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Copycat Suicide
Copycat Suicide
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E-book212 páginas2 horas

Copycat Suicide

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Sobre este e-book

Simone, cirurgiã dentista resolve mudar-se para o Edifício La Belle. No dia do fechamento do contrato, uma jovem atira-se do décimo nono andar em seu carro. Curiosamente, alguns moradores do edifício cometem suicídio sequencialmente. A polícia considera o caso como copycat suicide, suicídio em série. Entretanto, Simone não acredita nesta hipótese e parte para uma investigação própria descobrindo que um terrível segredo do passado envolve as vítimas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de mar. de 2018
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    Copycat Suicide - Shirley Mariano

    COPYCAT SUICIDE

    Shirley Mariano

    PRÓLOGO

    Um ano atrás

    Haiti

    Uma pedra acertou o capacete azul do soldado. As iniciais em preto UN, United Nations, tornavam a mira mais eficaz, facilitando aos agressores acertarem bem no alvo. Ele se virou na direção do arremesso. Crianças desapareciam por entre o vilarejo.

    Aquilo era mais um ato de hostilidade da população insatisfeita com a ocupação da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) em seu território. Vários anos haviam se passado e as promessas não haviam sido cumpridas. Após o golpe de estado em 2004 várias revoltas armadas foram deflagradas e a comunidade internacional resolveu intervir para assegurar a liberdade dos cidadãos em busca de uma nação mais justa e democrática. Alguns anos após a intervenção da Organização das Nações Unidas os projetos relativos ao desenvolvimento do país como construção de escolas, estradas, acesso à energia e água potável ficaram somente no papel.

    O terremoto de 2010 devastou grande parte do país e nenhuma ação eficiente foi tomada para reconstruí-lo. Sem mencionar o surto de cólera possivelmente causado por soldados do Nepal, que compunham a missão de paz, ao atirarem suas fezes em um rio próximo à base militar. Estimava-se que mais de setecentas mil pessoas teriam sido infectadas e mais de oito mil mortes resultariam desta epidemia. Entretanto, a ONU não reconhecera sua responsabilidade na contaminação alegando ser impossível comprovar a origem da doença.

    Violação de direitos humanos e abusos sexuais também contribuíram para que muitos parlamentares solicitassem a retirada das tropas. Mas, com o aumento gradual da violência a ONU sempre prorrogava a sua permanência. E isso gerava revolta.

    A euforia inicial era aos poucos substituída por demonstrações de descontentamento.

    Logicamente não seria uma pedra arremessada por uma criança que faria um soldado interromper seu trabalho. Por isso, Rogério Teixeira, tenente da BRAENGCOY (Companhia de Engenharia da Força de Paz) retornou às suas atividades.

    As manifestações da população contra o governo no dia anterior haviam deixado muito trabalho para os militares. Cercado por soldados armados de fuzis, Rogério guiava o operador da retroescavadeira para retirar o entulho que obstruía a estrada. A pilha de lixo era depositada em um caminhão ao lado.

    De repente, Rogério notou uma aglomeração em frente a uma casa cujo telhado ostentava um espantalho com farrapos vermelhos. Uma pequena multidão depredava a residência. Ele fez sinal para que parassem e um pequeno contingente do grupo armado correu para o local.

    Ele segurou um garoto de catorze anos que fugia da moradia carregando alimentos.

    — Por que estão invadindo essa casa?

    — Aqui vive um hougan! Magia negra!

    Ele tomou a mercadoria das mãos do garoto que se evadiu acompanhando o bando que se dissipava em diversas direções.

    Ele entrou e encontrou um senhor aparentando setenta anos ferido com lacerações na testa e diversas escoriações pelo corpo. Ele o carregou para o quarto enquanto um dos homens foi buscar um médico. O restante ficou do lado de fora protegendo o lugar de possíveis ataques. Era comum muitos cidadãos culparem sacerdotes vodus pelas catástrofes naturais ocorridas no país.

