O Que Aprendi Com Davi
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O Que Aprendi Com Davi - Mattheus Araújo
Sobre o autor
Nascido no dia 25/03/1995, Mattheus Araújo tem distrofia muscular congênita, um problema que o impede de andar e de utilizar muito da sua força devido à fraqueza muscular que a patologia causa. Em 2003, passou a depender de aparelhos para respirar e, na medida do possível, tenta viver uma vida normal. Além da carreira de escritor, atualmente ele faz teologia na modalidade à distância pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).
Agradecimentos
É com muita alegria que mais uma vez me utilizo deste espaço para agradecer, primeiramente, a Deus por todas as maravilhas que Ele fez e faz na minha vida. Depois aos meus pais por todo amor e incentivo que me dão. Aos meus amigos e parentes por todo carinho que demonstram ter por mim. À minha equipe de home care por toda assistência que prestam a mim. À minha faculdade por toda estrutura que me oferecem e, por fim, ao editor Márcio Carvalho pelo esplêndido trabalho realizado nas edições dos meus livros. Muito obrigado a todos!
Introdução
Eu havia dito na introdução do livro O que aprendi com Saul
que, se você, leitor, percebesse que, naquela obra, faltava alguns fatos da história de Saul, era porque eu ia escrevê-los no livro sobre Davi. E, graças a Deus, aqui está o livro.
A história de Davi, como você verá no decorrer da leitura deste livro, é muito rica em lições para nós. Tanto antes como depois de assumir o reinado em Israel, com exceção de alguns casos, Davi sempre foi fiel a Lei de Deus.
Espero que este livro, amado, venha para somar na sua caminhada cristã e, assim como ele me edificou enquanto eu o escrevia, que ele possa também edificar você. Foi para isso que este projeto nasceu e ganhou vida.
Boa leitura e que Deus te abençoe!
Capítulo 1
O homem vê a face, mas o Senhor olha o coração
Quando Deus decidiu destituir Saul do posto de rei de Israel por causa da sua desobediência (conforme visto e comentado no oitavo capítulo do livro O que aprendi com Saul
, de minha autoria), ordenou o profeta Samuel a ir até a casa de Isaí, pai de Davi, porque o Senhor iria indicar o homem a ser ungido para assumir o reinado (I Samuel 16, 1-3).
Chegando lá na casa de Isaí, "Samuel viu Eliab e pensou consigo: Certamente é esse o ungido do Senhor. Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração." (I Samuel 16, 6-7).
Embora Eliab tivesse, como o Senhor mesmo concordou, um belo aspecto, Deus não é como o homem, pois, enquanto este vê exterior, Ele vê interiormente. A razão do Senhor ter escolhido Davi como rei de Israel (lembrando que, apesar da unção recebida, ele só assumiu o reinado anos depois, como veremos no decorrer da leitura desta obra), se deu porque ele tinha um coração que O agradava (At 13, 22).
Assim, nos perguntamos: como as pessoas me veem neste momento? E Deus? É muito importante que tenhamos uma ideia sobre isso, pois as respostas mostrarão como anda o nosso testemunho como cristãos.
Se o mundo nos olha com agrado, pode ter certeza que Deus está nos vendo com reprovação; e, por sua vez, se estamos sendo perseguidos por causa da nossa radicalidade quanto à vivência do Evangelho, podemos ter total convicção que Deus nos olha com um grande sorriso.
Infelizmente, há muitos vivendo um cristianismo superficial, testemunhando apenas aparentemente. Diante dos homens isso pode até funcionar, mas, diante de Deus, nunca. Tomemos cuidado, irmão, para que não estejamos mais aparentando do que sendo realmente. Em outras palavras, vigiemos para que não venhamos a dar um falso testemunho para as pessoas.
Temos que ser cristãos autênticos, coerentes com aquilo que dizemos viver. O conceito que as pessoas têm sobre a religião cristã é baseado naquilo que elas veem os cristãos fazerem ou não.
Para que você tenha ideia do que quero dizer, veja este relato de Lucas, autor do livro dos Atos dos Apóstolos, fez sobre a conversão de um carcereiro que, diante da fé de Paulo e Silas (que, mesmo numa situação ruim, alcançaram algo sobrenatural), quis se converter a Jesus Cristo. Observe:
"Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, a qual com as suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores. Pondo-se a seguir a Paulo e a nós, gritava: Estes homens são servos do Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação. Repetiu isto por muitos dias.
Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu.
Vendo seus amos que se lhes esvaecera a esperança do lucro, pegaram Paulo e Silas e levaram-nos ao foro, à presença das autoridades. Em seguida, apresentaram-nos aos magistrados, acusando: Estes homens são judeus; amotinam a nossa cidade. E pregam um modo de vida que nós, romanos, não podemos admitir nem seguir. O povo insurgiu-se contra eles. Os magistrados mandaram arrancar-lhes as vestes para açoitá-los com varas.
