Vidas Cruzadas
De Victor Ramos
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Vidas Cruzadas - Victor Ramos
Capítulo 0
Prefácio
Efeito borboleta. Que evento magnífico! Saber que cada
passo que você dá, interfere na vida de quase todas as
pessoas... soa bem assustador. Um sinal vermelho que você
cruza, um ônibus que você não consegue pegar por chegar
atrasado no ponto, uma decisão errada que você toma... que
coisa!
Cada pessoa tem uma história. E essa história depende
de muitos fatores. Fatores esses, que dependeram de
outros, e de outros, e de outros... e assim vai! Todos estão
interligados. Você o tempo todo muda a vida de alguém.
Então, atenção às suas decisões. Elas podem tanto salvar o
mundo, quanto destrui-lo.
1
Capítulo 1
VISÃO DO ALTO
Dia 06 de março de 2016.
;)...
Era mais um belo dia em algum lugar do Brasil. Lá,
vivia um garoto chamado Hugo. Hugo tinha dezoito anos e
acabara de terminar o Ensino Médio. Porém, ele tinha
muitas dúvidas do que ia ser ou que faculdade iria fazer.
Ele tinha várias habilidades, o que aumentava mais ainda as
dúvidas sobre que profissão ele iria exercer. Para Hugo era
muito importante essa decisão, já que o seu conceito de
trabalho era levado muito a sério. Ele pensava que cada
pessoa tem uma função na sociedade, então trabalhar não
era simplesmente ganhar dinheiro e sim tornar a sociedade
melhor. Ele tinha uma visão diferente do mundo.
Naquele dia, como em vários outros, o seu cãozinho o
acordou. O nome dele era Puma e eles tinham uma relação
muito forte, já que Hugo gostava muito de cães.
- Bom Dia, Puma - Falou Hugo.
- Au, Au! - Respondeu Puma.
2
- Mais um dia para mudar o mundo, garoto. - Hugo falou
entusiasmado.
- Au, Au! - Voltou a responder o cãozinho.
Hugo e Puma viviam numa casinha que os pais dele o
deram. Os pais de Hugo acreditavam muito nele e o
olhavam como se ele fosse alguém muito grande e que iria
fazer algo de muito importante. O pai dele era o Seu
Calisto. Ele trabalhava numa empresa e viajava muito, o
que o afastou um pouco do filho. Porém, ele percebeu o
afastamento, pediu para não viajar mais e a relação voltou a
ser como antes. A mãe de Hugo era uma guerreira, Dona
Nici. Pensem numa mulher que amava seu filho? Era ela.
Eles tinham uma relação de muita amizade e doeu muito
para ela quando seu filho foi morar só, apesar dele ter se
mudado para ao lado da casa dela. Mas amor de mãe é
assim mesmo.
Depois do seu cãozinho o ter acordado, Hugo tomou
banho, sentou-se no sofá e foi assistir a um filme. Todas
as manhãs ele assistia um filme pelo menos. Naquele dia,
ele assistiu um filme em que o personagem acredita que tudo
acontecia por acaso e por acontecimentos sucessivos, mas,
com o passar do filme, ele foi vendo que nada é por acaso e
que sim, havia algo maior que observava e fazia as coisas
acontecerem, o que a maioria chamava de Deus.
3
Onipotente, onisciente e onipresente. Era nisso que Hugo
acreditava. Após o filme, ele foi para janela e observou o
céu como nunca tinha observado e se fez a mesma pergunta
de todos os dias:
- O que eu serei?
4
Capítulo 2
VISÃO DE BAIXO
Naquele mesmo dia, ali perto, porém em um lugar um
pouco mais desprovido de olhar do governo, morava
Welison. Ele tinha dezesseis anos e não estudava mais,
pois como seu pai, Edinaldo - mais conhecido como
Metralha
, que era um dos cabeças de uma organização
criminosa - havia morrido antes de seu nascimento, logo
quando fez oito anos teve que ajudar sua mãe, Dona
Nalva, nos serviços de casa e trabalhando na vendinha do
Seu Zé, que o pagava pouco mais de R$ 50,00 por mês.
