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A Rainha do Desastre
A Rainha do Desastre
A Rainha do Desastre
E-book320 páginas4 horas

A Rainha do Desastre

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Sobre este e-book

Quando sua mãe é uma louca obcecada pela sorte e seu pai é o típico hippie, com cabelo comprido e o corpo cheio de tatuagens, é possível que você não seja o que a sociedade tende a qualificar como normal. Mas tudo bem porque, no final das contas, o normal além de fugir totalmente do DNA da minha família é entediante para caramba.

Aprendi o significado da palavra desastre muito cedo. Era algo para o que parecia ter um talento especial. Se se tratasse de um concurso, eu seria a rainha. Acredito que minha mãe inclusive tem guardada minha coroa em algum lugar.

Sem embargo, e apesar de meus antecedentes, acabei como colunista em uma revista, oferecendo conselhos sobre romance e relacionamentos. Meu trabalho é incrível, se me perguntam. O único problema é a montanha de músculos enfiada em ternos fora de moda com quem divido o cubículo: Samuel Mendoza.

* * *

Eu não tinha tempo para o romance. Minha vida estava planejada milimetricamente, e as mudanças de última hora não tinham espaço em minha agenda.

Tampouco tinha espaço para loiras perigosas com sérias tendências ao desastre. Não, definitivamente não tinha tempo para Melina Gonzáles, por isso recorri a um método de sete passos para mantê-la a uma distância segura.

Mas alguns planos estão destinados ao fracasso, alguns muros foram levantados para cair, e alguns segredos não permanecem guardados por muito tempo. Ainda que desejasse que não fosse meu caso, não tinha certeza de poder continuar resistindo à imprevisível loira com quem dividia o cubículo.

“Isto tem a palavra desastre escrita por todos os lados. E em maiúsculo.”

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento6 de out. de 2020
ISBN9781071568163
A Rainha do Desastre

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    A Rainha do Desastre - Miriam Meza

    Sinopse:

    Melina:

    Quando sua mãe é uma louca obcecada pela sorte e seu pai é o típico hippie, com cabelo comprido e o corpo cheio de tatuagens, é possível que você não seja o que a sociedade tende a qualificar como normal. Mas tudo bem porque, no final das contas, o normal além de fugir totalmente do DNA da minha família é entediante para caramba.

    Aprendi o significado da palavra desastre muito cedo. Era algo para o que parecia ter um talento especial. Se se tratasse de um concurso, eu seria a rainha. Acredito que minha mãe inclusive tem guardada minha coroa em algum lugar. Sem embargo, e apesar de meus antecedentes, acabei como colunista em uma revista, oferecendo conselhos sobre romance e relacionamentos. Meu trabalho é incrível, se me perguntam. O único problema é a montanha de músculos enfiada em ternos fora de moda com quem divido o cubículo: Samuel Mendoza.

    * * *

    SAMUEL:

    Eu não tinha tempo para o romance. Minha vida estava planejada milimetricamente, e as mudanças de última hora não tinham espaço em minha agenda. Tampouco tinha espaço para loiras perigosas com sérias tendências ao desastre. Não, definitivamente não tinha tempo para Melina Gonzáles, por isso recorri a um método de sete passos para mantê-la a uma distância segura. Mas alguns planos estão destinados ao fracasso, alguns muros foram levantados para cair, e alguns segredos não permanecem guardados por muito tempo. Ainda que desejasse que não fosse meu caso, não tinha certeza de poder continuar resistindo à imprevisível loira com quem dividia o cubículo.

    Isto tem a palavra desastre escrita por todos os lados. E em maiúsculo.

    ÍNDICE

    Prólogo

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Epílogo

    PRÓLOGO

    Elena

    Gimme, gimme, gimme a man after midnight...

    São muitas as perguntas que se passam por minha mente neste momento. Por que me deixei me enganar por minha irmã e minha cunhada? Por que, quando descobri o que planejavam, não cancelei os planos e dirigi de volta para casa? E, mais importante: como é que terminei neste palco outra vez?

