessa vez são três meses apenas, já programados!. Pelo menos foi isso que fiquei sabendo. Bem que eu gostaria que durasse mais.

    O pessoal agüenta se for para o bem do meu bolso.

    É que ganhei uma oportunidade de trabalho temporário em uma pousada na Bahia. Durante esse tempo vou atuar como facilitador, instruindo e ajudando os hóspedes com os equipamentos e procedimentos informatizados que existem em diversas áreas do estabelecimento. A maior parte é da área de esporte. Coisas que eu sei fazer e domino bem. Vou ganhar uma grana razoável por isso. Na minha situação, não posso dispensar. E

    até que vai ser divertido. Quem não quer trabalhar de calção e camiseta, parecendo um salva-vidas, policiar um monte de mulheres bonitas, de vez em quando dar uma caidinha n’água? Não, não, acho que isto não será possível! Pode ser que a realidade seja é bem dura. Mas estou pronto para o que der e vier.

    Estamos na Linha Verde, perto do trevo para Lagoa Santa. Temos um tempinho ainda para chegarmos em Confins. O vôo sai às 19:00. Se o trânsito melhorar, de repente poderemos nos despedir tomando algumas cervejas em algum boteco do lado de fora do aeroporto.

    Silêncio bem lacônico. Barulho de motores e de ultrapassagens. Segunda-Feira, mês de férias, cinco e meia da tarde. Era para estar assim o trânsito? Na verdade está assim por causa de carros que ficaram encrencados em pontos difíceis de permanecer parado. Quem sabe não é o calor também o responsável. E tem trechos que estão em obras. Pequenas, mas obras. Tem-se que parar para contorná-las. Não adianta nem ficar com buzinação, tá bagunçado, fazer o quê?

    É, mas se continuar assim vou perder o meu vôo. E nem sei como é,

    Contos de Verão: A casa da fantasia se vou poder trocar a passagem para o horário seguinte, se houver e pela mesma operadora, coisa que eu nem olhei se tem e que ainda dependeria de haver vaga. Mas vai dar!

    Andamos mais um pouquinho, chegamos até o principal causador do problema no trecho que precisamos deixar. É um taxi. Rapaz, nunca vi isso! Nem sabia que taxi estragava. Para mim sequer ficavam sem ga-solina. O motorista pediu para darmos uma mão para ele. Logo a gente, pô, tem tantos outros carros no engarrafamento! Todos estão com pressa, tudo bem, mas por que fomos nós os sorteados?

    Vamos saber o que é que pode ser? Grunhido de preocupação do meu irmão com o tempo. Aquele alerta reticente: a gente vê, mas se agarrar e você perder seu vôo...

    Paramos assim mesmo. O motorista quis saber se íamos para o aeroporto. Ao ouvir que sim perguntou se poderíamos ajudar a passageira dele. Será que foi sorte ele ter nos parado? Creio que muitos motoristas que passam por este trecho fazem o mesmo itinerário.

    A passageira dele: uma mulher madura, de uns trinta e cinco, mais ou menos, trajada como uma executiva. Não: uma aeromoça daquelas da época de ouro das aeromoças. Sexy, bonita... furiosa. A tempo de arrancar a barba do taxista, que explicava o azar que deu por ter adiado uma revisão na homocinética. Poxa, pensei que isto também não era problema de acontecer com taxistas!

    Concordamos em levar a moça conosco. Ela ficou no banco de trás da F4000, junto com as malas, as minhas e as dela. Aos poucos foi se acalmando. Falou seu nome: Solange. Inevitavelmente, perguntei para onde ela ia. Ilhéus na Bahia.

    Pronto, só falta ela falar que vai para a mesma pousada que eu e que ficou com a vaga de relações públicas que eu sei ir alguém daqui para ocupar. Caramba, não é que é ela mesmo!

    A tensão acabou. Até ganhamos tempo. Chegamos em Confins perto das 18:30. Pode ser que estabelecemos um recorde de morosidade para fazer a distância que percorremos. Meu irmão arrumou um jeito de nos deixar bem próximo do saguão e nos ajudou com as malas. Dali para dentro cada um puxou a sua mala. Dei um abraço no mano e ele até que saiu no lucro porque o abraço de agradecimento da garota foi caprichado e, sinceramente, eu não gostaria de perdê-lo.

