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Eu sobrevivi: Volume 1
Eu sobrevivi: Volume 1
Eu sobrevivi: Volume 1
E-book95 páginas1 hora

Eu sobrevivi: Volume 1

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Sobre este e-book

Escrevo estas minhas histórias, porque guardar silêncio me fez muito mal a vida inteira, até eu adoecer física e emocionalmente. Quero denunciar! Quero desabafar tudo o que me calaram! E quero que saibam que tudo isso existe ainda hoje — quase quarenta anos depois, onde praticamente nada mudou. Hoje, crianças sofrem os mesmos abusos e explorações que eu sofri. Desejo e espero que, sabido isso, algo possa ser feito para proteger a infância dessas crianças. Todos os leitores precisam saber que ficar em silêncio diante de uma violência vai fortalecer o agressor e trará doenças físicas e emocionais para as vítimas! O nosso silêncio poderá gerar novas vítimas, pois os agressores continuarão agindo livremente. Por isso, não se cale. Se tirarem sua voz, grite, escreva, denuncie de qualquer jeito; se tirarem sua liberdade e seu movimento, se arraste, engatinhe. Não se cale e não pare. A justiça precisa ser provocada pra agir. Antes tarde, como no meu caso, do que nunca! Protejam as crianças e os adolescentes dos interiores do Brasil!
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento13 de fev. de 2023
ISBN9786525441054
Eu sobrevivi: Volume 1

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    Eu sobrevivi - Glizelia de C. de A. Gonçalves

    cover.jpg

    Conteúdo © Glizelia de C. de A. Gonçalves

    Edição © Viseu

    Todos os direitos reservados.

    Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem a permissão expressa da Editora Viseu, na pessoa de seu editor (Lei nº 9.610, de 19.2.98).

    Editor: Thiago Domingues Regina

    Projeto gráfico: BookPro

    e-ISBN 978-65-254-4105-4

    Todos os direitos reservados por

    Editora Viseu Ltda.

    www.editoraviseu.com

    ... mas o importante é que eu sobrevivi.

    Esta obra é baseada em fatos!

    Dedicatória

    Às duas mulheres da minha vida:

    minha mãe, Benedita R. de A. Gonçalves;

    minha avó materna, Maria Rosa de Andrade.

    Introdução

    Acordei com uma estranha urgência em viver. A morte física tem rondado minha quase vida ou o que eu tentei fazer dela, mas acredito que falhei. Na tentativa de acertar, acabei confiando nas pessoas erradas e calei por medo quando deveria falar. Agora sinto que é tarde... Estou sozinha e o tempo que me resta poderá ser apenas um segundo do meu único legado ao tentar escrever minha estória, pois preciso desabafar, porém, ainda tenho medo do preconceito de não ser compreendida.

    Infelizmente cheguei à conclusão de que não adianta pedir ajuda no Sistema Único de Saúde ou em qualquer outro lugar, pois as pessoas estão muito ocupadas consigo mesmas — elas não se importam com a dor alheia. A morte se tornou algo banal na sociedade atual.

    Sem apoio, só me resta escrever e tentar fazer minha própria terapia, tentando entender onde foi que eu errei ou onde foi que eu me perdi. Onde foi que eu deixei que tirassem a minha voz e destruíssem os meus sonhos? Se é que existe uma resposta, uma última luz de esperança para mim.

    Quando eu ainda era muito criança, tentava defender minhas ideias, contudo, era sempre a última a falar e a primeira a apanhar. Meus sonhos eram vistos com ironia pelos meus patrões e pelos filhos deles também. Eles me rotulavam como uma negrinha muito audaciosa, prepotente e arrogante, por querer vencer e ter um futuro melhor, estudar, fazer uma faculdade e não aceitar as humilhações e a condição de inferioridade que me eram impostas. Eu fui criada para servir sem reclamar, porém, nunca me conformei com essa situação de semiescravidão. Trabalhei desde muito pequena nas casas de família praticamente de graça ou em troca da comida.

    Como não existia outra forma de ganhar a vida, pois era daquela relação de favor que tirávamos o nosso sustento, calei-me e fui sendo podada aos poucos, moldando-me àquela realidade para sobreviver, até que tiraram a minha voz, porque sempre que eu falava, entrava em confusões e causava embaraços para minha mãe, que corria e apaziguava a situação.

