Eu, John E A Música
De Marina Matos
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Eu, John E A Música - Marina Matos
Eu, John e a música.
PARTE 1
O INÍCIO DE TUDO
Neste momento a única coisa que
sei sobre mim, é que sou uma
musicista. Eu acordara cedo naquele
dia, exatamente 14 de janeiro de 2006.
Dia chuvoso com nuvens carregadas
era meu primeiro dia de aula e já
começava a batalha para terminar logo,
já que restavam apenas três anos para o término.
Ao me levantar da cama alcancei
um dos tantos casacos encostados em
uma das grades atrás da porta, vesti e
desci as escadas pisando como se
tivesse um emaranhado de algodão
sobre o piso de madeira, como sempre
preocupada pensei em não acordar os
demais que ainda dormiam, somente
despojava da companhia de minha irmã.
Silencioso ambiente me fazia sentir
bem, aliás, o vento que se soprava pela
janela me fizera me acomodar para
tomar um café feito por mim, naquele instante lembrei-me de minha mãe.
Ao
recordá-la
imaginei
os
momentos de seus ensinamentos
culinários, a primeira coisa que
aprendera fazer um delicioso café. Sim,
era dia chuvoso e com nuvens
carregadas, mas não reclamava.
Observadora demais, olhava pela
janela de onde o senhor vento passava,
escorria meus olhos pelas árvores com
flores douradas e avermelhadas que
caíra ao leito do chão.
Só de imaginar, ficara com
vontade de que meus cabelos negros
pudessem tocar o céu com a ajuda do
soprar do vento, me fazia ficar
estagnada. No mesmo instante, já
pronta, minha irmã estava a me esperar
para seguirmos à escola.
Eu gostava de estudar, mas aquilo
era muito cansativo para mim, eu
quisera por muitos anos realizar
desejos e sonhos acumulados em toda
a minha existência, não que eu seja
uma idosa ou já vivido o bastante, mas
quisera chegar a esta idade com histórias para contar.
Sempre estudara com minha irmã,
e uma amiga inseparável. Todos os
dias seguíamos para a escola chutando
pedrinhas
que
achávamos
pelo
caminho. Era divertido ir para a escola
e voltar observando o céu com o sol se
pondo na medida que íamos chegando
em casa.
Contava a elas sobre minhas
loucuras, e vontades observando
nossos passos tentando adivinhar o
futuro que a nós mesmos não pertencia.
Viajara em um mundo que para mim era considerado impossível, mas não
cansava de sonhar.
Estar ali e não estar, para mim era
inconsciente, tentara entender de
alguma forma esse sentimento de raiva,
paixão, alegria, era uma mistura de
vontades e sentimentos. Entender
estava sendo complicado demais.
Ao
chegarmos
na
escola
começamos a andar pelos corredores à
procura de nossa sala, ao encontrá-la
entrei, sentei em uma das mesas que
tinha no canto esquerdo da sala,
tentando esconder meu rosto com um semblante duvidoso.
Tudo era diferente parar mim,
estava muito ansiosa no entanto não
era o que eu desejava para mim, já que
a minha imaginação passava além
daqueles muros cinzentos. Ao escutar a
professora falar, meu pensamento se
passava a mil milhas daquele ambiente,
como já não bastasse passar a manhã
toda naquele local, a fome dava seu
sinal de vida, como todo adolescente
sentia fome a maior parte do tempo
mesmo que irrefletido.
Paralisada por um só momento,
consegui me imaginar voando sobre as
nuvens, viajando para onde o sol e a
lua pudessem me acompanhar, a
realidade estava mais próxima do que
eu pensava, mas não soubera a
verdade e o destino que me aguardava.
Por um breve instante, ao perceber
o meu pensamento incomum a
professora Wilsen me fizera uma
pergunta, só o que me eu lembrava, era
a história em que minutos antes,
contara para toda a classe. Até que
então me fizera uma pergunta que me deixou pensativa.
--- Sabe qual a verdadeira história
da sua vida?
Perguntou Senhora
Wilsen.
Já que sobre a história eu me
recordava, respondo :
---- A verdade só é descoberta
quando vivemos a história de nossas
vidas, sem isto não há verdade.
Com
olhar
de
surpresa,
a
professora Wilsen ficara em silêncio por
alguns minutos quando ao soar o sino,
saí em direção da portaria com meu
casaco envolvendo meus braços, meus cabelos negros voando de acordo com
o dançar do vento, era incrível como a
sensação de poder chegar a minha
casa, voltar a treinar e ouvir sons que
para mim mais pareciam vozes de
anjos essa sensação me fizera ter
forças para continuar a ter a música em
meu peito.
Saí em direção à portaria,
correndo como se quisera alcançar
uma lebre imaginária. Ao chegar em
casa avistei minha mãe a beira do
fogão. Sentei-me na cadeira perto da
mesa retirei o casaco verde que eu havia retirado de trás da porta de
madeira do meu quarto.
Coloquei a minhas duas mãos por
cima de mesa, retirei meu caderno,
enquanto minha mãe estava na cozinha
preparando o prato. Era meu caderno
de leituras, eu mesma escrevera versos
para que pudesse lê-los novamente.
Sentia-me de algum modo ansiosa
e alegre, soubera
que aqueles
momentos que descrevia em minhas
páginas eram a verdade, a minha
história a ser vivida por mim mesma.
Não era um tipo de egoísmo ou quaisquer sentimentos desses que
fazem as pessoas desejarem o mal
para as outras. Mas a palavra egoísmo
se enquadrava mais, aos mistérios que
envolvia todos os acontecimentos.
Os dias se passaram e as árvores
já haviam mudado de cor. Era o último
dia de aula daquele semestre. Acordara
atrasada, novidade, depois de algum
tempo me acostumei um pouquinho ser
mais flexiva com os horários.
Não para a minha sorte. Corri
pelas escadas, abotoando meu casaco
verde, por cima do detestável uniforme que por algum motivo nos obrigavam a
usar, coloquei meus óculos, arrumara
meu cabelo. Enquanto minha irmã
colocava a cafeteira para funcionar.
Alcancei um dos copos em minha
frente, o enchi de café, e segui para a
escola. Neste dia telefonei para minha
amiga, que por motivo de uma gripe
forte não pôde me acompanhar.
Chegando para mais um dia de aula
enquanto atravessava o pátio da escola,
me sentia uma completa estranha.
Os olhares sobre mim me faziam duvidar se eu estava no lugar certo.
Sempre fui uma menina considerada
por muitos, tímida e retraída. Bom, eu
não via motivos para manter laços
naquele local, era um mundo que não
me pertencia, então para que forçar
algo que não existia. Era inquestionável
a presença de observadores ao meu
redor.
Era sim, tímida e retraída, mas
ninguém conhecera o meu lado que
poucos têm, o de ser sonhadora.
Recebi a nota da professora Wilsen,
havia passado em sua matéria, mas por algum motivo não se esquecera da
resposta que eu dera no primeiro dia de
aula.
Perguntou por que eu pensava
daquela forma. Respondi, que a minha
história já estava sendo traçada por
caminhos que ainda iria atravessar em
minha vida.
Ainda que eu olhasse para o futuro,
não conseguira enxergar tudo. No
entanto a brisa que pairava sobre meus
pensamentos era tão intensa que, se
tornara inatingível os anseios colocados
sobre o meu caminhar. Tinha uma leve impressão de que a minha própria vida
era a absoluta revelação sobre o meu
passado, presente e futuro.
O RAPAZ
Dois anos se passara e em todos
esses dias eu