Parece pouco, mas ajudava muito para quem não tinha
nenhum centavo.
Sempre ás 6 da manhã, Dona Nalva acordava seu
filho da mesma maneira:
- Acorda, seu corno! Não quero filho vagabundo não,
bora!
- Só mais cinco minutinhos, mãe, colé?!
- Nada disso, bora! Seu Zé já vai abrir daqui a meia
hora.
5
- Tudo bem, mãe... - Respondeu Welison irritado. Porém,
alegre que mais um dia ele e sua mãe acordavam vivos.
Welison tinha um mico chamado Melzo, que ficava com
ele quase o dia todo. Welison tomou um banho rápido e foi
correndo para a vendinha de Seu Zé.
- Tá atrasado, garoto. - Falou Seu Zé um pouco
irritado.
- Desculpa o atraso, Seu Zé! Isso não vai se repetir, eu
juro. Por favor não me demita, eu e minha mãe precisamos
desse dinheiro! - Respondeu Welison desesperado.
- Tudo bem, garoto. Vamos ao trabalho! - Falou Seu
Zé, que ficava muito feliz com a maneira com que
Welison ajudava sua mãe.
Na frente da vendinha, os amigos de Welison jogavam
futebol o dia todo. E sempre que dava, ele pedia a Seu Zé
para jogar uma partida, já que a vendinha tinha um
movimento um pouco fraco.
- Seu Zé, deixa eu jogar um pouquinho, por favor?
Quando o senhor precisar de mim, eu volto correndo! -
Pediu Welison.
- Tá vai lá, garoto, divirta-se! - Respondeu Seu Zé, que
gostava muito de ver Welison jogar. E ele jogava muito
bem mesmo, tanto que era conhecido como "Neymar da
6
Favela". E Welison adorava esse apelido. Ele sonhava em ser jogador de futebol, mas as circunstâncias nem sempre
permitem que se realize tais sonhos.
7
Capítulo 3
CAMINHO ERRADO E INEVITÁVEL
Mais uma vez, Welison estava destruindo com o jogo.
Que dribles! Que passes precisos! Que chutes
indefensáveis! Era realmente um grande jogador e todos
aplaudiam as suas jogadas, até o Melzo. E claro, chamava
a atenção das meninas e de uma em especial, Luzia. O que
eles tinham era algo forte mesmo, desde criança os dois
olhavam um para o outro diferente e isso foi crescendo até
eles namorarem.
De longe, olhava uns caras da pesada. Eram membros
da Organização Criminosa que o Metralha
participava.
Quem observava e gerenciava aquelas áreas era o Don
Gon. Seu nome era Geraldo. Ele tinha trinta e nove anos e
comandava tudo que acontecia por aquelas áreas. Ao lado
dele, estavam Fred, Hebert e Paulino, todos moleques
menores de idade. Don Gon chamou Welison:
- Ei, garoto! Venha cá. - Welison veio apreensivo.
- O que foi agora, Gon?
- Ontem, mataram Iago, que era um dos meus mais
confiáveis. E agora, preciso de alguém para fazer uns
serviços.
8
- Pô, cara, não quero me envolver mais. Você falou que
depois daquele aviãozinho eu poderia ficar tranquilo.
- Moleque, isso não foi uma pergunta. Você vai entrar
para organização se não...
- Se não o quê?
- Aquela é Dona Nalva, sua mãe, não é?
- É sim, por quê?
- Por nada, é que se sua resposta for não, acho que sua
mamãe só vai ver você lá de cima, ou de baixo.
- Tudo bem, cara. Tô dentro. O que eu tenho que fazer?
- Aviõezinhos comuns, vigiar algumas áreas e agora, você
vai ter que apagar uns caras lá da parte de cima do bairro,
que tão ameaçando uns moleques nossos aqui. Toma a
arma.