    — Não se preocupe, o senhor vai ficar bem.

    — Obrigado por sua bondade para com um velho inútil, meu filho.

    — Nós vamos capturar as pessoas que fizeram isso com o senhor.

    — Não importa aonde o culpado vá, a punição sempre o encontrará.

    O homem parou de falar e sua respiração cessou lentamente. Rogério abraçou o corpo inerte e começou a chorar. Estava exausto de presenciar tanta violência e morte. Ele estava ali, diariamente, lutando para manter aquelas pessoas vivas, mas seus esforços eram em vão. Sentia-se tão inútil quanto aquele frágil senhor. Um tremor forte os apanhou de surpresa e em questão de segundos o teto desabou em cima deles.

    I

    Dias atuais

    Quinta-feira, 05 de julho, 21 horas

    — O edifício dispõe de quadras poliesportivas, salão de festas, sauna, piscinas para adultos e crianças, uma enorme área para recreação e a melhor vista da cidade — Malcolm Roberts, síndico do edifício La Belle estava eufórico ao mostrar o apartamento à futura inquilina.

    Simone aproximou-se da varanda. O ar frio da noite parecia entorpecer sua alma cansada de um dia fatigante. Apesar de ser lua cheia, a cor amarelada que irradiava a fez lembrar-se do quadro A Noite Estrelada de Van Gogh. O brilho das estrelas e as luzes acesas dos imóveis da cidade se integravam perfeitamente. Van Gogh está certo. A noite é muito mais viva e colorida que o dia, pensou.

    — É maravilhosa — a voz estava trêmula. Impressionou-se com a altura do prédio. — Tem certeza de que não há nenhum apartamento vago no segundo andar?

    Malcolm deu uma risada.

    — Sofre de acrofobia?

    — A uma altura dessas até mesmo os pássaros.

    — Os apartamentos estão todos ocupados. Seja otimista. É um prédio de vinte andares. Está instalada no décimo terceiro. Imagine se tivesse que morar no último andar?

    — Faria contato diretamente com os marcianos e serviria bolinhos para os astronautas.

    — Como residente da cobertura informo que as estruturas são extremamente confiáveis. Hoje em dia não temos muito para onde fugir. Apesar de todos esses métodos contraceptivos a população está crescendo e o único lugar que podemos ocupar é para cima. Se não quisermos viver em um mundo sem florestas.

    — Do jeito que estão desmatando até os animais serão obrigados a viverem em edifícios — brincou Simone.

    — Poucas pessoas têm coragem de residir no décimo terceiro andar. Você terá apenas uma vizinha aqui.

    — Não sou supersticiosa. O número treze é um número como qualquer outro. O que aconteceria aqui que não aconteceria em qualquer outro lugar?

    Ela correu os olhos pela área inteira. O vento soprava, esvoaçando seus cabelos que cobriam-lhe o rosto. Ela os afastava dos olhos, mas insistiam em retornar.

    — Gostei daqui — disse retornando ao interior do imóvel. — Está localizado a dez, quinze minutos de carro do centro, onde tenho o meu consultório. Não encontraria outro apartamento mobiliado a um preço tão bom quanto este.

    — Nosso prédio também conta com um moderno sistema de combate a incêndio. Olhe — apontou para o teto.

    — Sprinklers.

    Simone ficou animada ao reconhecer os dispositivos contra incêndio também conhecidos como chuveiros automáticos. Eles possuem elementos termo-sensíveis que são acionados automaticamente em temperaturas pré-determinadas lançando jatos d’água sobre o foco do incêndio, extinguindo-o ou controlando-o até a chegada do corpo de bombeiros.

    — Eles possuem um designer moderno que se confunde com a decoração do ambiente, mas apesar de bonitos são altamente eficazes. Todo o sistema está interligado. Nossas portas fecham-se automaticamente e para abri-las somente com a chave tanto para entrar quanto para sair. Contudo, quando os dispositivos são acionados, as portas se abrem instantaneamente. Em caso de pânico, quem é que vai se lembrar de onde colocou as chaves?

