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Não É Enfeite, É A Nossa Roupa
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Não É Enfeite, É A Nossa Roupa
E-book141 páginas1 hora

Não É Enfeite, É A Nossa Roupa

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Sobre este e-book

Começando com uma história da primeira viagem e terminando com a última antes de aposentar, José Strabeli nos leva por toda a sua trajetória, compartilhando como foi a experiência que teve nas aldeias indígenas e comunidades quilombolas e ribeirinhas onde trabalhou, as diferenças e semelhanças entre as culturas, situações cômicas e inusitadas que passou, tantas coisas que nem imaginamos vendo de fora, trazendo uma visão muito interessante dos costumes e do dia a dia dos povos que conheceu. O modo como constrói cada história, algumas mais engraçadas, narrando a sua convivência com esses povos e comunidades no seu cotidiano, de forma orgânica, leve e funcional nos mostra o quanto ele admira, aprecia e respeita as pessoas que conheceu ao mesmo tempo em que deixa transparecer o seu senso de humor e personalidade, que todos que o conhecem vão conseguir identificar. Um livro bem escrito, leve e divertido, que não dá vontade de parar de ler.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de ago. de 2021
Não É Enfeite, É A Nossa Roupa

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    Não É Enfeite, É A Nossa Roupa - José Strabeli

    Apresentação

    Depois de mais de 20 anos trabalhando em escritórios e escolas em São Paulo, passei os 16 últimos da minha vida profissional dando consultorias para o desenvolvimento de associações comunitárias, principalmente indígenas, mas também de quilombolas, ribeirinhos e pescadores em todos os estados da Amazônia, alguns do Nordeste, Centro Oeste e Sudeste do Brasil.

    Nas conversas com parentes e amigos, falava da grande diversidade de paisagens, populações, costumes, tão diversos entre si e mais diferentes ainda da nossa paisagem metropolitana e nossos costumes urbanos. Falava também de coisas curiosas que aconteciam durante as minhas viagens.

    Era bastante comum me dizerem para publicar um livro. Diante da vasta bibliografia existente sobre os povos tradicionais brasileiros, alimentada por etnólogos, antropólogos, linguistas e outros tantos profissionais bem mais qualificados do que eu para fazer isso, sempre relutei, me perguntando o que mais eu poderia acrescentar.

    Por fim, me decidi por publicar aquilo que despertava o interesse dessas pessoas: as histórias que eu contava daquilo que eu tinha vivenciado no meu dia-a-dia, interagindo com aquelas paisagens, aquelas comunidades e seus costumes enquanto fazia o meu trabalho.

    Não é uma coisa fácil para quem viveu mais de 40 anos na capital paulista e uns poucos anos em cidades do interior do estado, passar a maior parte do seu tempo em aldeias indígenas e comunidades da Amazônia e outras regiões do Brasil.

    É preciso um desprendimento daquilo que se deixa em casa para apreciar o que vai encontrar pela frente, que só saberá principalmente quando chegar lá pela primeira vez e aprender a cada dia que há muitas formas de se viver bem.

    Quando conseguimos isso, passamos a aproveitar experiências que serão inesquecíveis.

    E são as experiências que tive, que partilho aqui com vocês.

    1 Ficou mais demorado chegar no trabalho

    Na minha primeira viagem para uma Terra Indígena, antes de ir para o Diauarum, posto da Fundação Nacional do Índio – FUNAI no Parque Indígena Xingu, fiquei alguns dias em Canarana-MT para trabalhar no escritório da associação indígena.

    Para esta primeira etapa, peguei um voo de São Paulo para Brasília e de lá comecei uma viagem de 11 horas de ônibus para Canarana. Dali para o Xingu foram 9 horas de caminhão para percorrer os 300 quilômetros de estrada de terra e mais duas horas de barco de alumínio com motor de popa, conhecido como voadeira.

    A coordenadora do projeto que eu trabalhava, bastante experiente, que me instruía antes das primeiras viagens com dicas importantes, disse que provavelmente iam me dizer que sairíamos de madrugada, mas que os preparativos como comprar combustível, carregar o caminhão, pegar em casa as pessoas que viajariam comigo seriam demorados e acabaríamos saindo lá pelas 10 horas.