    Aqui estou eu, a dois dias do meu casamento, cantando a plenos pulmões, como se desejasse fazer parte de Mamma Mia, o musical. Mas não fui a única que caiu na armadilha de Angie e Catalina. Melina, a prima do Noelio, também caiu.

    There's not a soul out there. No one to hear my prayer.

    Claro que isso é uma mentira. O salão está cheio de pessoas nos vendo fazer o papel de ridículo como se não nos importássemos. Eu gostaria de dizer que é pelo nosso talento excepcional e nossas vozes melodiosas, mas não. Acredito que tem mais a ver com o nosso estado de embriaguez e com os decotes que exibem minha irmã e minha cunhada. Ou com a saia curta de Melina.

    Só para garantir, confiro minha aparência e confirmo que sigo vestindo a mesma calça azul, a mesma camiseta do Foo Fighters e o mesmo tênis preto. Cadarços perfeitamente atados, zíper fechado... tudo em ordem.

    Gimme, gimme, gimme a man after midnight...

    É fácil se deixar levar pelo ridículo do momento, pela felicidade de estar entre amigas e a promessa de, realmente, estar com seu homem depois da meia-noite. Ou talvez antes, porque, enquanto fazemos nossa melhor imitação de Tanya, Donna e Rosie, três homens atravessam a porta do bar e começam a caminhar em direção a nós.

    Gimme, gimme, gimme a man after midnight...

    Um dos três para entre a multidão e tira seu telefone do bolso interior de sua jaqueta; os outros dois caminham para os lados do palco. Um parece estar muito irritado, e o outro mal consegue disfarçar sua vontade de rir.

    Gimme, gimme, gimme a man after midnight...

    Tenho sorte de ter elegido o que tem senso de humor.

    CAPÍTULO 1

    Deus salve a rainha (do desastre).

    Melina

    Quando sua mãe é obcecada pela sorte e seu pai é o típico hippie, com cabelo comprido e o corpo cheio de tatuagens, é possível que você não seja o que a sociedade tende a qualificar como normal. Mas tudo bem porque, no final das contas, o normal além de fugir totalmente do DNA da minha família é entediante para caramba.

    Eu cresci ouvindo o discurso de que poderia ser o que eu quisesse. Astronauta, piloto, advogada, doutora... até mesmo um unicórnio, se esse fosse o meu desejo. Poderia ser o que me desse vontade. O céu era o limite. E eu acreditei nisso. Sim, em algum momento eu acreditei nessa história, afinal de contas os pais nunca mentem. E talvez essa seja a raiz dos meus problemas, porque depois de tentar diferentes cursos na universidade, terminei me dando conta de que o ambiente acadêmico não era para mim. Eu queria sair, explorar o mundo... eu queria ser livre.

    Mas quando seus pais lhe dizem que você pode ser o que quiser, não se referem a isso precisamente. Acredite em mim. Porque a liberdade tem um preço, e seus padres não vão te dar essa quantia em dinheiro. Ao menos os meus não me deram, por isso acabei infestando as ruas da cidade com meu currículo e indo a mais entrevistas do que qualquer estrela do rock.

    Alguns dias, ser uma pessoa adulta implicava demasiadas responsabilidades. Levantar-se para trabalhar, comprar mantimentos, lavar a roupa, pagar as contas. É uma lista com coisas demais para fazer e o tempo nunca parece ser suficiente.

    Agora envelheço lentamente enquanto vejo a vida passar através da janela do escritório onde passo oito horas por dia sentada em frente ao computador, lendo coisas como estas, enquanto tento ignorar ao meu companheiro de cubículo.

    Andrea e eu estamos namoramos há quase nove meses e ela mudou completamente minha vida. Tenho muita sorte de tê-la ao meu lado. Quando a conheci eu me comportava como um idiota, mas ela viu além dessa fachada e me deu uma oportunidade.

    Que romântico!

    Cada vez que a vejo me convenço de que é a mulher da minha vida, por isso quis fazer algo especial para ela. Mas as coisas não saíram como eu planejei.

    Ah, não...