    — É um prédio bem equipado para qualquer eventualidade.

    — Veja a nossa caixa d’água.

    Malcolm guiou Simone novamente para a sacada. Apontou para dois gigantescos reservatórios cilíndricos apoiados. O contraste da pintura branca da caixa d’água e o amarelo da escada externa e da grade de proteção tornavam o equipamento parecido com um dos brinquedos do playground.

    — Cada um tem capacidade para até 300 mil litros de água. O da direita está ligado ao sistema de combate ao incêndio. Podemos ficar dias sem água.

    — Parece que tirei a sorte grande em residir em um edifício bastante preocupado com os problemas da vida urbana.

    — Não se esqueça da localização privilegiada. La Belle é um verdadeiro paraíso. As pessoas que residem aqui são extremamente amistosas. Não será difícil fazer daqui um novo lar. O prédio é relativamente novo, moro aqui há cinco anos e nunca ouvi uma reclamação. Um lugar bastante tranquilo, por sinal.

    — Senhor Roberts...

    — Por favor, me chame de Malcolm. Somos vizinhos.

    O sorriso no rosto daquele senhor aparentando sessenta e oito anos, cabelos grisalhos e olhos amendoados parecia-lhe familiar. Ela forçou a memória tentando se lembrar de onde o conhecia.

    — Senador Malcolm Roberts! — disse entusiasmada — Há seis anos deixou a política. Foi uma pena quando desistiu da corrida presidencial. Teria sido eleito na certa. Por que abandonou o cenário político?

    Malcolm pareceu constrangido e pouco a vontade ao ser reconhecido.

    — Problemas de saúde — disse secamente — Ainda não lhe mostrei a melhor parte de um lar — desconversou.

    Simone percebeu claramente que o ex-senador ficara perturbado. Resolveu não tocar mais no assunto. Seguiu-o até a cozinha. Era pequena, porém possuía todo o mobiliário que pudesse precisar: armários, geladeira, freezer, fogão, micro-ondas... só precisava comprar louça nova e alguns eletrodomésticos. O lugar era muito aconchegante.

    — Parece feita sob medida pra mim. Quando posso me mudar?

    — Amanhã mesmo. Basta assinar o pré-contrato — Malcolm puxou uma cadeira. Abriu o documento sobre a mesa.

    Simone abriu a bolsa, retirando uma caneta. O ex-senador a fitou, enquanto ela se sentava para assinar a papelada.

    — Não prefere ler o contrato novamente?

    — Já o li três vezes. É o mesmo contrato, não é?

    Ela não duvidava da honestidade do ex-senador. Em toda sua carreira política nunca estivera envolvido em esquemas de corrupção. Sempre se posicionava contra fraudes e subornos. Sua integridade não era nem mesmo questionada por seus adversários. Apesar de tentarem prejudicar sua reputação, não haviam encontrado uma mancha sequer em toda a sua trajetória.

    — Rubrique todas as páginas e assine somente a última.

    Malcolm inverteu o documento, apontando para o local da assinatura. Ao trazer a caneta de encontro ao papel, subitamente ela estourou, derramando tinta sobre o contrato, sujando a mão direita de Simone.

    — Que beleza! — resmungou.

    Atirou a caneta num cesto de lixo próximo a pia. Tentou girar a torneira para lavar as mãos, mas o líquido não saía.

    — Não precisa tocar na torneira. Basta colocar as mãos debaixo dela e um sensor ativa o mecanismo de abertura.

    Simone seguiu as orientações e ficou encantada como a tecnologia facilitava a vida das pessoas. Esse era um ótimo método para economizar água.

    — Podemos considerar o incidente como um batismo? — gracejou Simone.

    — De jeito algum. O batismo contemporâneo é regado a champanhe. Isso será feito na festa de boas-vindas que oferecemos aos novos moradores.