    10

    Contos de Verão: A casa da fantasia Decidimos ficar juntos, eu e a linda garota, já que íamos no mesmo vôo. Só não sabíamos ainda se ficaríamos próximos lá dentro da nave.

    Ainda não deu para tirar a passagem da bolsa. Devemos fazer parte da mesma classe, já que, como eu, ela também recebeu a passagem da empresa que nos leva.

    Uma rápida ida ao terraço. Pouco falamos sobre o que íamos fazer na Bahia ou sobre nossas vidas particulares. Deixamos os assuntos aparecerem automaticamente. Ora era o panorama do aeroporto, ora a atitude de alguém à nossa frente. Mas o assunto que nos prendeu por mais tempo foi com relação às nossas expectativas de viver em Ilhéus, mesmo que por pouco tempo, se for o caso.

    Ilhéus é uma cidade que mescla o antigo com o moderno. A tradição com a novidade. Procuramos nos informar bastante sobre ela. Há um pólo informático desenvolvido que se destaca em todo o Sul baiano e talvez possa ser uma opção para mim, se vier a acontecer de eu não agradar a empresa e quiser continuar por lá. Por enquanto vejo essa possibilidade como algo que fica de molho, aquela roupa que fica quarando para ficar cheirosa, que se eu tiver que usá-la, passo o ferro para desamarrotá-la e visto. Não que eu esteja sendo precipitado e pensando negativamente, mas, sim, tendo aquela preocupação de estabelecer um plano B para não ser surpreendido. Afinal, são mais de 1000 km de distância separado da minha origem. Não posso fazer um percurso grande desse com a finalidade de trabalhar e voltar logo no terceiro mês.

    Tive a curiosidade de saber o contingente populacional de Ilhéus, são mais de 180 000 habitantes. A cidade já foi muito luxuosa e rica na década de vinte do século passado. Possui o terceiro melhor PIB do Estado da Bahia, coisa de sete mil reais, e está entre os sete mais importantes municípios. Não vive só de turismo, há indústrias, extrativismo vegetal, é possível pensar até mesmo em exploração do mercado da região, englobando as cidades limítrofes, como empreendedor em negócio próprio, talvez da área de informática, que me é mais de domínio. Para tanto eu terei que alavancar alguma grana. Terei que trabalhar primeiro como empregado, não haverá escapatória. Mas os ilheenses que me aguardem!

    E o tempo passou e nos tirou a apreensão. Tomamos um pouco de água e eu comprei uma barra de cereais. Não quis me arriscar, como de outra vez que viajei uma longa distância passando mal do intestino, ao 11

    Contos de Verão: A casa da fantasia consumir salgados de lanchonetes. O interior e os serviços de bordo de um avião são diferentes dos de um ônibus, mas nem por isso quero correr o risco de fazer feio perto dessa estonteante morena. E além do mais, eu praticamente jantei antes de pegar estrada com o meu irmão. Fiz uma bela de uma refeição e não há tanto tempo assim. Posso me segurar até a hora do café real que deveremos tomar amanhã pela manhã.

    Saguão. Pouco tempo para sentar se tudo correr dentro dos conformes. Dizem que nesse meio de transporte as companhias são impecáveis na pontualidade. Nem podem se dar o luxo de atrasar qualquer minu-tinho por causa desse ou daquele motivo: a monitoração aérea é muito complexa. Se atrasos acontecem têm razões compreensíveis para terem acontecido. O uso do espaço aéreo não dá margem para condutores fazerem o que querem como nas estradas térreas. Pilotos sem brevê, que não entendem ou que negligenciam sinalizações, que simplesmente deixam de fazer uma emissão de contato via rádio para indicar o que pensam fazer durante uma operação ou que sequer passaram por um treinamento intensivo e sem corrupção não têm vez no controle de uma aeronave.

