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O cobre e os figos
O cobre e os figos
O cobre e os figos
E-book168 páginas42 minutos

O cobre e os figos

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Sobre este e-book

Não sei escrever em resumos, por isso vivo de textos sem finais.

Em "O cobre e os figos", de Thays Horst, sentimos a presença tátil dos termos, a aspereza da palavra sede, a pulsação verde-enegrecida do fundo dos rios, a lisura da ponta dos dedos. Tocamos com os olhos o que se esfarela, o que se parte; o que, enfim, não cessa de se mover: um corpo, o desejo, a porção da página não ocupada, a porção ocupada por um verso urgente e repleto de nervos, músculos. Temos a sensação de que Horst escreve com as mãos, mas também com o que está dentro delas — tendões, veias, sangue. É pela presença aguda do corpo em cena que vamos nos colocando em cada um dos poemas do livro; como leitores, somos convocados à sua presença, ocupando pontas de versos e o coração de cada uma das páginas, sentindo ainda sua pulsação depois que elas acabam.
IdiomaPortuguês
EditoraParaquedas
Data de lançamento23 de fev. de 2023
ISBN9786584764378
O cobre e os figos

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    O cobre e os figos - Thays Horst

    1

    observo

    minuciosamente

    mesmo de longe

    tenho ido ao fundo de todos vocês

    sem que me vejam

    saibam

    notem

    só queria me afundar

    cada vez mais

    nessa parte esquecida

    apodrecida

    que vocês acham

    que não têm

    é sempre engraçado

    esse medo

    ser corrompido

    enquanto se corrompem

    todos

    tenho trancado a respiração

    como um hobby

    e apertado o lado interno da coxa

    desejando que você apareça

    quando recobro a consciência

    ou

    me

    afogo

    ainda

    mais

    na

    falta

    dela

    queria rasgar a garganta

    com as mãos te arrancar

    de dentro de mim

    queria que você me dominasse

    como você sabe

    que gosto

    mas do lado

    real

    qualquer momento

    eu sei

    te espero

    urgente

    sedento

    para beber em

    nós

    sempre fomos um

    e estou cansada de esperar

    que você

    destrua

    as paredes antigas

    de mim

    aperto os olhos

    com força

    e quase sei dizer

    onde você

    se encontra

    aqui

    sei que você sabe a resposta

    ecoando dentro de

    você, eu

    onde será

    o

    nosso

    fim

    2

    pensei que você soubesse

    entre nós havia

    alguma coisa

    montanha, abismo, rio fundo escuro demais

    para ver

    do outro lado

    e eu fiquei sozinha com esse sentimento que

    [pensei que era nosso e resolveríamos depois

    você me pediria desculpa e eu estaria pronta

    [para te perdoar

    porque você sabe

    não

    você não sabe

    eu não queria nada além

    pensei que você me incluiria

    no maior erro da sua vida

    sem achar que ele

    seria eu

    que você consideraria

    antes de decidir

    por mim

    nunca pensei que nossa reviravolta seria essa

    você me ensinou a me abrir

    não, você não ensinou mas

    acreditei que sim

    sempre fui responsável

    por tudo que aprendi

    te queria por perto por escolha

    tão mais bonito

    querer alguém

    dessa maneira

    você é todo esse amontoado

    de coisas e eu

    não me importo

    prevalece

    a dor

    e

    a clareza

    de não precisar perdoar

    para seguir em frente

    3

    você ri

    dos meus trejeitos

    e da forma como desvio

    o olhar

    no espelho

    como se ao me encarar

    eu visse você

    sorrindo para mim

    posso contar os segundos

    que passam

    quando você pisca

    e esfarela

    meu esterno

    com as pontas lisas dos dedos

    passa a língua

    na boca

    sua

    minha

    em todo o resto

    você invade minha pleura

    como

    um câncer

    que

    não

    corrói

    mas

    me

    completa

    vem

    estamos prontos

    não posso parar

    de escrever sobre você

    porque agora

    eu sei como

    e não quero mais

    desviar

    eu rio sério quase sem mexer a boca

    você

    de volta

    4

    eu sei do espanto

    que deveria

    ser

    seu dedo

    enfiado

    fundo

    na ferida

    não dói

    mas grito

    preciso que você não

    pare

    agora

    pelo canto

    do seu olho

    me vejo sangrar

    e sinto

    o gosto

    da

    revolta

    na língua

    sorrindo

    olho

    seus olhos secos

    tão escuros

    que eu poderia varrer

    com um

    sopro

    você rasga

    minha

    carne

    com

    quase todos

    os seus

    dedos

    dentro

    de mim

    posso te sentir

    próximo

    ao nervo

    radial

    assumindo

    controle

    respiro

    lento

    mas

    bem no fundo

    é como se

    eu

    respirasse

    por nós

    e agora que

    você

    me invade

    não sei mais

    onde começo

    mas sei

    exatamente onde

    terminar

    5

    escrevo sobre

    nascimento

    como

    se acabasse

    de existir

    e não coubesse nessa

    explosão

    re

    nascer

    nada me surpreende

    talvez eu tenha nascido do avesso

    sei que você entende

    a ironia

    se você cavar

    como sei que quer

    encontraria vestígios —

    um eu que se importou

    com coisas que ninguém

    nunca entendeu

    nasce o eu

    dentro

    do outro eu

    mas é aquele

    que

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