    Coloquei velas em lugares estratégicos do quarto, decorei o carpete com pétalas de rosas, desde a porta do apartamento até a cama, comprei seu vinho favorito e preparei uma playlist com músicas românticas. Coloquei a bolsinha de veludo negro ao pé da cama, onde pudesse pegá-la facilmente, e às duras penas controlei a ereção que me atormentava. A antecipação pelo que viria estava me deixando no limite.

    Quando ela chegou, fiquei ainda mais nervoso. O barulho abafado de seus saltos sobre o carpete fez com que meu pulso se acelerasse. Mas é como você escreveu uma vez, quando estamos a ponto de dar um grande passo, nosso pior inimigo somos nós mesmos. Meu cérebro começou a me pregar peças...

    Então comecei a duvidar, porque: e se ela não gostasse do que eu havia preparado? Em retrospecto, foi um pensamento muito bobo. Mas isso não tem nada a ver com a maneira como terminou a nossa noite.

    Estava tentando me concentrar no texto, o que é vital para fazer bem meu trabalho, mas Samuel Mendoza, a montanha com quem tenho que compartilhar meu espaço de trabalho, não facilitava para o meu lado. Não se tratava somente do seu tamanho ou de sua aparência, senão do incômodo que é escutá-lo cantarolar essa música horrível que lhe fascina, de novo e de novo, durante todo o expediente.

    E como é que ele gosta desse lixo, anyway?

    No entanto, se ignoramos a parte musical, Samuel continuaria sendo difícil de ignorar pois não é precisamente feio. Não é que eu planeje admitir isso em voz alta em algum momento. Quando ele abre a boca dá vontade de chutar sua bunda, mas seu físico merecia ser estudado à exaustão. Não é o típico corpo inchado a base de anabolizantes, mas claramente é visível que passa muito tempo na academia: definido, forte. Se usasse roupas que o favorecessem mais, isso ficaria mais evidente, mas não usa. Às vezes acredito que é melhor assim, porque do contrário minha habilidade de me concentrar sairia voando pela janela.

    Samuel destoa no escritório. Quando você chega, ele é o primeiro que se nota, como esse vaso que todos temos em casa e que não combina com a decoração, que está fora de lugar, mas do qual não pode se desfazer porque pertencia à sua vovozinha. Ele se encaixaria melhor como parte de alguma equipe esportiva ou na capa de uma revista, não sentado em um escritório escrevendo para ela.

    É óbvio que para isso teríamos que fazer uma pequena intervenção. Nos desfazermos dos óculos fundo de garrafa que cobrem quase metade da cara, por exemplo, e da roupa sem graça, que não dá o devido destaque aos seus atributos, que são muitos. Calças justas? Eu votaria a favor, definitivamente. E mais camisas brancas. Especialmente nesta época de chuvas.

    O único que se salva do seu outfit são as gravatas ridículas que costuma usar e que sugerem que por trás dessa fachada mal-humorada se esconde uma pessoa com senso de humor. A de hoje tem ilustrações de pequenas fatias de pizza. É a minha favorita. De qualquer maneira, não é como se ele se importasse com isso. Sua atitude diz a gritos que pouco se importa com o que os demais pensam sobre sua escolha de roupa ou música.

    A esta altura você estará se perguntando qual é exatamente o meu trabalho. E eu gostaria de te dizer que se trata de uma coluna sobre moda, algo em que seria genial já que é um tema pelo qual sou apaixonada, como você deve ter se dado conta. Ao invés disso, devo confessar que tenho uma coluna semanal sobre romance e relacionamentos, que consiste basicamente em dar conselhos aos leitores que nos escrevem.

    Não é que eu seja uma especialista ou que minha vida sentimental seja perfeita, pelo contrário. Se tivesse que me colocar como exemplo, seria do que não se deve fazer ou dizer quando se busca manter uma relação, já que todas as minhas tentativas terminaram em desastre.

    Além disso, é mais fácil opinar quando não é você quem está em problemas, quando não é a sua vida que está de cabeça para baixo. Observar a situação de fora lhe dá uma melhor perspectiva sobre o tamanho do estrago, e sendo uma entidade imparcial, pode-se ver coisas que os afetados não podem. Também ajuda discutir os casos com suas amigas através do WhatsApp.