Depois de lhes terem feito muitas chagas, meteram-nos na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. Este, conforme a ordem recebida, meteu-os na prisão inferior e prendeu-lhes os pés ao cepo.
Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam. Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriram-se logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos. Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da espada e queria matar-se. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui. Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas. Depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: Senhores, que devo fazer para me salvar? Disseram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família. Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa. Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família." (At 16, 16-33).
Eis o que contribuiu para a conversão do carcereiro:
Paulo e Silas, mesmo naquela situação, louvavam a Deus.
Por causa da fé deles, o sobrenatural aconteceu.
Eles poderiam ter fugido na mesma hora que a cela se abriu, mas ficaram com o carcereiro.
Paulo e Silas, assim como Davi, possuíam um coração tão apegado a Deus que, mesmo nas piores circunstâncias, continuavam amando e bendizendo a Deus. Com isso, quem estivesse ao redor dos apóstolos, ficava tão maravilhado com a fé deles que se sentiam atraídos pela religião deles e acabavam seguindo Cristo.
Nós, hoje, temos um coração assim? Nossa comunhão com Deus já alcançou este nível? O Senhor conhece o nosso coração melhor do que nós mesmos, e se Ele exige a nossa conversão diária, é porque necessitamos disso.
Um dos nossos grandes problemas como cristãos é que, ao invés de nos preocuparmos com o modo que Deus nos vê, nós nos preocupamos com a maneira que as pessoas nos veem. Assim, por mais que neguemos, acabamos tentando agradar mais aos homens do que a Deus.
Deus procura corações obedientes, humildes, puros, amorosos, enfim, corações que Lhe sirvam com sinceridade. Entretanto, nunca, como hoje em dia, o Senhor encontrou corações tão apegados às coisas do mundo.
Nós, católicos, no momento da missa, quando o padre diz corações ao alto
, dizemos o nosso coração está em Deus
, mas será que está mesmo? Por que, durante a missa mesmo, vemos algumas pessoas olharem tanto pro relógio? Será que elas estão realmente com o coração em Deus?
O apóstolo João, por exemplo, diz em uma de suas cartas que os mandamentos de Deus não são pesados (I Jo 5, 3). Ora, cultuá-lO também é um mandamento, certo? Então, não deveria ser um fardo pesado ficar o tempo que for preciso na missa.
Nosso coração precisa ser purificado todos os dias, isso é um fato. E se não damos o primeiro passo para isso, nunca teremos um coração apto para servir a Deus. Quanto mais nos apaixonamos pelo Senhor, mais desejaremos estar na presença dEle.
Muitas vezes, infelizmente, damos desculpas para não estarmos na presença de Deus. Filhos, casa, trabalho, estudos, tudo isso, não raro, nos roubam
o tempo que deveria ser dedicado a Deus. Mas isso porque deixamos.
Jesus mesmo, enquanto esteve na terra exercendo Seu ministério, recebeu de algumas pessoas desculpas para não ser seguido imediatamente. Veja, por exemplo, esta passagem aqui:
"Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus. Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus." (Lc 9, 57-62).
Conforme você pôde observar nos trechos grifados por mim, desde aquele tempo as pessoas davam desculpas para não estarem com o Salvador. Se não alimentarmos a nossa fé em Cristo, a chama de amor por Ele continuará fraca no nosso coração. Assim, as coisas do mundo sempre virão primeiro nas nossas escolhas.
Agora, quanto mais o nosso coração arder de desejo por Deus, mais iremos buscar estar na presença do Senhor. Deus nos amou tanto, irmão, mas tanto, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
(Jo 3, 16).
Que Deus possa, amado, olhar para o nosso coração e ver que de fato desejamos servi-lO, que de fato O amamos, enfim. Quanto ao que os homens irão pensar de nós, definitivamente não nos preocupemos com isso, pois, uma vez o nosso coração tendo amado verdadeiramente a Deus, o resto não importa.
Com a oração a seguir, peçamos ao Senhor um coração semelhante ao Sagrado Coração de Jesus, ou seja, obediente, puro, amoroso, que não guarda rancor de nada e nem de ninguém, enfim. Rezemos:
Eu reconheço, Senhor, que, infelizmente, meu coração ainda não está totalmente purificado da malícia do mundo. Por isso, ó Pai, peço que me concedas um coração semelhante ao de Cristo, que não odeia, não maquina o mal, não se enche de orgulho, enfim. Peço em nome de Jesus. Amém.
"Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: Certamente é esse o ungido do Senhor. Mas o Senhor disse-lhe: Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração." (I Samuel 16, 6-7).