    Era revoltante suportar tanta humilhação a troco de migalhas e ainda ver nos olhos dos patrões a satisfação por ter em quem mandar. Sentiam-se poderosos e superiores a nós, quando, na verdade, muitos não passavam de um bando de ignorantes e aproveitadores da pobreza e da simplicidade dos mais humildes.

    Nenhum amigo me restou. Doente depois de tanto trabalho, tentando resolver os problemas dos outros, cuidando de suas casas, de seus filhos, de suas roupas e sua alimentação, ensinando a ler, escrever e interpretar o mundo. Não fui capaz de mudar minha própria sorte e superar meus medos, anseios e traumas, pois ninguém — nem minha família — nunca perguntou quais eram os meus sonhos. Tratavam-me como se eu fosse uma máquina, usada e invadida quantas vezes quisessem. Eles mandavam até nos meus pensamentos e só os filhos deles podiam sonhar.

    Minha mãe era a única que nos incentivava e acreditava em nosso potencial, mas ela era doente e dependia daquela relação de favor, pois era dela que ela retirava o nosso sustento que, muitas vezes, eram as sobras das casas dos patrões: umas trocas de roupas usadas, alguns quilos de alimento ou uma ninharia em dinheiro era o pagamento recebido pelo trabalho pesado e por muita humilhação. Ela dizia que deveríamos ser gratos por isso, porque poderia ser pior. Quem podia um pouco mais, fazia questão de pisar e explorar quem podia menos.

    Quanto à crítica, minha mãe nunca soube o que era isso, pois quem ousasse questionar, não conseguia trabalho nem nas lavouras e ainda ficavam rotulados pelos patrões.

    Isso se repetiu por todos os anos em que lá moramos. Sendo assim, até hoje é um lugar onde o progresso nunca chegou nem chegará. Os fazendeiros perdem suas terras por não ensinarem os seus filhos os cultivos dela — conhecimento esse que era passado de geração para geração —, pelas mudanças climáticas, pragas nas lavouras, mas não perdem a pose de ricos nem o orgulho.

    Os filhos são mandados para as grandes cidades, grandes centros urbanos e na capital para estudarem e se formarem doutores. Também são mandados para outras cidades para não se envolverem com as garotas humildes de lá, porque, para eles, o ter é mais importante do que o ser.

    Já os empregados estão tão doutrinados que, mesmo sem receber salário digno, continuam ali trabalhando a troco de comida; os agregados seguem ali servindo aos patrões na sua santa ignorância, enquanto as vagas nas universidades públicas são preenchidas pelos filhos dos patrões.

    Décimo terceiro salário, férias, seguro-desemprego e registro em carteira de trabalho não existem naquele lugar. É bem provável que os mais humildes nem saibam o que é isso, ficando para eles apenas a mutilação do corpo, a perda da infância e da adolescência, inúmeros traumas por terem sido usados e descartados sem nenhum direito e nenhuma identidade própria. Sem contar que a maioria morre à míngua, sem ao menos ter consciência da vida que lhes foi roubada, sendo enterrados num caixão doado pela prefeitura — se for época de eleição, vem um melhor.

    O prefeito comparece ao velório, cumprimenta a família, faz uma média e aproveita para pedir um votinho. A família se sente importante pela presença da maior autoridade da cidade no último adeus ao ente querido. Os políticos nunca perdem um velório, nem mesmo dos adversários, e ainda dizem que a política nunca mais será a mesma sem ele. Sabem como é cidadezinha pequena.

    Velório no interior é um acontecimento na cidade, até carro de som sai nas ruas avisando sobre o falecimento. É a única hora que o defunto se torna celebridade.

    Foi num ambiente assim que eu vivi ou sobrevivi. Hoje luto para curar minhas chagas, contudo, sem muito êxito. Estou muito carente, sentindo-me frágil, precisando de um simples abraço. Hoje um abraço é mais importante do que tudo! Não tenho como pedir para minha mãe, pois ela não pode dar aquilo que ela não teve. Além disso, teve que ser mais pai do que mãe.

    Eu peço a vocês que ao lerem a minha estória, abracem-me e não cometam os mesmos erros que eu cometi e

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