- Tá, deixa eu avisar a Seu Zé e a minha mãe que eu terei
que sair.
- Vá lá, moleque.
Foi justamente a hora em que a mãe de Welison
chegava a venda para falar com Seu Zé:
9
- Welison, sabe que eu não quero você conversando com
aqueles moleques, né? O que eles queriam com você? -
Perguntou Dona Nalva.
- Eles vieram falar que eu jogo bem e me convidaram para
jogar com eles.
- Foi só isso mesmo?
- Sim.
- Ah sim... diga a eles que você não vai, não quero você se
misturando com esses vagabundos.
- Tá, eu falo com eles. Seu Zé e mãe, eu vou ter que sair.
É que eu vou comprar um presente pra Luzia. Hoje a gente
faz um ano de namoro.
- Sem problemas. - Falou Seu Zé.
- Vá lá, seu namorador descarado. - Falou Dona Nalva
feliz, por saber que seu filho estava namorando.
10
Capítulo 4
BARULHO ESTRANHO
Na parte de cima, Hugo estava falando com sua
namorada, Júlia. Era um romance bem intenso. Ambos se
apaixonavam um pelo outro a cada dia.
- E aí, mô?! O que tu vai fazer hoje? - Perguntou Hugo por
mensagem.
- Nada, até agora.
- Hum... bem que a gente podia ir no cinema, no parque, sei
lá... não importará o lugar, se eu estiver com você.
- Seu fofo! Eu vou sim. Que horas?
- Bom, eu vou pegar a carteira de motorista hoje, daqui a
pouco, então umas quatro horas eu te pego em casa.
- Tudo bem então. Vou passar na manicure e a tarde a
gente se encontra.
- Certo, mô. Te amo muito e esse amor é infinito...
- Ô, meu amor! Também te amo muito! Infinitamente...
Hugo foi preparar algo para comer, uma farofa, com
macarrão. Era o que ele mais gostava e sabia fazer.
11
Enquanto a água não fervia, Hugo foi para o computador e ficou vendo algumas redes sociais, até que:
- Pow, pow, pow, pow!!!!!
Quatro ruídos que, a princípio, pareciam ser bombas.
Puma ficou latindo e Hugo foi para a janela para ver o que
tinha acontecido. Ele ficou assustado, já que o barulho
pareceu ser ali perto. Hugo foi falar com Júlia que morava
também ali perto:
- Ei, ouviu o barulho?
- Ouvi sim. Estou muito assustada! Será que foi mesmo
tiro?
- Não sei, mas todos aqui estão comentando que foi mesmo
tiro. O que será que foi? Será que foi a tal Organização
Criminosa da Parte de Baixo?
- Pode ter sido. Ai, meu Deus, como eu vou sair agora?
- Fica tranquila, eu vou pegar minha carteira daqui a meia
hora e passo aí na sua casa.
- Tudo bem, estou te esperando.
Quinze minutos antes, Welison estava subindo para
fazer o tal serviço com os outros moleques de Don Gon.
12
- Aí, Welison, aqueles são os caras, tá vendo? - Falou
Fred.
- São aqueles quatro ali? - Perguntou Welison.
- É sim. É o seguinte, você só tem quatro balas aí na arma.
Sabe geometria, né?
- Não seria álgebra?
- Colé, moleque, vai ficar dando uma de esperto aqui?
- Não, não. Já entendi, não posso errar nenhum tiro, né?
- Isso aí, parceria, você pega rápido. Ó, nós vai ficar aqui
e se o bicho pegar a gente ajuda você. Não decepciona o
Gon, véi, nem o... Don Leon.
- Don Leon?
- É quem comanda as parada toda. Você não pensou que
Gon fosse o chefão né, cara? Ele só apita lá nas áreas.
Leon, comandava todas as dez favelas daqui de perto. Só
que o exército pacificou quase todas, só sobrou a nossa.
- Caraca! E vocês já viram esse tal Don Leon?
