Contos Fora Da Minha Pele
De Edu França
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Contos Fora Da Minha Pele - Edu França
O Existencialista
A ENTREVISTA DA TRAGÉDIA (Ou a virtude do cinismo na pós-modernidade)
O Doutor iria se aposentar depois de 40 anos de reinado empresarial, acumulava fortuna invejável, adquirida nos seus domínios de bancos e empresas de comunicação. Empresário de mídia e avesso às aparições públicas, mas jamais esquecido pelo imprensa, que não passava um dia sem citar seu nome de modo pejorativo como personificação do mal. Em especial a jornalista Medeiros, que se dedicava a escrever longas páginas sobre as atividades comerciais do Doutor, com acusações e denúncias, mas uma insistência tão ferrenha que ele a convidou para dar sua última entrevista à frente do grupo.
O escritório do Doutor era revestido de mármore, sóbrio, funcional e luxuoso sem ser fresco, muito amplo e visão panorâmica sobre a cidade, luzes claras sem agressividade e ele rodava sua caneta Mont Blanc, vestia uma camisa de botão branca, barba bem feita, um jeans e um tênis, até onde se sabe nunca usou um terno ou gravata.
_ Seja bem vinda, sente-se por favor! Vou pedir café e água, deseja mais alguma coisa?
_ Não, obrigada. - a jornalista estava intimidada por aquela figura ainda jovial para seus 65 anos e mais intimidada ainda pelo luxo, que tem esse poder sobre os menos habituados. Beberam seus cafés, ela tensa, ele analítico.
_ Como a senhora pretende fazer a entrevista?
_Gostaria de agradecer por ter me convidado em exclusividade, agradecer sua gentileza comigo. Pretendo gravar e editar depois, mas mando ante para sua aprovação, aliás já estou gravando! Poderia saber porquê de ter me chamado se não pedi a entrevista e sou, talvez, sua maior crítica?
_ É minha maior crítica sim, mas nunca foi desonesta. Chamei exatamente por causa de sua fidelidade ao desamor, ao asco, à ojeriza por mim. Os outros foram incoerentes a longo da minha vida, elogiaram, praguejaram e até caluniaram, todos fizeram este ciclo repetitivo, menos a senhora, que sempre nutriu um combate odioso contra mim e contra aquilo que eu represento. Há em mim algo que é seu, a senhora não me combate, tem obsessão por mim. - o Doutor tinha um tom muito sereno e olhar muito firme, falava a Medeiros com a ternura de um pai.
_ Não é pessoal, meu combate é àquilo que o senhor representa. Não leve pelo lado pessoal, eu sou comprometida com a verdade e nada mais…
_ A senhora é o que Sartre chamava de náusea, alguém que está muito convencido do papel que disseram que ele representa. Só há uma verdade, vamos morrer. Todo resto são fabulações, conjecturas e falácias, fato concreto é a morte seja para mim seja para senhora!
_ Doutor, o senhor tem noção da tragédia que dissemina nesta nação?
_ Que nação, a sua ou a minha?
_ Só há uma!
_ Não! Minha nação são meus filhos, minha mulher, meus familiares (e nem todos) e meus funcionários. Minha nação vai muito bem, obrigado: meus filhos foram bem formados, me deram netos lindos, noras e genros que foram integrados às empresas, meus funcionários recebem entre 50 e 60% acima do piso nacional além de regalias como plano de previdência privada, plano de saúde. Já a sua eu não sei, nem me interessa, nunca me interessou. Não se ofenda, mas a senhora faz parte de uma geração que quer um mundo melhor, não come carne, abraça árvore, luta via facebook pelas baleias da Zâmbia e contra o fim da fome na África, faz sexo oral e escova os dentes, e no fundo não consegue constituir uma família harmônica, nem dormir sem crises de choro e calmantes. É a náusea sartriana, essa representação do papel que a sociedade dá a qualquer, quer no oco da reflexão só lhe cabe interpretar a si mesmo de forma caricaturada. Tragédia? A senhora sabe a tragédia que representa para uma outra jornalista que está desempregada e gostaria do seu lugar? Não, senhora nunca pensou nisso, ninguém pensa e pelo mesmo princípio eu não penso em quem perdeu dinheiro para eu poder ganhar. Tragédia vem da palavra grega ‘trago’, que quer dizer bode…
_ E?
_ Ansiedade cruel, calma! A palavra se formou em analogia ao bode que era sacrificado em adoração ao deus Dionísio, ser trágico é estar nalgum momento no lugar do bode prestes a ser morto. Por este princípio a tragédia é nascer. Todo esforço da literatura e e da filosofia provar que o mal nunca vence. Mentira, desde sempre o mal sempre triunfou. O problema é que os conceitos mudam com o sopro do vento, há 70 anos nos EUA um homossexual era a representação do mau e era cassado à morte, hoje fazem plano privado em banco de biotecnologia para comprar um filho, o qual escolherão a cor dos olhos e da pele, que será gerado numa mulher de aluguel e tem até representação parlamentar para isso. Eu fico com meu conceito do bom e mau.