    Nem mesmo se uma companhia de aviação o quiser e os orgãos regula-mentadores intencionarem aprovar. Era para ter tanto acidente com vôos assim? O que estou pensando perto de fazer uma decolagem com destino a um dos aeroportos cuja pista de pouso é das mais perigosas do Brasil!

    O alto falante anunciou a partida. Fila. Check in. Escada do boeing.

    À esta altura já sabemos que vamos viajar em poltronas vizinhas. Só temos que encontrá-las e nos acomodar. Foi o que fizemos e agora, relaxados, é só aguardar a movimentação dos demais passageiros se aquietar e levantar vôo. IOS, Ilheos, Ilhéus: aí vamos nós!

    12

    A sua boa conversa

    Contos de Verão: A casa da fantasia O tempo de viagem aproveitamos com conversas. É a maneira mais agradável de vencermos a estrada e a noite, surpreendentemente, fria. Parecemos nos conhecer há mais tempo. Mas acho que tem a ver com nossa característica de pessoas de comunicação fluente. E também de haver entre a gente muitas outras coisas em comum.

    Falamos bem de perto. Sem nenhum medo de olhar nos olhos, de deixar sobrepor o hálito ao ar em circulação. Conversamos sobre tudo.

    Sobre coisas presentes, passadas, anseios, vaidades, filosofia de vida. E

    quanto mais coisas ela expressa, mais me vejo nela. Terá sido somente uma coincidência eu tê-la encontrado ali, daquela forma inusitada, em que eu julgava jamais vir a me deparar: um taxi encrencado no trânsito?

    Eu disse a ela que meu maior motivo de enfrentar dias distante do meu habitat normal, família e amigos era o de ganhar experiência e, se possível, visibilidade no tipo de atividade que vou exercer e também no segmento que vamos atuar. Quero, quando voltar, tentar explorar as opções de turismo da região em que moro por conta própria. Quero conhecer bem o dono do negócio, falar para ele o que há nela, embora não seja uma região de mesmo aspecto geográfico, é rica em ecoturismo, turismo de aventura, cidades históricas, coisas que agradam turistas internacionais, que deverão aparecer em grande número por aquelas bandas, devido aos eventos da Copa do Mundo de Futebol e das Olimpíadas que estão por vir. Tentarei formatar uma parceria do tipo franquia, talvez. Sei lá, o que quero mesmo é que esta seja a última atividade da minha vida como empregado. Realmente, não aguento mais! E já estou ficando velho, daqui a uns dias se eu não estiver trabalhando para mim, vou ter que penar no mercado informal ou engolir o pão-que-o-diabo-amassou, trabalhando para um empregador qualquer, em uma atividade que não me agrada, ganhando só pro sustento e sem possibilidade alguma de crescimento.

    Esse mercado de trabalho mesquinho que possuímos!

    Solange disse que também tem essa vontade empreendedora, mas que não é o principal motivo da sua ida. Ela precisa da oportunidade para conhecer melhor as atividades profissionais da profissão para a qual se formou, para reunir experiência e tentar uma vaga efetiva em qualquer empresa da nossa cidade ou do nosso Estado que emprega esse tipo de profissional. Só com a experiência do estágio de um ano que fizera em uma agência de publicidade ela não tem conseguido encarar a concor-15

    Contos de Verão: A casa da fantasia rência. Ela também enalteceu a visibilidade que esta oportunidade nos garante. Deve ter se referido ao currículo.

    Completamente desprendida do fato de que acabáramos de nos conhecer, relatou-me um problema de família que necessita o levantamento de recursos para, pelo menos, dar uma amenizada na situação. Eu senti bastante ela ter me dito e, ainda, iniciado uma comoção. Mas não foi difícil fazê-la voltar a sorrir. Eu não podia perder a imagem dela sorrindo. Para tanto, usei a velha tática de mudar de assunto sem parecer não importar com o que a outra pessoa diz. Era delicado demais para prosse-guirmos comentando o que ela iniciou, sendo que não temos ainda uma credencial de amigos de confidências para colocarmos na mão do outro coisas íntimas, embora eu também seja meio assim: confidente-relâmpago e embora nosso encontro esteja se dando de modo inusitado.