    Benditos grupos, para algo têm que servir.

    Um dado curioso sobre o meu trabalho? Agora que a adaptação de literatura erótica ao cinema virou tendência, meu trabalho se transformou em algo bastante... interessante. Cada vez escrevo menos sobre amor e sentimentos e mais sobre brinquedos, lubrificantes e fantasia sexuais. E tenho ainda menos experiência nisso do que no campo sentimental.

    Eu sei, eu também não leria meus conselhos.

    Minha vida sexual é tão excitante quanto uma consulta com o dentista ou como um fim de semana na casa da minha avó. Ou seja, nada. Niente. Nothing. Daí que acabo me ruborizando quando leio as aventuras de meus leitores. O que me traz de volta ao meu problema atual: Como me concentrar nas palavras que estão em frente aos meus olhos se Samuel Mendoza não deixa de cantarolar sua bendita música?

    Este leitor, no entanto, tem uma história promissora. Talvez seja minha curiosidade falando mais alto, mas ele me faz acreditar que o romance ainda não morreu. Assim que, para atender seu caso, afasto Samuel da minha mente e sigo com a leitura.

    Quando Andrea entrou no quarto a tomei em meus braços, inalando seu perfume e desfrutando de sua proximidade. Disse-lhe que havia sido uma semana difícil para ambos e que havia preparado uma surpresa para que nos relaxássemos um pouco. Até esse momento tudo ia bem.

    Peguei a garrafa de vinho, a abri com cuidado e servi duas taças. Entreguei-lhe uma e fiquei com a outra para fazer um pequeno brinde. O gesto a fez sorrir. Ela sabia que eu estava totalmente deslocado.

    Quando esvaziou o conteúdo de sua taça, a coloquei sobre a mesinha de cabeceira e tomei minha namorada novamente entre meus braços. Começamos a nos beijar, primeiro com ternura, mas as coisas avançaram rapidamente. A senti se estremecer em meus braços e me senti como Superman. Adoro saber que posso afetá-la tanto quanto ela me afeta.

    A guiei até a cama, lentamente fui subindo sua camiseta até me desfazer dela somente para descobrir um sutiã de renda que mostrava mais do que escondia. Não deixei de lhe dizer o quanto estava linda e o muito que me excitava. Com a mesma lentidão com que me desfiz de sua camisa, abri o sutiã e o deixei cair no chão. Logo a saia e a calcinha combinando com sutiã também o seguiram.

    Quando a tive justo onde a queria, ajoelhei-me no chão, abri suas pernas e comecei a lambê-la como se fosse o melhor sorvete que já tivesse provado na vida.

    — Merda!

    As coisas começaram a esquentar e... Samuel quer que o levem em uma bicicleta?

    Que merda...? Assim não consigo trabalhar.

    — Às vezes me pergunto se onde comprou esse CD não vendiam também fones de ouvido... — começo a reclamar em voz alta. Mas algo que você deve saber sobre Samuel Mendoza é que é muito melhor que eu ignorando o mundo, e que esperar uma resposta sua é igual a esperar ganhar na loteria.

    Remotamente possível.

    — Vendiam, sim, mas hoje estou me sentindo generoso e decidi compartilhar a música com você — debochou o infeliz. — A propósito, de nada.

    Outra coisa que deve saber sobre Samuel é que não consigo predizer nada do que faz ou diz. Sempre há um detalhe que, por menor que seja, me surpreende. E as surpresas nem sempre são agradáveis. Como se nada tivesse acontecido, ele seguiu cantando e eu comecei a grunhir como um animal selvagem.

    Na marra, obriguei-me a retornar ao e-mail do meu leitor e comecei a fazer anotações para a minha coluna. Aparentemente, ele havia se inspirado em uma publicação do mês passado que falava sobre surpreender o parceiro.

    Enquanto estas surpresas não sejam como as de Samuel...