Capítulo 2
Levemos a paz para quem não a tem
Quando Davi foi ungido por Samuel (I Sm 16, 12-13), o Espírito do Senhor deixou Saul (que até então era rei de Israel) e no lugar se estabeleceu um espírito mau que, quando se manifestava, fazia com que Saul ficasse muito agitado. E sabe quem o acalmava nas crises tocando harpa? Davi. Observe:
"O Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e um espírito mau veio sobre ele, enviado pelo Senhor. Os homens de Saul disseram-lhe: Eis que um mau espírito de Deus veio sobre ti. Que nosso senhor ordene, e teus servos aqui presentes procurarão um homem que saiba tocar harpa e, quando o mau espírito de Deus estiver sobre ti, ele tocará o instrumento para acalmar-te. Está bem, respondeu Saul, procurai-me um bom músico e trazei-mo.
Um dos servos declarou: Conheço um filho de Isaí de Belém que sabe tocar muito bem: é valente e forte, fala bem, tem um belo rosto, e o Senhor está com ele.
Saul mandou mensageiros a Isaí, para dizer-lhe: Manda-me o teu filho Davi, o pastor. Isaí tomou um jumento carregado com pão, um odre de vinho e um cabrito, e mandou esses presentes a Saul, por seu filho.
Davi chegou à casa do rei e apresentou-se a ele. Saul afeiçoou-se a Davi e o fez seu escudeiro. Mandou então dizer a Isaí: Peço-te que deixes Davi a meu serviço, porque ele me é simpático. E sempre que o espírito mau de Deus acometia o rei, Davi tomava a harpa e tocava. Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava." (I Sm 16, 14-23).
Olhando para este episódio da vida de Saul (que estava sem paz) e de Davi (que levava paz para o coração do rei), vemos que um servo de Deus pode proporcionar paz para aqueles que não a tem. Mas, para isso, temos que ir de encontro a essas pessoas. Temos feito isso (sair do nosso comodismo e levar a paz onde não há)?
Hoje em dia, é raro vermos cristãos (independentemente que seja católico ou protestante) fazendo visita nas casas onde há pessoas enfermas, pessoas a um passo de se separarem, pessoas passando fome, enfim, pessoas que têm motivos para se desesperar.
Onde estamos nós, cristãos, que fomos chamados por Cristo para sermos sal da terra (Mt 5, 13) e luz do mundo (Mt 5, 14)? Por que não estamos onde se necessita de uma palavra de conforto, de uma oração, enfim? A resposta é simples: é porque ainda somos muito egoístas, só olhamos para a nossa condição.
Nós, católicos, que cremos nas visões/revelações de Santa Faustina, deveríamos rezar o terço da misericórdia nos hospitais, pois veja o que Jesus disse (conforme nós católicos acreditamos) a Santa Faustina:
"Pela recitação deste Terço agrada-Me dar tudo o que Me peçam. Quando os pecadores empedernidos o recitarem, encherei de paz as suas almas, e a hora da morte deles será feliz.
Escreve isto para as almas atribuladas: Quando a alma vir e reconhecer a gravidade dos seus pecados, quando se abrir diante dos seus olhos todo o abismo da miséria em que mergulhou, que não se desespere, mas antes se lance com confiança nos braços da Minha misericórdia, como uma criança no abraço da sua querida mãe. Essas almas têm prioridade no Meu Coração compassivo, elas têm primazia à Minha misericórdia.
Diz que nenhuma alma que tenha invocado a Minha misericórdia se decepcionou ou experimentou vexame. Tenho predileção especial pela alma que confiou na Minha bondade. Escreve que, quando recitarem esse Terço junto aos agonizantes, Eu Me colocarei entre o Pai e a alma agonizante não como justo Juiz, mas como Salvador misericordioso" (Diário de Santa Faustina, 1541).
Para nós católicos, este relato de Santa Faustina deveria ser um grande incentivo para irmos de encontro aos necessitados. Mas, lamentavelmente, nem isso nos leva a pensar nos outros.
Muitos acham que fazer caridade é apenas dar esmolas a quem está necessitando de coisas materiais, mas ela não se encerra nisso. Podemos e devemos sim fazer caridade dizendo uma palavra de conforto a alguém, abraçando a pessoa, prestando um serviço voluntário a ela, etc.
Levar a paz para aqueles que estão desesperados, é algo muito gratificante. Exige que se dedique um tempo para fazer isso? Exige. Requer comprometimento para tal? Requer. Mas saber que a vontade de Deus está sendo feita e que estamos aliviando o sofrimento de alguém, faz com que todo o nosso esforço valha a pena.
Santa Madre Teresa de Calcutá, para mim, é o maior exemplo prático do que é se doar para o próximo que já existiu (maior que esse exemplo, na minha opinião, só o de Jesus). Quem abraçaria ou beijaria, por exemplo, uma pessoa com lepra? Quem? Só a Madre mesmo!
Uma passagem do Evangelho onde mostra que no Juízo Final o amor ao próximo pesará bastante, é essa:
"Quando o Filho do Homem voltar na sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.
Voltar-se-á em seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e não