    Há algo em mim que até hoje me surpreende: a facilidade que tenho de me sentir atraído por uma pessoa quando detecto várias particularidades minhas nela e, principalmente, quando se trata de alguém que acho bastante atraente, sensível e que tem uma conversa muito boa. E, ainda, sem que eu pudesse imaginar: de uma simplicidade incrível. Isto é que me cativa. Sempre gostei de simplicidade. E este sentimento vem assim: avassalador, que nem em filmes de romance. Ou melhor: filmes de guerra, daqueles em que os soldados vencedores são os que mais saem machucados. Talvez seja este o fator determinante da vitória deles.

    Pessoas passam solitárias pelo corredor buscando alguma coisa ou ir a algum lugar. Bateu um pequeno silêncio entre nós, que conversamos bastante até aqui. Pensei em algo para trazer de volta a conversa. O volume das nossas falas é bem baixo, sugerindo caminharmos para um flerte, mas o que fazemos mesmo é cuidarmos para que o que falamos seja nosso apenas. Do contrário, é chatear demais os vizinhos, fazendo parecer que queremos que o mundo escute ou que nos dê atenção. Há, ao redor, quem lê ou faz palavras-cruzadas. Há quem pareça utilizar o tempo da viagem com cálculos. Provavelmente alguém bem atarefado e com pressa.

    A garota arriscou me classificar com uma propriedade nada desem-baraçosa de se tocar. Disse que sou uma pessoa que se ela não conhecesse da forma com que se deu nossa aproximação, talvez ela não conheceria.

    Quis amenizar um pouco, isentando o meu aspecto físico do comentário, mas não abriu mão de dizer, tomando o cuidado para não ser mal inter-16

    Contos de Verão: A casa da fantasia pretada, que sou um tipo comum. Elegante e até bonito, mas comum.

    Em seguida revelou que guardo comigo algum mistério e que talvez esse mistério mexeria com ela, provocaria uma tentação de buscar desvendá-lo, se estivéssemos em um ambiente tempo suficiente para que ela, por uma graça qualquer, viesse a me notar.

    Evidentemente, tal reparação eu já ouvi outras vezes e falei isto para ela. Funcionou como uma deixa para voltarmos a dialogar. Informei que não aprecio me tornar destaque em uma multidão, mas que considero importante ser notado, seduzir à distância e criar desejos de aproximação por parte de outras pessoas, de preferência das mulheres. Isso é importante para a vida particular e para os negócios. Já ouvi falar de gente que conseguiu boas oportunidades só por ter boa plástica. Quer seja no semblante, no trajar ou no modo de se movimentar. Parecer vale mais do que realmente ser!

    Mas é fato que a maior parte das mulheres sofre desilusões com homens porque os escolhem baseando-se somente nessa condição de aproximação. Veem que eles se vestem bem, têm bons penteados e parecem ser ricos ou bons amantes, escolhem o livro pela capa e quando avaliam de perto percebem o grande equívoco cometido. Em contrapartida, deixam de fazer, no mínimo, boas amizades não levando em conta outras propostas visualmente mais simples, menos prometedoras.

    A maioria de nós brasileiros está concentrada em um meio social em que os pais fazem ou fizeram trabalhos populares, não criaram riquezas e, assim como acontecerá com os filhos, tiveram pouca escolaridade, comple-tando, no máximo, o que chamam hoje de Ensino Médio ou chegando a fazer alguns períodos de um curso universitário dos menos prestigiados. Recebemos educação de igreja ou da mídia e aprendemos a sermos submissos.

    Isso tudo faz criar em nosso subconsciente, principalmente de nós homens, uma certa falta de confiança para lidar com conquistas amorosas, devido aos limites que nos enxergamos neles e que vamos carregar conosco e lutar contra durante toda a adolescência e, se não tivermos sorte, também na fase adulta. Buscamos por companhia nos ambientes mais módicos, onde, pensamos, há opções que não nos dispensarão por não possuirmos automóveis, boas roupas, bons modos e bastante dinheiro. Também achamos que nesses locais o nível de aparência é equalizado e ninguém está apto a rejeitar ninguém levando-se em conta a forma física. É por aí, acho eu, que se 17

    Contos de Verão: A casa da fantasia explica a causa das escolhas infelizes feitas por uns e a surpresa encontrada em alguém que, julgando pela aparência, não se dá nada.