    Quando Andrea estava perto do orgasmo decidi experimentar o primeiro presente. Peguei a bolsinha de veludo que tinha deixado junto da cama e saquei um chicote de tiras que comprei em uma loja online. Algo pequeno e inofensivo para nos divertimos um pouco. Ela estava surpresa, sem dúvida, mas pedi que confiasse em mim.

    Nunca tinha usado algo como isso, mas havia visto um punhado de filmes pornôs, assim que imaginei que não seria tão difícil.

    Ao primeiro contato do couro com sua pele, ela começou a gemer. Comecei a arrastar o chicote de cima a baixo por suas costas, por seu traseiro, e quando percebi que estava gostando a surpreendi com uma pequena chicotada. Em algum momento ela decidiu que era uma boa ideia trocar de papéis e eu me perguntei: Por que não tentar? Certo? Você tem escrito em suas colunas que isso é o ideal para os casais, assim que cedi o controle à minha garota. Resumindo, ela se deixou levar um pouco. Mas não foi isso que deu errado.

    Andrea começou a me desvestir, excitada pela maneira como as coisas estavam acontecendo até o momento. Quando baixou minha calça e minha cueca soltou um grito.

    Eu, tonto, pensei que era um grito de emoção pelo que devia estar vendo. Meu pênis muito ereto esperando pela sua atenção. Mas ela ficou paralisada me observando. Quando dei uma olhada para ver o que a havia deixado assim me deu conta de que meu pênis estava sim ereto, mas também estava roxo. Totalmente roxo, como quando se corta a circulação.

    Ali apareceu o segundo presente que havia comprado.

    Quando comecei a planejar esta noite, pensei em lhe comprar um anel de compromisso. No lugar acabei comprando um anel peniano na mesma loja em que comprei o chicote. Pensei que seria algo divertido e excitante, que teríamos a melhor noite de nossas vidas. Ao invés disso, consegui uma vergonhosa visita ao pronto-socorro e muitas piadas às minhas custas, porque estas coisas, por alguma razão, nunca permanecem em segredo.

    Agora sinto a necessidade de compensar minha mulher pelos maus momentos. Por isso decidi te escrever. Espero que possa me ajudar com alguma ideia (menos perigosa) para lhe presentear com um encontro inesquecível.

    Usuário Anônimo.

    Lembram-se do que eu disse antes? Sim, isso de que esta história prometia, que o romance não morreu e tudo isso. Pois podem esquecer. Ao terminar de ler o e-mail, estava segura de que minha cara estava tão vermelha quanto um tomate. O coitado do Usuário Anônimo certamente teve um encontro... interessante.

    Olha, não vou criticar. Gosto não se discute.

    Tentando ser profissional, revisei minhas notas para começar a escrever minha resposta, que será minha coluna desta semana, porém minha mente está em branco. Então, canalizando meu Indiana Jones interior, decidi explorar alguns sites sobre anéis penianos e a forma correta de utilizá-los. Despois da experiência do Usuário Anônimo, o mais inteligente era organizar uma coluna sobre mitos e verdades acerca dos brinquedos sexuais. Entretanto, a fase de pesquisa dentro do escritório tinha um nível de dificuldade muito alto.

    Depois meus amigos dizem que devo colocar mais emoção em minha vida. Principiantes!

    Pouquíssimas pessoas na redação sabem exatamente qual é o meu trabalho na revista, já que fui contratada como assistente editorial, não como redatora. Samuel não é uma dessas pessoas, obviamente, já que a nossa amizade não está nessa fase. Nem nessa, nem em nenhuma outra. Simplesmente não existe. Além disso, considerando como é rápido com a ironia e o humor negro, arriscar-me a ser flagrada lendo páginas sobre brinquedos sexuais durante o expediente resultaria em muitos momentos incômodos. Para mim, é claro.

