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O Fim Da Eternidade
O Fim Da Eternidade
O Fim Da Eternidade
E-book114 páginas1 hora

O Fim Da Eternidade

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Sobre este e-book

Um amor de quarenta anos sofre com os efeitos do Alzheimer. Quando se esquece quem você é, uma jura de amor eterno deixa de fazer sentido e a própria eternidade acaba. Enquanto Otávio se perde em sua mente, sua esposa Marília se agarra as lembranças para manter vivo o amor.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de set. de 2019
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    O Fim Da Eternidade - Matheus De Mattos

    Dedico este livro ao Senhor que me concedeu o dom da escrita e a Jhulia Sabrina, a amada da minha alma, que me inspirou a concluir esta história


    Leia quando se esquecer

    Oi, coração!

    Se estiver lendo isso quer dizer que as coisas estão começando a perder o sentido.

    Está tudo bem, não se preocupe.

    Saiba que eu ainda te amo, mesmo que você não se lembre do meu nome, ou até mesmo do seu.

    Eu continuarei lembrando por nós dois.

    Sempre me lembrarei do dia que nos conhecemos, nós éramos tão jovens e despreocupados, nunca sequer imaginaríamos chegar onde chegamos.

    Nenhum de nós poderia prever o rumo que nossa vida teria depois daquele dia, mas nós sabíamos de uma coisa: sempre teríamos um ao outro.

    Você esteve do meu lado em cada momento difícil da minha vida e me deu forças para continuar todas as vezes que pensei em desistir.

    Nós discutimos muito ao longo dos anos mas a nossa maior qualidade, e o que garantiu nosso casamento por todos esses anos, foi a nossa dedicação um pelo outro.

    Sei que você me admira muito e me ama de todo seu coração, mesmo que nem sempre você consiga demonstrar isso eu tenho certeza que o sentimento ainda existe.

    E quero que saiba que você ocupa a maior parte do meu coração.

    Claro que amo nossos filhos e digo que amo Deus acima de tudo, mas em minha alma eu sei que o que eu sinto por você é mais forte que qualquer coisa.

    Por mais que eu não goste de admitir, a verdade precisa se dita...

    Nós estamos envelhecendo...

    E um dia vamos morrer...

    E pode ser que antes disso nossas mentes frágeis se estilhacem e as lembranças desapareçam de nossas cabeças...

    Um dia, meu coração físico vai falhar e é impossível prever o que há depois dessa vida.

    Mas o coração de minha alma nunca falhará, então meu amor continuará vivo.

    As palavras que deixo registradas nesse livro são para nós dois e serão para a eternidade que virá após nossas mortes.

    Não viveremos para sempre e talvez não haja uma vida após a morte.

    Mas se hoje nós podemos reaver registros e histórias de milhares de anos atrás então sim, os humanos podem viver eternamente.

    Eternamente estaremos registrados aqui. A nossa história, do jeitinho que nós vivemos...

    Ou ao menos do jeitinho que eu me lembro :)

    Vire a página, coração.

    E nunca se esqueça

    Eu te amo


    12/07/2018

    Oi, coração!

    Então, esse é oficialmente meu primeiro registro da nossa vida. Eu poderia começar descrevendo nossa situação atual, mas não quero começar a contar sobre nós com uma história negativa, afinal hoje não estamos em uma situação muito boa. Também poderia começar com o dia que nos conhecemos, mas vou deixar essa história para mais tarde. Em vez disso, prefiro começar pelo dia mais feliz da nossa vida. Sei que também foi seu dia preferido porque já conversamos sobre isso algumas vezes antes de você se esquecer. Como eu poderia começar?

    Sabe, fiquei um bom tempo pensando antes de escrever esse parágrafo e me veio a memória que eu já quis ser escritora. Acho que tinha 25 anos na época, e até é uma boa história que contarei mais tarde. Por enquanto vamos nos ater ao nosso dia mais feliz. Você já deve imaginar, né? Isso mesmo, o dia que nossa filha nasceu...

    05/04/1986

    Eu estava em casa conversando com a minha mãe sobre os nossos planos de nos mudarmos para São Paulo. Era perto do cair da noite e você já estava voltando do trabalho. Minha mãe fez aquele bolo maravilhoso que nós adorávamos e eu estava quase comendo tudo, mas a nossa filha me interrompeu salvando algumas fatias pra você. Digo isso de forma simpática agora, mas foi bem violento no dia. Senti a primeira contração chegando muito forte, era como sentir cãibra na barriga. Eu lembro que segurava uma xícara de café na mão e a deixei cair no chão derramando tudo e manchando a nossa bela toalha de mesa. Foi uma pena, mamãe bordou um desenho lindo de nós dois abraçados e me deu essa toalha no nosso chá de panela. Isso me deixou muito triste por um bom tempo. Mas depois ela fez outra, um desenho mais bonito ainda, e nesse estávamos nós dois e nossa filha, a Rebeca.