    É, eu não sei, começo a achar que há um clima de sedução no ar e passo a ficar ousado, sem que eu possa controlar muito isso. Meu metabolismo fica todo alterado. Faço leitura da expressão corporal dela e encontro sinais que parecem garantir que... se eu...

    Não. Acho que teremos muito tempo para discutir a respeito. Nada de precipitações. Tenho também que definir minhas prioridades. A de empreender, no sentido profissional da coisa, tem que falar mais alto.

    Paramos um pouco de conversar. Ela pôs-se em repouso. Em respeito, peguei um livro de bolso, já que eu não podia retornar à leitura do e-book que estou lendo no celular, O Mundo de Sofia, por não poder ligá-lo. E

    passei aqueles momentos finais até a aterrisagem a procurar mensagens otimistas na bíblia de bolso que trago comigo sempre, junto a minha imagem de Nossa Senhora Aparecida. Referências incompatíveis?

    0É tão bom ter você comigo.

    Foi tão bom ter te conhecido.

    Ouvir tua voz, tua conversa

    nesta estrada, nesta noite fria.

    Buscamos enfrentar a distância

    cada um com seu motivo.

    À cada tempo fitando seu rosto

    eu me vejo, vou me descobrindo.

    Tua história, tua simplicidade

    me agradam, me cativam.

    E perturbam todo meu corpo

    e despertam minha ousadia.

    [REFRÃO]

    Sinto crescer a todo instante

    uma paixão como nos filmes.

    E é como uma batalha,

    que só vence quem se fere.

    Me descontrolo, volto a ser criança faço qualquer coisa pra te ver sorrir.

    E ver chegar o que eu espero

    que é provar sua boca linda.

    18

    O poder de veto da roupa que Solange usava

    Contos de Verão: A casa da fantasia AEROPORTO JORGE AMADO - ILHÉUS - BA. 23:00

    Desembarcamos. Aeroporto Jorge Amado. Curto muito esse escritor. Li alguns de seus livros. Fascinante local. Tem uma vista linda do mar. A pista do aeroporto parece nos levar até ele. Passamos pelos tramites normais, cuidamos da liberação e do carregamento das bagagens, que são apenas uma mala de cada e bolsas a tiracolo. Não demoramos muito a deixar o saguão do estabelecimento e procuramos pelo local onde pudéssemos pegar um taxi que nos levasse estrada à baixo até a pousada.

    Com aquela desconfiança mineira, cuidamos de não deixar transparecer muito que somos peixes fora d’água, que estamos chegando a esta cidade pela primeira vez, a fim de não tomar um capote no preço da corrida. Afinal, é uma grana que sai por nossa conta. A gente sabe que nos pontos de taxi os taxistas se enfileiram e usam uma ordem de chegada ao ponto que determina pelos usuários qual carro irá levá-los aonde precisam ir, e, comigo, já aconteceu, muitas vezes, de eu não ficar satisfeito com o motorista que me levou a algum lugar. Por vezes, antecipadamente eu percebia algo que me fizesse preferir perder o próximo da fila para não ir com ele. Mas aqui, nesta hora, não poderemos fazer isto. Mesmo porque creio não haver muita opção de escolha. Os taxis vêm e vão rapidamente. É pegar o que aparecer mesmo!

    Mas encontramos o seu Manoel Bigode. Parece ser português ele.

    Tem um jeito meio apressado. Perguntamos se ele saberia nos levar à pousada Contos de Verão. Ele nos perguntou se se tratava da pousada que passou por uma reforma, à caminho de Olivença. Solange estava preparada para responder esta. O homem colocou nossas malas no porta-malas de seu Palio. Entramos. Ficamos os dois no banco de trás. Começamos a dar voltas pela a região do aeroporto. A penumbra e também o cansaço desfez a vontade de ficar observando os panoramas. Rodovia Pontal-Olivença, BA-001. Seu Manoel Bigode prosseguia e nos transmitia lealda-de. Acho que o horário também não anima muito a fazer qualquer tipo de manobra para melhorar a tarifa. E depois, embora tomássemos uma rodovia, sabíamos ser uma distância de apenas 6 km a percorrer. Deixamos isto claro para ele. Quero dizer, Solange deixou.