    A missão exigia extremo cuidado e discrição, se queria completá-la sem maiores inconvenientes. Assim que comecei a digitar freneticamente, procurando o que precisava, até que a sensação de ter sido descoberta me petrificou. Um calafrio recorreu minhas costas e eriçou a minha pele. Foi quando Samuel começou a cantarolar uma nova canção

    Às vezes penso que o infeliz faz isso de propósito, como se quisesse me fazer perder o controle. Na realidade ele não deseja isso. Não, ele realmente não quer que eu entre em modo ninja e comece a distribuir golpes como o Bruce Lee pelo escritório quando não consiga me concentrar em minha tarefa. No entanto, é complicado me concentrar, porque o último que se necessita enquanto se lê ou se escreve sobre anéis penianos é que alguém diga que seu olhar te denuncia.

    Dia desses aparecerá morto com uma esferográfica cravada em sua garganta.

    Fiz várias notas em meu e-mail, marcando a mensagem como urgente, e decidi que isso de viver no limite não era para mim, porque neste ritmo o mais provável é que eu sofra um ataque cardíaco antes dos trinta.

    Que não estão tão longe quanto eu gostaria.

    Finalizei a sessão do servidor de e-mails, atualizei minha agenda com as tarefas da semana e conferi a hora. Era cedo, mas ficando ali não ia conseguir avançar com a coluna. Por mais que tentasse, não ia conseguir me concentrar e terminaria escrevendo uma porcaria de coluna.

    O de sempre, já sabem.

    Depois de fechar todos os programas, desliguei o computador, recolhi minhas coisas e fui à sala do meu chefe. Se havia alguém capaz de entender a necessidade de espaço para criar, essa pessoa era ele. Ao menos era isso o que eu esperava. Quando fiquei frente à sua porta, que estava entreaberta, bati um par de vezes para chamar sua atenção. Ele estava teclando freneticamente e se deteve abruptamente para fixar a atenção em mim.

    — Tudo bem? — perguntou-me com o cenho franzido.

    Nesse momento me sinto tentada a dizer que tudo está mal. Que Samuel Mendoza atentava contra minha criatividade — daí meus leitores viverem de desastre em desastre, como eu —, que sua presença faz com que meus olhos sangrem e sua música coloca meus ouvidos para sofrerem.

    — Sim, tudo bem — respondi ao invés disso. — Preciso fazer um pouco de pesquisa de campo para a coluna desta semana.

    Isso fez com que sorrisse.

    — Excelente — assentiu animado, porque o que eu escrevo se traduz em vendas, e isso em dinheiro em seus bolsos. — Algum lugar específico? — perguntou, mas havia muitos ouvidos ao redor para dizer algo. Ainda que fosse uma brincadeira inofensiva.

    — Nenhum ainda...

    — Vá e faça o que tenha que fazer, menina. — despediu-se de mim. — Mas não se esqueça de que amanhã temos uma reunião bem cedo para discutir as mudanças que faremos na revista.

    — Estarei ali — respondi. — Até amanhã.

    Depois de me despedir, caminhei até o elevador. Quando entrei na pequena caixa, comecei a resmungar reclamações contra o mundo, e se passaram alguns segundos antes de me dar conta de que não estava sozinha.

    Qual foi a primeira pista? Pois foi a sombra ameaçadora que começou a crescer ao meu lado. No entanto, precisei de algo mais para que pudesse adivinhar a identidade do meu acompanhante. Quer saber qual foi a segunda pista? Seu telefone começou a tocar com uma de essas músicas que tanto me incomodam.

    Sim... o outro ocupante do elevador era o mesmo homem de quem tentava fugir.

    Samuel Mendoza.

    CAPÍTULO 2

    Quando você acredita que seus problemas se resolveram, novos aparecerão.

    Samuel

    Apesar do que você possa pensar, não. Eu não a segui. E pode ser que não acredite em casualidades, mas esta vez realmente se tratava de uma coincidência. Uma muito afortunada.

    Ao menos isso pensava eu.

    Um dos rapazes de diagramação e design tinha me chamado para revisar as provas de impressão com o novo formato, as que teríamos que mostrar no dia seguinte em uma reunião. Mas ao ver o resultado não estava convencido de que fosse funcionar. Soube de imediato que necessitava de uma opinião profissional. A opinião de alguém

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