Eu livro: a visita do beija flor
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Eu livro - Neusa Sica da Rocha
© do texto de Neusa Sica da Rocha, 2023
Projeto gráfico: Tatiana Sperhacke – TAT studio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rocha, Neusa Sica da
Eu livro [livro digital]: a visita do beija-flor / Neusa Sica da Rocha. -- 1. ed. -- Porto Alegre, RS : Artes e Ofícios Editora, 2023.
ISBN 978-85-7421-286-9
1. Crônicas brasileiras 2. Poesia brasileira 3. Contos brasileiros. I. Título.
23-151936
CDD: -B869.8
-B869.1
Índices para catálogo sistemático:
1. Crônicas : Literatura brasileira B869.8
2. Poesia : Literatura brasileira B869.1
Aline Graziele Benitez – Bibliotecária – CRB-1/3129
Reservados todos os direitos de publicação para
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Para Alexandre e Miguel
Tapir e Laís, presente!
Ceci Iara, Nádia, Ligia, Marta, Guacira,
Tapir Filho, Soraya, Leonel e Taís
: Sumário
: Apresentação — Claudia Chigres
: Um beija-flor — Carla Kinzo
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Livro
: Apresentação
Eu livro: a visita do beija-flor, livro de estreia de Neusa Sica da Rocha é, ao mesmo tempo, um discurso de amor, um documento de vida e uma homenagem ao próprio fazer literário. Os mais de 50 textos (fragmentos, contos, crônicas, poemas) distribuídos ao longo de uma narrativa em que uma palavra puxa outra, um pensamento aqui desdobra-se ali e retorna mais adiante, configuram não apenas a história (memória?) de uma trajetória vivida, mas sobretudo um retrato coletivo de nosso país e de nossa época.
Apropriando-me dos versos de Carlos Drummond de Andrade, essa fotografia pendurada na parede
, apesar de borrada, remete, sim, à dor, mas também à alegria, à nostalgia, a valores que prezamos em nossa luta cotidiana. Olhar o passado não para nos paralisarmos nele, mas para, acima de tudo, fazer dele um mapa que incita o desejo de traçar nosso próprio itinerário.
Com minha bússola à mão, preparo-me para iniciar esta viagem repleta de caminhos e fronteiras, como se eu mesma fosse um beija-flor a visitar este livro, suspensa nas palavras que se me apresentam. Logo no início, sou alertada a parar na Sinaleira, como se esta aventura fosse guiada por uma espécie de letramento — social, cultural, político e ético — a soletrar a palavra to-le-rân-cia. Acerto os passos, respiro e prossigo.
Próxima parada: tradição. Saber de onde viemos, com quem dialogamos, é um percurso que envolve um interminável passar adiante: afetos, dores, convivências e perdas, enfim: ensinamentos. Neusa sabe dosar com equilíbrio aquilo que recebeu e o que deseja transmitir. Descendente de gringos com vida econômica precária, enfrenta com coragem a tarefa de mapear o lugar e o valor de sua família num país desigual como é o Brasil. O orgulho de ser sobrinha-neta da primeira parteira da cidade convive com a indignação diante das injustiças e dos preconceitos sofridos.
Com a geração seguinte, a dos pais, não foi diferente. Em uma época de ditadura militar, conviveu, ainda menina, com aqueles cujos propósitos era lutar por melhores condições políticas e sociais para o país. Se, por um lado, isso fortaleceu seu engajamento e o elo familiar, por outro fez com que sofresse as consequências disso, o que marcou indelevelmente sua maneira de agir e de se posicionar no mundo (— Treme, carcaça sem vergonha, mas enfrenta.
). Textos como Prisão, Catarse e Eles Venceram, por exemplo, dão a dimensão dessa ferida, numa costura entre memória e história, entre identidade pessoal e coletiva.
Pausa necessária: como dar sequência a tantos fragmentos que nos perseguem, que nos atormentam ou nos enchem de alegria? Como dar alguma ordem à proliferação de vozes que insistem em perturbar nossa busca por sanidade? Expurgando essas vozes no próprio texto, como um exercício de relativização. Deixando que as diversas posições se apresentem para, aí sim, tecer reflexões sobre elas e sobre a própria validade ou não de expressá-las em palavras. Nesse sentido, e a essa altura da viagem, percebemos que as fronteiras a serem vencidas não são necessariamente aquelas do passado. É o presente que se impõe, carregando consigo suas próprias demandas. E é justamente através da escrita que essas palavras, elas também, presentificam a dúvida e a necessidade de continuar.