    Veja só, como me distraio fácil, acabei desviando do assunto. Mas vamos voltar a história.

    Mamãe ficou assustada quando eu gemi de dor e derrubei a xícara, mas logo se recompôs e me ajudou a me concentrar.

    - Calma filha, o bebê deve estar pra nascer. Eu vou chamar o Cléber para te levar no hospital, ele já deve estar em casa.

    Ela nem esperou minha resposta, me mandou ficar respirando e correu para chamar o vizinho. Engraçado isso, não? Quando uma mulher entra em trabalho de parto todo mundo diz pra ela respirar. Mas nós já respiramos sozinhos, não é? Ninguém precisa dizer isso, mas acho que todo mundo diz isso porque não tem muito mais o que dizer nessas horas.

    Bem, ela voltou pouco tempo depois, com o rosto mais pálido do que o de costume. O vizinho não estava em casa, ainda devia estar no trabalho, pela hora. Ela correu para o nosso quarto e pegou a minha mala de emergência. Então ela me ajudou a me levantar e foi andando comigo até o lado de fora.

    - Fica calma, eu vou pedir pra alguém chamar uma ambulância ou vou acionar algum vizinho pra dar carona.

    Eu não lembro exatamente dela me dizendo essas palavras, eu lembro dela me contando essa história e me dizendo que ela disse isso. As dores eram muito fortes e eu não estava acostumada com aquilo. Fora o medo que nós tínhamos de acontecer algum problema com nossa filha, o médico já tinha me avisado que essa seria uma gravidez de risco. Mesmo sem conseguir me concentrar em qualquer coisa além da dor eu me lembro de duas coisas claramente: a primeira é que mamãe saiu gritando pela rua pedindo ajuda, várias mulheres chegaram perto pra tentar fazer alguma coisa e algumas crianças vieram pra olhar. Mamãe gritou pra um menino ir correndo no orelhão e chamar uma ambulância e ele foi desesperado.

    Mas a segunda coisa que me lembro com clareza foi da sua voz surgindo no meio da multidão, você abriu caminho gritando meu nome e quando surgiu na minha frente foi... simplesmente mágico. Você estava muito suado e seu rosto ainda estava meio cinza por causa da poeira da obra, parecia até um fantasma brilhante, era o que mamãe dizia. Mas aos meus olhos você estava belíssimo, porque mesmo cansado do trabalho e meio assustado por me ver carregada pela minha mãe ainda assim você me passava segurança. Você já me garantiu várias vezes que tudo ia dar certo e eu acreditava em você. Naquele momento, te ver quando eu mais precisava me fez me apaixonar por você novamente. Você deve se lembrar. Mamãe dizia que eu sorria feito uma idiota entre uma respiração ofegante e outra. Você chegou do meu lado, pôs uma das mãos em minha barriga e outra em meus ombros e disse suas famosas palavras:

    - Oi, coração! Não se preocupe, está tudo bem. Tudo vai ficar bem.

    Os anos trabalhando como peão de obra te deram grande força e lembro que você me pegou no colo, segurando minhas pernas e minhas costas, e foi correndo em direção a estrada. Aquela posição espremeu minha barriga e me incomodou bastante, lembro de ter gritado algumas vezes e reclamado do jeito que você estava me carregando. Mas eu não te culpo mais por isso, agora eu sei que era o jeito mais fácil e rápido de você me levar. Você correu por vários metros até chegar na estrada e não havia pontos de ônibus por perto e poucos carros circulavam pelas ruas. Você gritou algumas vezes para os carros que passavam, pedindo ajuda aos motoristas mas ninguém te atendia. Até que apareceu um ônibus, e foi aí que mamãe fez uma loucura.

    O ônibus estava no meio da pista e mamãe correu e ficou gritando de braços abertos no meio da rua para que o ônibus parasse. Ah, como eu queria ter visto essa cena. Mamãe sempre foi uma mulher tão calma e tranquila, e de repente estava gritando feito louca no meio da rua na frente de um ônibus. Essa seria uma boa memória.

    Enfim, o motorista freiou a tempo e mamãe explicou pra ele o que estava acontecendo. Enquanto ela discutia com o motorista você corria para a porta de trás do ônibus esperando a porta abrir. E finalmente abriu. Mamãe deu a volta e entrou por trás do ônibus conosco, o motorista gritou para os passageiros que mudaria a rota e as seis outras pessoas que estavam lá gritaram de volta concordando. O motorista acelerou o suficiente para chegar rápido ao hospital mas ainda tomando cuidado com o movimento do ônibus para não me deixar balançando muito. Você me deitou no chão mesmo, era o lugar mais espaçoso para eu ficar.

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