    Simone sentiu-se em casa. Malcolm era uma pessoa muito agradável. Enquanto caminhavam para o corredor Simone o observava com um ar enigmático em seus pensamentos. Por que um homem com toda a sua capacidade desistira repentinamente da política? Todos o consideravam como futuro presidente, incluindo seus adversários. O assombro fora geral. A sua desistência à corrida eleitoral pegara todos desprevenidos. Ninguém acreditou ao vê-lo em cadeia nacional pronunciando o seu afastamento. O povo ficou perplexo. Sentiram-se como crianças abandonadas. Os adversários ficaram aliviados e agiram como lobos famintos cercando um rebanho de ovelhas.

    Malcolm trancou a porta e caminharam em direção ao elevador. Ele apertou o botão.

    — O escritório de advocacia BHC, responsável pela administração do aluguel, irá entrar em contato com você pela manhã, para ajustarem a questão financeira e o contrato final. Caso não me encontre aqui, solicite as chaves com Celso, chefe da equipe da portaria. Ele trabalha de segunda a sábado, em horário comercial e na minha ausência é o encarregado da área administrativa e operacional. Um excelente rapaz. Está conosco há um mês e tem realizado maravilhas no prédio. Ele é altamente competente e dedicado ao serviço. Fato raro na juventude de hoje em dia. Tive muita sorte em contratá-lo.

    O elevador chegou e a porta abriu-se automaticamente.

    — Está subindo! — avisou uma voz feminina em seu interior interceptando a entrada dos dois.

    Simone reparou na moça. Não tinha como não notar aquela jaqueta dourada. Ela vestia blusa e calça skinny pretas, usava uma bota de cano curto com um salto alto finíssimo de dez centímetros. Simone admirava como as moças conseguiam andar com um salto desses por uma cidade com calçadas mais esburacadas que um queijo suíço. Seus saltos constantemente quebravam e os sapatos ficavam arranhados pelas falhas nas estruturas de concreto.

    Mas o que chamou mesmo a atenção tanto de Simone quanto de Malcolm foi o rosto molhado da jovem. Visivelmente seus olhos vermelhos demonstravam que estivera chorando.

    — Tiana, algum problema? — indagou Malcolm preocupado.

    Ela passou a mão no rosto tentando secar as lágrimas.

    — Não se preocupe. Sabe como são as coisas no trabalho. Quando se encaixa naqueles dias ficamos mais sensíveis — sorriu tentando reter as lágrimas que teimavam em aparecer.

    — Tiana, esta é Simone, nossa nova vizinha. Vai ocupar o apartamento 103, ao lado de Lulu.

    — Seja bem-vinda. Vai gostar de morar no edifício. Aqui é um ótimo lugar para se viver. Eu moro no décimo nono andar. Vai ser um prazer poder recebê-la — Tiana quis ser amistosa.

    — Prazer em conhecê-la — retribuiu Simone.

    Malcolm não quis detê-la por mais tempo ao perceber que não conseguia parar de chorar. Fechou a porta e guiou Simone para o outro elevador.

    A porta do apartamento ao lado se abriu e um poodle minitoy saiu em disparada em direção a Simone. O animalzinho afoito graciosamente tentava subir em suas pernas.

    — Que gracinha! — ajoelhou-se, segurando-o pelas patas. O animal lambia suas mãos alegremente.

    — Fofucho, venha cá! — uma senhora aparentando ter por volta dos setenta anos saiu pela mesma porta.

    Trajava pijama de calças compridas e camisa de seda branca, cobertos por um robe transparente com detalhes em pluma na gola, pulsos e barra. Parecia uma diva dos anos trinta recém-saída de um filme noir. Até o salto alto trazia algumas plumas na parte superior. Cabelos curtos platinados à La Marilyn Monroe, envoltos em uma faixa rosa. Uma maquiagem exagerada cobria

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