    Chegamos ao nosso destino. Foi um itinerário rápido. Só consegui 21

    Contos de Verão: A casa da fantasia perceber a quantidade boa de instalações de hospedagens que existem no trajeto porque se trata de ser gente do ramo e que está em excelente nível, levando-se em conta as estruturas das construções. Pelo visto, embora o local seja descrito por intenso paisagismo, pontos desertos e cultivos, provavelmente de cacau, parecendo ainda pouco explorado turisticamen-te, sugere-se uma competição grande entre empreendedores que aposta-ram suas fichas no local e que estão dispostos a faturar alto.

    Seu Manoel nos ajudou a tirar as malas. Ficamos bem na entrada da pousada. Dividimos a conta do taxi, eu e Solange. Desejamo-nos sorte e seguimos em frente. Senti um pequeno calafrio. Só me preocupou porque quando do nada sinto calafrios significa um sinal que meu cavalo está fazendo para mim. Provavelmente era para eu ficar atento a alguma coisa.

    Pensei que talvez estivéssemos entrando no estabelecimento errado, mas localizei a placa com o nome da pousada na fachada em cima dos por-tões de entrada. Sua logo possui o desenho de coqueiros balançados pelo vento em um céu azul cortado por um sol em gradiente amarelo-laranja.

    A letra V de Verão sugere uma ave a cruzar o cenário.

    Realmente, o estabelecimento passou por uma reforma, bem grande.

    Parece ter passado por uma revolução megalomaníaca nas estruturas. Ao mesmo tempo, há sinal de que está prestes a se terminar o trabalho. Algo para se analisar amanhã. Durante o dia é melhor. Esperamos ter algum tempo para isso. Ops, palavra proibida: esperar! Torcemos.

    Para o horário, há bastante luz e movimento nos arredores. Lembrei-me de que é época de férias. Poucas pessoas procuram dormir antes da meia-noite. O sol está se pondo por volta das 18:30. Começou a noite, praticamente. Há vestígios de ter caído água. É que chuva de verão não mantém ninguém em casa. Pode no máximo obrigar a procurar marqui-ses para esperar os minutos que a pancada dura, se em trânsito e à pé. Se não, aí é que a chuva não prende ninguém mesmo!

    Boa noite, posso ajudar com alguma coisa?. Foi Kátia, a moça da recepção do horário, se dirigindo a nós. Explicamos que não estávamos procurando hospedagem e que fomos instruídos a procurar exatamente por ela para que pudesse cuidar de nos acomodar em alguma das dependências da instalação. O combinado foi passarmos a primeira noite nela e no dia seguinte partirmos com as coisas para um alojamento da vizinhança, onde habitaremos e pagaremos um pequeno aluguel. Eu me antecipei 22

    Contos de Verão: A casa da fantasia à Solange na conversa com a recepcionista.

    Kátia pareceu-me uma jovem muito educada e a saber fazer direito sua recepção. Cuidou de nos dar as boasvindas e apresentou-nos algumas pessoas, das poucas que ainda marcavam presença, que conviveremos regularmente nos próximos dias. Entendeu que precisávamos nos acomodar logo e evitou delongas. Teremos que acordar cedo amanhã para lidar com os processos de entrada, conhecer o Sr. Wilson, dono da pousada, levar nossas coisas para o alojamento e ainda, à tarde, se sobrar tempo, conhecer um pouco nossas tarefas e os locais onde as executaremos.

    Nos acomodamos, cada um em um quarto, é claro. Passamos a pensar em um banho antes de nos lançarmos ao sono. Foi nos informado sobre um banheiro coletivo que há no corredor que divide os quartos dessa região da pousada. É como se fosse uma classe econômica da casa.

    Coloquei um short, um chinelo e uma camiseta bem leve. Ainda não são as peças que usarei para dormir, mas ir com as peças pesadas que eu usava para

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