- Ninguém sabe quem ele é. Ele passa os comandos por
carta ou por ligação. Mas a voz fica embaçada, tá ligado?
Tipo...
- Distorcida?!
13
- Ô, moleque, já disse para você não dar uma de esperto
aqui! Beleza, chega de papo e vai lá fazer o serviço vai.
- Falou, mano.
Não precisa nem falar que Welison estava nervoso.
Ele de maneira nenhuma queria estar ali. Porém, as
circunstâncias nem sempre permitem fazer escolhas. Ele
pensou na mãe dele, na namorada e deu os quatro tiros,
aqueles tais ruídos. Porém, o tiro pegou em apenas dois, e
os outros dois fugiram correndo. Welison estava
escondido, então ele pôde sair com tranquilidade daquele
alvoroço sem ninguém desconfiar. Muitas pessoas ao redor
e claro, os policiais, também chegavam ali e perguntavam as
pessoas se eles viram alguém suspeito. Mesmo se vissem,
não iam os pegar mais. Welison já estava descendo com os
outros moleques:
- Pô, velho, você é otário?! Idiota! Você deixou dois
escapar. - Falou Fred, muito irritado, quando estavam a
caminho do Covil de Don Gon.
- Vá te catar, seu palito de fósforo. Se quer reclamar vai
lá e faz melhor. – Falou Welison.
- Como é que é, seu pintor de rodapé? - E eles começaram a
trocar socos até que Gon chegou.
14
- Largue ele, Fred! - Falou Gon. Welison ficou
assustado pensando que ele iria fazer algo contra ele.
- Esse medrozinho aqui deixou dois dos caras lá da parte de
cima escapar. - Falou Fred. E Welison ficou gritando e
xingando Fred.
- Parem com isso já! Fred, deixa ele em paz. O moleque
ainda vai evoluir. E os outros caras eu mesmo pego depois.
Bom trabalho, Welison. Vocês dois, deem as mãos um ao
outro. - E foi o que fizeram. – Pronto, criancinhas? Agora
vaza todo mundo já. Hebert e Paulino, Leon tá precisando
de grana, então vão lá na parte de cima e roubem um celular.
E Welison e Fred, daqui a pouco vamo jogar uma bola
aqui, vocês dois tão no meu time, valeu?! Vão lá, moleques!
Lá fora:
- Aí, cara, foi mal como eu falei com você, vacilei. -
Falou Fred.
- De boa, cara, fica na paz. Foi mal também aí. Mas se a
gente continuasse eu ia te quebrar no pau! - Falou
Welison brincando.
- (risos). Tá maluco, mano, você é o Neymar da Favela e
eu sou o Anderson Silva, rapá.
- Anderson Silva? Aquele que quebrou a perna e perdeu a
última luta?!
15
- Ah, vá se ferrar, tampinha.
16
Capítulo 5
O HERÓI
Hugo acabara de terminar de almoçar alguns minutos
depois do acontecimento. Então, ele ligou para Júlia
avisando que ele estava a caminho. Hugo deixou a ração e
água do seu cãozinho, que sempre chorava quando ele saía.
Antes, ele passou na casa dos seus pais:
- E aí, mãe. Tudo bem com a senhora? – Perguntou Hugo.
- Tudo ótimo, meu filho. Seu pai está no trabalho. Eu vou
fazer um bolo, venha buscar mais tarde.
- Certo, mãe. Só passei aqui para dizer oi. Vou ter que ir
buscar minha carteira de motorista e vou passar na casa de
Júlia.
- Tá bom, meu filho. Mas muito cuidado, viu?! Ouviu os
tiros que teve aí perto? Tome muito cuidado, pelo amor de
Deus!
- Fica tranquila, mãe. Lembra das aulas que tive para
desarmar ladrões?!
- Ai, meu Deus! Deus te abençoe, meu filho.
- Amém, mãe. Fica com Deus.
17
Logo depois, Hugo estava chegando à casa de Júlia,
quando