_ Esse seu egoísmo não lhe fere? E o senhor fala muito em filosofia para um empresário…
_ Quer bem administrar? Estude filosofia, todo resto é técnica burocrática que se aprende, mas lidar com o ser humano não se aprende em cada esquina, nem é para qualquer um. O dinheiro está sempre na posse de um ser humano, você precisa passar por ele primeiro. Sobre o egoísmo, somos todos, vejamos pelo lado mais básico, há 200 mil anos fugíamos dos predadores para não sermos comidos, hoje para não passarmos fome e nisso: minha pele primeiro a do outro se ele for um cara legal!
_ É por isso que o coletivo pode ser mais justo…
_ O coletivo é uma piada, minha cara. Não existe coletivo, a não ser que haja a possibilidade de darem notícia de sua supostas ações em prol do outro
, o homem só se une na miséria e me dê um exemplo de onde e quando o coletivo triunfou? A senhora tem uma inocência fértil, mas que já não cabe nos seus trinta e poucos anos…
_ Seu cinismo é mortal!
_ Esqueça toda idéia religiosa de paraíso, você nasce, cresce e sofre, sabe que vai morrer sem mais nem porquê, mas não sabe a data, o que sobra para além do cinismo? A pós-modernidade formou 3 tipos de indivíduos: o indiferente, o cínico e o modal! Eu sou cínico na medida que a senhora é modal o leitor do seu jornal é indiferente. Diante dessa tragédia nos resta sermos indiferentes, o anestesiado por excelência; o cínico como eu, que ainda faz sua própria vida acontecer; e o modal, que precisa de causas para se sentir mais puro, moralmente superior
, mais espiritualizado, mais acima da média, não passa de um melancólico desesperado inconfessável, um egoísta que só se preocupa de fato com seu marketing pessoal.
_ Eu vim pronta para arrancar sua pele, esperar sua recusa e lhe confrontar com fatos, mas me perdi. Confesso que tive vontade de lhe matar ao mesmo tempo de me compadecer com o humano que eu encontro, tudo ao mesmo tempo e neste momento. Eu não tenho mais condições de continuar essa entrevista…
_ A senhora, dona Medeiros, está diante da tragédia de Aquiles. Ele teve dúvidas se deveria ir à campanha resgatar Helena ou ficar em Tróia e sua mãe lhe disse: ou a vida ou a glória! Ele escolheu a glória, se a senhora publicar a íntegra desse nosso papo encontrará a fama no seu meio, encontrará o reconhecimento dentro do seu micro espaço, porque outros empresários não lhe falarão, mas nessa sua causa modal a senhora será a maior de todas. Se editar de forma sóbria e moderada será mal vista no seu meio, mas abrirá portas em outras redações, alcançará até chefia nalgum jornal moderado ou conservador, pouca fama, mas uma vida estável e um sereno reconhecimento de quem poderá lhe proporcionar almoços mais fartos. Precisamos de segurança e liberdade para viver, ao longo da vida quando a segurança avança come a liberdade, quando a liberdade avança compromete a segurança, sempre. Hoje eu tenho a segurança que comprou minha liberdade, mas estou velho! É ou não para rir? Escolha dona Medeiros, ou glória ou vida, sabendo que ambos serão trágicos só pelo fato da senhora nunca saber como seria o caminho rejeitado. Escolha! - A jornalista levantou-se pronta a partir em desespero, não esperava que a conversa tomasse esse rumo tão profundo, seu coração pulsava com vigor e nem se despediu, quando tocou a maçaneta da porta o Doutor intercedeu: _ Lembre-se, o mal vence na mesma medida que o bem porque a vida não um conto de fadas da Disney!
A entrevista nunca foi publicada, nem integral, nem parcialmente e vinte anos depois estava a jornalista flores no túmulo do Doutor com um bilhete que dizia assim:
O senhor era o meu eu que dormia
- O motorista interrompeu a cena e disse:
Os acionistas de NY já estão na sala de reuniões, estamos atrasados, Doutora!
EU ERA OUTRO
Eu me acordei com o barulho de uma feira a céu aberto, aquele zum-zum-zum de gritos soltos, diálogos atropelados, conversas cruzadas, das quais eu não pesquei uma palavra, umazinha por misericórdia. Eu não entendia o idioma! Me levantei trôpego e me debrucei, estático, à janela da feira, estava num prédio de dez andares e por baixo havia senhoras de turbantes negros, senhores de sarongues paquistaneses e os árabes com suas tocas e eu só queria saber o que eu estava fazendo ali. Virei às costas e o quarto de casal não era o meu, ao contrário: móveis escuros e antigos não me encantavam, me soavam como parte de um antiquário; e eu amava a modernidade, mas algo me fez velho: uma fotografia de casamento, comigo muito moço e uma senhora bela, de aparência magrebe, lindíssima por sinal. Mas eu não sabia o que estava fazendo, ao menos eu sabia o que não estava fazendo: eu nunca casei com aquela mulher! Voltei à janela em busca de Recife, mas ao longe passava um trem azul, branco e vermelho e a estação tinha uma placa azul com o nome em branco: Sevran
, logo abaixo assinalava a direção de Paris. Que danado tava eu fazendo no quarto de um estranho, casado com a mulher dos