    Então, eu não deveria me iludir se me dissessem que íamos viajar na madrugada.

    Com esse atraso, não daria para fazer o trecho de barco no mesmo dia e dormiríamos na aldeia na beira do rio para concluir a viagem no dia seguinte. Também me instruiu sobre o que comprar de comida para levar, o melhor tamanho de rede e de cordas para amarrá-la onde fôssemos dormir. Eu deveria deixar a minha bagagem com a rede fácil de pegar no caminhão para o nosso pernoite.

    Na véspera, fomos para um ponto de Canarana onde ficavam os caminhões para aluguel, porque a associação estava sem caminhão ou caminhonete disponíveis. Contratamos um caminhoneiro conhecido e experiente naquela viagem e, enquanto íamos para o posto comprar combustível, perguntei a que horas íamos sair no dia seguinte. E eles me responderam o quê? As 5 horas da manhã. Assim vai dar tempo de chegar no Diauarum no mesmo dia.

    Lembrei do que a coordenadora havia me dito e comentei que quando tenho que levantar de madrugada já fico mal-humorado na véspera, mas se era preciso, faríamos isso. Agora, se me fizessem acordar cedo para acabar saindo bem mais tarde, eu ia ficar muito bravo com eles.

    De fato, dormi mal e pouco, coloquei o relógio para despertar e, para garantir, pedi na recepção do hotel que me acordassem às 4:30 da manhã. Para o meu consolo, quando estava na recepção fechando a conta, o caminhão encostou na frente do hotel, já carregado, com as pessoas que iam junto, pronto para começar a viagem.

    Estava terminando o período das chuvas e pegamos muito barro e trechos alagados. O último trecho, já dentro do Parque, estava alagado. Viajamos alguns quilômetros em uma estrada ladeada por floresta que parecia um rio.

    Paramos em uma aldeia na divisa do Parque para o motorista deixar uma ferramenta que a associação tinha mandado e, quando me apresentei, vi que o índio sabia quem eu era, para quem eu trabalhava, onde eu ia e o que ia fazer lá. E acrescentou: o seu barco já chegou na aldeia na beira do rio e está te esperando.

    Fiquei boquiaberto pensando, como ele podia saber isso tudo?

    Ali era um dos postos de vigilância da FUNAI e eles tinham uma rede de radioamadores nos postos e em algumas outras aldeias para se comunicar entre si e com os órgãos governamentais quando necessário.

    Aprendi já na primeira experiência que nas aldeias você nunca está anônimo e todo mundo sabe o que você faz ou deixa de fazer.

    Chegando na beira do rio, descarregamos o caminhão, carregamos o barco e seguimos pelos rios Suiá-Miçu e Xingu. No meio do caminho choveu e depois o sol voltou. Conforme a roupa ia secando no corpo, sentado no banquinho de alumínio do barco, a coceira ia ficando infernal. Sem encosto, as costas iam doendo no decorrer das pouco mais de duas horas até o nosso destino.

    Finalmente, chegamos no final da tarde e eu estava moído da viagem.

    2 Você sabe amarrar a rede?

    A ONG para quem eu trabalhava tinha uma casa de apoio para a equipe no Diauarum, que além de ser um dos três postos da FUNAI no Parque Indígena Xingu, abrigava também a sede da associação, posto de saúde e várias famílias moradoras.

    A casa tinha sido construída pelos índios, conforme a sua arquitetura tradicional: armação de troncos de árvores, paredes de meio tronco e telhado de palha, mas tinha algumas melhorias como piso de cimento, pia com torneira, fogão a gás, tanque para lavar roupa e banheiro com privada e chuveiro.

    Chique, não é? Sim, era chique porque as casas dos índios eram de chão batido, cozinhavam com lenha, lavavam louça, roupa e tomavam banho no rio e as necessidades 1 e 2 eram no mato.

    A comida era mais variada quando pessoas chegavam, porque levavam um rancho. Conforme o tempo passava e não chegava ninguém, a solução era os peixes e a caça que alguns índios ofereciam. Fui brindado já na primeira refeição com carne de veado, o que gerou alguns comentários que prefiro omitir.

    Estava anoitecendo e um dos

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