Sigo, então, saboreando uma paisagem de histórias divertidas, cheias de afeto, ou, ao contrário, comovendo-me com as dores da perda e do crescimento. A menina de outrora vai se transformando em mulher e, num gesto de extrema empatia, faz um tributo a todas as mulheres de fé e de fibra que conheceu, sejam elas parentes, prostitutas ou freiras. Reconhece, agora, não apenas o legado que herdou da família, mas também das escolas em que estudou e dos amigos com quem conviveu.
Nova escala: para um voo mais alto, novas fronteiras. A difícil tarefa da escolha profissional e a árdua trajetória para se firmar em uma carreira médica, principalmente por ser mulher. Aqui, cabe também uma autocrítica, ora envolvendo o trabalho, ora as posições políticas, sempre a própria escrita.
O feminismo que emana de seus textos abrange mais do que a luta pela igualdade de direitos. Questões delicadas como amor e casamento, fidelidade, gestação, maternidade, relação com filhos e o constante desafio de equilibrar tudo isso com a carreira são narradas com sensibilidade, lucidez e franqueza, não deixando de abordar, também, temas mais difíceis, como aborto e estupro. No meio desse turbilhão, a morte dos pais e a luta contra a doença.
Diante da riqueza desse decurso, sou a todo o momento convocada a também participar desse destino, olhando para ele e voltando o olhar para minhas próprias rotas, para os acontecimentos de meu país, num movimento pendular de diálogo e reflexão. Mas, como alerta novamente a autora, pare um pouco e escute o silêncio. Só assim será possível encarnar todas as possibilidades.
Como porto de chegada, não há como não mencionar que as últimas palavras do livro emergem da boca de uma criança, como se, de fato, a geração futura devesse continuar o legado desse voo, não apenas como testemunha, mas como uma voz a querer dizer: Ponto final? Não. Vírgula,
.
— Claudia Chigres
: Um beija-flor
Observadora atenta dos sujeitos e do entrelaçamento de vozes que compõem um mundo de muitos mundos, Neusa Sica da Rocha, em seu livro de estreia, ilumina fronteiras entre gêneros, fazendo questão de expor os vãos (e os inúmeros pontos de contato) entre cada um de seus contos — ou seria entre um conto e um poema? Um poema e um texto dramático? Um texto dramático e uma confissão? Se não há uma história do mundo que dê conta de narrá-lo com começo, meio e fim, nem a vida de alguém que caiba num fio homogêneo e sem rachaduras, a experiência do tempo aqui desobedece uma ideia de cronologia para ser experimentado nos seus muitos movimentos de dilatação e contenção, convocando sincronias entre presente, passado e futuro. Um dia e uma eternidade, os tantos anos passados invadindo o agora; a figura do filho e a do pai, a mãe, sempre ela; os dez filhos que não entendem o que está acontecendo, as palavras que tentam entender o que está acontecendo anos depois. Uma porção do país que vai sendo recontada pelos olhos de alguém que viveu momentos importantes e doloridos da história de nossa democracia, alguém que se forma a partir dessas lições dolorosas — e que segue, que as reinscreve novamente no papel, reconfigurando o tempo.
Neusa Rocha é uma verdadeira contadora de histórias e nunca puxa um único fio do novelo de acontecimentos. Não poderia ser diferente para alguém que se formou escutando verdadeiramente as pessoas, no que cada uma delas tem de mais particular — inclusive no modo de narrar. Assim, sua dicção se mistura a de muitas pessoas, criando uma manta, uma colcha de retalhos em que muitas vozes se encontram. Seu livro é, portanto, um baralhamento muito bonito de muitas histórias diferentes, que se conjugam de um modo bastante singular.
Um beija-flor é uma ave que dispende muita energia em seu esvoaçar contínuo e precisa de uma grande quantidade de néctar diariamente. Durante a leitura de A visita do beija-flor, vamos entendendo uma espécie de percurso sugerido pelo título, deste animal ligeiro que, ao se fazer suas visitas, dança. Mas mais interessante ainda é pensar, quando fechamos o livro, em cada um dos locais por onde ele passou. Em uma rápida busca na internet, descubro que as flores visitadas pelos beija-flores apresentam cores muito vivas, e que, em geral, variam do vermelho ao alaranjado. Então penso em cada uma das histórias do livro, em suas tantas tonalidades. E me dou conta de que, em sua costura hábil, Neusa nos coloca, muitas vezes, na posição desta ave, dançando vivamente entre as histórias, experimentando uma velocidade diferente diante do livro e um corpo novo para a leitura.
— Carla Kinzo
"Conheço Neusa Sica da Rocha há muito tempo. Sempre soube que ela é uma pessoa inteligente, estudiosa, sensível. Não é surpresa descobrir agora que isso tudo também consegue se transformar em escrita — afinal, a literatura acaba sendo uma extensão (disfarçada ou nem tanto) das qualidades de quem a cria.
— Michel Laub